Quem ler um livro qualquer sobre a decadência e queda de qualquer império acaba sempre por encontrar a mesmas queixas: a falta de religião ou uma religião exótica; o desamor pelos costumes antigos (bons) e o amor pelos novos (péssimos); o desprezo pelas classes dirigentes (merecido ou imerecido); a invasão ou penetração dos bárbaros; a indiferença das classes médias pela vida pública; o desprestígio dos militares; e – muito principalmente – a dívida do Estado e dos particulares. Dos generais romanos que vendiam o império por dinheiro sonante a Gorbatchev que pedia a Bush 1,5 biliões de dólares para que o bom povo do “socialismo real” pudesse comer, a história, real ou imaginária, não muda muito.
É por isso que me admira que ninguém tenha visto em Trump uma personagem de fim de império. Até na sua extravagância ele encarna o desespero geral da sociedade que o produziu e o slogan da campanha em que foi arrasando toda a gente era suficientemente explícito: “Let’s make America great again”, uma franca admissão que deixara de o ser. E, de facto, a América, que se tornou do maior credor do mundo no maior devedor do mundo e perdeu o domínio tecnológico que sempre a salvara no século XX, já não tem os meios das suas ambições. Convém talvez perceber a imensidade do que Washington precisa de pagar pela sua proeminência. Não vale a pena insistir nas despesas directas com armamento (e com a respectiva modernização). Paga também 80 por cento das despesas da NATO. Paga a meia dúzia de Estados do Médio Oriente, que sem ela não sobreviveriam, a Israel, ao Líbano, à Jordânia e por aí fora. Paga ao Egipto, e ao Iraque, e ao Irão. Paga pela terra inteira para amortecer ameaças, para conservar amigos, para não fazer inimigos. Fora os maus negócios que permite por puras razões políticas, como com a China ou com o México.
O eleitor comum, que não frequenta nenhum Instituto de Relações Internacionais, não compreende porque deva ser ele a sustentar a megalomania de um império muito claramente over-extended, como dizia Paul Kennedy (de quem se voltou a falar). Trump é o sintoma de uma situação sem uma saída lógica. Por isso o clima de loucura que ele transmite com tanto fervor. As berrarias contra mexicanos, negros, mulheres ou qualquer cidadão que saiba vagamente ler e escrever mostram a impotência da criatura. E, ainda por cima, de uma criatura sem grande imaginação; o muro veio de Berlim; o proteccionismo de 1930; a retirada militar da Europa de 1919. O “America First” de Lindbergh.
Trump não quer que a America seja o polícia do mundo. Não é com certeza o único. Só resta explicar como ficará o mundo sem polícia.
Por: Vasco Pulido Valente
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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sábado, 10 de dezembro de 2016
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Opiniões de um comentador, sexagenário respeitável: Vasco Pulido Valente
Extratos de uma Entrevista a Vasco Pulido Valente ocorrida em 2007 ao Diário Económico
O que é uma opinião construtiva?
Nunca penso nos efeitos que vão ter as minhas colunas. Penso se gosto delas, ou não. Muitas vezes sucede não gostar de uma coluna e muita gente gostar, e vice-versa. Procuro fazer uma coluna que ache boa. Nunca me preocupei com mais nada. Para uma coluna ser boa tem de correr riscos, não se preocupar em falhar, agradar…
Nunca tive esse problema. Nunca quis «agradar». A minha opinião raramente coincide com a opinião do público. Isso significa que não se deixa contagiar pela corrente?
Significa que não sei fazer de outra maneira. Não sou capaz de imaginar o que é que o leitor quer que eu escreva.
A opinião em Portugal é relevante?
É muito importante. Porquê?
Porque a opinião «materializa» em palavras o que as pessoas sentem. A opinião consegue determinar e organizar os sentimentos vagos das pessoas.O que é que vale a pena ler e ouvir em Portugal?
Leio tudo. Levanto-me cedo e gosto de ler os jornais. Um dos grandes prazeres da minha vida é o pequeno-almoço. Beber chá e ler os jornais. Tudo é significativo, o que gosto e o que não gosto, o que é inteligente e o que não é. O mais útil é o que põe problemas, que levanta questões. Não é o que deixa «cair» a sabedoria sobre o leitor. Há nomes de referência?
Não vou dizer. O que me interessa nas colunas são os problemas que põem, se vale a pena discuti-las, «acrescentam» alguma coisa. Interessam menos os nomes. Pode ser um artigo do José Manuel Fernandes ou da Constança Cunha e Sá, do Pacheco Pereira ou do Miguel Sousa Tavares. Mesmo artigos ou entrevistas sobre economia: do João Salgueiro, do Vítor Bento ou do Francisco Sarsfield Cabral. Disse estes nomes e podia dizer mais dez.O país reflecte-se no espelho diário da comunicação social? Ou há surpresas? Há um país que não passa, que nos surpreende?
A imprensa portuguesa, de uma maneira geral, dá uma imagem relativamente fiel do país. Mas não a comenta, nem tira as conclusões que deve. Frequentemente, alguma imprensa faz serviços ao poder político, tentando desviar a atenção de certas coisas. Isso preocupa-me. A opinião pública tem peso?
O que pensam as pessoas na rua depende, em parte, dos jornais. Cada vez menos, como se sabe. Depende também da televisão, mas aí o debate foi suprimido. Há quem diga que a sua marca de água enquanto colunista é dizer mal. É incapaz de dizer bem?
Sou agora incapaz de dizer bem! Mas tem a consciência de que boa parte das suas colunas são muito reprovadoras…
São.Sente algum estímulo para dizer bem?
Sinto. E muitas vezes escrevo.Que feed-back tem das suas colunas?
Tenho pouco. Recebo cartas; mails não porque quero manter a privacidade. O contacto dos leitores com o colunista é mau para o colunista. Começa inconscientemente a ser influenciado pelos leitores.Há que manter a distância…
Não só em relação aos leitores, mas a todos os poderes políticos e sociais. Muitos políticos de quem era amigo zangaram-se quando descobriram que não fazia um «desconto». Houve outros que não, nomeadamente Mário Soares e Marques Mendes. Há muita gente que deixou de me falar, que se afastou… Não perceberam. O primeiro foi Balsemão. Não perceberam que o que escrevia sobre eles enquanto políticos não tinha nada a ver com eles enquanto pessoas.
Não há poder de encaixe para as críticas?
As pessoas não estão habituadas à crítica. Esperam elogios: e tantos mais quanto mais alta é a sua vaidade e mais alto subiram. A intolerância à crítica cresce com a importância a que as pessoas se dão ou têm realmente. Não percebem que a função de um crítico é criticar. Se me disserem que escrevi um livro péssimo, isso não é um juízo sobre mim, mas sobre o livro.Não é fácil fazer a separação. Ao dizer-se que escreveu um livro mau, isso não é difícil de aceitar, sobretudo se nos parecer injusto?
A mim não. Fiz o que podia, mas se calhar não chegou.Uma vez li a seu respeito, julgo que da parte de um seu admirador, que o que Vasco Pulido Valente tem de imensamente positivo é não ter pinga de marxismo no seu intelecto; o que tem de negativo é que não é evidente que goste de ser português. É verdade?
Fui poupado por razões de educação, de história e de acaso aos grandes sistemas de fé da minha geração. Fui criado como ateu e nunca tive a experiência de perder a fé porque nunca tive fé. Nasci numa família revolucionária, que deixou de ser revolucionária antes de eu chegar à idade adulta. Não tive fé na revolução e também não perdi a fé na revolução. Não passei pela experiência de quase todos os meus contemporâneos, que perderam a fé em deus e na revolução. Fui sempre uma pessoa sem fé. Não tenho pinga de marxismo nem de catolicismo. As duas coisas estão ligadas. Muita gente começou pelo catolicismo e mudou para o marxismo e vice-versa. Sou um ateu. Agnóstico é uma palavra que hoje não quer dizer nada.E sobre o gostar, ou não, de ser português?
Isso é ridículo. É claro que gosto de ser português. Se não gostasse, ao fim de tantos anos, tinha arranjado maneira de me ir embora. Gosto de viver em Portugal. Sou português até ao tutano. Caso contrário não teria a menor paciência para escrever sobre Portugal. Como passei a minha vida a fazer, principalmente como historiador. José Saramago diz que, mais tarde ou mais cedo, Portugal se integrará na Ibéria…
Não me admira nada. Deve o prémio Nobel à Espanha. Não me impressiona que Portugal possa fazer parte de uma outra Ibéria daqui a uns anos. O problema é que os espanhóis não nos querem. A questão é ao contrário. Nós até poderemos querer, mas a Espanha não quer. Já fiz a experiência de dizer provocatoriamente a espanhóis que sou iberista. Eles riem-se e dizem que nós só gostamos do dinheiro deles. A Espanha não tem razão nenhuma para absorver Portugal. São coisas da insensatez política de José Saramago.Politicamente como é que se define? O facto se não ter fé não significa que não tenha convicções.
Uma convicção não é uma etiqueta. O meu objectivo é conjugar o máximo de liberdade com o igualitarismo indispensável. Não sou um liberal ortodoxo. O ideal é criar um máximo de liberdade sem prescindir de certas funções sociais do Estado, nomeadamente a saúde e a segurança social. Não sou partidário do Estado Providência, que se intromete em tudo e domina tudo. Nem de um Estado liberal que não garanta o suporte social que as pessoas precisam na saúde e na segurança social. A saúde tornou-se tão cara e sofisticada que não pode ser deixada às seguradoras ou à poupança do cidadão comum, o mesmo se diga da segurança social. Uma sociedade civilizada não pode deixar morrer alguém que não tem dinheiro para fazer uma operação. Os velhos não podem ser abandonados. ....
Os portugueses valorizam suficientemente a liberdade?
Claro que não. Caso contrário, não seria pensável denunciar pessoas. Isto vem de muito longe. Nunca fomos uma sociedade liberal e o funcionalismo público nunca foi neutro......
Que fazer da democracia representativa?
Não sou apocalíptico. O mundo está para acabar desde que começou! As democracias têm fases melhores e piores. E nós temos 30 anos de democracia. Não estou pessimista.E o papel da imprensa?
Não há hoje em Portugal um grande jornal de referência, como foi o Diário de Notícias. Não há um jornal que determine a opinião e influencie o governo. O único que há é o Público e não é muito forte. E talvez o Diário Económico… Devia haver grandes jornais de referência. A televisão não tem a possibilidade analítica da imprensa. Fazem muita falta contra-poderes na sociedade, contributos de racionalidade, limites ao oportunismo dos governos. A polémica sobre a OTA, por exemplo, foi saudável, apesar de não ter sido muito clara. ...
Quais são os seus grandes prazeres?
O maior prazer é ler. É a possibilidade de ao fim de três páginas estar em Roma ou nos problemas da Madame Bovary… É uma forma de sair do mundo. Auto-retrato:
Auto-retrato? Está a pensar na frase do Sinatra: «Frank Sinatra, barítono.» Digo o mesmo: Vasco Pulido Valente, historiador e jornalista. Gostava que fosse tão boa como a do Sinatra, mas não é! Eu infelizmente também não sou o Sinatra.
Perfil
Tem 66 anos. O seu avô materno foi um revolucionário do 5 de Outubro e membro do Partido Democrático de Afonso Costa. Era jacobino e ateu. Os filhos também e os netos não escaparam. Só que os pais de Vasco Correia Guedes – o seu verdadeiro nome, mas que o próprio trata por pseudónimo – deixaram de ser revolucionários antes do filho se tornar adulto. Nem teve fé na revolução nem a perdeu. Vasco orgulha-se de ter sido sempre um homem sem fé. O que não quer dizer que não tenha convicções. Mais social-democrata, oscilou entre a direita e a esquerda, entre Sá Carneiro e Mário Soares. Na síntese de hoje, procura conjugar «um máximo de liberdade com o igualitarismo indispensável». É talvez o mais lido e temido colunista português. Tem uma escrita assertiva, tantas vezes cortante. Foi jornalista em O Independente e secretário de Estado da Cultura de Sá Carneiro. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutorou-se em História pela Universidade de Oxford. É investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais e autor de vários ensaios «O Poder e o Povo», «Os Devoristas», «Os Militares e a Política», «Glória», «Um Herói Português – Henrique Paiva Couceiro»… Vasco Pulido Valente gosta de dizer que a vida é como um funil que se vai estreitando de possibilidades. Por enquanto, não lhe faltam verbo e lucidez, mesmo que as suas opiniões raramente coincidam com as do público. Ou talvez por isso.
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Vasco Pulido Valente
domingo, 30 de maio de 2010
A imbecilização

Há uma expressão em inglês que vai direita ao nó do problema:”dumb down” um jornal ou uma coluna. “Dumb down” significa “imbecilizar” ou “estupidificar”.
Um jornal, ou uma coluna, que se torna voluntariamente “imbecil” é um “jornal”, ou uma “coluna”, que trata a sério assuntos sem importância e dá importância a personagens sem consequência. Os grandes jornais de Inglaterra, do Times ao Daily Telegraph, já estão larga e generosamente “imbecilizados”; as colunas não. Em Portugal quase nenhum jornal resistiu; e diminui o número de colunas que resistem.
A ideia do exercício, da “imbecilização”, consiste naturalmente em conservar e atrair leitores. Partindo da permissa de que o leitor evoluiu para um estado critico de irracionalidade e grosseria, a oferta trabalha para se fazer, pelo menos, tão irracional e grosseira como a procura. Quem aceite esta lógica acaba fatalmente a escrever sobre o lixo do mundo e, muito pior, a “moralizar” sobre ele.
...
Verdade que a plebe gosta do que gosta. Mas não se pode aceitar passivamente o gosto da plebe. A democracia não exige a “imbecilização” colectiva do pais. Nem sequer o “sucesso” de uma coluna ou um jornal. Ainda existem ilhas de inteleigência e sanidade. A prazo, não compensa ir atrás desta maré, em nome de um “modernismo” apatetado e espúrio. Uma incondicional rendição à vulgaridade não serve ninguém. Abundam imbecis para fornecer o mercado de imbecilidades. E não sobra geste que ajude a conservar uns restos de uma sociedade civilizada e simpática.
Vasco Pulido Valente, in DN, 07-05-2004
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sábado, 22 de maio de 2010
A vez da bancarrota
Vasco Pulido Valente, in Público 07/05/2010
Irracionalidades

O dr. Oliveira Salazar, em nome do que ele chamava a integridade da Pátria, resolveu meter Portugal numa guerra em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique), que Portugal não podia ganhar. Não havia, para começar, os meios para sustentar milhares de homens em campanha a uma distância proibitiva das bases. Não havia, como se constatou, oficiais que chegassem e,
principalmente, não havia maneira de os formar a tempo. Não havia dinheiro para um esforço tão longo e, por natureza, tão indefinido. O mundo inteiro estava contra nós, mesmo aliados tradicionais, como a Inglaterra e o Brasil, para não falar da ONU e até da NATO. Em 1974, já ninguém nos vendia armamento e os próprio militares tinham chegado ao fi m da resistência física e moral. Nada nisto foi nunca uma consideração séria para Salazar e, a seguir, para Marcelo Caetano. A irracionalidade perpassa por tudo o que escreverem e disserem e também por tudo o que escreveram e disseram as grandes personagens do regime.
Como era de esperar, veio o desastre. Não, em si mesmo, o “25 de Abril” – a loucura a que se chamou o PREC. Íamos passar, segundo os teóricos, de uma sociedade atrasada e semirural para uma espécie única de socialismo, com a prestimosa ajuda do MFA e do Partido Comunista de Álvaro Cunhal. E, eventualmente, de outro país falido, como já era a URSS. Para essa conversão bastavam as a nacionalizações, com a reforma agrária – só no Sul – e o mítico poder dos trabalhadores. Quando acabou a “festa”, não sobrava um tostão e chegou o FMI para pôr a casa em ordem. Vale a pena insistir outra vez na irracionalidade do exercício? Vale sequer a pena nas ruínas que ele deixou atrás de si e que visivelmente continuam apodrecer no meio de nós? Parece que não.
Mas não bastaram estas duas lições. Com a “normalização” do país, chegou um novo mito, que o dr. Cavaco propagou com entusiasmo: Portugal seria um “bom aluno” da “Europa” e os portugueses viveriam, evidentemente, como “europeus”, com um impecável Estado-providência e altos salários. Mais do que isso: a Pátria voltava a ocupar a posição de importância e de prestígio, que sempre merecera. O CCB, a Europália, a Expo-98 e o Euro 2004 mostravam à humanidade estupefacta e maravilhada a nossa indubitável ressurreição. Como de costume, este puro delírio não se fundava numa economia forte e numa sólida solvência financeira. Era o frágil efeito de uma situação internacional e dos milhões de Bruxelas: o velho produto da nossa velha irracionalidade. Depois do Império, do socialismo e da “Europa”, entra agora em cena a bancarrota. Muito lógico.
Irracionalidades

O dr. Oliveira Salazar, em nome do que ele chamava a integridade da Pátria, resolveu meter Portugal numa guerra em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique), que Portugal não podia ganhar. Não havia, para começar, os meios para sustentar milhares de homens em campanha a uma distância proibitiva das bases. Não havia, como se constatou, oficiais que chegassem e,
principalmente, não havia maneira de os formar a tempo. Não havia dinheiro para um esforço tão longo e, por natureza, tão indefinido. O mundo inteiro estava contra nós, mesmo aliados tradicionais, como a Inglaterra e o Brasil, para não falar da ONU e até da NATO. Em 1974, já ninguém nos vendia armamento e os próprio militares tinham chegado ao fi m da resistência física e moral. Nada nisto foi nunca uma consideração séria para Salazar e, a seguir, para Marcelo Caetano. A irracionalidade perpassa por tudo o que escreverem e disserem e também por tudo o que escreveram e disseram as grandes personagens do regime.
Como era de esperar, veio o desastre. Não, em si mesmo, o “25 de Abril” – a loucura a que se chamou o PREC. Íamos passar, segundo os teóricos, de uma sociedade atrasada e semirural para uma espécie única de socialismo, com a prestimosa ajuda do MFA e do Partido Comunista de Álvaro Cunhal. E, eventualmente, de outro país falido, como já era a URSS. Para essa conversão bastavam as a nacionalizações, com a reforma agrária – só no Sul – e o mítico poder dos trabalhadores. Quando acabou a “festa”, não sobrava um tostão e chegou o FMI para pôr a casa em ordem. Vale a pena insistir outra vez na irracionalidade do exercício? Vale sequer a pena nas ruínas que ele deixou atrás de si e que visivelmente continuam apodrecer no meio de nós? Parece que não.
Mas não bastaram estas duas lições. Com a “normalização” do país, chegou um novo mito, que o dr. Cavaco propagou com entusiasmo: Portugal seria um “bom aluno” da “Europa” e os portugueses viveriam, evidentemente, como “europeus”, com um impecável Estado-providência e altos salários. Mais do que isso: a Pátria voltava a ocupar a posição de importância e de prestígio, que sempre merecera. O CCB, a Europália, a Expo-98 e o Euro 2004 mostravam à humanidade estupefacta e maravilhada a nossa indubitável ressurreição. Como de costume, este puro delírio não se fundava numa economia forte e numa sólida solvência financeira. Era o frágil efeito de uma situação internacional e dos milhões de Bruxelas: o velho produto da nossa velha irracionalidade. Depois do Império, do socialismo e da “Europa”, entra agora em cena a bancarrota. Muito lógico.
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