




O corso de Armação de Pêra esteve para não se realizar, ontem, por a GNR não ter sido avisada. De acordo com Sónia Oliveira, da associação Amigos de Armação de Pêra, o aviso devia ter sido feito pela junta de freguesia local, que entretanto decidiu não realizar o corso. Este foi organizado pela população e a GNR acabou por permiti-lo.
Correio da Manhã
No Carnaval, diz o povo, ninguém leva a mal. Levando a preceito este adágio popular o Poder Local desnudou-se e mostrou despudoradamente as suas partes mais intimas.
O episódio representado pela falta intencional de comunicação à GNR do percurso do Corso Carnavalesco, protagonizado pelo Snr. Fernando Santiago é bem esclarecedor da qualidade, responsabilidade, dimensão e formação do homem que foi eleito para presidente da Junta de Freguesia de Armação de Pêra.
A Snra Presidenta do Município, que alinhou pelo mesmo diapasão, se não tiver dado mesmo o mote, revelou-se igualmente, igual a si própria, esclarecendo que, quando ela não brinca ao Carnaval, ninguém mais o pode fazer.
Todos ficámos a saber, em Armação de Pêra, que a grandiosidade relativa do nosso Carnaval se fica a dever, em exclusivo, à elite dos Foliões: Presidenta da Câmara e Presidente da Junta de Freguesia.
Mais ficámos a saber que o Carnaval é uma arma de arremesso para o poder político concelhio.
Por isso concluímos que, para aqueles Pantomineiros, ou nos portamos bem durante o ano, ou não temos Carnaval.
Excepção feita é claro, em anos pré eleitorais, onde se torna necessário desfilarem a exuberância da sua classe e dar uma nota de popularidade, o que só é possível com banhos de multidão.
O que para eles não é possível usufruir, senão... no Carnaval.
Ora, sabendo nós que estas figurinhas não vão mais eleger-se (dadas as limitações impostas legalmente ao número de mandatos) os banhos de multidão tornaram-se desnecessários e a popularidade seguiu pelo mesmo caminho.
A arrogância do poder local por conseguinte, perdeu o verniz e transbordou...no Carnaval!
Porque será que a nudez deste Poder Local, apesar das múltiplas operações plásticas, não nos surpreendeu?
Lá pelos idos de 60 tinha lugar no Casino de Armação de Pêra uma folia comum no “programa” de Verão em Armação de Pêra: O Baile Masqué!
Era um dia diferente, muito divertido, que mobilizava a juventude em veraneio para uma noite de verdadeiras mascaradas, anualmente, lá pela segunda quinzena de Agosto.
Não terá sido, no Casino que conhecemos, a origem remota dos Bailes de Carnaval em Armação de Pêra porquanto este equipamento veio a suceder ao Casino Velho onde já se brincava o Carnaval, sob esta ou outra designação.
Diferente de um Carnaval ou de um desfile de máscaras, tratava-se essencialmente de um baile para o qual as pessoas se adereçavam com vestes da personagem que escolhiam representar, usando uma máscara para ocultar a sua identidade, permitindo-se assim, nalguns casos, comportamentos diversos e até excessivos (no melhor que o termo pode comportar). O Baile de Máscaras!
O Baile Masqué, termo misto do português e francês, constitui uma invocação do célebre Bal Masqué cuja origem, francesa, se perde no tempo, havendo quem o tenha encontrado na própria Idade Média, nos salões da aristocracia embora tenha atingido a popularização durante a Renascença.
Há também quem lhe atribua a incorporação, então pela mão da burguesia brasileira, do luxo e sofisticação, ao Carnaval do Rio de Janeiro, logo na década de 30 do século 19, típicos das festas desta natureza em Paris.
O decurso dos séculos, apesar de tudo aquilo a que assistimos como evolução, não terá retirado, nem à folia, nem à fantasia ou ao mistério, os atributos de nos divertirem. Nestas e noutras coisas, permanecemos humanos como antigamente!
Daí que não possamos deixar de lamentar a inércia, o amorfismo, a miopia de quem mantêm um equipamento como o Casino de Armação de Pêra abandonado, na mira de o vocacionar para fins provavelmente banais e iméritos, em nome de interesses inconfessados.
São ignáros e calões mascarados de pessoas inteligentes e empreendedoras, fazendo do seu dia-a-dia um permanente baile de máscaras!
Por outro lado, contrariamente à coerência que achamos necessária manter nestas (como noutras) questões, a classe politica – praticamente toda ela – faz da coerência “gato sapato” e dos princípios meras oportunidades de ajustamento ao percurso que têm bem traçado, para os dinheiros públicos.
É nesta conformidade que o apoio à iniciativa comunitária no que à celebração e festejos do Carnaval diz respeito, entronca!
O Carnaval já deixou, há muito, de ser uma mera chachada que se destine exclusivamente a divertir o povo, para se converter, a sua realização, numa actividade económica responsável por receitas para todos: os comerciantes e seus fornecedores, a vila ou cidade e por isso a autarquia e a administração tributária, obviamente omnipresente.
São múltiplos os casos de cidades que, em Portugal, do turismo muito pouco beneficiavam e que desbravaram este sector através do Carnaval, chegando mesmo a investir “a peso de ouro” na presença de actores brasileiros, mais familiares através das telenovelas.
Ovar, Bairrada, Vila Nova de Famalicão, onde é o próprio pelouro da cultura que organiza o Carnaval, são de entre outros, evidências claras do que dizemos.
A propósito de Brasil, de ano para ano, são patentes os crescentes investimentos em adereços, convertendo-o, justamente, num evento com escala mundial.
Todos estes eventos (será melhor tratá-los deste modo para que, só assim, lamentavelmente, ganhem expressão económica?) são dinamizadores da economia, quer seja em Famalicão, quer seja no Rio de Janeiro, variando apenas na dimensão do fenómeno.
Será necessário fazer um desenho para que todos os potenciais intervenientes entendam a elementaridade deste facto?
Se estes factos forem aceites como reconhecidos, como poderemos interpretar a indisponibilidade verificada quer por parte da autarquia de Silves, quer por parte da Junta de Freguesia de Armação de Pêra, para apoiarem o nosso Carnaval?
Apoio que não têm que ser, necessariamente, em dinheiro, mas tão só em meios?
Meios que foram adquiridos com a receita dos contribuintes!
Que adjectivação devemos usar para qualificar esta omissão assumida tácita e expressamente, depois de, ao longo dos anos, já termos quase esgotado o dicionário para caracterizar a mediocridade da gestão do nosso Concelho e da nossa Junta de Freguesia?
Gestão acéfala?