O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Zézinho Merda aceita o desafio de candidatar-se a Prefeito de Silves!


Já há um candidato à sucessão de Isabel Soares ao leme deste concelho!

Conhecendo por intermédio de patrícios emigrados em Portugal, o estado do saneamento básico em Armação de Pêra o candidato a Vereador brasileiro Zézinho Merda, sentiu o chamamento e pensa reunir especiais vantagens que lhe permitirão vencer as próximas eleições autárquicas em Silves.

De facto, Zézinho Merda, com a dupla nacionalidade, não só tem capacidade eleitoral como dispõe de um eleitorado extenso e fiel – o da imigração brasileira – como ainda conta, de raiz, com uma especial competência para lidar com a merda que abunda por cá!

Os outros candidatos, que se cuidem, pois se Zézinho Merda se decidir efectivamente por iniciar uma carreira politica em Silves, garante um duelo empenhado e contrastante com as especiais ausências que, nesta matéria, os demais partidos concorrentes têm demonstrado à saciedade.

“O nome não é muito comum em Portugal” afirmou um cidadão brasileiro de férias em Armação, antevendo dificuldades na comunicação politica caso o seu patrício se decida realmente candidatar.

“Mas a Merda é um termo universal, muito directo e expressivo. Todos vão entender” adiantou Edson Ataíde, brasileiro, publicitário, responsável por campanhas eleitorais de sucesso em Portugal, garantindo o êxito ao seu conterrâneo em caso de ir á lide!

“E a merda é assunto que diz muito aos cidadãos do concelho, antevendo-se que, tratando-se de votantes bem identificados com o problema, lhe reconheçam especiais competências para gerir a merda no concelho” deixou bem claro, um cidadão anónimo que se identificou exclusivamente como cientista politico, natural do Algarve, mas residente em Lisboa.

Não é realmente para qualquer um saber lidar com a merda. Por isso a merda faz o que quer neste concelho sobrando-lhe tempo e ninguém lhe pede contas...

Salvo se Zézinho Merda, que convive com a merda desde que foi baptizado, se puser a caminho para dar ordem e saneamento a este concelho!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Armação de Pêra:Ameaça à saúde pública pode atingir os incautos!


A ausência de um qualquer aviso de alerta, parece querer atrair os incautos para um risco certo!

Tudo parece tranquilidade num vulgar dia de praia, mas não existe qualquer razão para isso!

Serenas e seguras(?) as crianças e os seus pais não imaginam os riscos que correm ao brincarem naquela água imunda!

Armação de Pêra: C.M. de Silves ensina a sinalizar os buracos das ruas!

A Câmara de Silves inventou uma nova forma de sinalizar os buracos na via pública. No entanto não arranjou caixas de papelão suficientes para assinalar todos. Caso contrário guiar em Armação seria uma gincana permanente!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Armação de Pêra:Lugar de morte e podridão num santuário piscícola!


As gaivotas cheiram a morte e preparam-se para um grande banquete!






Não meus senhores, não se tratam de fotografias da National Geographic sobre qualquer catástrofe ambiental num pais remoto do terceiro mundo.

A Brithish Petroleum (BP) também não é a responsável por esta mortandade!

São fotos da Ribeira de Armação de Pêra, colhidas hoje (10.08.10), onde vai escoar o esgoto a céu aberto.

Independentemente das consequências para este santuário de espécies, designadamente piscícolas e das futuras para a pesca, actividade de que dependem muitas famílias da Vila,constitui uma ameaça efectiva à saúde pública de que os banhistas serão vitimas potenciais.

É desta forma irresponsável e criminosa que a autarquia trata Armação de Pêra, a sua economia e os cidadãos em geral, canalizando as suas atenções e meios para o folclore da Feira Medieval, que é matéria bem mais divertida!

Diletante a gestão deste Município que se preocupa com minudências (o Vereador Rogério Pinto andava um destes dias ocupado a tomar notas sobre os vendedores ambulantes, enquanto os esgotos corriam a céu aberto para a Ribeira)e deixa o que é grave, permanecer grave, desinteressando-se das consequências. A isto chama-se agir dolosamente!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Se a moda pega teremos uma debandada geral dos autarcas



Justiça ameaça penhorar bens pessoais de autarcas espanhóis


Se as dívidas ao sector privado não forem liquidadas num período de 30 dias, tribunais ameaçam com penhora de bens pessoais dos autarcas espanhóis

O auto de uma sentença do Tribunal de Justiça andaluz condenou o edil da Câmara de Castilleja de Guzmán, em Sevilha, a pagar em 30 dias as dívidas contraídas com a empresa de construção civil Aroa, como obriga a nova Lei de Morosidade aprovada pelo Congresso espanhol, abrindo a possibilidade de penhora dos bens pessoais do alcaide e do secretário-geral da autarquia, refere o periódico “Expansión”.
Esta medida tinha sido deixada em aberto pelo artigo 122 da Lei Contencioso-Administrativa, numa época em que as autarquias espanholas lidam com crescentes dificuldades financeiras decorrentes da má gestão dos dinheiros públicos e da queda do retorno dos impostos ligados à construção.
Se esta sentença se repetir noutros processos semelhantes em curso, haverá autarcas que terão de escolher entre deixar de pagar os salários ou as dívidas da autarquia, refere o “Expansión”.

As dívidas dos municípios espanhóis no primeiro trimestre de 2010 contabilizam, segundo dados do Banco de Espanha, 36 mil milhões de euros.



“De Espanha nem bom vento nem bom casamento” diz o povo de há séculos para cá!

Este presságio que o tempo - ou os espanhóis - não deixaram esquecer, tem uma conotação nada positiva para os “nuestros hermanos”, mas mais especificamente no que concerne às relações politicas entre Portugal e o pais vizinho, mais concretamente no que à Castela imperial diz respeito.

Portanto, fora destes casos, de Espanha, como de qualquer outro pais, podem vir bons exemplos, aprimorados até pelo paralelismo da origem e história dos povos peninsulares.
De resto, é conhecida a importância que tiveram os acontecimentos decorrentes do 25 de Abril, para a abertura democrática do regime franquista, após a morte de Franco, como exemplo disso mesmo, mas em sentido contrário.

Hoje, somos agradavelmente surpreendidos por esta noticia no Jornal de Negócios, a qual, apesar de tudo não permite uma avaliação segura do quadro legal em que se insere bem como da sua legitimidade – o que não é pouco – mas que nos permite retirar algumas ilações prospectivas acerca dos efeitos que teria no espectro autárquico português, se esta moda por cá pegasse.

Na verdade, os abusos verificados na despesa autárquica, pesam no orçamento e a indisciplina da sua execução é origem de muitos dos males que hoje vivemos.

Todos reconhecem a utilidade da despesa na economia das empresas fornecedoras dos serviços, mas todos sabem, hoje também, os efeitos na fiscalidade (receita) e na economia (recessão) que os abusos da despesa ocasionam pela via dos défices orçamentais.
Todos reconhecem que as eleições motivam investimento e com ele, ou parte dele, as populações beneficiam sempre alguma coisa, em matéria de equipamentos sociais, mas todos sabem, hoje também, que grande parte dessa despesa é consumida em realizações lúdicas, obscuras ou inconsequentes, em satisfação de interesses particulares (entre outros: na recondução dos eleitos) e não integralmente aproveitadas em benefícios da comunidade dos contribuintes que as pagam, como sabem, sobretudo, que não se pode gastar o que se não tem, o que a suceder para além do limite tolerável de um défice controlável, é suicidário e tem o efeito contrário ao pretendido, como aquele a que hoje, dramaticamente se assiste(entre outros: o desemprego).

Daí que uma medida desta natureza, que é comum aos administradores das empresas face às suas obrigações fiscais e, ou, bancárias, poderia revolucionar a politica autárquica propiciando uma abordagem menos lúdica e diletante à administração municipal, aproximando-a do pais real, da economia real e das responsabilidades efectivas daqueles que dirigem uma estrutura empresarial.

Desse modo, a descida à real destes administradores de uma realidade virtual, poderia encerrar em si uma mudança de paradigma, embora dentro deste mesmo paradigma, que inevitavelmente propiciaria uma cultura do mérito na gestão autárquica, em prejuízo óbvio da cultura da demagogia, da fantochada e do folclore!

É certo que, provavelmente, teríamos menos fontanários por ano, mas provavelmente não deixaríamos de ter todos os de que necessitamos, em prazo razoável face ao possível.
Como é provável que tenhamos que aguardar mais um, dois ou até três anos por uma renovação das infraestruturas básicas...

Mas também será provável que, assim sendo, outras exigências haverão na qualidade das prestações dos empreiteiros e no próprio planeamento das obras, porquanto as mesmas terão, nessa perspectiva, de durar muitos mais anos por forma a que o esforço financeiro do Estado tenha outra durabilidade, tornando-se o investimento economicamente mais rentável ao deixar de onerar por muitos e bons anos os respectivos orçamentos, nas reparações, requalificações, alterações e renovações.

Tal como assistimos em Armação de Pêra com a requalificação da frente mar que motivou a introdução de infraestruturas novas, pretensamente suficientes para as necessidades, mas que não foram suficientes para evitar manterem-se os esgotos a céu aberto com descarga para a ribeira e depois para o mar, que é a principal fonte de atracção e sustentação da economia da Vila.
Já para não falar dos efeitos de tal prática na saúde pública...

Veriamos assim, numa primeira abordagem, com bons olhos, a responsabilização das administrações autárquicas em equidade com o que sucede com as administrações das empresas privadas.
E, se um dia assim for, podemos garantir que outro galo cantará!...

domingo, 8 de agosto de 2010

Armação de Pêra:Enquanto Silves reinvindica herança medieval, Armação clama pela civilização Romana!



“Aqui cumpre-se integralmente a história” afirmava Isabel Soares ao jornal: “O Algarve”, a propósito da realização da Feira Medieval em Silves, sede do concelho.

Silves teve influência árabe bastante e é esse o legado que se reivindica, anualmente, através daquela realização lúdica.

Porém, Silves gozou também dos benefícios da civilização romana, mas essa é menos lembrada.

Diríamos que a história, se é cumprida, é-o parcialmente.

Mas também os legados destas fases da história de Silves tiveram destinos diversos...

Enquanto se celebra, anualmente, a idade média que é reconhecidamente um período longo de uma certa estagnação civilizacional, a antiguidade romana, caracterizada por um desenvolvimento extraordinário em inúmeros domínios, permanece nos becos mais ensombrados da história da cidade.

Entre muitos outros avanços, os romanos deixaram para a posteridade o saneamento. A cloaca máxima de Roma, inspirou inúmeros sistemas de saneamento que proliferaram pelo Império em resultado da expansão romana. Em Portugal os achados arqueológicos não deixam margem para dúvidas acerca dos benefícios da romanização.

Sucede que, com o esmorecimento da memória acerca do nosso passado romano, parece ter sido esquecido o seu enorme legado civilizacional. É caso para dizer que foi “vazado o bebé com a água do banho”, expressão esta que tem a sua origem, curiosamente, numa prática medieval que era a que decorria do costume de tomar banho, uma vez no ano.

Os banhos eram tomados numa única tina, enorme, cheia de água quente. O chefe da família tinha o privilégio do primeiro banho na água limpa. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, por ordem de idade, as mulheres, também por idade e, por fim, as crianças. Os bebés eram os últimos a tomar banho, portanto! Quando chegava a vez deles, a água da tina já estava tão suja que era possível perder um bebe lá dentro. É por isso que existe a expressão em inglês "don't throw the baby out with the bath water", ou seja, literalmente "não deite fora o bebé juntamente com a água do banho", que hoje usamos vulgarmente...

Tudo isto depois de decorridos mais de 600 anos sobre o hábito dos banhos públicos em Roma!

Os maus hábitos medievais, em muitos casos, entrincheirados, levam séculos a banirem-se...enquanto os bons costumes da antiguidade levam outros tantos a cumprirem-se...

Vem tudo isto a propósito do facto de, em Agosto de 2010, em Armação de Pêra, poder-se assistir à canalização dos esgotos, a céu aberto, directamente para o rio...que corre para o mar (onde todos nós nos banhamos...).

Que nos perdoem os antepassados árabes, mas, aqui por Armação, contra a vontade de Isabel Soares, preferimos pôr a tónica na componente sanguínia, que também é nossa, da civilização Romana.

sábado, 7 de agosto de 2010

Armação de Pêra:onde as árvores morrem de pé, logo na infância!

São já suficientes os exemplos de morte prematura de árvores, plantadas na sequência da requalificação urbana da frente mar!
É altura de questionar o sistema de rega (?)e, ou, os serviços de jardinagem responsáveis pela saúde das árvores...

Em qualquer dos casos, a empreiteira e a Câmara de Silves estão, inevitavelmente, a contas com a população, os contribuintes, o erário público e o ambiente!

E também a contas com a eficiência, perante quem apresentam um passivo assustador...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nunca é de mais recordar (sobretudo à C.M.Silves)que Armação está no séc.XXI e não na Idade Média!!



Este ano, a Feira Medieval de Silves dedica cada um dos seus dias à recriação dos mais importantes períodos históricos da sua história medieval, por entre a animação da que foi Shilb, a Bela, uma capital onde se entrecruzaram culturas, religiões, artes, muito comércio e até batalhas.
(Observatório do Algarve 05.08.10)

A Idade Média (400 a 1400 d.C.) foi um período de 10 séculos sem avanços sanitários. Lixo de todo tipo acumulava-se nas ruas, facilitando a proliferação de ratos e criando problemas sérios de saúde pública – um dos mais graves foi a epidemia da peste bubónica,também conhecida por peste Negra, que só na Europa, dizimou entre 25 a 75 milhões de pessoas.

A Feira Medieval de Silves, este ano numa versão neo-realista, começou por recriar um ambiente medieval em Armação de Pêra, Vila do concelho, onde o lixo prolifera pelas ruas e os esgotos vêm à superfície, tudo na expectativa de recriar um verdadeiro ambiente medieval.

Não se poupa a esforços a autarquia silvense para dar o toque de realismo necessário ao sucesso da invocação da idade média que aquela Feira pretende ser.

O mesmo não se pode dizer do investimento e dedicação daquela autarquia ao conceito de Vila turística, plena de património natural, em pleno século XXI, que Armação de há muito é, apesar do autêntico boicote que a gestão autárquica, diletante e irresponsável que prima pelo abandono, objectivamente constitui!

Teremos de esperar por uma Feira Romana que invoque a presença dessa civilização de referência em Silves, para eventualmente virmos a ter uma cloaca central em Armação de Pêra e por via do espectáculo, poder a Vila vir a dispôr de um saneamento à altura das necessidades.

Sim, porque só pela via do showbusiness tal poderá vir a acontecer!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lava-Pés: Serventia cara de curta duração, fica para mamarracho!

A execução, em muitos casos, absolutamente incompetente das obras, não se fica pelo estado calamitoso dos esgotos. Os bebedouros, destinados também a lava-pés, já entupiram!

Bastaram menos de dois meses de utilização em época balnear para evidenciar os erros de concepção/execução do escoamento de águas e areias dos bebedouros/lava-pés.
Completamente às aranhas a C.M.S. tomou primeiramente a medida de proibir a utilização dos lava-pés, como...lava-pés!!!!!!
Depois, cortou a água para o lava-pés e...pasme-se...para o bebedouro!!!!!!

Nesta pequena circunstância ficam, uma vez mais, patentes os métodos utilizados: Primeiro a incompetência na concepção/execução das medidas. Depois, uma vez verificada a "burrada", em vez de enfrentar o erro de frente, corrigindo-o (puxando as orelhas ao empreiteiro exigindo-lhe a urgente reparação), a C.M.S. "varre o lixo para debaixo do tapete"!

Conclusão: os cidadãos-utentes, nas saídas de praia, encontram-se privados desta serventia essencial!Que se danem...

INDIGNAÇÃO: Património das Consciências!


Poema de Ruy Barbosa, poeta brasileiro, falecido em 1923, aqui dito por Rolando Boldrim.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Festa da Nossa Senhora do Navegantes

Armação de Pêra 5, 6, 7, 8 de Agosto

Armação de Pêra:IMI para Vila de Luxo, com merda à vista nas partes baixas...

Nem a zona do Café do Presidente da Junta escapa...

De um visitante assíduo recebemos, via email, a seguinte noticia e comentário:

Os esgotos continuam a dar água pela barba aos armacenenses, sobretudo nas partes mais baixas da Vila, aliás como de há longos anos a esta parte.

Os pesados investimentos em infraestruturas, cujas obras atormentaram os armacenenses por mais de um ano, pelos vistos, se algum problema resolveram, não foi este, aquele que mais prejudica a Vila e os habitantes durante a época balnear.

O dimensionamento do esgoto continua a não suportar o caudal das descargas durante o Verão!

E a merda insiste em alcançar a superfície como se nada tivesse acontecido...

O investimento público que tanto onera a despesa pública continua a ser malbaratado em obras de fachada, mal concebidas e desastrosamente executadas.

Depois é sempre o mesmo fado: para continuar a gastar mal, aumentam-se os impostos, cortam-se benefícios sociais e deprime-se a economia, em prejuízo de todos!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Paraísos prostituídos, por Miguel Sousa Tavares


Em muitos e muitos casos a razão pela qual o litoral alentejano e o barlavento algarvio foram saqueados, sem pudor nem vergonha, tem apenas um nome: corrupção.

Segunda feira, 28 de Julho de 2008 (http://aeiou.expresso.pt/paraisos-prostituidos=f376882#commentbox)

A primeira vez que passei uns dias de Verão em Porto Covo, ainda o Rui Veloso não tinha imortalizado a aldeia e a sua ilha do Pessegueiro. Pouco mais havia do que aquela simpática praceta central, de onde irradiavam três ou quatro ruas para baixo, em direcção ao mar, e duas ou três para os lados. Tinha nascido uma pequena urbanização de casas de piso térreo, uma das quais me foi emprestada por um amigo para lá passar uns quinze dias. Havia a praia em frente, magnífica, e a angustiante dúvida de escolher, entre três restaurantes, em qual deles se iria comer peixe, ao jantar.

Nos dois anos seguintes, arrastado pela paixão pela caça submarina, aluguei uma parte de casa em Vila Nova de Milfontes, com casa de banho autónoma e duche no pátio interior, ao ar livre. Instalei-me com o meu material de mergulho e um pequeno barco de borracha, no qual ia naufragando quando o motor pifou e comecei a ser arrastado pela corrente do rio Mira em direcção aos vagalhões à saída da baía. Mas não era o sítio adequado para caça submarina e rapidamente troquei a incerteza da minha destreza pelo esplendor de uma tasquinha branca, de quatro mesas apenas, onde escolhia de manhã o peixe que iria comer à noite. Foram dias de deslumbramento, naquela que eu achava ser provavelmente a mais bonita terra do litoral português.

Mas foi Lagos, claro, a primordial e mais duradoura das minhas paixões. Tudo o que eu possa escrever sobre a fantástica beleza da cidade caiada de branco, com ruas habitadas por burros e polvos secando ao sol pregados aos muros, uma gente feita de dignidade e delicadeza, praias como nenhumas outras em lado algum do mundo, a terra vermelha, pintada de figueiras e alfarrobeiras, prolongando-se até às falésias que ficavam douradas ao pôr-do-sol, enquanto as traineiras passavam ao largo em direcção aos seus campos de pesca nocturnos, tudo isso parece hoje demasiadamente belo para que alguém possa simplesmente acreditar. Se eu contasse, diriam que menti - e eu próprio, olhando hoje Lagos, também acho que seguramente foi mentira.

A partir de Lagos, fui descobrindo todo o barlavento algarvio, cuja luz é tão suave que parece suspensa, como se não fizesse parte do próprio ar. Descobri a solidão agreste de Sagres, onde se ia aos percebes ou apenas olhar o mar do Cabo de S. Vicente, na fortaleza, que era rude como o vento e o mar de Sagres, e hoje é uma casamata de betão que, ao que parece, se destina a homenagear a moderna arquitectura portuguesa. Descobri o charme antiquado da Praia da Rocha, onde se ia à noite ver as meninas de Portimão, ou o "souk" em cascata de Albufeira, onde se ia ver as inglesas e dançar no Sete e Meio. E descobri outras terras de pescadores e veraneantes, como Armação de Pêra ou Carvoeiro, praias de areia grossa e mar transparente como eu gosto, cigarras gritando de calor nas arribas, polvos tentando amedrontar-me quando os olhava debaixo de água.

Não vale a pena contar. Quem teve a sorte de viver, sabe do que falo; quem não viveu, não consegue sequer imaginar. Porque esse Sul que chegava a parecer irreal de tão belo, esse litoral alentejano e algarvio, não é hoje mais do que uma paisagem vergonhosamente prostituída. Sim, sim, eu sei: o desenvolvimento, o turismo, a balança comercial, os legítimos anseios das populações locais, essa extraordinária conquista de Abril que é o poder local. Eu sei, escusam de me dizer outra vez, porque eu já conheço de cor todas as razões e justificações. Não impede: prostituíram tudo, sacrificaram tudo ao dinheiro, à ganância e à construção civil. E não era preciso tanto nem tão horrível.

Podiam, de facto, ter escolhido ter menos turistas em vez de quererem albergar todos os selvagens da Europa, que nem sequer justificam em receitas os danos que em seu nome foram causados. Podiam ter construído com regras e planeamento e um mínimo de bom gosto. Podiam ter percebido que a qualidade de vida e a beleza daquelas terras garantiam trezentos anos de prosperidade, em vez de trinta de lucros a qualquer preço.

E todos os anos, por esta altura, percorrendo estas terras que guardo na memória como a mais incurável das feridas, faço-me a mesma pergunta: Porquê? Porquê tanta devastação, tanto horror, tanta construção, tanta estupidez? Tanto prédio estilo-Brandoa, tanto guindaste, tanto barulho de obras eternas, tanta rotunda, tanta 'escultura' do primo do cunhado do presidente da câmara, e sempre as mesmas estradas, os mesmos (isto é, nenhuns) lugares de estacionamento, os mesmos (isto é, nenhuns) espaços verdes? Não, nem mesmo o mais incompetente dos autarcas pode olhar para aquilo e não entender a monumental obra de exaltação da estupidez humana que está à vista.

Não, não é apenas incompetência, nem mau gosto levado ao extremo, nem simples estupidez. Em muitos e muitos casos a razão pela qual o litoral alentejano e o barlavento algarvio foram saqueados, sem pudor nem vergonha, tem apenas um nome: corrupção. Acuso essa exaltante conquista de Abril, que é o poder local, de ter destruído, por ganância dos seus eleitos, todo ou quase todo o litoral português. Acuso agora José Sócrates de não ter tido a coragem política de cumprir uma das promessas do seu programa eleitoral, que era a de progressivamente financiar as autarquias a partir do Orçamento do Estado, em exclusivo, deixando de lhes permitir financiarem-se também com as receitas locais do imobiliário - deste modo impedindo que quem mais construção autoriza, mais receitas tenha. Acuso o Governo de José Sócrates de ter feito pior ainda, inventando essa coisa nefasta dos projectos PIN (de interesse nacional!), ao abrigo dos quais é o Governo Central que vem autorizando megaconstruções que as próprias autarquias acham de mais.

Acuso esta gente que só sabe governar para eleições, que não tem sequer amor algum à terra que os viu nascer, que enche a boca de palavrões tais como "preservação do ambiente" e "crescimento sustentado" e que não é mais do que baba nas suas bocas, de serem os piores inimigos que o país tem. Gente que não ama Portugal, que não respeita o que herdou, que não tem vergonha do que vai deixar.

Eu sei que não serve de nada. Ando a escrever isto há trinta anos, em batalhas sucessivamente perdidas - ontem por uma praia, hoje por um rio, amanhã por uma lagoa. E lembro-me sempre da frase recente de um autarca algarvio contemplando a beleza ainda preservada da Ria de Alvor e sonhando com a sua urbanização: "A natureza também tem de nos dar alguma coisa em troca!". Está tudo dito e não adiante dizer mais nada.

Acordo às oito da manhã destas férias algarvias, longamente suspiradas, com o ruído de chapas onduladas desabando, martelos industriais batendo no betão e um pequeno exército de romenos e ucranianos construindo mais um projecto PIN numa paisagem outrora oficialmente protegida. "É o progresso!", suspiro para mim mesmo, tentando em vão voltar a adormecer. Sim, o progresso cresce por todos os lados, sem tempo a perder, sem lugar para hesitações, como um susto. Tenho saudades, sim, dos sustos que os polvos me pregavam no silêncio do fundo do mar. E tenho saudades de muitas outras coisas, como o polvo do mar. Sim, eu sei: estou a ficar velho.

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