O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A classe de um Embaixador...


Maitê Proença, em 2007, filmou, em Portugal, um video a satirizar os Portugueses, cujo mau gosto é patente.

Nas imagens em causa, que só tiveram difusão pública em Portugal em Outubro de 2009, Maitê Proença apelida Sintra, Património da Humanidade, de "vilazinha", confunde o rio Tejo com o mar, passa um atestado de incompetência a técnicos de informática e ao serviço prestado por uma unidade hoteleira de luxo, afirma que Salazar encabeçou um regime ditatorial durante cerca de 20 anos, satiriza o estilo manuelino do Mosteiro dos Jerónimos, brinca com figuras incontornáveis da história portuguesa, de Vasco da Gama a Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa, além de cuspir na fonte daquele monumento nacional.

Em resposta, choveram impropérios e até uma petição online para declarar a conhecida atriz "Personna non grata" em Portugal.

Antes de Maitê porém, em 2006, um jornalista brasileiro de Porto Alegre, de seu nome Polibio Braga, escreveu e publicou uma notícia muito pouco simpática sobre Portugal, que abaixo transcrevemos, no seu sítio: http://www.polibiobraga.com.br/ a qual motivou uma resposta bem mais eloquente e, quanto a nós, adequada, que também transcrevemos:

"Portugal não merece ser visitada e os portugueses não merecem nosso reconhecimento

Há apenas uma semana, em apenas quatro anos, o editor desta página visitou pela quinta vez Lisboa, arrependendo-se pela quarta vez de ter feito isto. Portugal não merece ser visitada e os portugueses não merecem nosso reconhecimento.

É como visitar a casa de um parente malquisto, invejoso e mal educado. Na sexta e no sábado, dias 24 e 25, Portugal submergiu diante de um dilúvio e mais uma vez mostrou suas mazelas. O País real ficou diante de todos. Portugal é bonito por fora e podre por dentro.

O dinheiro que a União Européia alcançou generosamente para que os portugueses saíssem do buraco e alcançassem seus sócios, foi desperdiçado em obras desnecessárias ou suntuosas. Hoje, existe obra demais e dinheiro de menos.

O pior de tudo é que foi essa gente que descobriu e colonizou o Brasil. É impossível saber se o pior para os brasileiros foi a herança maldita portuguesa ou a herança maldita católica. Talvez as duas ."

Esta Nota bizarra motivou uma resposta do Embaixador de Portugal em Brasília, a qual, pela sua elegância e contundência merece o aplauso de qualquer português ou brasileiro, civilizados :

"Brasília, 8 de Dezembro de 2006

Senhor Políbio Braga


Um cidadão brasileiro, que faz o favor de ser meu amigo, teve a gentileza de me dar a conhecer uma nota que publicou no seu site, na qual comentava aspectos relativos à sua mais recente visita a Portugal.

Trata-se de um texto muito interessante, pelo facto de nele ter a apreciável franqueza de afirmar, com todas as letras, o que pensa de Portugal e dos portugueses.
O modo elegante como o faz confere-lhe, aliás, uma singular dignidade literária e até estilística.

Mas porque se limita apenas a uma abordagem em linhas muito breves, embora densas e ricas de pensamento, tenho que confessar-lhe que o seu texto fica-nos a saber a pouco.
Seria muito curioso se pudesse vir a aprofundar, com maior detalhe, essa sua aberta acrimónia selectiva contra nós.

Por isso lhe pergunto: não tem intenção de nos brindar com um artigo mais longo, do género de ensaio didáctico, onde possa dar-se ao cuidado de explanar, com minúcia e profundidade, sobre o que entende ser a listagem de todas as nossas perfídias históricas, das nossas invejazinhas enraizadas, dos inumeráveis defeitos que a sua considerável experiência com a triste realidade lusa lhe deu oportunidade de decantar?

Seria um texto onde, por exemplo, poderia deter-se numa temática que, como sabe, é comum a uma conhecida escola de pensamento, que julgo também partilhar: a de que nos caberá, pela imensidão dos tempos, a inapelável culpa histórica no que toca aos resquícios de corrupção, aos vícios de compadrio e nepotismo (veja-se, desde logo, a última parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha), que aqui foram instilados, qual vírus crónico, para o qual, nem os cerca de dois séculos, que se sucederam ao regresso da maléfica Corte à fonte geográfica de todos os males, conseguiram ainda erradicar por completo.

Permita-me, contudo, uma perplexidade: porquê essa sua insistência e obcecação em visitar um país que tanto lhe desagrada? Pela quinta vez, num espaço de quatro anos ? Terá que reconhecer que parece haver algo de inexoravelmente masoquista nessa sua insistente peregrinação pela terra de um "parente malquisto, invejoso e mal educado".

Ainda pensei que pudesse ser a Fé em Nossa Senhora de Fátima o motivo sentimental dessa rotina, como sabe comum a muitos cidadãos brasileiros, mas o final do seu texto, ao referir-se à "herança maldita católica", afasta tal hipótese e remete-o para outras eventuais devoções alternativas.

Gostava que soubesse que reconheço e aceito, em absoluto, o seu pleníssimo direito de pensar tão mal de nós, de rejeitar a "herança maldita portuguesa" (na qual, por acaso, se inscreve a Língua que utiliza).

Com isso, pode crer, ajuda muito um país, que aliás concede ser "bonito por fora" (valha-nos isso !), a ter a oportunidade de olhar severamente para dentro de si próprio, através da arguta perspectiva crítica de um visitante crónico, quiçá relutante.

E porque razão lhe reconheço esse direito ? Porque, de forma egoísta, eu também quero usufruir da possibilidade de viajar, cada vez mais, pelo maravilhoso país que é o Brasil, de admirar esta terra, as suas gentes, na sua diversidade e na riqueza da sua cultura (de múltiplas origens, eu sei). Só que, ao contrário de si, eu tenho a sorte de gostar de andar por onde ando e você tem o lamentável azar de se passear com insistência (vá-se lá saber porquê!), pela triste terra dessa "gente que descobriu e colonizou o Brasil".

Em má hora, claro! Da próxima vez que se deslocar a Portugal (porque já vi que é um vício de que não se liberta) espero que possa usufruir de um tempo melhor, sem chuvas e sem um "dilúvio" como o que agora tanto o afectou.
E, se acaso se constipou ou engripou com o clima, uma coisa quero desejar-lhe, com a maior sinceridade: cure-se !

Com a retribuída cordialidade do
Francisco Seixas da Costa
Embaixador de Portugal no Brasil"

6 comentários:

Weissmuller disse...

Excelente resposta a do embaixador. Parabens para a diplomacia

Lusodescente disse...

A Maitê que é neta de um português, prestigiado no Brasil(até lhe fizeram uma estátua depois de morto), devia ter um sentido de humor mais britanico.Já esse senhor Políbio Braga(este nome de familia pode ter sido oportunisticamente aproveitado por algum emigrante português de Braga que para formar nova familia no Brasil adoptou outro nome, habitualmente o da sua terra)que teve a resposta adequada do snr. embaixador, podia criticar(é normal) mas ser um pouco mais civilizado. Felizmente não são representativos da grande maioria do povo brasileiro, disso podem ter eles a certeza. Outra certeza também podem ter: eles morrerão(como todos nós) e a ligação umbilical entre portugal e o brasil nunca se extinguirá!

Voz do Seven disse...

Esta entrada ou post dá-me que pensar. Pergunto-me nomeadamente se o ariculista acha que o actual Embaixador deveria dar resposta a madame Proença Gallo semelhante à do então Embaixador Seixas da Costa [agora por Paris] ao senhor Políbio. Eu também me perguntei e pelo que auscultei, Seixas da Costa não o faria como embaixador e só o fez como lusitano. Curioso, mas não, levando-me até a pensar que existe alguma áurea divina que protege Proença Gallo.
Eis o que escrevi na altura.
Saudações transatlânticas
Neves, AJ
um luso in S. Paulo

J.J.J. disse...

Meu conterrâneo AJNeves,
Defendemos a resposta do embaixador, enquanto cidadão, ao snr.Políbio Braga, exactamente pela sua ironia, acolchoada pelo polimento de que só o recurso à razão para domesticar a emoção é capaz.
Se dessemos curso à emoção, desprezando a razão fundada na realidade histórica,não sairia um post civilizado no nosso blog cidadania (armacaodepera@blogspot.com), mas uma enormidade de adjectivos suezes que satisfariam a necessidade de escarnio e maldizer, perante os quais nos colocariamos no mesmo patamar de incultura e desinformação que a snra Proença Gallo manifestou.
Atendendo no entanto ao facto de sermos um pais com 900 anos alguma sabedoria deverá sobrar face a um natural de um pais com 200. Não acha?
Termino lembrando as palavras publicas de um brasileiro dos estrotores finais da ditadura, que foi ministro da Fazenda: Mario Henrique Simonson, durante um program de TV,onde, num acto de sinceridade histórica e patriotica, lembrou a quem quisesse ouvi-lo, lá pelos idos de 1977, que se o Brasil tem hoje a dimensão que tem (com tudo o que daí resultará para o seu futuro e dos seus) que o deve aos Portugueses!
Por conseguinte, se o brasileiro tem orgulho no seu famoso umbigo, para o qual alguns brasileiros acham que tem a exclusividade do focus do comum dos brasileiros, ou se a grandeza do Brasil fundamenta a ideia de que Deus é Brasileiro, perdoe-me a imodéstia mas isso, na sua origem, deve-se à acção dos Portugueses!
O Freud explicará o resto!

IRN disse...

Note bem... a resposta ao Políbio não foi do cidadão mas sim do representante português no Brasil, o Embaixador de Portugal. Quanto à madame optou-se pelo silêncio.
Uma das minhas dúvidas é PORQUÊ?
Fiz-me entender?

J.J.J. disse...

Meu Caro,
Quanto a nós: a sofisticação de uma resposta pode passar por conceder ao provocador a pior das respostas:o silêncio. Porquê? porque não se lhe concede qualquer importância. No fundo trata-se de uma desconsideração do provocador face à sua insignificância atenta a enormidade da asneira!
O snr. Jornalista teve um comportamento diverso: a relativa contenção da injuria, poderia conceder-lhe alguma credibilidade no seio dos menos informados. A snra atriz foi tão exagerada que até lhe foi permitido acoitar-se na piada. Responder-lhe com seriedade pressupunha conceder ao aytêntico disparate alguma credibilidade.Foi assim que o entendemos...
Bem haja!

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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