O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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domingo, 28 de abril de 2013

Os alemães são mais pobres do que espanhóis, gregos e italianos?


Por Paul De Grauwe*, in "Expresso" de 27.04.2013

O facto é que a Alemanha é significativamente mais rica do que países do sul da Europa. O problema é a distribuição da riqueza nas famílias alemãs

Poucas vezes a estatística foi tão deturpada para fins políticos como quando, recentemente, o Banco Central Europeu (BCE) publicou os resultados de um inquérito à riqueza das famílias nos países da zona euro. Segundo este estudo a família média alemã é a mais pobre de todas, incluindo a portuguesa. A publicação destes números pelo BCE levou rapidamente os media alemães a concluir que é inaceitável que os pobres alemães tenham de pagar o resgate dos gregos, espanhóis e portugueses, mais ricos.

O primeiro ponto que é preciso frisar no inquérito do BCE é que os rendimentos das famílias na Alemanha são muito desiguais. Os lares alemães médios nos 20% mais ricos têm rendimentos 74 vezes superiores aos 20% mais pobres. Em Portugal, este rácio é de apenas 5%. Segundo este critério, a Alemanha tem a distribuição de riqueza mais desigual da zona euro. Assim, a riqueza das famílias na Alemanha concentra-se nos lares mais ricos do que em qualquer outro país da zona euro. Dito por outras palavras, a riqueza das famílias na Alemanha é muito grande mas encontra-se principalmente no topo da distribuição de riqueza e não nos lares alemães relativamente pobres.

A questão seguinte é se a riqueza das famílias é um bom indicador da riqueza de uma nação. Uma parte significativa da riqueza de uma nação pode estar nas mãos do Governo ou do sector empresarial. Se a questão é descobrir que capacidade tem a Alemanha para transferir recursos para outros países, devia usar-se uma medida de riqueza mais apropriada. Essa medida está disponível. É o stock de capital de uma nação. Esta é uma medida da capacidade de um país para gerar (juntamente com o capital humano) um fluxo de rendimentos.

Usando este critério de riqueza, a Alemanha surge como pertencendo aos dois primeiros países em termos de rendimento per capita. Em contraste, os países do sul da Europa têm as riquezas mais baixas. O rendimento per capita é mais do dobro nos países do norte do que nos países do sul, como Grécia ou Portugal.

Desta análise segue-se que é errado concluir do estudo do BCE que a Alemanha é pobre se comparada com alguns países do sul da Europa e que não seja razoável pedir aos contribuintes alemães que apoiem financeiramente os países do sul ‘mais ricos’. O facto é que a Alemanha é significativamente mais rica do que países do sul da Europa como Grécia, Espanha ou Portugal.

Parece haver um problema de distribuição da riqueza na Alemanha. Primeiro, a riqueza na Alemanha está altamente concentrada no topo da escala de rendimentos familiares. Segundo, uma grande parte da riqueza alemã não está nas mãos das famílias e portanto deve ser detida pelas empresas e pelo Governo. Assim, embora não seja razoável pedir às famílias ‘pobres’ que transfiram rendimentos para os países do sul, pode ser mais razoável fazer essa exigência à fatia mais rica das famílias e ao sector empresarial. Dito de outra forma, a oposição na Alemanha às transferências para o sul da Europa não tem origem nos baixos rendimentos do país. O facto é que a Alemanha é um dos países mais ricos da zona euro. O problema é que esta riqueza está mal distribuída na Alemanha, criando uma perceção entre as massas de alemães menos ricos de que estas transferências são injustas.

*Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Pregando aos Peixes, como Santo António!


Os textos que publicamos hoje, da autoria de Paul Degrauwe e Medina Carreira são extraordinários.

Extraordinários porquanto correspondem ao tipo de informação, séria, sustentada e desapaixonada que a delicadeza e a profundidade da crise que atravessamos, Portugal e a Europa, exigem, fazendo-o ainda com raras clareza e concisão, também por aí exibindo contraste suficiente para qualquer cego, ver, o que só é atingível em resultado de muita competência e trabalho.

Trata-se também de informação estruturada e estruturante de que os cidadãos carecem para melhor equacionarem o contexto que condiciona dramaticamente a sua existência.

Em contraste com o “ruído” que caracteriza o essencial da informação que lhes é oferecida ou instilada quer pelos interesses tácticos da classe política quer pelos interesses comerciais dos órgãos de difusão publicitária também chamados, impropriamente na maior parte das vezes, de comunicação social.

Remadores contra a maré da comunicação sem conteúdo relevante, estes analistas merecem um elogio expresso por parte dos cidadãos-eleitores-contribuintes, na certeza de que são expoentes de uma intervenção/participação de que as comunidades carecem e da qual não podem prescindir se se tratar de mudar de paradigma, coisa que nos parece de uma inevitabilidade alucinante.

Infelizmente pregam aos peixes, como Santo António!

A crise do euro terminou? por Paul Degrauwe



A maior ameaça para a zona euro hoje em dia não advém da instabilidade financeira mas da potencial instabilidade social e política resultante da depressão económica e do desemprego


O último ano assistiu a mudanças fundamentais no funcionamento da zona euro. A mais importante foi a decisão do Banco Central Europeu (BCE), anunciada em junho e aplicada em setembro, de se comprometer a comprar sem limites dívida dos governos da zona euro em tempo de crise. Esta foi decididamente uma mudança de regime.

Do que o sistema precisava era de um credor de último recurso. No ano passado, o BCE avançou e comprometeu-se a ser este credor. Ao fazê-lo, afastou o perigo existencial que existia na zona euro e desestabilizava o sistema. Antes da decisão do BCE, os investidores temiam o colapso da zona euro. A nova posição do BCE reduziu este medo existencial que estava a destruir a zona euro.

Significa isto que a zona euro está segura? A curto e médio prazo, sim. A longo prazo, não. A maior ameaça para a zona euro hoje em dia não advém da instabilidade financeira mas da potencial instabilidade social e política resultante da depressão económica para a qual foram empurrados os países da Europa do Sul e da qual resultam níveis de desemprego nunca vistos desde os tempos da Grande Depressão. Em certos países do sul da zona euro a taxa de desemprego está hoje bem acima dos 20%. O desenvolvimento mais dramático é o aumento do desemprego juvenil que está na Grécia e Espanha acima dos 50% e em torno dos 30-40% em Itália e Portugal. Se a situação não for depressa revertida, pode levar a uma agitação social e política em sociedades que se tornaram incapazes de dar um futuro aos seus cidadãos mais jovens.

Portanto, o acontecimento mais relevante de 2012 é a mudança da natureza dos riscos na zona euro. No início desse ano, os riscos eram principalmente financeiros, isto é, havia um risco de alguns governos poderem não conseguir dinheiro para pagar aos detentores de títulos do tesouro. O BCE resolveu esse problema. No início de 2013 o risco tornou-se social e político. É o risco de, em certos países, o aumento contínuo do desemprego e o declínio dos rendimentos efetivos levar a juventude desesperada a dar ouvidos aos políticos que lhes prometem uma vida melhor fora da zona euro.

Este estado de coisas é resultado de profundos erros de gestão macroeconómica na zona euro. As políticas macroeconómicas na zona euro têm sido ditadas pelos mercados financeiros. Os países da Europa do Sul são os que acumularam no passado défices da balança comercial, enquanto que os países do norte acumularam excedentes. Por isso, os países do Sul tornaram-se devedores e os do Norte credores, neste sistema. Isto forçou os países do Sul a implorar aos do Norte apoio financeiro. Estes acederam com relutância, mas apenas depois de imporem apertados programas de austeridade que forçaram os devedores a profundos e rápidos cortes de despesa.

Os cortes de despesa a Sul eram na verdade necessários. Mas foram impostos de forma demasiado drástica e apressada. Por outro lado, e mais importante ainda, os países do Norte não quiseram acompanhar a redução de despesa do sul com um aumento dos seus gastos. A austeridade necessária imposta aos países da Europa do Sul poderia ter sido compensada com um estímulo da procura nos países do Norte. Em vez disso, sob a direção da Comissão Europeia, os países devedores foram obrigados a uma dura austeridade, ao mesmo tempo que os credores prosseguiam na condução de políticas destinadas a equilibrar os orçamentos.

Portanto, pode concluir-se que o fardo dos ajustamentos aos desequilíbrios na zona euro entre devedores e credores foi suportado exclusivamente pelos países devedores da periferia. Isto cria um desequilíbrio deflacionário que explica por que motivo desde 2012 a zona euro tem sido mergulhada numa recessão duplamente profunda.

Há um risco real de os cidadãos dos países do Sul da Europa que são sujeitos a prolongadas contrações económicas que colocam o desemprego a níveis nunca vistos desde 1930 se revoltarem e rejeitarem um sistema que lhes foi apresentado como promessa do paraíso económico. É este o novo risco que a zona euro hoje enfrenta. Os países do Norte da Europa que são tão responsáveis pela crise na zona euro quanto os do Sul, podiam reduzir este risco, estimulando as suas economias. Não tenho, porém, ilusões.

Raras vezes as políticas económicas foram ditadas por tanto dogmatismo em torno do equilíbrio orçamental como hoje.

Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica

Tradução de António Costa Santos
In expresso de 17/2/2013




sábado, 8 de dezembro de 2012

Não há inocentes no drama do euro

Por Paul De Grauwe

Na semana passada, o primeiro-ministro holandês, o senhor Rutte, declarou com grande arrogância que os países que não obedeceram às regras deviam abandonar a zona euro. Esta declaração tem implícita a ideia de que os Países Baixos se portaram bem e de que outros países, principalmente no Sul da Europa, foram malcomportados.

Estes países, de acordo com Rutte, não seguiram as regras e devem ser castigados. A saída da zona euro é o castigo devido para tais países. Esta visão é popular não só na Holanda, mas em muitos outros Estados norte-europeus.

O que eu acho perturbador nesta ideia é não só a arrogância, mas também a atitude moralista. Exprime o sentimento de que o Norte da Europa foi virtuoso, enquanto os outros pecavam. E os pecadores devem ser punidos. Quando oiço tudo isto, lembro-me da minha juventude quando ouvia o padre a pregar sobre o bem e o mal neste mundo e de como no final os maus seriam castigados.

O mais importante obstáculo individual à solução da crise do euro é a atitude moralista dos governos do Norte, em particular os da Holanda, Alemanha, Finlândia e Bélgica. Esta atitude conduz à ideia errada de que neste drama há países bons e países maus. Os maus devem ser castigados e não devem esperar, claro, nenhuma ajuda dos bons.

Uma tal ajuda induziria, da sua parte, pecados ainda maiores. Dar assistência ao Sul equivaleria a estimular o pecado. E isso, por si mesmo, constituiria um pecado.

Esta atitude moralista baseia-se numa incompreensão central das causas da crise do euro. Não há países bons e maus neste drama. A responsabilidade é partilhada. Os países do Norte da Europa são tão culpados como os do Sul.

A crise do euro teve origem nas explosões do consumo numa série de países da zona euro (Irlanda, Grécia, Espanha). Estes booms do consumo levaram a um grande aumento das importações do resto da Europa.

O verso dessa medalha foi que o Norte da Europa, e especialmente a Alemanha e os Países Baixos, acumularam grandes excedentes de exportações. Os alemães e os holandeses ficaram muito contentes por vender os seus produtos e serviços aos pecadores da Europa do Sul.

Estas vendas foram financiadas com crédito providenciado pela banca alemã e holandesa.

À medida que as exportações cresciam de ano para ano, os empréstimos dos bancos do Norte ao Sul dispararam. Até ocorrer o crash e alguns países do Sul deixarem de poder pagar as suas dívidas.

A reação dos virtuosos bancos do Norte foi despejar os seus créditos nos sectores públicos dos respetivos países. Estes empréstimos podem hoje ser encontrados nas folhas de balanço do banco central holandês e do Bundesbank (o banco central alemão). São os balanços Target2. Os governos do virtuoso Norte tentam agora com determinação recuperar o seu dinheiro dos pecadores do Sul.

De certa forma, os países do Norte da Europa fizeram como aqueles vendedores de automóveis que vendem os carros e ao mesmo tempo dão crédito ao comprador. Geralmente, não é um bom modelo de negócio.

Quando o negociante dá crédito a mais deve preparar-se para sentir problemas, especialmente quando a vontade de vender faz com que não avalie a capacidade de pagar do cliente. Não pode queixar-se mais tarde se alguns clientes não são capazes de pagar a dívida. Quem é culpado deste drama? Só os do Sul que pediram empréstimos? Para cada cliente irresponsável há um financiador irresponsável.

O Sul é culpado porque se endividou sem pensar. O Norte é igualmente culpado porque queria despejar o máximo possível de exportações no Sul fornecendo montantes excessivos de crédito sem se pôr a questão de os países do Sul serem capazes de honrar as dívidas. Assim, o Norte assumiu um grande risco e devia saber que o seu comportamento era tão irresponsável quanto o do Sul. O tom moralista que é popular nos países do Norte está completamente deslocado. Mostra uma incompreensão fundamental das causas da crise do euro. Ou será que estou a interpretar mal e os governos do Norte sabem isto muito bem? Se sabem, ainda é pior. Nesse caso, os governos do Norte estão a enganar as suas próprias populações e a incitá-las a mostrar ainda mais hostilidade em relação ao Sul, dificultando ainda mais a solução da crise.

Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica

Tradução de António Costa Santos
in "Expresso" de 08.12.2012

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Será que Paul De Grauwe vê melhor ou será que quem devia ver, vira a cara às evidências?

 Paul De Grauwe escreve periodicamente no Expresso Economia. Por diversas vezes temos verificado que as opiniões de muitos cidadãos sem qualificação especifica são coincidentes, não na erudição ou na fundamentação, com a deste prestigiado professor belga, mas no essencial dos seus textos.
Decidimos pela publicação deste, que é um deles, e que parece de uma evidência merediana.

Se um capacitado técnico de tão elevado gabarito defende o que defende, resta-nos perguntar, sem conceder à muito habitual tese da conspiração, se haverá razões que a razão desconhece que justifiquem a tibieza nas acções e sobretudo nas omissões de multiplas entidades que não fazendo o que deveriam no interesse geral,poderão estar a curar de interesses especiais?


O BCE deve mudar o modelo de negócio

O Banco Central Europeu é a única instituição que pode evitar que o pânico nos mercados da dívida soberana empurre os países para um ‘mau equilíbrio’.
Torna-se cada vez mais óbvio que o Banco Central Europeu é a única instituição que pode estabilizar os mercados da dívida soberana na zona euro. Estes mercados têm sido de novo atacados pelo medo e pelo pânico, que provocam aumentos insustentáveis nas taxas de juro da dívida espanhola e italiana. Se ninguém fizer nada, Espanha e Itália serão empurradas para o incumprimento.

A natureza autoalimentadora destes desenvolvimentos é fulcral para entender a crise. Espanha e Itália são países solventes. No entanto, o medo e o pânico provocam duas coisas. Primeiro, levam para níveis insustentáveis as taxas de juro das obrigações governamentais destes países. Segundo, conduzem a quebras súbitas de liquidez que tornam impossível aos governos continuarem a pagar o serviço da dívida. Para evitar isto, os líderes políticos são forçados a encetar programas de austeridade excessivos, que levam a recessões profundas e ao colapso das receitas fiscais. O resultado é o agravamento da situação orçamental, não uma melhoria. O medo do default cria as condições que o tornam inevitável. Os países são empurrados para um ‘mau equilíbrio’.

O BCE é a única instituição que pode evitar que o pânico nos mercados da dívida soberana empurre os países para um ‘mau equilíbrio’, porque, como entidade emissora de moeda, tem uma capacidade infinita de comprar títulos governamentais. O facto de os recursos serem infinitos é central para lhe dar a capacidade de estabilizar as taxas das obrigações.

O BCE não manifesta vontade de estabilizar os mercados financeiros desta forma. A razão mais profunda para a relutância do BCE em ser credor de último recurso no mercado da dívida soberana tem que ver com o seu modelo de negócio. Este é um modelo em que o BCE tem como principal preocupação a defesa da qualidade da sua folha de balanço, isto é, uma preocupação em evitar perdas e mostrar liquidez, mesmo que isso conduza à instabilidade financeira.

É surpreendente que o BCE dê tal importância aos ganhos. De facto, esta insistência baseia-se num erro de compreensão fundamental da natureza dos bancos centrais. O banco central cria os seus próprios IOU. Assim, não precisa de liquidez para apoiar as suas atividades. Os bancos centrais podem viver sem liquidez porque não podem entrar em default. O único apoio de que um banco central carece é do apoio político do soberano que garante a natureza legal do dinheiro emitido. Este apoio político não precisa de liquidez. É enganador acreditar que um governo que pode entrar em incumprimento - e às vezes entra - precisa de fornecer capital a uma instituição que não pode entrar em default.

Tudo isto não seria problema se não fosse o facto desta insistência do BCE de ter liquidez positiva entrar em conflito com a sua responsabilidade de manter a estabilidade financeira. Pior, esta insistência tornou-se fonte de instabilidade financeira. Por exemplo, no sentido de proteger a sua equidade, o BCE insistiu em obter a condição de credor preferencial, seniority, na sua carteira de títulos governamentais. Ao fazê-lo, tornou estes títulos mais arriscados para os investidores privados, que reagiram vendendo. Isto também implica que se o BCE tivesse de assumir a sua responsabilidade de credor de último recurso, teria de abandonar a exigência de credor preferencial nas obrigações que compra nos mercados.

O modelo de negócio correto para o BCE é procurar a estabilidade financeira como objetivo prioritário (juntamente com a estabilidade dos preços), mesmo que isso o conduza a perdas. Não há limite para o volume de perdas que um banco central pode suportar, exceto o que é imposto pelo seu compromisso de manter os preços estáveis. Na presente situação, o BCE está muito longe desse limite.

Um banco central devia querer assumir essas perdas se ao fazê-lo estabilizasse os mercados financeiros. De facto, se estabilizasse com êxito os mercados, as perdas poderiam mesmo não chegar a ocorrer. Hoje, o medo das perdas paralisa o BCE. O BCE tem de afastar estes medos. Como disse Franklin Roosevelt num dos seus discursos de tomada de posse como Presidente dos EUA: “O único medo que temos a recear é o próprio medo.”

Por outras palavras, os investidores de hoje estão muito avisados quanto aos riscos, temendo ser apanhados numa crise que possa levar por água abaixo a sua riqueza. Num ambiente destes é importante que o banco central tenha vontade de correr alguns riscos, limitando dessa forma a extrema aversão ao risco que grassa no mercado. Se pelo contrário o BCE é igualmente, se não mais, resistente ao risco, os mercados financeiros não podem ser estabilizados. Porque tem bolsos sem fundo, é o banco central que em tempos de medo tem de se manifestar destemido. Esse é o banco central de que precisamos. Não um que se põe a fugir.

Paul De Grauwe, Professor da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, in Expresso de 04/08/2012

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