O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

"A crise actual e a bolha de crédito na Idade Média"

Paralisação dos mercados de crédito, subida das taxas bancárias, falta de liquidez e falências de instituições financeiras. Os investigadores dizem que este padrão já se observava na época medieval.

De acordo com um estudo de investigadores da Universidade de Reading, em Inglaterra, o sistema financeiro já se encontrava em estado bastante avançado no século XIII.

Eram cobradas taxas de juro ajustadas ao grau de risco e à duração dos empréstimos e definidos colaterais sobre os créditos concedidos.

Os financiadores eram sobretudo mercadores italianos, como os Ricciardi de Lucca, ou burgueses flamengos que criaram entre eles algo semelhante ao sistema interbancário actual. A sofisticação financeira incluía até contratos de futuros sobre lã, por exemplo, que poderiam servir de colateral a empréstimos concedidos.
O rei de Inglaterra Eduardo I, retratado no filme "Braveheart", foi o primeiro soberano inglês a criar uma relação financeira sistemática com mercadores, nomeadamente com os italianos Ricciardi. Esta família financiava o trono em moldes que os autores consideram similar a "uma conta corrente moderna que incorpora mecanismos de dívida", o que permitia ao monarca financiar os exércitos e a construção de castelos. Os Ricciardi obtiam crédito junto de outros mercadores europeus, criando um sistema semelhante ao mercado interbancário.

No entanto, havia limitações. Cobrar juros por um empréstimo era proibido na época, sendo classificado pela Igreja como usura. Este entrave obrigava as partes envolvidas na concessão de crédito a fazer "contabilidade criativa" para ocultar que estavam a transgredir as regras religiosas.

A crise de 1294

Os Ricciardi começaram a financiar Eduardo I durante a década de 80 do século XIII, altura que os autores do estudo classificaram como sendo de acesso a dinheiro fácil e barato. Mas a bolha de crédito acabaria por rebentar.

Em 1294 o Papa, um dos maiores 'players' financeiros do mundo medieval, exigiu o retorno do valor dos empréstimos concedidos. Ao mesmo tempo rebentou uma guerra entre a França e a Inglaterra, com a Coroa gaulesa a aumentar de forma significativa os impostos aos mercadores. Estes factores criaram perturbações nos mercados de crédito, tornando o dinheiro mais caro e escasso. Para os investigadores, citados pela BBC, a situação "tem semelhanças notáveis com as dificuldades actuais, com a principal causa a ser a falta de liquidez no mercado monetário".

Assim, quando Eduardo I contava com a continuação do financiamento dos Ricciardi, a família italiana, que estava fortemente alavancada, não conseguiu dar resposta. Como medida de retaliação, o soberano inglês confiscou as propriedades dos Ricciardi em Inglaterra, precipitando a falência dos seus habituais financiadores.

A medida de Eduardo I saiu-lhe cara. O monarca teve de procurar créditos de curto prazo, com juros elevadíssimos, junto de outros mercadores. Chegou a ter de pagar uma taxa anualizada de 150%.

Questionados pela BBC sobre como Eduardo I teria lidado com a crise financeira actual, os autores do estudo sugeriram que, provavelmente, teria colocado os gestores dos bancos em prisão domiciliária, sem julgamento, até o governo conseguir recuperar o máximo possível dos seus activos.

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