O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Museu da Cortiça:Um teste à nossa capacidade de inverter o curso de um sistema esgotado!

É de louvar a iniciativa do Director do Museu da Cortiça, Dr. Manuel Ramos, que promoveu um encontro de diversas entidades regionais e nacionais, das áreas politica, cultural, empresarial e financeira, a realizar no próximo dia 26 na Biblioteca Municipal de Silves a partir das 9 horas.
As nossas expectativas são elevadas porquanto é manifesto o interesse cultural, histórico, turístico, económico, em conservar o Museu e o seu acervo.

Interesse este que é tanto regional como nacional!
De pouco servirá elencar o percurso ou os registos ancestrais, quer históricos, quer industriais, quer mesmo literários do sobreiro e da cortiça, da sua importância económica, para o pais do qual são verdadeiros símbolos nacionais, não fora ele o que produz mais de metade da cortiça mundial, nobre produto da floresta mediterrânica, tão somente porque devem ser de todos os intervenientes conhecidos.
É português o 1º Selo de cortiça do mundo

Mas, a contextualização, não deixa de ser fundamental! Já Aristóteles ensinava que"Precisamos analisar o todo para depois, compreendermos as partes..."

E o todo é vasto...

A memória histórica da cidade de Silves e do Algarve, no que à actividade económica em causa diz respeito, merecem uma morada condigna, no lugar próprio (e que outro mais adequado seria, que Silves?) sendo certo que o tratamento cuidado que teve, ele próprio, já constitui um activo que lhe foi adicionado e que importa conservar.

De facto, constituiria um verdadeiro crime cultural e económico, malbaratar o trabalho realizado por razões que não concorrem no mesmo patamar civilizacional.
A principal actividade económica da região e, por via desta, do pais - o turismo - não pode prescindir de activos desta natureza, sob pena de delapidação da principal actividade exportadora (aquela de que tanto carecemos para equilibrarmos as contas com o exterior, lembram-se?).

O momento histórico, cuja depressão impõe (quer esta rapaziada já tenha entendido ou não) uma mudança de paradigma a quase todos os níveis da actividade humana, social, económica e sobretudo financeira, determina não uma focalização numa lógica de mercearia, restrita à circulação fiduciária, mas uma avaliação macro económica (permita-se-nos) que possa concorrer para um futuro melhor, mesmo com alguns sacrifícios no imediato naquela sede.

Na verdade, continuar a agir da mesma forma e esperar resultados diferentes é sintoma de insanidade como muito bem lembra Einstein, a cuja inteligência todos em geral, mas aqueles a quem incumbe decidir sobre matéria de interesse público, em particular, deveríamos ter mais vezes presente, senão mesmo, constantemente presente!

Caso contrário assassina-se a esperança, qual lugar comum dos ditos “perdedores” para alguns, mas também rico filão de inovação, conversão, transformação, alternativa, visão, enfim: prospectiva, para outros.

É neste contexto que desafiamos, com o devido respeito, que é muito, os ilustres participantes do encontro do dia 26 na Biblioteca Municipal de Silves a agirem de forma diferente daquela que caracteriza muitas vezes estas coisas: conjunto de monólogos paralelos pronunciados ex catedra que dificilmente vem a ter um resultado prático.

Desafiamos o encontro a ensaiar, desde logo, um novo paradigma, de que a realidade carece profundamente, adoptando uma atitude de convergência sobre as questões principais que são a cultura, a economia do Algarve e do Pais e o exemplo daqueles que tendo socialmente um papel de liderança, se empenham, ousam, inovam, empreendem, realizam, defendem valores e sobretudo o futuro de forma integrada.

Sim, porque o futuro depende essencialmente da forma como compreendemos o passado e sobretudo da forma como lidamos com o presente.
Bastará que assim ajam integradamente para não termos que temer pelo futuro do Museu da Cortiça de Silves.

3 comentários:

Manuel Ramos disse...

Agradeço o destaque dado neste blogue ao Encontro e as sábias palavras que subscrevo. Entendo as naturais expectativas que também são minhas, mas com reservas, por tudo o que nos transcende.
Mesmo que não possa estar presente, o seu contributo enquanto cidadão e munícipe foi dado. E eu próprio, quando orador, serei dele portador.
Muito obrigado.

J.J.J. disse...

Nós é que agradeçemos a representação, com a certeza de que não encontrariamos melhor interprete dos pontos de vista expressos.

Massena disse...

Sabem porquê é que o museu ainda não foi salvo? porque estão mais preocupados em salvar quem come à custa do museu do que salvar o próprio museu!

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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