O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Silves engorda, o resto do concelho sobrevive

No dia 26 de julho perguntámos: “Silves é o centro do mundo? E as restantes freguesias?”. Alguns acharam exagero. Agora, com o orçamento municipal de 2025 em mãos, a pergunta parece até suave. Dos quase dois milhões de euros destinados a atividades culturais, 88% — sim, oitenta e oito por cento! — vão direto para a cidade de Silves. São 1,7 milhões para encher a agenda com Festival de Teatro, Silves Urban Music, Jazz nas Adegas, Feira Medieval, Sunset Castele e por aí fora. Para Armação de Pêra e São Marcos da Serra? Migalhas: 1,35% para cada. O resto, uns 9,63%, reparte-se por todas as freguesias… e só para iluminações de Natal. Quando se faz a conta per capita, a desigualdade grita: Silves: 157,96 €/habitante São Marcos da Serra: 47,11 €/habitante Armação de Pêra: 4,40 €/habitante Messines: 3,24 €/habitante Algoz e Tunes: 3,86 €/habitante Alcantarilha e Pêra: 5,29 €/habitante A média concelhia é 50,86 €, mas Silves recebe mais do triplo dessa média e 36 vezes mais do que Armação de Pêra — freguesia que, ironicamente, é uma das que mais enche os cofres municipais com a sua economia e turismo. E isto sem contar com o exército de funcionários municipais mobilizado para montar, gerir e garantir o sucesso de todos esses eventos concentrados na sede do concelho. A desculpa do “Silves precisa de dinamismo cultural” é fraca. Silves já concentra quase todo o emprego público e estruturas administrativas. Dar-lhe também quase todo o orçamento cultural não é dinamizar — é sugar. Este orçamento não une o concelho — divide-o. Não redistribui oportunidades — aprofunda fossos. Não é política cultural — é favoritismo. Em 2025, ao invés de celebrarmos apenas laranjas e castelos, devíamos celebrar um concelho coeso, justo e equilibrado. Mas para isso era preciso vontade política de tratar todas as freguesias como parte do mesmo mapa. Porque cultura, quando serve só a alguns, não é cultura. É privilégio pago com o dinheiro de todos.

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