O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Com o nosso dinheiro, não!
Editorial de Paula Bravo publicado no Jornal Terra Ruiva sobre a Fábrica do Inglês
No dia em que escrevo estas linhas, ainda se discute o futuro da Fábrica do Inglês e a ideia peregrina que a administração da fábrica apresentou: que a câmara compre este empreendimento!
Há quem veja na falência da fábrica apenas mais uma prova da incapacidade que o concelho parece ter em gerir possibilidades e criar riqueza. Sendo uma pessoa naturalmente optimista, vejo apenas um investimento mal gerido que começou mal e terminou de mão estendida à autarquia. Muitos dos que me lêem recordam, com certeza, a abertura deste espaço de lazer e logo o que considerei o primeiro erro de palmatória: era necessário pagar para aceder ao espaço da fábrica. E lembro também como arregalei os olhos perante os preços praticados pelo restaurante/ marisqueira ali existente! E como correu extraordinariamente mal a primeira "prova de fogo" da Fábrica, para onde a Câmara Municipal transportou o Festival da Cerveja e como muitas pessoas que conheço juraram que nunca mais lá voltavam para jantar, depois de horas de espera e de um serviço feito apenas com a boa vontade de muitos empregados da Alisuper recrutados à última hora para, sem nenhuma experiência, atenderem os milhares de pessoas que ali se deslocavam.
Na minha opinião, estes factores condicionaram negativamente o futuro deste espaço que desde o início se fechou à cidade, aos habitantes do concelho e ignorou a realidade sócio-cultural do mesmo. Os de fora, com quem eventualmente esperavam rentabilizar o espaço não foram os suficientes, não obstante o êxito de alguns espectáculos que ali foram apresentados durante o verão.
Não fiquei, portanto, admirada quando a fábrica deixou de ter actividades, quando encerrou, quando se ouviu dizer que ia ser transformada em empreendimento imobiliário.
Mas fiquei admirada quando soube que a administração da fábrica, liderada pelo irmão da presidente da câmara estava a propor à autarquia a venda da fábrica. E ficarei verdadeiramente chocada se essa proposta for considerada seriamente. Por duas razões principais: não existem quaisquer condições financeiras para a autarquia pensar sequer em assumir um compromisso dessa ordem, que implicará dezenas de milhões de euros. Num concelho em que a câmara municipal teve necessidade de recorrer a um empréstimo de 15 milhões de euros para pagar aos fornecedores e onde é a principal responsável pelo "entalanço" em que vivem muitas empresas do concelho, tal possibilidade é absolutamente imoral!
Por outro lado, não vejo da parte da Câmara qualquer possibilidade de por em funcionamento e rentabilizar um espaço que a iniciativa privada não conseguiu manter. Se até aqui não conseguiu ter sucesso, como faria a Câmara para inverter tal situação? (Nem é a câmara a entidade apropriada para tal gestão.)
Quanto à alternativa oferecida pela administração da Fábrica, a de que a câmara assuma as despesas de funcionamento durante seis meses, penso que é dinheiro que a autarquia estaria a deitar à rua, numa opção que não conseguirá adiar o inevitável.
Concordo, sim, que a câmara procure com os futuros proprietários do espaço uma solução de compromisso que permita manter em funcionamento o Museu da Cortiça, um museu de prestígio com grande valor para a história da cidade. Mas nada mais. Não compete às entidades públicas corrigir as asneiras da tão proclamada iniciativa privada. A autarquia pode e deve incentivar a iniciativa privada, anulando a burocracia nos processos, facilitando a instalação de empresas, aliviando a carga fiscal... mas a utilização do dinheiro público obriga a que as empresas ofereçam garantias que a Fábrica do Inglês não pode oferecer.
Acrescento ainda que neste capítulo de possíveis aquisições de edifícios, deveria a autarquia de Silves fazer um levantamento dos edifícios com valor histórico e patrimonial e estabelecer uma lista dos edifícios considerados realmente importantes para o concelho. A seguir, deveria estabelecer o que é possível e mais importante realizar nesses espaços. E só a seguir, verificar a possibilidade da sua aquisição. Em todas as freguesias do concelho há edifícios que mereciam atenção, ser comprados, transformados, que mereciam encher-se de vida, actividades.
É necessário que a autarquia considere as diferentes necessidades de cada freguesia e inverta a tendência de concentrar os grandes investimentos financeiros na cidade de Silves.
E faço desta consideração um voto de Ano Novo. Um Bom Natal e um Ano Novo cheio de positivismo para todos.
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2 comentários:
acho que chega de enrolar este assunto.
Está mais do que claro que a autarquia não se deve meter.
Arrependidos devem estar de não terem colocado esta proposta quando ainda tinham a maioria.
A mana já deu dinheiro à acral que também é presidida pelo mano...
Fica quase tudo em casa! Que bela democracia
O Sr. Silva devia era ter vergonha na cara, usa o Museu da Cortiça para salvar a sua pele... que belos gestores que estão nessa Fábrica do Inglês, tudo gestores de grande gabarito e agora pensam que a Câmara é alguma Santa Casa da Misericórdia, quer dizer ao que parece até o Provedor desta instituição faz parte dos órgãos sociais da Fábrica, acho que está tudo dito...
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