O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ARMAÇÃO DE PÊRA: SWIM FOR SHOES

Um sapatinho à medida do nosso pé!
Umas dezenas de cidadãos ingleses têm o hábito já, de promover anualmente por esta época, uma iniciativa, muito rara entre nós, mas comum nos países do norte da Europa, de se juntarem num encontro informal visando uma acção concreta, com um objectivo muito preciso, de solidariedade social.

Um núcleo pequeno de cidadãos, alavancado por uma necessidade concreta a satisfazer, promove e estimula a participação de todos aqueles que consegue motivar, naturalmente com maior sucesso entre os que têm a mesma formatação – no caso concreto, os ingleses.

Em tom de brincadeira e à laia de galhofa realizam uma tarefa muito séria e da mais relevante importância social e pedagógica: a solidariedade concreta promovida autónoma, originaria e exclusivamente pela sociedade civil.

Desta vez o objectivo foi a angariação de fundos para a compra de sapatos novos para as crianças do lar “A Gaivota” em Albufeira.

Da primeira realização, em 26 de Dezembro, angariaram 600,00 euros!

Para muitos, uma tão grande realização para tão pequeno resultado!
Para outros, uma pequena realização para tão grande resultado.
Para nós uma invejável consciência cívica que os move e pode mover montanhas!

A pedagogia do exemplo vai proliferando através destes novos missionários do norte. Espaçada e lentamente, vão-nos estimulando a encontrarmo-nos connosco próprios.


Deu-se um dia a casualidade de visitar uns amigos, em férias, pela Páscoa, numa aldeia do interior algarvio. Encontrámo-nos no único café da aldeia, onde passámos um fim de tarde frugal em amena cavaqueira.
Vagueando através de um olhar periscópico fixei-me num pequeno anúncio manuscrito, colado na montra do café, que me intrigou reflexivamente e do qual constava: “A quermesse para a compra da prótese para a D. Joaquina, realiza-se no próximo domingo. Traga qualquer coisa de que não necessite”.

Intui de imediato que a iniciativa se deveria a cidadãos estrangeiros!
Perguntei directamente ao dono do café se vivia algum estrangeiro na aldeia, o que me foi imediatamente confirmado: “sim vive um casal de senhores ingleses, idosos, ali mais acima”.
Seguindo o percurso da minha suspeita por etapas, inquiri o meu interlocutor acerca do teor daquele anúncio, face ao que, esclareceu, tratar-se de uma angariação de fundos, com vista à aquisição da dita prótese, para a coitada da criatura, coisa para alguns cinquenta contos…
Finalmente questionei-o sobre quem a tinha promovido e lá me foi confirmado que se tratava de uma iniciativa do casal inglês.

Mais tarde soube que a iniciativa tinha tido inteiro sucesso, adquirindo-se de facto a almejada prótese para a D. Joaquina.
Os habitantes da aldeia, certamente excelentes pessoas, levaram, provavelmente, “uma vida” a lamentar o infortúnio da D. Joaquina. O casal de cidadãos ingleses, integrados na comunidade, face ao infortúnio da D. Joaquina, agiu!

Promoveram a realização de uma quermesse, angariaram dessa forma os fundos necessários e adquiriram a prótese de que tanto precisava a D. Joaquina.
Esta é, quanto a nós a diferença entre a caridade e a solidariedade! Este é um bom exemplo da diferença entre o alheamento e a participação!

Neste episódio presenciámos as raízes do potencial reformador da sociedade civil!
Esta é uma ideia que politicamente temos da sociedade civil, não o espectro de uma sociedade sentada nas poltronas de uma mega sala de espectáculos, ensonada e pronta a ser agitada para acordar quando se aplaude ou se vaia, acompanhando, indiferente, o ecoar do sentido da manifestação ensurdecedora, mas uma plateia, que neste espectáculo, ocupa legitimamente o palco escrevendo a peça enquanto a representa.

Temos para nós que iniciativas desta natureza, na Europa, são mais típicas de alguns países do Norte, os quais, tendo aderido à Reforma (e em Inglaterra com a ajuda inestimável do amor de Henrique VIII a Ana Bolena) se viram livres do jugo de Roma, o que contribuiu, decisivamente, para a construção de sociedades mais participativas, onde chegaram mais cedo as democracias liberais (regime representativo, pluralismo politico, sufrágio universal, liberdade de expressão) e que não tiveram de esperar pelo marxismo para fazer evoluir o conceito de caridade para o de solidariedade.

E fizeram-no criando condições para receberem a lufada de ar oxigenado que as Revoluções Francesa e Americana trouxeram com os direitos do homem e da cidadania.

Nesses países, organizações da sociedade civil, estimulam, promovem e organizam o trabalho voluntário, a solidariedade concreta a expensas da sociedade civil, realizando obras de mérito social de relevante significado cívico e humano.
Essas sociedades, mais desenvolvidas nesta sede, não apresentam as performances diferenciadas que apresentam face ao nosso, habitualmente lastimoso Pais, por acaso!

Por cá, pelos países do Sul da Europa, pelo menos em Portugal, o temor reverencial a Roma, não permitiu alterações significativas ao status quo e o alheamento conservou-se orgulhosamente, em coerência com o modelo católico da autoridade, da hierarquia e da obediência que influenciou e favoreceu quer o poder tradicional quer as oposições antiliberais, de pendor jacobino ou comunista.

3 comentários:

Anónimo disse...

Esses gajos são realmente diferentes!
Têm tanto da cabrões como de civilizados.

Anónimo disse...

Melhor foi a passagem do ano organizada pelo Rogério e família em Armação.
O fogo de artifício sobre o mar foi um espanto e então a actuação das bandas.
Desta vez a animação passou mesmo por Armação, nunca tivemos tantos turistas.
A enchente desde a praia dos pescadores até ao Garbe foi um espectáculo.
Desta vez é que foi!

Bem hajas Rogério tens jeito para organizares estes grandes eventos.

A malta de Armação não te esquecerá...

Anónimo disse...

quem é o rugério?

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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