Diário Económico:
“O debate quinzenal de ontem no Parlamento não acrescentou nada à vida dos portugueses. Pode mesmo acrescentar-se que os mais pessimistas estão a pensar que a sua vida vai andar para trás.
Há uma crise económica para resolver, há um défice orçamental para exterminar, há as dificuldades da economia portuguesa mas não foi isso que foi discutido de forma construtiva. Falou-se de tudo mas sempre pela rama. E o entusiasmo acabou por centrar-se mais uma vez nos problemas da relação entre José Sócrates e Cavaco Silva.
Sobre este ponto, é óbvio para todos que José Sócrates não gosta de Cavaco Silva, sentimento que é recíproco. O Presidente da República também não está muito interessado em convidar o primeiro-ministro para jantar lá em casa. Mas esta foi a decisão dos portugueses nas urnas e estes actores políticos têm de aprender a viver com ela. E na verdade, dá muito jeito aos dois.
José Sócrates tem mais um factor de vitimização. Está usar o truque que Cavaco Silva usou quando Soares habitava em Belém. É bom manter um foco de conflito para ganhar um álibi para as suas incapacidades em gerir o país com um governo de minoria. E, além disto, a esquerda não tem um candidato à altura de Cavaco Silva.
Já para o Presidente da República é importante manter o governo de minoria porque reforça o seu poder na vida política do país. E Cavaco Silva não pode dissolver o Parlamento, mandando o Governo ao chão, porque seria acusado de incentivar a instabilidade política e colocaria em xeque a sua reeleição. E este é o grande objectivo de Cavaco Silva: continuar como Presidente.
Assim, a grande inabilidade ontem na Assembleia foi da oposição, que conseguiu em algumas alturas encostar Sócrates às cordas mas sem nunca vencer o debate. E isto porque falhou algumas questões importantes. Fica apenas um exemplo: o Governo apresentou um Orçamento rectificativo e conseguiu fugir a um objectivo para o défice.
Nas palavras do ministro das Finanças, é um valor à volta dos 8%. É pouco claro.
O défice vai voltar a marcar a agenda política porque é um dos problemas mais graves que o Governo tem para enfrentar. Portanto, pede-se que seja transparente com os seus objectivos. E nesse aspecto, o Orçamento para 2010 vai ser uma peça fundamental. Mas a oposição também tem que estar mais preparada. Não basta apresentar medidas avulsas para contentar o seu eleitorado directo. Deverá obrigar o Governo a comprometer-se com uma estratégia de consolidação orçamental e ser também responsável por isso. Com as últimas eleições, o Parlamento passou a ter mais poder. Tem de saber usá-lo.
”
Cidadania:
O exemplo que os mais elevados representantes dos cidadãos dão é, na sua grande generalidade, lamentavelmente desleal, o que para alem de constituir um crime, o que já não é pouco, é verdadeiramente suicidário.
Que estes senhores, na busca dos Eldorados que a vida politica muitas vezes permite, se exponham a comportamentos antisociais, aos quais a justiça, mais ou menos lentamente, mais ou menos eficazmente, dará resposta, é uma coisa, triste mas um custo, mais ou menos elevado, que as democracias parece terem de pagar porquanto constitui o sistema, apesar de tudo, menos defeituoso que o homem criou.
Coisa diversa é a sociedade civil, perante as evidências que vêm a publico e apesar das mesmas, continuar a eleger estes mesmos mandatários para os representarem no fórum comunitário mais elevado – a Assembleia da República -!
É um comportamento, no mínimo, estranho, na óptica do que é a conduta humana comum e meredianamente saudável.
Na verdade, entre os humanos, conhecemos comportamentos desviantes, habitualmente em resultado de patologias identificadas como, por exemplo: o masoquismo, que, não sendo comum, tem as suas vitimas e carácter excepcional.
A classe politica porém consegue demonstrar que o excepcional, em Portugal, afinal é comum!
Convenhamos que já basta!
Alguma coisa terá de mudar em Portugal e, a ser assim como se imporá, sempre será melhor que seja por iniciativa dos cidadãos portugueses.
Será útil reflectirmos, todos, sobre esta inevitabilidade!
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
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