Aproxima-se a data mais importante do calendário político nacional: A eleição do novo líder do PSD!
Não podíamos deixar de estar atentos ás propostas dos candidatos pois sabemos que a qualidade do Governo depende muito da qualidade da Oposição.
Comecemos pela economia que é uma das condicionantes maiores do nosso dia-a-dia.
Como muito bem disse o Director do diário “I”, os candidatos a liderar o PSD e por conseguinte a Oposição parecem o Sócrates a falar.
TUDO SE RESUME á questão do PEC. O Dr. Passos Coelho acha que este PEC não interessa ao país e por isso que deveria ser muito diferente.
Explica ele que o PEC deveria caminhar para a redução do peso do Estado entregando-se a economia aos privados, o que pelo menos é uma ideia.
No entanto, para reduzir o Estado aponta para a necessidade de estabelecer um ratio de por cada 5 trabalhadores da função pública que saem apenas 1 deveria ser admitido.
Ficamos portanto a saber que lá para o ano 2050 se conseguirá o objectivo do Dr. Coelho.
Por outro lado, não conseguiu explicar como irá ele convencer os “míticos” privados e aonde está o capital privado para investir na economia.
Tendo Portugal hoje um quadro fiscal idêntico aos países da UE e medidas de criação de empresas de forma expedita, que mais faria o Estado para incentivar o investimento ?
Se se atender e nós atendemos, às constatações o livro do Prof. César das Neves (cavaquista e ex-consultor do 1ºMinistro Cavaco Silva) os empresários portugueses não têm propensão para o risco e, portanto para o investimento(quedando-se mais pelo lucro imediato típico da especulação imobiliária ou financeira) e isso verifica-se desde tempos imemoriais, desde que El-rei D. Manuel expulsou os judeus do reino.
Ficámos a saber portanto que o Dr. Passos Coelho não tem em conta o país real mas o que leu do Adam Smith na Faculdade, o que sendo importante é, no entanto, muito insuficiente.
O Dr. Paulo Rangel diz que se deve adiar (o que em Portugal significa eliminar definitivamente), o TGV e o aeroporto porque não há dinheiro e o PEC não aponta para qualquer crescimento.
Portanto o Dr. Rangel quer o crescimento, mas elimina o investimento, forma deveras interessante de conseguir crescimento(???).
O Dr. Rangel propõe ainda a formação de um novo Ministério para abarcar as comissões regionais como modo deveras curioso de diminuir a despesa pública(???).
Finalmente fala-se do adiamento do TGV porquanto, embora a sua exploração seja positiva, o que já é uma alteração á retórica das eleições, não há retorno do investimento inicial.
Trata-se assim de uma nova e inovadora visão do serviço público. A seguir tal conceito de “Return On Investment”(ROI) não teríamos realizado o caminho de ferro no sec XIX, não teríamos hospitais que só dão prejuízo, não teríamos auto-estradas, para o interior etc..
Curioso é também o paralelismo de atitude deste candidato com aquela de que acusámos os privados: Imediatismo no lucro!
Quando se espera de um líder politico, no Governo ou na Oposição, uma visão prospectiva e pedagógica e por isso muitas vezes correctiva, confrontamo-nos com o vazio dos lugares comuns, uma “Maria vai com as outras”.
Portanto ás vezes estes tipos trazem ideias novas .....não fazem é qualquer sentido e não trazem mais-valia alguma, quando não representam verdadeiros disparates !
POR OUTRO LADO, TODOS OS CANDIDATOS acham que temos que mudar a justiça, no entanto nenhum disse como (por exemplo alterar a Constituição para dar legitimidade democrática a tal órgão de soberania elegendo o PGR e/ou o Presidente do Supremo, alterando o regime de avaliação dos magistrados, reduzir as taxas de justiça que fazem com que os menos favorecidos tenham o acesso á justiça escandalosamente limitado, proibir a existência de sindicatos dos magistrados como propõe António Barreto, alterar a distribuição do pessoal por forma a não ter tribunais que demorem muito mais que outros, criando a possibilidade do sistema de compensação entre particulares e o Estado que permite hoje que o Estado execute os contribuintes apesar de dever dinheiro a esses mesmos contribuintes, etc.).
O Dr. Passos Coelho resumiu tudo numa palavra: demitia-se o PGR porque não acusou o 1º Ministro e tínhamos o assunto resolvido.
Os exemplos de más decisões dos tribunais relativamente ao poder paternal, o facto de cidadãos e empresas esperarem anos e anos para a resolução dos seus problemas, a violação do segredo de justiça e a permanente violação dos direito de personalidade dos cidadãos, a evidente partidarização da justiça, a ineficácia dos Conselhos Superiores, o facto de apenas menos de 10% dos acusados pelo MP são efectivamente condenados gastando-se milhões dos contribuintes para criar papeis inúteis, a existência de leis a mais e mal feitas e por vezes mesmo contraditórias, a discrepância de decisões judiciais contraditórias para casos idênticos, etc., etc., nada disso foi minimamente sequer aflorado pelos candidatos que resumem os problemas da justiça ao facto de ela não ter sido muito eficaz ajudando-os a derrubar os seus adversários políticos, coisa que eles não conseguiram nas urnas.
EM MATÉRIA SOCIAL pretendem desagravar a classe média (o que, atendendo ao que é classe média em Portugal, milhões de nós agradeçemos), mas, mais uma vez não se diz como: se há um desagravamento fiscal haverá redução das receitas do Estado, logo haverá maior défice e maior endividamento !
Claro que o Dr. Durão Barroso ia reduzir os impostos e foi o que se viu, o Sócrates não ia aumentar os impostos e foi o que se viu.
Após instalarem-se no poleiro, fazem o contrário do que prometeram. De facto, os senhores candidatos não se preocupam em explicar o "como" porque não têm qualquer intenção de fazer algo, ou se as têm, não fazem a mais pálida ideia sobre como o fazer. Quando lá chegarem logo se verá!
Claro que nada se falou sobre melhorar a vergonha social de pensões de miséria e como financiá-las (essa gente não faz greve portanto não conta).
NA ÁREA DA EDUCAÇÃO nem uma palavra! (alteração dos curricula, obrigatoriedade da formação dos formadores, alterações do esquema de exames, faltas escolares e facilitismo, reforço da disciplina nas escolas, avaliação dos professores e das escolas, diminuição do peso do Ministério - o maior do país, etc.). Nada destes assuntos foram sequer aflorados pelos candidatos sendo, no entanto, um dos mais importantes factores de desenvolvimento/retrocesso de qualquer sociedade. Certamente o inefável presidente do sindicato dos professores ficou agradado.
SOBRE AS LIÇÕES DA CRISE e os problemas que o mundo viveu e ainda está a viver resultantes da falência do sistema financeiro internacional, nada foi dito (alteração e reforço das entidades reguladoras - problema resolvido com a saída de Constâncio e a entrada de um indivíduo da área do PSD, logo do melhor, alteração das leis da Bolsa proibindo ou taxando mais fortemente as transacções de bens futuros de forma a desencorajá-los, eliminação de off shores e/ou proibição de actividades de empresas que mantêm contas em off shore ou em alternativa, aumentar os impostos sobre essas empresas, regulação das acções e consequente responsabilização das empresas auditoras externas, etc., etc. ), nada destas questões foram afloradas e o assunto ficou resolvido com a saída de Constâncio e a sua substituição por um tipo da família laranja!
NADA FICOU DITO sobre a necessidade da alteração das políticas de prevenção e punição da violência que aumentou tendo 50% desse aumento sido verificado perto de escolas (fusão da PSP e GNR em termos de policiamento, a fusão da GNR, PSP e PJ por forma a tornar a investigação e a repressão de crimes mais eficiente e rápida, eliminando franjas de redundância e os "ciúmes" das diversas instituições que beneficiam por princípio a actividade criminosa, alargamento do policiamento de proximidade, melhoria das dados de bases e colaboração com entidades internacionais, prevenção na luta contra o terrorismo que o caso ETA provou pura e simplesmente não existir, formação intensa dos agentes - ainda a semana passada foi morto um indivíduo por um polícia que nunca tinha disparado com aquela arma, etc., etc.).
Não conseguimos ouvir uma palavra sobre esta matéria. As hipóteses de em caso de estarem no poder algo fazerem parece nula.
NADA FOI DITO sobre a legislação laboral um dos factores mais importantes para o desenvolvimento económico sendo a mais retrógrada da Europa (flexibilização de horários e despedimentos, facilitar a entrada dos novos empregados em vez de proteger apenas os que já têm emprego, existência apenas de um Código Laboral para TODOS os trabalhadores quer sejam do Estado quer sejam dos privados acabando com a injustiça social de emprego para toda a vida, sistema de reformas e de assistência médica melhor no Estado que nos privados, moralização do Fundo de Desemprego para desincentivar a concorrência no mercado de trabalho do sistema social, deixar ás partes pela via da contratação colectiva a decisão de acordarem as relações laborais, eliminar o princípio dos direitos adquiridos permitindo a alteração de salários e regalias por acordo entre as partes tal como sucede na Europa, alteração das leis eleitorais para as organizações sindicais por forma a torná-las mais representativas das classes que representam e assim diminuir as agendas partidárias e a perpetuação das direcções, etc., etc., etc.).
Ficámos portanto a saber que para estes senhores isto nem sequer constitui um problema.
SOBRE A POLITICA ENERGÉTICA que ocupa o 1º lugar no desequilíbrio da balança comercial do país, nem uma palavra.
Sendo um factor que tem um peso decisivo no endividamento externo do país (e em geral nos países europeus), seria de esperar que "os putativos candidatos a 1ºMinistro" a ele se referissem.
Nem uma palavra o que diz bem o nível de envolvimento na “real” desta gente.
FINALMENTE SOBRE as condições de governabilidade do país, o apoio ao PEC, etc. , ficámos todos esclarecidos sobre a irresponsabilidade e falta de patriotismo destes senhores.
Dizem que não têm medo de eleições, mas cientes das últimas sondagens que continuam a dar a vitória ao PS, não sabem "quando".
O Dr. Passos Coelho até disse que o "país queria mudar em Setembro mas não conseguiu" uma ideia interessantíssima e hilariante: O país queria mudar mas não conseguiu votar de acordo com esse desejo (certamente que fazer uma cruz em outro Partido que não fosse o PS exigia mais força !!!).
As propostas dos candidatos não constituem, portanto, proposta alguma. Quer por serem inconsistentes, quer por serem muito pouco maturadas, quer por serem disparatadas. Venha o “diabo e escolha”!
Se for, qualquer um destes candidatos, o futuro líder da Oposição, temos fundadas dúvidas sobre qualquer alteração qualitativa na performance da Oposição, ou no contributo positivo que, nessa qualidade, possam dar à Governação.
Se for, qualquer um destes candidatos, o futuro líder do Governo, temos a certeza que nenhuma alteração qualitativa resultará de positivo para o Pais, face ao que temos hoje.
Os problemas estruturais de que o Pais é vitima não se tratam com diletantes, sem ideias, mestres do conjuntural e dos lugares comuns.
Estamos portanto esclarecidos. O Sócrates continua descansado e nós continuamos lixados.
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
A. Pêra: Carro arde junto à GNR
Um incêndio de origem desconhecida destruiu ontem por completo um carro em Armação de Pêra, Silves. A viatura, de marca Seat, estava estacionada junto ao aldeamento Vila Nova, muito perto do posto da GNR local, que tomou conta da ocorrência. Os Bombeiros de Silves foram alertados às 21h30 e extinguiram o fogo.
Candidatos do vazio. Muito bom este título! Porém candidatos do vazio será para todos actualmente? Ou não? Nunca existiu um vazio tão grande quanto o actual e não é por falta de situações por resolver.É vazio mental mesmo. Vazio de perspectivas. Vazio de vontades de resolver. Vazio de gentes empreendedoras. Vazio de interesses saudáveis. Vazio de gentes guerreiras. Vazio de afectos. Porém grande riqueza de hostilidades desesperadas para atirar sempre a bomba da guerra nem que seja para se mostrar alguma visibilidade deslavada e sem pudor. Résteas de algum brilho se vislumbra em horizontes longinquos, mas queira Deus não se esbarrem num barranco de atropelos sem créditos para ganhar o lugar do dsespero. Aguardemos e veremos os candidatos do vazio a largar espadas como quem deixa cair ervas daninhas, porque essas magoam ainda mais o fundo dos seus desesperos.
Enviar um comentário