No ultimo “Expresso”, numa entrevista que transcreveremos abaixo, André Freire, politólogo e professor do ISCTE, a propósito da classe politica, mais concretamente referindo-se aos deputados, afirma:”... uma classe politica demasiado fechada sobre si própria e com fracas ligações à sociedade.”.
Enfim, em “duas cavadelas, duas minhocas”.
Acerca de dois dos três órgãos de soberania, duas proeminentes figuras, uma, prestigiado elemento do Poder Judicial, e outra um catedrático que se dedica a tempo inteiro ao estudo da politica e dos políticos nacionais, com a fundamentação que assenta em extensas experiências pessoais e profissionais, concluem, para “mal dos nossos pecados” aquilo que consideramos constituir uma verdade “de la Palisse” para qualquer português medianamente informado.
Mesmo nós, neste sítio, fazemos referência, por duas vezes, nos textos fixos deste blog quer à esquizofrenia da Classe Politica, in: “Esquizoídes desde sempre”, a propósito da frase histórica: “Se não têm pão sirvam brioches”, frase tornada famosa por ter sido proferida por Maria Antonieta, e bem representativa do desfasamento total da realidade, por parte daquela Soberana. Desfasamento este que continua característico de muitos titulares dos Órgãos de Soberania, mesmo hoje, na era da sociedade da comunicação e da informação. Quer na responsabilidade que cabe à sociedade civil no debelar deste problema estrutural: A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir.
Tristemente dignas de registo, aquelas opiniões, dão-nos, comprovadamente, razão!
Estamos convictos de que não será só quanto ao diagnóstico que nos assiste a razão. Também quanto à terapia para aqueles males, aquela que só a sociedade civil activa e resistente pode empreender para sanear, de vez, a esquizofrenia vulgar que caracteriza a classe politica do nosso descontentamento.
Participar é assim não só útil, mas sobretudo, imperioso!
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André Freire faz raios X à politica
Os seus dois livros chamam-se “Representação Politica”. A politica está bem representada em Portugal, com os protagonistas actuais?
Os problemas que existem têm mais a ver com as condições estruturais do que com os representantes: falta liberdade de escolha dos eleitores na selecção dos deputados; há fraca diferenciação ideológica entre PS e PSD; não há incorporação das minorias à esquerda do PS no Governo.
A politica tem cada vez menos credibilidade. O que fazer para a credibilizar novamente?
Dar aos eleitores maior liberdade de escolha dos deputados (voto preferencial, por exemplo); existir maior diferenciação entre PS e PSD e, portanto, a discussão politica centrar-se mais nas politicas do que nos casos; uma atitude mais compromissória e cooperante da esquerda radical que permitisse integrar essas minorias na governação, logo moderá-las e normalizar a vida democrática.
Se tivesse de fazer um ranking entre 1 (bom) e 20 (mau) sobre os países com piores políticos, em que lugar colocaria Portugal?
Como disse, o problema não é tanto o perfil dos políticos, aí colocava na posição 7, são os problemas estruturais referidos atrás – e ai colocava na 15.
Numa perspectiva comparada a que conclusões chega sobre os deputados portugueses? Existirá uma espécie de perfil/ retrato robot?
Muito escolarizados e politicamente muito profissionalizados, mas também e, por isso mesmo, uma classe politica demasiado fechada sobre si própria e com fracas ligações à sociedade.
Como analisa o papel das mulheres na politica?
A nova lei da paridade, aplicada em 2009 pela primeira vez em legislativas, ao permitir massa critica feminina em cada grupo parlamentar (cerca de 20% a 30%), irá permitir testar se, em cada partido, faz ou não diferença o género do ponto de vista da actuação politica. Até agora não sabemos bem.
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