O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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quarta-feira, 29 de março de 2017

O Gerónimo (Apache) também era bravo e, na volta, lixou-se!

(Nota da Redação: Titulo inspirado na frase:"Os indios também eram bravos e na volta foderam-se" que invadiu as paredes de Lisboa, lá pelos idos de 1975, assinada pelo Movimento Anarquista)


segunda-feira, 27 de março de 2017

Eurexit (ainda a propósito do pequeno holandês, sem memórias)

Parece que já ninguém gosta da Europa. Uns, porque têm saudades do mítico Estado-nação, das suas queridas fronteiras e policias, das moedas nacionais e dos câmbios em que se perdia sempre duas vezes, da inflação e das desvalorizações; outros, porque não gostam da ideia de existirem jurisdições acima das nacionais onde os cidadãos se podem queixar dos abusos do seu próprio Estado ou de haver uma lei comum que estabelece as regras em matéria de direitos laborais, empresariais ou ambientais; outros porque não querem mais imigrantes – seja de fora da Europa seja da própria Europa, como é o caso dos ingleses; e outros ainda porque não querem uma política de defesa comum, uma política externa comum e, menos ainda, uma política fiscal comum, como é o caso dos irlandeses e dos holandeses. E há os que estão fartos de que a Europa se meta nos seus assuntos internos, impedindo-os de estabelecerem regras mais próprias de ditaduras do que de democracias, como sucede com os húngaros, os polacos ou os aspirantes turcos. Finalmente, temos os países do sul, que se queixam da falta de solidariedade dos do norte, do sufoco das dividas públicas e bancárias a que estão sujeitos (e que em parte foram contraídas para safar os biliões emprestados sem critério pelos governos e bancos dos países ricos do norte), e temos os países do norte que acusam os do sul de gastarem o dinheiro em copos e mulheres (não, não são só o capataz holandês e o policia alemão que pensam assim).
Luva branca

Os copos e as mulheres ainda é o lado para que dormimos melhor – sobretudo quando a acusação vem de um holandês. O que nos custa é que quem nos quer dar lições de bom comportamento financeiro seja ministro das Finanças de um pais que serve de sede fiscal às nossas vinte maiores empresas para lá pagarem parte dos impostos por riqueza criada aqui e que aqui deveria ser cobrada. Porque o Eurogrupo, a que Dijsselbloem preside, exige que todos cumpram regras comuns em matéria de controlo do défice público, mas não quer nem pratica nem pratica regras comuns em matéria de fiscalidade – o que permite que a Irlanda e a Holanda funcionem como oásis fiscais e o Luxembourgo, que durante anos foi governado pelo actual presidente da comissão, Juncker, tenha então funcionado como uma lavandaria de topo para as grandes empresas multinacionais e nacionais.

Mas isso, o direito de pernada sobre coisa alheia, vem na tradição da Holanda: sempre foram um povo com vocação para a pirataria. Mesmo na chamada “Golden Age” da Holanda (um período que coincide com os sessenta anos de reinado dos Filipes em Portugal), a prosperidade das Sete Províncias Unidas fez-se com base na transformação das matérias-primas que outros, como os portugueses, iam buscar longe e correndo todos os riscos, e a imensa frota que então construíram destinava-se a pilhar as colónias alheias, em lugar de fundar as próprias. Foi assim que os holandeses se lançaram à conquista do Pernambuco português, convencidos de que guerras e a colonização que ocupavam o imenso império espanhol levariam Madrid a alhear-se do destino de parte da terra brasileira do seu vassalo português. Há, no Brasil, uma persistente lenda, segundo a qual, os trinta anos de ocupação holandesa do Pernambuco foram toda uma época de esplendor e progresso, bem ilustrada pela fantástica “Embaixada cultural” que Maurício de Nassau para lá terá levado. A versão portuguesa, em que confio mais, é outra: assim que desembarcaram no Pernambuco, os holandeses começaram por arrasar a capital, Olinda (que depois os portugueses reconstruiriam), justificando-o com a plausível razão de que não estavam habituados a defender elevações, mas apenas terras planas. Em seu lugar, Maurício de Nassau (que foi um bom administrador) lançou-se na construção de uma cidade com o seu nome e que hoje se chama Recife – mas onde, curiosamente, não há vestígios da passagem dos holandeses no que quer que seja. E a tão falada Embaixada cultural do Príncipe de Nassau resumia-se ao seu médico pessoal, um botânico, um físico, um ilustrador e um pintor.

Este, Peter Post, pintou exactamente 24 quadros no Brasil, os quais Maurício de Nassau levou de volta (isto quando durante a “Golden Age” holandesa se pintaram cerca de dez milhões de telas, fazendo deste o mais profícuo e um dos mais notáveis períodos de toda a história da pintura). De facto, e infelizmente, os portugueses nunca tiveram a visão e a vocação de registar em pintura os lugares que descobriam, que desbravavam ou que colonizavam. No Pernambuco, estavam demasiado ocupados em repelir os ataques dos indios, em fazer agricultura e em explorar imensas plantações de cana-de-acuçar  - justamente o alvo dos holandeses.

Estes, por seu lado, não padeciam dos grandes desígnios dos portugueses, tais como converter indios à sua fé, enviar bandeirantes pelo interior, explorar novos territórios. Nem sequer faziam agricultura e, menos ainda, queriam explorar a cana-de-acuçar. Eles queriam apenas comprar o acuçar dos plantadores portugueses, tentar melhorar o seu processamento e trazê-lo para a Holanda para o vender umas cem vezes mais caro, através da Europa: o monopólio do comércio e do transporte de um produto disputadíssimo na Europa, sem o esforço, os riscos e as doenças que a sua exploração exigia. Não por acaso, certamente – e contrariando a lenda do entusiasmo com que o Brasil recebeu os holandeses e a tristeza com que os viu partir – a aventura brasileira da Holanda começou a ter fim nas duas decisivas batalhas de Guararapes, em 1648/49, quando 4500 holandeses foram desbaratados por um exército de 2200 homens daquilo que então se podia chamar a “nação brasileira”: um batalhão de portugueses comandados por João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros, um batalhão de negros comandado pelo ex-escravo Henrique Dias e um batalhão índio comandado pelo índio Felipe Camarão.

Tenho o maior prazer em recomendar a leitura da história ao sr. Dijsselbloem.

Mas talvez se devesse ir ainda mais além na instrução histórica básica do presidente do Eurogrupo. Recordar-lhe que foram os países do sul que ele tanto despreza, que edificaram as fundações da Europa que hoje conhecemos, impondo os seus valores, hoje universais, contra os “bárbaros” do norte. A Grécia deu à Europa a democracia e a arte; a Itália deu-lhe o Império Romano, uma das mais notáveis criações politicas da Humanidade, fundado na lei e na igualdade das partes, e deu-lhes o Renascimento, contra o obscurantismo então reinante; Portugal e Espanha abriram o mundo à Europa, e a França deu-lhe os valores da Revolução Francesa. O que deu o Norte de comparável?

Sim, esta Europa que Dijsselbloem simboliza e representa já não serve ninguém e não interessa a ninguém. Os dez anos de presidência do português Durão Barroso, com a sua política de sempre, em todos os cargos que ocupou – ou seja, salvar a pele, nada fazendo – foram fatais para a Europa. Mantendo-se sempre à tona, flutuando sem sobressaltos perante cada problema, a Europa foi apanhada impreparada perante as crises qua e viriam a assolar e hoje navega à deriva, sem rumo nem praia à vista. Esta Europa, que daqui a dias celebra 60 anos de vida, foi uma extraordinária criação de uma notável geração de políticos europeus, que agora se arrasta para um fim sem sentido nem glória, conduzida por uma notável geração de medíocres. Talvez o destino dos povos não seja o de saberem ser felizes, mas o de estarem eternamente insatisfeitos. De vez em quando, isso é bom; outras vezes é trágico.

Por Miguel Sousa Tavares, in Expresso de 25.03.2017


domingo, 26 de março de 2017

Europa, Calvino e Roma, a propósito das bocas de um tal Jeroen Dijsselbloem



Por Henrique Monteiro, in Expresso de 25 de Março de 2017


O muito falado Jeroen Dijsselbloem comentou, a propósito da sua infeliz frase, que aquilo que disse “pode ser explicado com a cultura de rigor holandesa, a cultura calvinista”.

É interessante que se invoque uma cultura religiosa, embora isso na Holanda não seja assim tão estranho.

Mais interessante, porém, é chamar-lhe rigor. O que significa isso? Para muitos, tanto no Norte da Europa como entre a esquerda do Sul, o catolicismo romano é o responsável pelo nosso atraso, ao passo que o protestantismo (e o calvinismo) seria a alavanca do rigor, das boas contas e do progresso.

Ora isso é historicamente falso, como mostra um livro de Maquiavel escrito antes de haver reforma (“Ritratti dele cose dell’ Alemagna, 1508-1512) no qual o autor de “O Principe” escreve que os alemães são muito mais aforradores. Onde os florentinos gastam em festas e roupas, os alemães arrecadam para os anos maus, especifica.

Naturalmente, Max Weber, quando publicou “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, não levou Maquiavel em conta .

Há ainda que dizer que o calvinismo utilizou um terror capaz de fazer inveja à Inquisição. Calvino, em Genebra, nomeou agentes para irem de casa em casa indagar a religião de cada um; aboliu todos os feriados e, apesar de ser francês, decidiu expulsar da cidade pessoas lá nascidas. De sua ação redentora fez parte o que, comummente, se chama caça às bruxas” misturada com uma severa ditadura. Curiosamente este “rigor” daria origem a várias igrejas, entre as quais a calvinista Igreja Reformada Holandesa (existiu até 2004, com dois milhões de membros, quando se fundiu com outras três). Foi também esta a levar, com os boers, o rigor à Africa do Sul, teorizando o apartheid, ou segregação racial.

A “cultura de rigor holandesa, a cultura calvinista” não é melhor ou pior do que a cultura de “rigor” portuguesa. Claro que ninguém é responsável pelos actos dos seus antepassados, a não ser numa visão carregada de preconceito. Era este rigor que a cultura de Dijsselbloem lhe devia ter ensinado.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Em Portugal:Descoberta de um crânio humano fóssil datado de há 400.000 anos


In: Entroncamento On Line, 14.03.2017

Proceedings of the National Academy of Sciences USA, uma das mais importantes revistas científicas mundiais, anuncia, em artigo publicado hoje, o descobrimento em Portugal de um crânio humano fóssil datado de há 400.000 anos, o mais antigo até hoje encontrado em território nacional. O achado foi feito por uma equipa da UNIARQ (Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa) durante trabalhos de escavação arqueológica na rede cársica associada à nascente do Rio Almonda (Pedrógão, Torres Novas).

PROJETO
O estudo arqueológico das cavidades subterrâneas associadas à nascente do Rio Almonda é fruto de uma colaboração continuada entre a UNIARQ e uma associação de defesa e estudo do património regional, a STEA (Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia). O projeto começou em 1987, sob a direção de João Zilhão, então docente na Faculdade de Letras de Lisboa e desde 2011 Professor de Investigação ICREA na Universidade de Barcelona. Os resultados obtidos têm permitido obter informação muito valiosa sobre a Pré-História da fachada atlântica da Península Ibérica desde há meio milhão de anos. Graças à privilegiada janela de observação representada pelas jazidas do Almonda (Galeria da Cisterna, Lapa dos Coelhos, Gruta da Oliveira, Gruta da Aroeira, e Gruta do Pinheiro), temos hoje uma visão completamente renovada da cultura e vida dos primeiros povoadores do nosso território, dos Neandertais, dos nossos antepassados diretos que viveram a última Idade do Gelo, contemporâneos dos artistas do Vale do Côa, e das primeiras sociedades de economia agro-pastoril e suas origens.

FÓSSIL
O fóssil, designado Aroeira 3, provem da Gruta da Aroeira, onde anteriormente haviam já sido encontrados dois dentes isolados da mesma época (designados Aroeira 1 e Aroeira 2). O enchimento sedimentar desta cavidade encontra-se fortemente brechificado, com dureza de rocha, pelo que a sua escavação tem requerido a utilização de martelos demolidores. No dia 14 de Julho de 2014, quando a equipa avançava em direção ao objetivo de alcançar o calcário de base para obter uma visão completa da sequência estratigráfica, o crânio foi acidentalmente atingido, criando o buraco circular que nele se observa. Sabendo-se já, através de trabalhos de datação anteriormente realizados, que o depósito em escavação datava de há cerca de 400 000 anos, a importância do achado foi imediatamente reconhecida. Utilizando maquinaria apropriada, a brecha que embalava o crânio foi cortada em bloco e transportada para laboratório, onde se procedeu ao laborioso trabalho de restauro e estudo que culmina no artigo que agora se publica. Verificou-se então que a preservação do crânio era parcial, mas aplicando técnicas de espelhamento às imagens obtidas por TAC (Tomografia Axial Computorizada) foi possível realizar uma reconstrução virtual que corresponde a dois terços da morfologia original e de que apenas a zona occipital se encontra ausente.

CONTEXTO
O período de tempo entre 700 000 e 125 000 anos antes do presente (o chamado Plistocénico Médio) é de importância crucial para o estudo da evolução humana. É nesta época que, a partir das primeiras formas humanas aparecidas em África há 2.5 milhões de anos (os chamados Homo erectus), se dá a emergência de populações com capacidades cranianas que entram dentro da margem de variação do Homo sapiens e entre as quais se contam os antepassados de toda a Humanidade actual. Na Europa, porém, o número de fósseis deste período é reduzido, e a sua datação bastante imprecisa, o que explica em grande medida a existência de diversas escolas de pensamento sobre a maneira de os classificar e sobre a natureza do parentesco evolutivo com os seus sucederes, os Neandertais e os homens ditos “anatomicamente modernos”. Neste contexto, o crânio Aroeira 3 representa uma descoberta muito significativa por duas razões. Em primeiro lugar, porque a sua datação é muito mais precisa que a de todos os outros fósseis desta época, o que o transforma num padrão de referência. Em segundo lugar, porque a combinação de traços morfológicos que nele se observa é única — alguns evocam os fósseis espanhóis da Sima de los Huesos (Atapuerca), outros os Neandertais, outros ainda encontram paralelo em restos de França (Tautavel), Itália (Ceprano), ou Alemanha (Bizingsleben). As duas conclusões que se extraem destas comparações são: que as populações europeias do Plistocénico Médio eram de uma diversidade morfológica muito grande; e que a evolução humana foi, neste período, um processo bastante mais complexo do que até aqui se pensava.

EQUIPA
Para o estudo e publicação deste fóssil, associaram-se à UNIARQ colegas e instituições de diferentes países. De particular importância foram os contributos do “Max-Planck-Institut für evolutionäre Anthropologie” (http://www.eva.mpg.de/index.html), a quem se deve o rigoroso e preciso trabalho de datação da jazida e do fóssil através do método da série do Urânio, e do “Centro Universidad Complutense de Madrid-Instituto de Salud Carlos III de Investigación sobre la Evolución y Comportamiento Humanos” (http://www.isciii.es/ISCIII/es/contenidos/fd-investigacion/fd-ejecucion/...), a quem se deve o êxito do dificilíssimo trabalho de restauro e preparação do fóssil. A descrição antropológica do crânio e seu estudo comparativo foi assegurado por um grupo de especialistas do maior renome: Juan Luis Arsuaga (Universidad Complutense de Madrid), Rolf Quam (State University of New York at Binghamton), Elena Santos (Universidad de Burgos), e Erik Trinkaus (Washington University, St.-Louis).

APOIOS
Ao longo dos 30 anos decorridos desde o seu início, o estudo das jazidas arqueológicas do Almonda foi apoiado por um grande número de instituições. Nos últimos anos (2013-2016), o financiamento dos trabalhos foi assegurado pela Câmara Municipal de Torres Novas. Anteriormente, o projeto Almonda beneficiou também de apoios da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e dos extintos Instituto Português de Arqueologia e Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico. A fábrica de papel A Renova, proprietária dos terrenos, forneceu energia elétrica e apoio logístico diverso. A empresa Crivarque Lda. Contribuiu, ao abrigo da Lei do Mecenato, com equipamento, mão-de-obra e trabalhos especializados de diversa natureza, nomeadamente de topografia e exploração.

DIVULGAÇÃO
Prevendo-se para o próximo mês de Julho a conclusão dos trabalhos de restauro e preparação do fóssil, o mesmo será apresentado ao público, juntamente com outros fósseis portugueses de importância relevante para o estudo da evolução humana, no âmbito de uma exposição monográfica a realizar no Museu Nacional de Arqueologia, com inauguração prevista para o próximo mês de Outubro.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Dieta infalivel

PORTA PEGA-GORDO
Os monges do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, eram submetidos, na Idade Média, a um tratamento infalível contra a obesidade. Até hoje não foi superado por nenhuma dieta. Os monges, que comiam no refeitório, eram obrigados a procurar a sua própria comida na cozinha situada ao lado. Ninguém podia servi-los. O problema é que precisavam atravessar uma porta.
E daí? É que a porta media 2 metros de altura e apenas 32 centímetros de largura.
Quem não conseguisse ultrapassá-la ficava sem comer e, obviamente, emagrecia.
Os superiores dos monges recorreram à porta pega-gordo porque a gula é um dos sete pecados capitais e a obesidade tornava-os menos aptos aos trabalhos braçais.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Lenda do Galo de Barcelos


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

                                                   Galo de Barcelos


A lenda do Galo de Barcelos narra a intervenção milagrosa de um galo morto na prova da inocência de um homem erradamente acusado. Está associada ao monumento seiscentista que faz parte do espólio do Museu Arqueológico, situado no Paço dos Condes de Barcelos.
Um dia, os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.
Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:
- "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem."
O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.

Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Monumento do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a Santiago Maior, monumento que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O paradoxo, a causa e a solução*

Portugal é um paradoxo.

Por um lado é o único pais da Europa e um dos poucos no mundo que foi à falência em pouco mais de três décadas (78/83/2011). Já foi ultrapassado em PIB per capita por cinco países do alargamento (Malta, Chipre, Eslovénia, Rep. Checa e Eslováquia) e tem a produtividade mais baixa da zona Euro (mesmo apenas 84% da grega que contudo tem menor % de população activa e maior taxa de desemprego).

Por outro lado, tem oito coisas para ser dos países mais ricos do mundo. Uma localização excelente entre os dois blocos económicos mais ricos do mundo; a 11ª maior zona marítima mundial; um clima ameno (sem tufões, nevões, verões tórridos); o português é a 5ª língua mais falada no mundo; e o 6º maior mercado mundial; um pais seguro; e uma força de trabalho apreciada no exterior (inquéritos colocam os portugueses sistematicamente entre os mais estimados).

Como explicar este paradoxo?

A causa remonta a D. Luís da Cunha (mentor do Marquês de Pombal) que numa carta lhe referiu que os países pequenos necessitam mais de estratégia que os grandes, porque aqueles carecem dos recursos destes para se reerguerem em caso de queda.

No zénite do seu poder (1578), Portugal afastou-se da sua core competence com que criou o seu império: batalhas marítimas, ataques a fortificações e cidades costeiras, metendo-se pelo deserto a dentro para dar uma batalha campal, algo que não fazia há mais de cem anos (desde a batalha de Toro da sucessão dinástica ibérica em 1476).

Resultado: não houve nem plano de batalha, nem sequer ordem de inicio de combate. Morreu o rei. A elite. E de um exército de 23.000, cem (!) escaparam.

As consequências foram três. No curto prazo o centro de decisão passou para Castela e as possessões portuguesas negligenciadas foram tomadas pelos holandeses e ingleses, de Ormuz, a Salvador, a Luanda.

No médio prazo uma emigração incessante. E no longo prazo um circulo vicioso entre a emigração (em quantidade e qualidade) e o declínio (políticos, económicos, social e cultural).

Hoje Portugal tem 5 milhões de portugueses registados nos consulados no exterior e nos anos recentes o fluxo tem aumentado em quantidade e qualidade.

Depois de Malta, Portugal é o pais europeu com maior percentagem de população no exterior.

A solução é reconhecer como José Hermano Saraiva que somos poucos (15 milhões), mas se formos todos seremos suficientes e assim criar sinergia entre os 5 do exterior e os 10 do interior.

Em quatro áreas: turismo (só 4 em 10 brasileiros que passam pela Portela pernoitam em Portugal); social, facilitando p.e. a aquisição de segundas residências e o acesso às universidades e o acesso às universidades (há residências 42 milhões de jovens entre os 15-24 anos nos CPLP); económica (usar a diáspora para agentes de exportação para além do mercado da saudade); e financeira (benefícios fiscais aos residentes no exterior).

Em Janeiro uma iniciativa da AICEP reuniu mais de trinta líderes da diáspora que apresentaram 42 medidas para criar sinergia: desde o voto da internet, até articular as câmaras de comércio com as delegações da AICEP nas acções promocionais no exterior, até acabar com a dupla tributação dos reformados que regressam a Portugal (que em teoria acabou mas na prática não).

Em conclusão, criar sinergia entre os 5 e os 10 para transformar Portugal de um pais periférico na Europa em central no mundo.

Tal requer medidas e acções concretas.

Não discursos. Nem planos. Lembrando Shakespeare que dizia que “ a acção é a maior das eloquências” e Churchill cujo motto era “acção hoje”.



*Jorge A. Vasconcellos e Sá
Mestre Drucker School PhD Columbia University
Professor Catedrático
In “ Vida Económica” de 26 de Junho 2015

domingo, 14 de junho de 2015

A burqa também existiu no Algarve: era o bioco e dava liberdade à mulher

Por Idálio Revez
14/06/2015 – in jornal Público

No século XIX, um antigo governador civil que não gostava de ver as mulheres todas tapadas decretou a abolição do uso do trajo tradicional de todas as ruas e templos. Agora, foi recriado um bioco moderno mas a cabeça fica destapada.

A mulher algarvia, há pouco mais de um século, também usou burqa mas sem conotações religiosas. À capa negra que se estendia da cabeça aos pés e só permitia ver os olhos, foi dado o nome de bioco ou rebuço. Um antigo governador civil, em nome da nova civilização, decretou que este traje tradicional fosse banido das ruas e templos. Agora, o bioco está de volta em versão moderna, com outras histórias para contar.

O antigo governador civil de Faro, Júlio Lourenço Pinto, nascido no Porto, viu nesta peça de vestuário “vestígios da dominação muçulmana” que entendia não terem razão de existir no final do século XIX. Vai daí, extinguiu o bioco. No seu livro de crónicas O Algarve, publicado em 1894, justifica: Trata-se de uma “máscara” que poderia dar azo a certas libertinagens. Uma das razões invocadas prende-se com a fidelidade conjugal. Imagine-se uma “frágil pecadora” que, vestida de forma a não ser reconhecida, poderia atirar-se “sem perigo a aventura amorosa-romanesca ou a façanha de infidelidade conjugal”, afirma. Por isso, servindo-se dos poderes que lhe estavam conferidos, decretou: “É proibido nas ruas e templos de todas as povoações deste distrito o uso dos chamados rebuços ou biocos de que as mulheres se servem escondendo o rosto”, refere o artigo 32, do Regulamento Policial do distrito, publicado a 6 de Setembro de 1892.

Lurdes Silva, natural do Porto, “apaixonou-se” pelo bioco quando visitou o Museu do Trajo, em São Brás de Alportel – local onde se podem encontrar cópias de alguns exemplares. O amor à primeira vista por uma peça de vestuário, confessa, não é coisa rara. Mas, neste caso, houve mais do que isso. Esta professora da Universidade do Algarve, na área nas ciências económicas e empresariais, sentiu necessidade de mergulhar na cultura da região. “Levei dois anos a investigar a história desta peça”. Por fim, decidiu partilhar os conhecimentos e começou a produzir biocos colocando, no forro da peça, a história deste vestuário contada em português e inglês. Em 1922 no livro Os Pescadores, Raul Brandão dizia que se tratava de “um traje misterioso e atraente”, que alimentava especulações. Numa passagem da obra, referindo-se às mulheres de Olhão, escreve: “Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos”.

Mas qual é relação da burqa com o bioco? A burqa, diz Lurdes Silva, é uma “imposição masculina, aqui passa-se o contrário: o homem não quer que ela use, mas ela usa para ter mais liberdade”. Por conseguinte, os três modelos que concebeu, com design de Maria Caroço, puxam pelo lado estético da peça, sublinhando as histórias amorosas e o sentido da liberdade. Por isso, cada um tem a sua designação: mistério, tradição e paixão. O preço dos modelos recriados varia entre os 139 e os 159 euros.

Assim, a novidade deste Verão é um bioco, de um tecido leve, com grafitti assinado por Sen Silva – um artista com várias obras públicas em Olhão e com vários trabalhos expostos numa galeria em Almancil. “Tanto pode ser usado numa cerimónia, como numa festa sunset”, diz Lurdes Silva, referindo-se ao bioco “mistério”, uma peça sugerida pela cantora Viviane, a artista que integra o projecto ”Rua da Saudade”, em homenagem ao poeta Ary dos Santos, e canta “Do Chiado até ao Cais, e que se rendeu à recriação deste traje regional. As cores predominantes são o verde/figueira, o azul lusco-fusco do pôr-do-sol algarvio e o tijolo dos mercados de Olhão. Uma colecção destas peças vai estar patente ao público, na FIL, em Lisboa, entre 27 de Junho a 5 de Julho, numa mostra dedicada à inovação. Para já, no Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela, está patente, até 12 de Julho, na parte da tarde, uma exposição de biocos da autoria da artista plástica Joana Bandeira.

Bioco, um mito bem guardado

Mas nos finais do século XIX, a visão de Júlio Lourenço Pinto estava longe deste recente entusiasmo pelo bioco já que considerava que este não passava de um vestígio da cultura islâmica “sem elegância nem beleza”, feito de um tecido “negro sepulcral”, que não se coadunava com evolução civilizacional. Com alguma semelhança a este traje encontra-se o capelo, da ilha Terceira – que ainda faz parte do folclore açoriano e se tornou símbolo dessa região. No Algarve, a extinção oficial deu-se em 1892. Porém, continuou a ser usado em Olhão até meados dos anos 30 do século XX. O director do Museu do Trajo em São Brás de Alportel, Emanuel Sancho, diz que não passa de “um mito” a relação que se estabeleceu entre esta peça e o véu islâmico. “Há um século tapava-se a cabeça em toda a Europa – desde a Holanda, onde não havia biocos, até à Inglaterra e à França”, observa.


terça-feira, 26 de maio de 2015

terça-feira, 24 de março de 2015

Os algarvios têm mais de 200 milhões de anos!

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Dinossauro anfíbio com 200 milhões de anos encontrado no Algarve

De acordo com o relatório da descoberta publicado no «Journal of Vetebrate Paleontology», pode ter sido descoberta uma nova espécie em Portugal.

Um fóssil de dinossauro da família dos sapos, que habitou a terra há 200 milhões de anos, foi descoberto por investigadores escoceses em Loulé, Algarve, em Portugal. Este foi o primeiro membro do grupo «Metoposaurus» encontrado na Península Ibérica. 

O animal parecido com um crocodilo teria o tamanho de um carro pequeno, cabeça achatada e alimentava-se principalmente de peixe embora também caçasse os dinossauros-salamandra que se aproximassem da água. 

Segundo os paleontólogos da Universidade de Edimburgo, o anfíbio identificado como «Metoposaurus algarvensis», à semelhança dos crocodilos, escondia-se em lagos e rios à espera das presas. 

«Há uma confusão de ossos lá, mas tem sido um desafio remover os ossos porque estão num leito ósseo com cerca de meio metro de largura», afirma o investigador, Steve Brusatte, citado pelo jornal inglês «The Guardian».

Apesar de ser um grande predador, o «Metoposaurus» tinha membros fracos e pequenos para um animal de tão grande porte, o que significa que não se podia afastar muito da água senão passava ele mesmo a ser a presa. 

De acordo com o relatório da descoberta publicado no «Journal of Vetebrate Paleontology», as diferenças na estrutura da mandíbula e em várias partes do crânio, onde a medula espinal se encontra com o cérebro, revelam que pode ter sido descoberta uma nova espécie em Portugal. 

A maioria dos «Metoposaurus» foram extintos há 200 milhões de anos, marcando o fim do Período Triássico. Grandes fendas na terra e a atividade vulcânica foram a causa da morte de milhares de vertebradas, incluindo anfíbios, que deixaram a terra «nas mãos» dos dinossauros.


In TVI24, 24 de Março 2015

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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Património Natural

Algarve