
Lemos com atenção o
post do Ex Vereador, acerca do interesse museológico e cultural da Fábrica do Inglês.
Foi útil! De facto completámos a informação genérica de que dispúnhamos acerca do local. Não porque necessitássemos dela para concluir da importância do Museu, quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista turístico, quer numa óptica nacional, quer sobretudo regional e concelhia, a qual reconhecemos desde a nossa primeira intervenção neste blog.
Foi ainda pedagógica a noção do todo que a Fábrica constitui do ponto de vista museológico, o que torna fácil compreender a importância da sua conservação, no estado em que se encontra!
Assim fosse tão fácil perceber os males que a afligem e ameaçam..., sobre os quais não se pronunciou, nem teria, provavelmente, de se pronunciar.
Para além da explicita e implícita declaração de amor ao sítio museológico, revela-nos ainda alguns pormenores históricos acerca da requalificação do espaço e dos protagonistas da mesma que a recuperaram do esquecimento, da degradação, da extinção.
As eles e ao ex-Vereador, todos estaremos, ou deveremos estar, agradecidos!
Nós, pela parte que nos toca, estamos, sem margem para dúvidas, por todas as razões já invocadas preteritamente.
Reconhecemos no entanto a todos o direito inalienável a terem a sua opinião e a manifestá-la quando muito bem entende!
E se parte dos protagonistas do resgate da Fábrica do Inglês realizaram uma obra de mérito, provavelmente realizaram outras de mérito discutível, o que os poderá converter, agora, nos coveiros da obra resgatada, a caminho do retorno ao esquecimento.
Sucede porém que o problema com que se debate a Fábrica do Inglês, infelizmente, não se esgota na importância cultural do seu acervo, na importância turística da sua existência num concelho com tão pouca e inqualificada oferta, e tão dependente economicamente do turismo...
O problema é mais elementar e comezinho, é de dinheiro!...aquilo com que se compram os melões...

E todos sabemos que o dinheiro tem a sua própria lógica e mecanismos, compadecendo-se nada perante os valores invocados e em causa!
Face a este problema, hoje como sempre, as soluções não variam muito: Ou o tens, ou o pedes a quem tenha! Excluído que se encontra o primeiro, só restará por conseguinte pedir...
E sendo aqui que reside o busílis da questão, é também aqui que ela se torna fracturante!
Na verdade os habituais desmandos da despesa orçamental, quer concelhia quer nacional, são os responsáveis, na parte que toca ao Estado, da situação delapidada da nossa economia. A crise internacional só veio pôr a nú este facto, de forma mais despudorada, por não permitir as cosméticas habituais que “dão vida aos mortos”.
De entre as razões históricas que estão na origem deste cenário encontra-se, sem qualquer margem para dúvidas, a vontade daqueles que tendo as rédeas do poder, sem curar de saber da capacidade do Estado para fazer face aos seus compromissos, assumem-nos em crescendo para pagamento de tributos políticos e com vista à reeleição, durante o seu mandato, sistematicamente.
Atravessamos assim, provavelmente, a maior crise estrutural, da nossa economia enquanto pais.
Os recursos são escassos por natureza e hoje em dia, por maioria de razão, ainda mais.
Tendo o cidadão-contribuinte esta noção, sabendo das crescentes solicitações sociais a que o orçamento se encontra sujeito em razão da crise, nacional e internacional, será responsável, sugerir sequer, à Câmara, este novo encargo?
Mas, ainda que se tenha a temeridade de pedir, será séria e legal a atitude de quem de direito, de inscrever no orçamento delapidado, este novo encargo?
Sucede que o Estado não esgota a iniciativa da sociedade civil, nem se pretende que o faça. Daí que gostássemos de ver, porquanto se justificaria ver, sobretudo por parte dos arautos da salvação da Fábrica do Inglês, a liderança de uma iniciativa da sociedade civil, com vista a tal desiderato...
Isso sim, seria um acto de amor à Fábrica do Inglês, à museologia, à cultura e à economia da região, em sintonia com as graves dificuldades que os orçamentos concelhio e nacional necessariamente estão e continuarão a atravessar.Não um amor platónico, mas um amor operário!

A natureza fracturante das posições das partes que vieram a terreiro esbater-se-ia certamente e poderíamos começar a ver uma luz ao fundo do túnel que a Fábrica do Inglês atravessa.
Claro que a autarquia tem o seu concurso a dar para esta empreitada! A classificação de interesse municipal que, provavelmente, ainda não se encontra concedida deveria ser seguida do desenvolvimento de instância junto dos ministérios competentes e de um movimento de opinião que concedesse ao imóvel e seu acervo uma classificação nacional em sede de património, o que, apoucando (do ponto de vista da especulação imobiliária) o preço do imóvel face aos credores hipotecários, criaria melhores condições de realização para o seu almejado resgate.
A criação de uma fundação da região do Algarve tendo como escopo a recuperação do património cultural do Algarve, permitiria uma associação de recursos públicos pouco significativa para cada um dos municípios mas substancial no seu todo, com vista ao resgate do património algarvio construído e em estado de degradação ou extinção, legitimando e enquadrando as iniciativas da sociedade civil tendentes à mesma finalidade e gozando de estatuto enquadrado na Lei do Mecenato.
Claro que desencadear este conjunto de acções é trabalhoso!
Mais fácil será mesmo que a Câmara adquira o imóvel, pelo preço que os credores reclamam, para não se perder muito tempo, sobrecarregando ad nauseam o esgotado orçamento municipal e, claro, os cidadãos-contribuintes que já não “podem com uma gata pelo rabo” e que para tanto “não são perdidos, nem achados”.
Porém, tão claro quanto isso, seria o resgate em resultado de um amor operário e de uma dinâmica da sociedade civil, eventualmente alanvacada por uma dinâmica criativa, associativa e nova dos municípios algarvios e respectivos orçamentos, a bem do património, do turismo e por via disso, da economia da região.