O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

A Feira Medieval de Silves: sustentabilidade ou encenação feudal?

Ao percorrer o concelho de Silves, percebe-se facilmente que muitas das suas freguesias vivem à margem da atenção da Câmara Municipal. Ruas degradadas, serviços públicos escassos e oportunidades limitadas formam um quadro de abandono. Falta-lhes alguém que, à semelhança de um D. Paio Peres Correia moderno, promova uma “Conquista Final” — não de territórios, mas de direitos, dignidade e gestão transparente. É urgente libertar a cidade do que parece ser um regime feudal instalado há anos, onde poucos decidem e todos pagam. No meio deste cenário, a Feira Medieval de Silves surge como o evento mais mediático da cidade. Mas a questão é inevitável: será este evento verdadeiramente sustentável ou apenas um grande palco que serve os interesses de uma cidade em decadência, sobrevivendo por concentrar organismos públicos e pouco mais? Uma feira medieval sustentável deveria ser avaliada por critérios claros: reduzir impactos ambientais, gerar benefícios sociais para todas as freguesias e oferecer retorno económico real à comunidade. Isto significa, por exemplo, priorizar energias renováveis, gerir o consumo de água e materiais de forma responsável, incentivar o uso de transportes públicos para reduzir a pegada de carbono, e criar uma rede de parcerias com associações e empresas locais. Infelizmente, não é o que se verifica. Em termos ambientais, não há sinais de medidas concretas para reduzir impactos. No campo social, não se observa uma verdadeira integração das freguesias mais afastadas nem a promoção do diálogo com a comunidade. Economicamente, os números impressionam: só no orçamento municipal de 2025, estão previstos mais de 750 mil euros para a feira — sem contar com custos adicionais como pessoal do município, limpeza e logística, que somam milhares de euros. Ainda assim, grande parte dos serviços e produtos são contratados fora do concelho, desperdiçando oportunidades para a economia local. Após 19 edições, nunca foi apresentado um relatório detalhado de custos e benefícios. Sem contabilidade analítica, não há como saber se o investimento compensa ou se é apenas um luxo pago com dinheiro público. E, se este dinheiro é de todos, não pode ser utilizado como passarela política para autarcas em vésperas de eleições — tal como na Idade Média, quando senhores feudais desfilavam à custa do trabalho alheio. Silves merece mais do que um espetáculo anual que deixa poucas raízes. O verdadeiro progresso não se mede pela grandiosidade de um evento, mas pela capacidade de distribuir benefícios e oportunidades de forma justa, transparente e duradoura.

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