O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
Mostrar mensagens com a etiqueta literatura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta literatura. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Alain de Botton e a sua Escola da Vida ( os problemas comuns ou a origem dos problemas?)

Critica a Academia pelo modo como ensina os estudantes e, na volta, recebe o desdém de quem o arruma na gaveta da “filosofia pop”. Alain de Botton usa a medida da História para relativizar o alarido contemporâneo dos media enquanto mantém em alta a cotação das ideias. Milita contra as “coisas feias”, colocando o pensamento sobre as cidades no centro do alvo, e, a propósito, confessa o ódio por Boris Johnson [o anterior mayor de Londres]. Com formação em história, literatura e filosofia, Alain de Botton fundou a School of Life juntamente com uma comunidade de pensadores que dá prioridade aos “problemas comuns”. Passados 20 anos sobre a publicação do seu primeiro romance, Alain regressa ao tema com uma proposta inédita: falar do amor, não o do enamoramento, mas o da duração, cheio das dificuldades do dia a dia. À medida que conta a história, analisa as causas, o tal misto de emoção e racionalidade que atravessa toda a sua obra.

Admite que é preciso coragem para experimentar novas formulas de escrita. Como esta sobre a qual discorreu sentado à minha frente no seu escritório londrino. Numa tarde de final de maio, a luz branca ofuscava através das janelas, que davam sobre o verde omnipresente das pacíficas ruas de Belsize Park.


TRABALHOU neste romance sobre o amor durante cinco anos. Tem vários projectos a correr ao mesmo tempo?

Sim, vários, e há um momento em que os pensamentos que vão surgindo parecem certos.

ENTÃO, quando se diz que, 20 anos depois de “Ensaios de Amor”, volta ao tema do amor não faz muito sentido...

Não faz, porque, de certa maneira, nunca abandono o tópico, está sempre presente, e os outros livros ajudam a dar forma ao pensamento. Tudo se interliga no cérebro.

TEM vindo a desafiar convenções, algumas delas estabelecidas há séculos. É o caso do Romantismo com letra grande, convenções sociais como o casamento, a religião, o trabalho, a política...

Eu não as desafio completamente, procuro o que é interessante nelas.
Quando tratei da religião, não disse que deveríamos esquecê-la...Sou sempre muito simpático com o objecto do meu ataque. A religião era o alvo do ataque, mas também o aliado. Desta vez, com o amor...eu não quero que se diga que o livro ataca o amor, não. Sou muito a favor do amor. Penso é que temos de ter mais cuidado. É uma manobra semelhante à que usei com outros temas...A arte está muito bem, mas temos de a usar de determinada maneira.

ESTÁ sempre a dizer “vamos ser directos e fazer uma abordagem racional”, seja do que for, como se dissesse “vamos ter maturidade perante as coisas”...



Concordo que maturidade é uma palavra interessante. É maçador quando se diz que tem de se ser mais maduro, porque vivemos numa sociedade com uma mentalidade impulsiva, romântica e muito jovem. A minha ideia dos seres humanos é que têm cérebros dignos de muito pouca confiança, e este é um ponto filosófico clássico. É como dizer que temos este cérebro que julgamos que nos dá informação rigorosa, mas não é verdade. Nós não compreendemos mesmo as outras pessoas, não nos compreendemos a nós próprios, e tudo é muito mais perturbador e complexo do que imaginamos. Por isso temos de ter cuidado e analisar, pensar, parar, separar elementos...esse tipo de coisas. Em particular em áreas como as relações amorosas, em que as pessoas são particularmente impulsivas e impacientes. Há quem acabe com um casamento por causa de um fim de semana que correu mal! O quê?

ESSES gestos não estão directamente ligados às expectativas?

Sim. Eu não sou uma pessoa de expectativas altas...mas se as temos torna-se mais complexo e somos obrigados a trabalhá-las, a planear.

A COMPLEXIDADE não é um problema em si...

Não, mas uma pessoa tem de estar preparada para ela, não há nada pior do que a complexidade que não foi prevista. As pessoas ficam muito impacientes, entram em pânico, sentem-se perseguidas, perguntam-se porque é que a vida está a correr tão mal. No espaço público não há informação suficiente sobre a complexidade das coisas. A história que contamos a nós próprios a propósito, digamos, do amor não é suficientemente honesta em relação às complexidades que implica.

PARECE-ME que vivemos em várias épocas diferentes consoante o sector da vida. A política rege-se por regras ultrapassadas, os resultados eleitorais já não reflectem o eleitorado como antes, as tecnologias de informação deixam bem claro que parece que vivemos simultaneamente em eras diferentes...

Sim, é verdade, e muitas das nossas respostas têm um milhão de anos! Dá em grandes contrastes quase cómicos. Já fomos à Lua, estamos de partida para Marte, mas ainda não sabemos como evitar a discussão sobre a maneira de pendurar a toalha das mãos no toalheiro.

NÃO CONSEGUIRMOS resolver essas pequenas coisas torna-nos ridículos?

Ontem estive numa conferencia organizada pela Google [“Talks at Google”], e o Eric Schmidt [presidente da Alphabet] dizia durante a sua intervenção que estamos a trabalhar na cura do cancro, conseguimos ter segurança nas estradas, criamos viaturas sem...A certa altura perguntaram-lhe se havia alguma área em que a Google não desse cartas, e ele respondeu: “Fanatismo, falta de tolerância... Não sabemos o que fazer com isso. ”E acrescentou que gostaria que a Google fizesse uma aplicação para a sabedoria e para a tolerância. Eu fiquei a pensar como é fascinante que quem sabe tratar o cancro diga que não pode fazer nada pela tolerância. Intriga-me! O que pode ser mais difícil do que curar o cancro? Deveria estar ao mesmo nível de dificuldade!


O QUE é que o espanta?

Espanta-me muito a falta de ambição das nossas sociedades relativamente a questões emocionais. Já que a nossa felicidade e bem-estar são tão dependentes do nosso funcionamento emocional, é muito estranho que abandonemos e entreguemos esta área à sorte e ao instinto. É que mesmo estas grandes companhias tecnológicas que detestam deixar as coisas entregues ao instinto respondem: ”Ah, sim, OK, isso é um mistério.” O quê? Que interessante!

VOLTANDO ao Romantismo com letra grande, cito-o: “O Romantismo diz-nos que vamos conhecer a pessoa, o que é erróneo, porque todos nós somos humanos e loucos de formas incrivelmente variadas.” Falhámos a abordagem desta loucura?

Se ouvirmos discussões que os casais têm após passarem algum tempo juntos, os maridos ou mulheres estão muito zangados com o outro por ele não estar certo, por não ser suficientemente bom. Isto é frequente porque partimos da posição errada da afeção e seguimos em direção ao fundo.
Como acontece com a religião. Tenho muita simpatia pela ideia católica do pecado original, que diz basicamente que toda a gente é pecadora. Eusou um judeu secular, porém acho-a uma ideia encantadora e um ótimo ponto de partida. Se se começar uma relação com alguém admitindo “tenho muitos problemas, não sou nada perfeito”, é um bom ponto de partida. Significa que não haverá tanta autoconsciência de integridade moral, que é o verdadeiro inimigo do perdão. E o perdão é muito importante!


ESTÁ a falar de generosidade?

Eu digo algures no livro que temos de nos tratar uns aos outros como fazemos com as crianças pequenas, porque quando lidamos com elas somos muito generosos. É um trabalho difícil, mas somos sempre capazes de procurar uma boa explicação para o facto de, se a criança não é uma pessoa horrível, porque fez uma coisa horrível? Aos adultos, classificamo-los logo como horríveis, presumimos que o que fizeram foi para nos magoar, em vez de pensarmos que os outros, se calhar, estão apenas cansados, maçados, esse tipo de coisas.


SOMOS muito vulneráveis, achamos que tudo pode destruir-nos por qualquer razão?

Exacto! Somos muito vulneráveis e muito ansiosos. É básico para todos, e achamos que é verdade para nós mas não para os outros. Uma lição básica é acreditarmos que sabemos imenso sobre nós próprios e, na verdade, tão pouco sobre os outros. Temos de acreditar que as outras pessoas têm o mesmo tipo de vulnerabilidades que nós. Não exactamente o mesmo arrependimento, mas arrependimento. Não exatamente o mesmo medo, mas medo. Insistimos que as outras pessoas são diferentes e projectamo-los no amor, e quando idealizamos uma pessoa achamos que ela é perfeita. Quando odiamos uma pessoa, fazemos o mesmo e achamo-la o diabo, um horror. E isto porque simplesmente recusamos ter a percepção de que o outro é mais ou menos como nós, uma mistura de bom e mau, estúpido e esperto...


DISSE há pouco que a maturidade é maçadora enquanto assunto. No entanto, ela é essencial para a relação entre adultos. Ao crescermos, admitimos com mais dificuldade que um adulto seja imaturo?

Ser imaturo não é um insulto. Há uma obsessão tão grande por não se querer ser infantil... O cristianismo é de novo interessante quando diz que toda a gente é uma criança filha de Deus. É um ótimo ponto de partida. A psicanálise diz o mesmo, que o adulto será chamado adulto e que tem muitos períodos, incluindo a infância, a existirem simultaneamente dentro de si. Não é um insulto, é só a realidade. Se a cultura nos enviar estas mensagens, ajuda, porque modela o tipo de conversas que as pessoas têm na cozinha e no quarto...


O CONCEITO de normalidade é difuso.

A cultura decide o que é normal, e eu acho que a nossa ideia do que é normal não ajuda nada, deixa demasiada coisa de fora. Faz com que muitas pessoas se sintam estranhas. O que é normal tem a ver com as especificidades de cada cultura. Nós achamos que o século XIX foi muito anormal e que agora somos muito maduros na nossa aferição do mundo, mas não é exatamente assim.

E CADA época pensa em si deste modo?

Sim.

ENQUANTO escrevia “O Curso do Amor” pensava no que seria normal para um casal?

Claro, quando dei o livro a ler ao meu editor ele mostrou preocupaçãoo por os personagens serem malcriados e agressivos um para o outro. Eu perguntei-lhe como é ele em casal. E ele respondeu: “Tal e qual como eu e a minha mulher, não é normal.” E eu retorqui: “Porquê?” Porque não é normal para a conversa pública. A conversa pública a propósito do amor ainda é reduzida.


O QUE se pode fazer por ela?

A arte e a literatura deveriam ser responsáveis por trazer o amor para a conversa pública, é essa a sua função. Em sociedade, as pessoas dizem sempre que estão “bem, ótimo”, e depois vamos para casa com vontade de nos matarmos. A arte para mim é alargar o sentido daquilo que é normal, fazer-nos sentir um pouco menos solitários. A função primordial da arte é assegurar o leitor da sua normalidade, da legitimidade do seu medo, esperança, infantilidade, zanga...

A LITERATURA hoje precisa de ter objectivos?

Está muito fora de moda ter objectivos. O modernismo centra-se no esvaziamento da ideologia e foge ao didatismo. Os artistas visuais não devem ter missões artísticas afirmadas, é considerado vulgar, ordinário. Se alguém disser: “Estou a pintar para ajudar as pessoas a serem melhores pessoas”, soa muito esquisito. Eu tenho um sentido neoreligioso, nós vimos de sociedades religiosas que nos guiavam e tinham ideias sobre sabedoria (nem sempre a certa) mas com uma fortíssima intenção moral. Isto entra em colapso no final do século XIX, inicio do século XX, e o que o substitui é a liberdade, a ideia de que cada pessoa é livre. Mas liberdade também significa sozinho, e aquilo que passa a estar no lugar da religião é a cultura. Por isso se constroem as óperas, as livrarias...Toda esta energia está realmente a dizer que a cultura pode guiar-nos como a religião o fazia antes. Há que ver como.

QUER dar um exemplo?


Se eu for à Tate Gallery e disser que me sinto sozinho e confuso, eles perguntam-me: “O quê Não podemos ajuda-lo, somos apenas a Tate Gallery!” A Tate não é a catedral de Londres, não é um lugar de consolo. Isto preocupa-me porque criámos uma cultura solitária onde é muito difícil percebermos para onde podemos virar-nos.

É COMUM crentes, em particular católicos, acusarem os ateus de terem escolhido estar sozinhos no mundo. Penso que a responsabilidade de um ateu é considerável...


Concordo, atribui um grande fardo ao individuo. A pessoa está sozinha, mas tem de encontrar soluções...Eu sou ateu, sempre fui, e vivo numa sociedade ateia. Ninguém é crente em Inglaterra, a Igreja desapareceu há muito tempo, a religião é uma coisa de outro tempo, por isso não acho que ser ateu seja uma ameaça. Imagino que em Portugal seja diferente, que haja maior presença da religião e que, por isso, a sua ausência seja mais ameaçadora.


CONCORDA que a religião é hoje mais vezes formulada em termos de fanatismo, extremismo, radicalismo? No caso do Sadik Khan, recentemente eleito para a Câmara de Londres, praticamente todos os comentários sobre ele o reduziam ao facto de ser muçulmano e moderado.

O cristianismo foi uma religião extremamente fanática em vários pontos da sua história. Comparado com uma religião poderosa e impositiva, é atualmente um gatinho. As religiões passam por períodos de maior e menor violência, perseguição e intolerância. O islão está numa fase parcialmente de extrema intolerância. Não me surpreende que os media falem de Sadik Kahn como muçulmano...mas moderado, porque os extremistas têm sido um problema.


QUE TIPO de impacto tem na sociedade britânica?

O Reino Unido é extremamente tolerante. Não porque os britânicos sejam extraordinários, mas porque há um sentido da vida pública que é fria, mas também muito tolerante. O pais tem sido um lugar de tolerância religiosa há centenas de anos. No século XVII, quando os franceses andavam a queimar os protestantes, eles fugiam para Inglaterra, onde ficavam à vontade. Há uma notável tolerância numa cidade como Londres. Parte da vitória de Khan deveu-se ao facto de as pessoas em Londres não poderem imaginar o que faria à sua autoimagem recusar um político que fosse muçulmano ou simplesmente por ele ser muçulmano. Qualquer pessoa aqui dirá que não se julga ninguém pela sua religião.

E COMO vê a mudança de Boris Johnson para Sadik Khan?

Eu detestava o Boris Johnson, acho que é um homem horrível e perigoso, por isso estou muito contente que tenha saído. Espero que ele não destrua o pais de outra maneira qualquer.

JÁ FEZ estragos na liderança da campanha para o Brexit, não?

Corremos o risco de fazer estragos muito sérios.

FEZ UM vídeo sobre Londres onde diz que a cidade se está a tornar uma má versão do Dubai e chama-lhe Dublon. Em tom de campanha, exorta os londrinos a transformarem a raiva em ação. Não é intervenção política?


Acho que um dos problemas das nossas sociedades é a fealdade, e é muito estranho que nenhum político assuma que o problema do mundo é ser feio. Porém, a fealdade é um assunto muito importante. Muitas vezes aparece ligado à pobreza, as pessoas não dizem a palavra pobreza. O mundo moderno é muito mais feio do que tem de ser, e não se trata de uma questão de dinheiro: é uma questão de ideias. Temos ideias erradas sobre o planeamento das cidades, a responsabilidade dos governos nisso, como funciona a arquitectura...Bastou para que se fizessem dez grandes asneiras para que o mundo moderno tenha um aspeto geral desastroso. Os seres humanos adoram a beleza, basta ver que quando vão de férias vão para sítios bonitos, não vão para Birmingham nem para Frankfurt, porque são lugares feios.
Vão para Amesterdão ou para Veneza, porque são sítios bonitos. Mas porque é que são tão raros, porque há tão poucas cidades assim bonitas?


E PODEM estar rodeados de lugares feios...

Sim, basta olhar para os arredores de Paris: não é falta de dinheiro, é um erro intelectual. E isso endoidece-me! Escrevi um livro sobre isso, fiz uma série de televisão, provoquei imensa agitação e mantive-me muito ativo neste debate no Reino Unido durante dez anos. Estou ligeiramente retirado agora porque me cansei. Ainda me preocupo, é um desespero.

QUAL É o papel dos intelectuais nestes debates?


Muitas vezes, os intelectuais e os académicos acham que os problemas do mundo radicam no desconhecimento de uma solução. Por isso, vão para as universidades e escrevem um livro sobre a justiça, como resolver o problema da fome e da corrupção ou a fealdade das cidades. Ótimo! E o mundo muda porque se escreveu um livro. Só que não funciona assim. Não basta a ideia, é preciso saber se alguém está a ouvir, se as pessoas acreditam nas conclusões a que se chega...Daí passa-se à educação, à política, meios de comunicação social, tudo isso...


E O INTELECTUAL na sociedade?


Perturba-me a posição do intelectual na sociedade porque tem muito pouco poder! Os meus livros são todos animados por este desejo de mudança, este interesse na alteração é um tema em si. Ao longo da vida tentei de várias maneiras e acho que a resposta é fazer-se o que se pode.

DIZ QUE vivemos na época wiki – Wikipédia e WikiLeaks -, há intelectuais ativos, dispomos de informação, temos os media, temos os instrumentos, sabemos tudo...


E não fazemos nada! A política, numa sociedade democrática, uma eleição ou um político é o resultado de todo o tipo de ações que demoram muito mais tempo. Estamos a falar de cronologias diferentes. Uma eleição é o resultado de uma década de acontecimentos na sociedade, factos muito mais lentos. O fenómeno Trump nos Estados Unidos não começou hoje. O papel dos media deveria ser ajudar um certo tipo de política a acontecer, porque os media informam a sociedade das várias questões que lhe dizem respeito. Um político só pode fazer algumas coisas com ajuda dos media. Os políticos são o último estágio da mudança, os media estão antes disso na pirâmide da mudança, da mesma forma que no primeiro momento está a educação e depois a arte e a cultura.

VOLTANDO ao novo livro: espera-se que uma história de amor caia do céu como um raio, e o que aqui faz é trazer a história à terra e analisá-la. É mais próximo de um caso de estudo?


Sim, eu sei que não é um livro para todos, que haverá quem recuse aquela voz analítica e exija a história, mas ela está lá. Aprendi que tenho de usar o meu prazer de escritor e escrever aquilo que gostaria de ler. Mesmo que seja pouco habitual. Há que ter a esperança de que alguns leitores gostem de um livro assim, é para isso que é preciso coragem. Este livro tocou profundamente algumas pessoas e outras nem de raspão.


OBRIGA as pessoas a reflectirem sobre as próprias vidas?

Sim, e eu não quis escrever um ensaio filosófico nem só um romance.
Quis uma fusão dos dois como uma tensão permanente.

A TERAPIA não é muito popular. Não fica mais difícil?

Concordo, há muita hostilidade contra as terapias. E é verdade que há por ai muitos psicoterapeutas malucos, mas há ideias básicas na psicanálise que me parecem totalmente corretas. Coisas básicas como dizer que a forma como amamos foi modelada pela experiência com os nossos pais parece-me irrefutável. Certos estilos de vinculo, o modo como nos relacionamos com outras pessoas depende do nível de segurança que sentimos em crianças. Estas coisas têm todas uma história pessoal, e não sei como é que se poderia compreender um ser humano sem este modelo.

NO SEU trabalho, dá um passo atrás para olhar a estrutura daquilo que analisa. Fá-lo em termos de séculos, de história e como mecanismo para pôr os assuntos em perspectiva. É tranquilizante?

Estudei história das ideias em Cambridge, onde o treino nos dizia que cada ideia tem uma história e é sempre interessante recuar e aprendê-la.
Fica-se a perceber as coisas fora de comum da nossa própria sociedade, boas ideias que ficaram bloqueadas no passado...Não diziam exatamente isto, mas foi o aproveitamento que eu fiz do que se ensinava. Parte do papel do pensador é recuar e resgatar o que pode esclarecer as estranhezas do presente. A dada altura no livro escrevo que o romantismo defende que, quando amamos, temos de amar tudo na outra pessoa, que a critica é sempre agressiva e negativa, não se pode pensar em educar o amante. Se recuarmos à Grécia Antiga, o amor para eles é educação. A educação é o amor de se tornar uma pessoa melhor através do amor. Temos uma ideologia do romantismo fixada em 1750 que permanece nas cozinhas de Lisboa de hoje em dia. É fascinante, adoro estas ideias que não sabemos de onde vêm, achamo-las normais como se não tivessem história. Mas têm sempre uma história.

A COMPREENSÃO pela história é uma espécie de terapia?


Sim, dá-nos mais opções, abre uma janela. De repente, este casal está a discutir, e abre-se uma janela pela qual podem olhar para os gregos antigos à distância.

SE LHE DÁ mais recuo pensar através da história, como reage à globalização?

É o mesmo principio. Em vez de o fazer através do tempo, faço-o através do espaço. Da mesma forma que na história podemos olhar para épocas diferentes, agora podemos olhar através de diferentes países. Hoje em dia, na China, sabe-se mais do Ocidente e vice-versa, ainda que, muitas vezes, não em profundidade. A proposta vazia da globalização diz que podemos enviar uma banana através do mundo em dois minutos. Mas a proposta interessante diz que se pode observar o relativismo de todas as convicções introduzindo mais opções para determinada sociedade. É o oposto do provincianismo, onde não se dispõe de suficientes janelas abertas e as pessoas pensam que aquilo que pensam é tudo o que existe. O provincianismo tem uma arrogância, e eu acho que nos tornámos um pouco menos provincianos com a parte boa da globalização.

A PARTE boa da globalização?


Sim, lembro-me sempre do que Flaubert dizia a propósito do caminho de ferro: um idiota entrava num comboio em Rouen e duas horas depois saia em Paris sendo ainda um idiota. É brutal, mas significa que as pessoas podem continuar a ser provincianas independentemente dos instrumentos que tenham ao seu dispor. O aeroporto é uma possibilidade, mas podem fechar-se os olhos.

DISSE-ME que, tal como Freud, é um pessimista. Como?


Há uma diferença entre ser um pessimista e ter uma filosofia pessimista.
Ser um pessimista pressupõe a expectativa de que não vale a pena fazer muito porque vai correr tudo mal.
Eu não tenho esse tipo de pessimismo. Penso que a filosofia do pessimismo tem muito a ensinar-nos, em particular sobre coisas como política, amor. Porque algumas das piores características da nossa época podem ser ligadas a uma especial de utopia furiosa, como a de Donald Trump. É interessante que Barack Obama seja extremamente pessimista. A resposta que deu para justificar não enviar tropas americanas para o Médio Oriente foi que provavelmente não faria qualquer diferença.

NÃO SERÁ realismo depois do que já aconteceu?

Com certeza! O que quero dizer é que é muito pouco comum quando estamos tão habituados à retórica do “vamos em frente, vamos resolver tudo”. O pessimismo é uma boa filosofia nos momentos em que suaviza a utopia furiosa. Pode tornar-nos mais pacientes e capazes de perdoar. Eu prefiro esperar pouco e ser agradavelmente surpreendido. O pessimismo não compromete um resultado positivo, ajuda-o.


A PROMESSA de solução de todos os problemas não faz parte das campanhas eleitorais?

Todo o sistema mediático e a obsessão numa eleição exagera a importância do candidato. Só que a sociedade muda por movimentos profundos e lentos. Os media gostam de afirmar que as grandes mudanças se devem a grandes homens e grandes mulheres. Acho que Donald Trump é um fenómeno de impaciência, ele refere tudo e todos à volta como lentos e afirma-se rápido. Diz que a política é lenta, os negócios são pelo contrário rápidos. É isso que ele vende, que, se elegermos alguém dos negócios, a política adquire a velocidade dos negócios: o sonho americano. Ele esquece que a política é lenta porque foi assim desenhada para poder travar os loucos. Os fundadores da América eram obcecados pela tirania, obcecados pela possibilidade de subida ao poder de um tirano, porque era isso que eles conheciam séculos seguidos na Europa. Ao escreverem a Constituição, pretendiam dar espaço ao positivo, preparando-se para evitar um mau Presidente. A Constituição é a instância do sistema americano capaz de dar o poder a um bom Presidente. Com esperança, o sistema sobreviverá até a Donald Trump. Desta vez é mesmo extremo, será o grande teste à democracia da América! Mas as pessoas são individualmente mais determinadas pelas relações que têm entre si e com os seus filhos do que pelo Presidente dos EUA.

VIVEMOS tempos perigosos?

Não mais do que em qualquer outra época. A experiência humana, a nossa vida é perigosa. Podemos cair mortos num segundo. Nunca pensamos nisso, mas isto é perigoso do principio ao fim.

Entrevista de Cristina Peres, in Expresso de 10 de Junho

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Escárnio e Maldizer, sempre em contraciclo, não param!






São inumeras  as "correntes" de "fé" ou tão só de "fezadas" as quais, percorrendo a net, chegam às "paletes" aos nossos endereços electrónicos.

Nem todas captam adeptos, mas muitas delas cativam milhões de "crentes" que ajudam a multiplicar o seu numero por milhares de milhões.

Não há, que saibamos, forma de avaliar números exactos ou sequer aproximados. No entanto estamos em crer que, a que recebemos hoje e publicamos, é daquelas que atingirá uma mega difusão, tal o grau de certeza no retorno que seguramente vai gerar a cada um dos seus destinatários.

O escárnio e maldizer não estão em crise e quantos mais anos de governações mediocres maior é a exuberância da sua produção. É um bom exemplo dos chamados Contraciclos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

POBRES DOS NOSSOS RICOS (Mia Couto)

A maior desgraça de uma nação pobre

é que em vez de produzir

riqueza, produz ricos.


Mas ricos sem riqueza.


Na realidade, melhor seria

chamá-los não de ricos mas de

endinheirados.


Rico é quem possui meios de

produção.


Rico é quem gera dinheiro e dá

emprego.


Endinheirado é

quem simplesmente tem

dinheiro, ou que pensa que

tem. Porque, na realidade, o

dinheiro é que o tem a ele.


A verdade é esta: são demasiados

pobres os nossos "ricos".


Aquilo que têm, não detêm.

Pior: aquilo que exibem

como seu, é propriedade de

outros.


É produto de roubo e

de negociatas.


Não podem, porém, estes nossos

endinheirados usufruir em

tranquilidade de tudo quanto

roubaram.


Vivem na obsessão de poderem

ser roubados.


Necessitavam de forças policiais

à altura.


Mas forças policiais à

altura acabariam por lançá-los a

eles próprios na cadeia.


Necessitavam de uma

ordem social em que houvesse

poucas razões para a

criminalidade.


Mas se eles enriqueceram foi

graças a essa mesma desordem ...

sábado, 1 de outubro de 2011

A ORIGEM DO CONTO DO VIGÁRIO, por FERNANDO PESSOA, o próprio.

Publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, de 30 de Outubro de 1926, com o titulo de “Um Grande Português”. Foi publicado depois n’O “Noticias” Ilustrado (edição semanal do Diário de Noticias), Lisboa, ano II, série II, nº 62, de 18 de Agosto de 1929, com o titulo de “A Origem do Conto do Vigário”.



Vivia, há já bastantes anos, algures num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador e negociante de gado chamado Manuel Peres Vigário.

Chegou uma vez ao pé dele um fabricante de notas falsas e disse-lhe:” Sr. Vigário, ainda tenho aqui uma notazinhas falsas de cem mil reis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil reis cada uma”.

“Deixe ver”, disse o Vigário; e depois reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as. “Para que quero eu isso?”, disse; “isso nem a cegos se passa”.

O outro, porém, insistiu; Vigário, regateando, cedeu um pouco.
Por fim fez-se negocio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.

Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a dois irmãos, negociantes de gado como ele, o saldo de uma conta, no valor certo de um conto [milhão] de réis. No primeiro dia da feira, em que se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna obscura da localidade, quando surgiu à porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de alguma conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha um pagamento a fazer-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil reis. Os irmãos disseram que não se importavam; mas, como nesse momento a carteira se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem mil réis. Houve então uma troca de olhares entre os dois irmãos.


O Manuel Peres contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem perdeu tempo em olhar para elas. O Vigário continuou a conversar, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria um recibo. Não era costume mas nenhum dos irmãos fez questão.

O Manuel Peres disse que queria ditar o recibo, para as coisas ficarem todas certas.
Os outros anuíram a este capricho de bêbado. Então o Manuel Peres ditou como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, “estando nós a jantar” ( e por ali fora com toda a prolixidade estúpida de bêbado), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, a quantia de um conto de réis, em notas de cinquenta mil réis.
O recibo foi datado, selado e assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e por fim foi-se embora.

Quando, no dia seguinte, houve oportunidade de se trocar a primeira nota de cem mil réis, o individuo que ia a recebê-la, rejeitou-a logo por falsíssima. Rejeitou do mesmo modo a segunda e a terceira. E os dois irmãos, olhando então bem para as notas, verificaram que nem a cegos se poderiam passar.

Queixaram-se à policia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira que o havia colhido providencialmente no dia do pagamento e o havia feito exigir um recibo estúpido.

Lá o dizia o recibo:” um conto de réis “em notas de cinquenta mil réis””. Se os dois irmãos tinham notas de cem, não era dele, Vigário, que as tinha recebido. Ele lembrava-se bem, apesar de bêbado, de ter pago vinte notas, e os irmãos não eram (dizia o Manuel Peres) homens que lhe fossem aceitar notas de cem por notas de cinquenta, porque eram homens honrados e de bom nome em todo o concelho.

E, como era de justiça, o Manuel Peres Vigário foi mandado em paz.

O caso, porém, não podia ficar secreto. Por um lado ou por outro, começou a contar-se, e espalhou-se. E a história do “conto de réis do Manuel Peres Vigário”, abreviado o seu titulo para “o conto do Vigário” passou a ser uma expressão corrente na língua portuguesa.

Fernando Pessoa

domingo, 7 de agosto de 2011

Descomprimir ao Domingo e em todos os outros dias...

Porque é Domingo, em obediência a uma tradição, milenar, cristã que reuniu o concenso universal, todos assumimos o direito de descansar, cumprindo-o.

Sem pôr em causa a justeza desta organização mundial do trabalho e muito menos a grandeza da sabedoria e humanismo libertário do seu autor, não podemos deixar de considerar que, face à complexidade da vida actual e à conjuntura em que a humanidade se encontra, o descanso semanal não responde integralmente às necessidades de descompressão que a intensidade do dia-a-dia careçe.

Com o advento do actual "stress", mais um produto deste sistema de desenvolvimento, resultado de uma pressão que é diária, o sistema de resistência humana que é perfeito, ainda não encontrou formas de descompressão sistemáticas, de cariz pessoal, que compensam de algum modo a agressão exterior, promovendo o relaxamento e a retoma do carril onde cada um circula, mais usadas que as ancestrais.

Millôr Fernandes, cidadão e escritor brasileiro, que, naturalmente, pensa em português, é o autor do texto que se segue, no qual, com mestria literária, nos fala de algumas descompressões pessoais mais tipicas e ancestrais...

Millôr Fernandes

Foda-se – por Millôr Fernandes

(adaptado)

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à

quantidade de "foda-se!" que ela diz.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?

O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma

pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Liberta-me.

"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"

"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,

foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua.


Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.


"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a

ideia de muita quantidade que "comó caralho"?

"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão

matemática.


2

A Via Láctea tem estrelas comó caralho!

O Sol está quente comó caralho!

O universo é antigo comó caralho!

Eu gosto do meu clube comó caralho!

O gajo é parvo comó caralho!

Entendes?

No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a

mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".

Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem

nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.

O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.

Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades

de maior interesse na tua vida.

Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro

para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.

Solta logo um definitivo:

"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".

O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,

e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu

correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,

sílaba por sílaba.


Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.

Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se

reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um

merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua

maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?

Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus

quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de

seu interlocutor e solta:

"Chega! Vai levar no olho do cu!"?


3

Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.

Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar

firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a

sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".


Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para

uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de

ameaçadora complicação?

Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor

num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo

assim como quando estás a sem documentos do carro, sem

carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a

mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"


Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”


Então:

Liberdade,

Igualdade,

Fraternidade

e

foda-se!!!

Mas não desespere:

Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”

Atente no que lhe digo

sábado, 2 de julho de 2011

Sobre a origem de algumas expressões comuns...

Com origem num sitio privado brasileiro encontrámos explicações plausíveis sobre a origem de um conjunto largo de expressões vulgares na língua portuguesa.
Depois de ajustado o texto ao português europeu, aqui vai:


JURAR A PÉS JUNTOS:
Ele jurou a pés juntos que não foi ele!
A expressão surgiu através das torturas perpetradas pela Santa Inquisição, durante as quais o acusado de heresia tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) sendo torturado para confessar a verdade.
Até hoje o termo é usado para expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.

TIRAR O CAVALINHO DA CHUVA:
Podes ir tirando o cavalinho da chuva porque hoje não sais!
No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia pôr o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: "pode tirar o cavalo da chuva".
Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa.

DAR COM OS BURROS NA ÁGUA:
Ele deu com os burros na água!
A expressão surgiu no período do Brasil colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café, deslocavam-se da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. Sucedia que muitas vezes esses burros, percorrendo caminhos muito difíceis e regiões alagadas, morriam afogados.
Daí em diante o termo passou a ser usado para designar o insucesso de alguém que faz um grande esforço para atingir um objectivo sem o conseguir.

ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS:
Reza uma estória não comprovada que, após trair Jesus, Judas se terá enforcado numa árvore, sem nada nos pés, já que havia posto o dinheiro que ganhou por entregar Jesus dentro de suas botas. Quando os soldados viram que Judas estava sem as botas, saíram em busca delas e do dinheiro da traição. Nunca ninguém ficou sabendo se acharam as botas de Judas. A partir daí surgiu à expressão, usada para designar um lugar distante, desconhecido e inacessível.

ANDAR À TOA:
Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está à toa é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar.

SEM EIRA NEM BEIRA:
Fulano, não tem eira nem beira!
Os telhados de antigamente possuíam eira e beira, detalhes arquitectónicos que conferiam status ao dono do imóvel, chegando a servir de critério para aferir o montante do imposto a pagar.
Assim possuir eira e beira era sinal de riqueza e de posição social.
Não ter eira nem beira significa que a pessoa é pobre, sem rendimentos.

DOURAR A PÍLULA:
Escusas de dourar a pílula!
Antigamente as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar o aspecto do remédio amargo.
A expressão dourar a pílula, significa melhorar a aparência de algo.

FICAR A VER NAVIOS:
Ficou a ver navios!
Dom Sebastião, rei de Portugal, tinha morrido na batalha de Alcácer-Quibir, mas o seu corpo nunca foi encontrado. Por esse motivo, o povo recusava-se a acreditar na morte do monarca. Era comum as pessoas visitarem o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, para esperar a chegada do rei.
Como ele não voltou, o povo ficava a ver navios.

CASA DA MÃE JOANA:
Pensas que isto é a casa da mãe Joana?
Na época do Brasil Império, mais especificamente durante a menoridade do DomPedro II, os homens que realmente mandavam no país costumavam encontrar-se num prostíbulo do Rio de Janeiro, cuja proprietária se chamava Joana. Como esses homens mandavam e desmandavam no país, a frase casa da mãe Joana ficou conhecida como sinónimo de lugar em que ninguém manda.

QUEM NÃO TEM CÃO, CAÇA COM GATO:
Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, adulterou-se. Inicialmente dizia-se quem não tem cão caça como gato, ou seja, esgueirando-se, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.


O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER:
Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D`Argent fez o primeiro transplante de córnea num aldeão de nome Angel.
A intervenção foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via.
Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que lhe arrancasse os olhos.
O caso terá acabado no tribunal de Paris e no Vaticano.
Angel ganhou a causa e entrou para história como o cego que não quis ver.

PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA:
A história mais aceitável para explicar a origem do termo é proveniente das tradições hebraicas, onde os bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de pecados. Um filho do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim, após o animal morrer, ele ficava lamentando-se e pensando na morte da bezerra.
Após alguns meses o garoto morreu.

GUARDAR A SETE CHAVES:
No século XIII, os reis de Portugal adoptavam um sistema de arquivamento de jóias e documentos importantes da corte através de um baú que possuía quatro fechaduras, sendo que cada chave era distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto eram apenas quatro chaves. O número sete passou a ser utilizado devido ao valor místico atribuído a ele, desde a época das religiões primitivas. A partir daí começou-se a utilizar o termo "guardar a sete chaves" para designar algo muito bem guardado..

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Primeiro Festival Internacional de Literatura no Algarve também passa por Armação de Pêra

De 16 a 19 de Setembro, os amantes de todas as formas de literatura poderão juntar-se a esta festa da palavra escrita.

As línguas versadas serão Português, Inglês e Alemão, sendo que diversos autores famosos já aceitaram o convite para se deslocar ao Algarve e participar neste Festival, estando disponíveis para sessões de autógrafos e de leitura das suas obras, assim como para participar em workshops e palestras sobre a sua especialidade.

O Festival tomará lugar por todo o Algarve, de Tavira a Aljezur. Algumas das localizações já confirmadas são: Auditório Municipal de Lagoa e praça circundante; Casa Manuel Teixeira Gomes, em Portimão; Hotel Garbe (Holiday Inn), em Armação de Pêra; Quinta dos Vales, em Estombar; Hotel Hapimag, em Albufeira; e Museu de São Brás de Alportel.

A juntar a esta chance única de conviver de perto com autores e seus livros, o público terá ainda a oportunidade de participar em debates públicos, workshops e numa maratona de leitura.

Já alguma vez escreveu um poema? Se sim, então eis a sua oportunidade de se fazer ouvir e até de ser avaliado durante um concurso de dramatização de poemas. Nunca ouviu falar nesta modalidade ligada à poesia? Um concurso de dramatização de trabalhos de poesia é uma actividade com crescente popularidade e extremamente recreativa, que dá a oportunidade a poetas profissionais e amadores, assim como a meros leitores de poesia, de expor os seus trabalhos, ao vivo, perante uma audiência cuja avaliação será medida através do nível de aplauso.

O Festival não compreenderá apenas literatura, pois será também acompanhado de concertos, recitais e exibição de filmes, sendo que diversos hotéis e restaurantes se juntarão ao evento, organizando momentos gastronómicos onde autores poderão interagir directamente com o público e ler partes das suas obras num ambiente mais íntimo.

Quaisquer autores, poetas ou editores que se sintam identificados com este tipo de evento são benvindos, podendo contactar para o efeito a organizadora Barbara Fellgiebel, alfacult@gmail.com.

Mais informações sobre o Lit.ALGARVE poderão ser obtidas através do site www.alfacultura.com ou da página no Facebook, Lit.ALGARVE.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sylvia Beirute, poetisa algarvia

HIERARQUIA

o acto de perguntar é uma confiança expectante,
a veterania de um exemplo acaba por matá-lo,
mas pouco disto é essencial para já:na poesia, enquanto dilúvio da existência, as
influências do poeta são as veias do seu poema homicida,
veias que carregam químicos dispostos livremente
no corpo, mudando de lugar,
subindo aos olhos que lêem e que tentam
colonizar hemorragias
nos ouvidos puramente visuais.
mas haverá sempre alguém na audiência
que pergunta,que questiona directamente o poema e o seu exemplo,
alguém que interpela a
legitimidade de quem redige e assina o que é, afinal, da natureza,
alguém que pressente muros de berlim, ouvidos, narizes, ilhas,
simulacros do dessonhado, do oculto.
e nesse momento eu sorrio e não deixa de me ocorrer
que pressentir nem sempre te levará
à infância de um sentimento.
INTIMIDADE

não se trata de uma sede ser capaz de fazer evaporar
um oceano
ou de uma mentira poder ter absoluta razão, ou que
envaidece a abstracção na oxidação do cansaço estético.
e mesmo que não saibamos de que se trata,
sempre diremos que não consiste a fotografia deste momento
em inevitar a obliteração dos exemplos, de uma
consciência que extravia
colégios de identidade, palácios de consolação, relógios
casuais que dão forma aos pormenores do tempo.
encontramo-nos na orla do círculo, na superfície do branco
após o negro que o percorre e mutila como a
invenção que brota ou o poema que transnomina no ventre
e cujos versos mudam de lugar em caso de fogo
e natureza intacta.
sabemos apenas que o presente
é uma prótese do passado, e talvez isso chegue
para que devamos fechar os olhos, contornar os nossos
corpos sem uma só morte sobrevivente, e deixar que
o momento prossiga em completo vazio.


Poemas de Sylvia Beirute
(Faro, 1984)

terça-feira, 27 de abril de 2010

“Chicoronho” na EB 2/3 de Armação de Pêra


Amanhã quarta-feira dia 28 Jorge de Kaluquembe, autor do livro “ Chicoronho” estará na Escola EB 2/3 de Armação de Pêra, pelas 14h 15m, para apresentar o seu romance histórico.

Não me tirem Armação de Pêra


TORQUATO DA LUZ

Tirem-me tudo: os dedos, os anéis,
a reserva de sonho e de quimera,
mas não sejam cruéis,
não me tirem Armação de Pêra.

Não me tirem o resto da infância
que sei ter deixado aqui
nem esta luz que à distância
me segue desde que parti.

Não me tirem o verde-azul do mar
nem os barquinhos balançando à espera
dos turistas que hão-de ir visitar
as furnas de Armação de Pêra.

Mas sobretudo não me tirem este sol
e a caldeirada do Serol.

DO SEU BLOG OFÍCIO DIÁRIO

domingo, 21 de março de 2010

Dia da Árvore. Não percas o agora!

21 de Março



Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida
Na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido,
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiénico.
Correria mais riscos
viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas,
nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
comeria mais sorvetes
e menos favas,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e minuciosamente cada minuto da sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar a trás trataria
de ter somente bons momentos.
Porque, se não o sabem, disso é feita a vida,
só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca
iam a parte nenhuma sem um termómetro,
um saco de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se pudesse voltar a viver, viajaria mais leve.
Se pudesse voltar a viver
começaria a andar descalço no princípio
da Primavera
e continuaria descalço até ao fim do Outono.
Daria mais voltas no carrossel,
contemplaria mais amanheceres,
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
mas vejam lá, tenho 85 anos e sei que estou a morrer.

Jorge Luis Borges (1899-1986)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nascido nas praias de Portugal...


(...)
Meu riso de dentes podres
Ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
Rompi as arcas e os odres.
(...)
Moldei as chaves do mundo
A que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
(...)
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.

António Gedeão, Poema da malta das Naus

quinta-feira, 23 de abril de 2009

DIA MUNDIAL DO LIVRO

23 de Abril é Dia Mundial do Livro.

Comemora-se desde 1996 e por decisão da UNESCO.

A esta data está também ligado um costume Catalão de os homens oferecerem rosas às mulheres e receberem em troca livros.

Shakespeare e Cervantes, faleceram a 23 de Abril de 1616.
Dizem as estatísticas que os inquiridos que afirmam ler livros eram em 1983 de 41,7%. O número subiu em 1995 para 53,9%. Mas infelizmente em 2000 os que se afirmam leitores já são menos de metade dos portugueses (44,3%).

Ou as estatísticas mudaram de método ou o esforço que andamos a fazer para promover a leitura não anda a resultar.

E dessa população que diz ler, só pouco mais de metade (58%) estava a ler no momento em que foi inquirida.

Em números redondos só cerca de um em cada cinco portugueses é que anda a ler.

Esta é a pura e dura realidade.

Mas o tempo dedicado à leitura também tem vindo a baixar.

Deste já tão reduzido número de leitores, os que dedicam à leitura 3 ou menos horas por semana, eram 62% no ano de 2004 e baixaram para 60,9 no ano de 2005.

O número médio de livros lidos no ano de 2004 foi de 8,5 livros. Comparando com a média de livros comprados que também é de 8, ficamos com um problema a resolver.

Será possível que as bibliotecas só tenham sido responsáveis por 0,5% da leitura?

Sabemos das margens de erro das sondagens e até se compreende alguma incorrecção nas respostas que tenderão a valorizar a leitura e até a afirmação de compra.

Nesta suposição também deve estar alguma parte da explicação.

Mas mesmo assim a quota parte das bibliotecas na leitura é muito pequena.

Temos que assumir que há mais algo a fazer para além do muito que já vem sendo feito.

Por exemplo, uma biblioteca em Armação de Pêra. O Casino tem espaço de sobra para isso!

Fontes:

http://www.iplb.pt/pls/diplb/!main_page?levelid=234

http://www.apel.pt/default.asp?s=12159&ctd=1436

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Despedida de Gabriel Garcia Marquez

Gabriel Garcia Marquez retirou-se da vida pública por fortes razões de saúde: é vitima de um Cancro linfático. Agora, parece que é cada vez mais grave. Enviou uma carta de despedida aos seus amigos que, graças à Internet, está a ser difundida. A sua leitura é recomendada porque é verdadeiramente comovedor este texto escrito por um dos Latino-americanos mais brilhantes dos últimos tempos.

'Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os outros param, acordaria quando os outros dormem. Ouviria quando os outros falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate! Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas... Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.

Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha. Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer...'

GABRIEL GARCIA MARQUEZ

quinta-feira, 28 de junho de 2007

SEM COMENTÁRIOS…

Pátria - 1896
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro [.]

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.]

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos […] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [...] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

A felicidade exige valentia

"POSSO TER DEFEITOS, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.

SER FELIZ É reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.

É ATRAVESSAR DESERTOS FOR DE SI, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.

É AGRADECER A DEUS a cada manhã pelo milagre da vida.
SER FELIZ É não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É TER CORAGEM para ouvir um "não".
É TER SEGURANÇA para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa - 70º aniversário da sua morte

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

Visite as Grutas

Visite as Grutas
Património Natural

Algarve