O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 10 de janeiro de 2010

SEC. XXI: Cada vez mais...na mesma!


Alguns dos grandes problemas que a humanidade enfrenta neste avançadíssimo século XXI ainda são os mesmos que enfrentava no século X, no auge daquela atrasadíssima Idade Média.
E se olharmos atentamente, acabamos por descobrir que os grandes problemas de hoje ainda são os mesmos do século XX... antes de Cristo!

Olhando a história recente da civilização, conclui-se que, nos últimos 50 anos, a humanidade mexeu em tudo e não mudou praticamente nada.
Senão vejamos:

1 - continuamos a matar-nos uns aos outros, exactamente como fazíamos há dez mil anos.
Só que, em vez de paus e pedras, agora usamos armamentos ultra-mais-do-que sofisticados;

2 - embora os governantes procurem apresentar-se sempre como modernos e progressistas, os nossos sistemas de governo ainda são antigos e conservadores.
O discurso é sempre o da participação democrática mas, na prática, o que vale mesmo é a antiquíssima regra onde "manda quem pode e obedece quem tem juízo"...

3 - ao contrário da política, a ciência evoluiu incrivelmente, ao ponto de conseguir decifrar o próprio código da vida. Mas nem por isso foi capaz de nos proporcionar uma vida mais justa e solidária, com alimento, saúde e segurança para todos os habitantes deste planeta...

4 - podemos falar instantaneamente com alguém distante de nós muitas horas de jacto.
Entretanto, no nosso dia-a-dia, ainda é complicadíssimo manter um diálogo aberto e produtivo com o nosso próprio vizinho do lado.

5 - em vez de cuidar da casa e das crianças, as mulheres conquistaram o direito de trabalhar fora, até então privilégio exclusivo do homem.
Mas o homem, por conveniência, resiste em assumir tarefas do lar que ainda considera "serviço de mulher". Por causa disso, a maioria das mulheres que trabalham fora cumprem jornada de trabalho de quatro expedientes diários, sendo dois em casa - um, antes de saírem pela manhã e o outro depois de retornarem do trabalho, ao final do dia.

6 - a escravidão acabou, mas multidões de pessoas permanecem escravas de trabalhos forçados, que realizam sem nenhum entusiasmo, apenas em razão da própria sobrevivência ou, pior, pela compulsão de atenderem irrefreáveis estímulos para o consumo, permanentemente criados e mantidos pelos média omnipresentes na vida de todos nós.

7 - para agravar o quadro, além de velhos "problemas de estimação" herdados do passado, novas e gravíssimas questões de "vida ou morte" estão aí, exigindo soluções de curtíssimo prazo, como o esgotamento dos recursos naturais, a poluição do meio-ambiente e o aquecimento global.


Porém o problema mais arraigado e mais difícil de ter solução, tanto hoje como em todas as épocas, continua a ser a aceitação da diversidade em lugar da uniformidade:
- a aprovação social da pluralidade de ideias e comportamentos em lugar da do respeito cego e monótono a dogmas e tabus completamente velhos e ultrapassados, que não fazem mais nenhum sentido;

- a prática da tolerância e do respeito pelas diferenças individuais, em vez da repressão e marginalização dos que não se enquadram nos padrões de conduta determinados unilateralmente pela sociedade;

- a liberdade de expressão em vez da discriminação e exclusão de pessoas em função da cor de sua pele, da sua nacionalidade, idade, sexo, género e/ou preferência sexual, da sua ideologia política, crença religiosa, nível de renda, escolaridade ou classe social.

O século XXI possui, em tese, as melhores condições de toda a história da humanidade para estarmos a viver no melhor de todos os mundos.
Entretanto, como colectividade, continuamos a viver no inferno de sempre. O que era para ser o século do prazer e da celebração tem sido apenas motivo de luto e dor.
O que era para ser o século da libertação e da inteligência, muito subtilmente tem trazido de volta a tirania da ignorância, das doutrinas fundamentalistas de toda espécie, da censura, da intolerância, do totalitarismo e seus mecanismos clássicos de tortura e repressão.

Os responsáveis por esse atraso de ideias e pela ausência de acções de mudança somos nós mesmos.
Em termos colectivos, ainda estamos muito longe de atingir um grau de CRESCIMENTO PESSOAL suficientemente sólido e estável, que nos habilite a voar mais alto, mantendo os pés firmes no chão.
Na falta desse amadurecimento pessoal e social, ou voamos sem base segura - e acabamos nos esborrachando no chão - ou permanecemos parados no mesmo lugar, completamente imobilizados por um pavor crónico de enfrentar as mudanças necessárias.

Estou convicto de que, tanto a solução dos nossos velhos problemas sociais quanto o sonhado progresso colectivo que todos desejamos alcançar só pode ser obtido mediante pequenos avanços individuais de cada um de nós, membros da grande família humana.
Desenvolvimento Social só acontece a partir do esforço pessoal de cada um para realizar o seu próprio Desenvolvimento Pessoal.

Geraldo Eustáquio de Souza
11 de junho de 2007

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