Um deprimente epílogo em forma de entrevista


Este investimento extraordinário, quer pelo numero de exemplares impressos, quer pela sua distribuição gratuita, é ilustrativo sobre o grande empenhamento deste orgão de, para uns, comunicação, para outros, intoxicação social, no sentido do esclarecimento de qual é realmente o sentido em que o seu Director entende a prestação de um serviço público de informação a que, teoricamente, se encontra adstrito.
É também patente, pelo triplo esforço, desmesurado, a sua militância e defesa intransigente da gestão autárquica de Isabel Soares.
Demonstrado ficou também que o entrevistador, que formulou perguntas que continham já as respostas, assumindo o odioso das mesmas e estendendo, como qualquer caloiro, a batina sobre a lama do chão à presidenta para que a mesma não sujasse os seus sapatinhos, limitando-se a confirmar o enunciado, revela-se mais soarista que a própria Isabel Soares, alcandorando-se, enfim, a correlegionário mais papista que o Papa!
Nunca tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente tal personagem, mas algo nos diz que ele nos conhece bem!

Face ao conteúdo desta entrevista (relatório para-inglês-ver), fez-nos vir a terreiro, embora apenas por duas ordens de razões: a tentativa de branqueamento das atrocidades de que Armação de Pêra é vitima por um lado e a tentativa de atribuir aos blogs um estatuto de marginalidade por outro, aliás, dois grãos-de-areia na engrenagem (de que Arthur Ligne, pelos vistos, faz parte) que tem conduzido a Dra Isabel Soares à convicção (virtual) de que ainda aspira a renoivar, ou, mais concretamente: a renovar o seu mandato.
Este fenómeno de natureza esquizoide parece ser comum aos políticos de qualquer dimensão, pelos vistos mesmo aos microscópicos, fazendo-nos recordar outros, de dimensão tristemente histórica, os quais, mesmo depois de efectivamente espoliados de qualquer poder, continuavam a dispor na mesa das operações militares, face aos generais que ainda os aturavam, de divisões e regimentos que já tinham colapsado havia muito tempo.
Os Blogs, passe a imodéstia, expressão da verdadeira oposição da sociedade civil não institucional, deixam, segundo informações que nos vão chegando, a Senhora Presidente completamente fora-de-controlo!
Compreende-se! A avaliar pelo que as actas da Câmara deixam transparecer da sua cultura democrática, será fácil concluir sobre os estragos que causarão na sua sobranceria!
É que, na verdade, o conceito de expressão da sociedade civil da Senhora Presidente não vai além do triste modelo de vassalagem veiculado pela Voz de Silves, tão eloquentemente patente na edição extra que hoje comentamos. Para esse peditório não conte connosco, Senhora Presidente!
Por outro lado, quanto a Armação de Pêra, é uma vez mais deplorável a visão implícita que a presidente da edilidade tem da Vila e a patente ausência de estratégia ou sequer de uma ideia que ilustre uma politica.
Dificilmente o faria, uma vez que não a tem, nem nunca a teve!
Tem mesmo a desfaçatez de evidenciar os custos elevados que a população flutuante implica para a C.M.Silves.
Desonestidade intelectual a da edil que, propositadamente, oculta o facto, bem patente nas estatísticas, no orçamento Municipal e nos seus cofres, representado pelas receitas de Armação que são as mais elevadas do Concelho e largamente superavitárias no deve e haver!
Não deixa de ser curioso, pelo contraste, a invocada lógica relativa à despesa com a Feira Medieval e ao retorno, através da população flutuante que ela motiva, para a população de Silves.
Nem se dá ao trabalho de disfarçar os dois pesos e duas medidas que tem para tratar os cidadãos de Silves, em comparação com os de Armação. O concelho tem, pela gestão de Isabel Soares, cidadãos de primeira e de segunda categorias. Magister dixit!
Neste paradigma é acompanhada à viola, pelo seu condutor de entrevistas que refere a diferença ABISMAL entre a Armação que conheceu em 1975 e a de hoje!
Como que atribuindo à gestão soarista o esplendor dessa diferença. Diferença em betão naturalmente. Mas este, pelo menos em parte, constitui nas palavras de I.S., verdadeiro crime.
À parte que não constituirá crime, na sua concepção, esquecendo tratar-se aquele e este de investimento privado, cola a impressão digital da sua Rainha, a qual, apesar de “só” estar no poder há 11 anos, imputa despudoradamente às gestões anteriores a responsabilidade pela falta de planeamento e este por tudo o resto, como se o que tivesse feito nos seus mandatos não tivesse aprofundado a vertente “nouvelle riche” do tipo Brandoa até à degradação total do tecido urbano, sempre com falsas promessas de realizações eternamente adiadas e pequenos retoques de cosmética típicos da vertente Isaltada do seu mentor Isaltino.
Mais papista que o Papa, Arthur Ligne pretendia inculcar na resposta, através da pergunta, que Armação tinha tido uma evolução fulgurante digna de apreço e até de exclamação!
Mas o Papa, muito mais fino que o Papista, não alinhou no mote pois sabe bem que em Armação nunca ganhará uma eleição quem disser que está tudo maravilhoso. Pelo contrário, é politicamente correcto apontar genericamente as atrocidades urbanísticas e a sua “autoria para trás das costas”, e prometer tudo modificar, apesar das dificuldades financeiras, o que lhes permite conservar tudo na mesma.
Num ponto porém, honra deve ser feita a Arthur Ligne, ou ao seu lapso sintomático, pela cuidadosa escolha do termo ABISMAL, já que o mesmo tem origem na palavra ABISMO.
Tem sido, realmente, esse o percurso de Armação nos 32 anos que a testemunha Arthur Ligne tão bem caracterizou, sem qualquer má consciência autárquica, de facto.
Um percurso para o Abismo, cada vez mais profundo, da Praia Dourada à Lixeira Generalizada, como premonitóriamente os romanos ensinaram: ABISSUS ABISSUM (Abismo atrai abismo)!