O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
Trump eleito! Quem não lê...chapéu (do tamanho de um Sombrero!
Como eu (amigo do Blog Cidadania)vejo as
eleições americanas
Ora elegendo um Presidente, que se assumiu na campanha eleitoral como xenófobo, reaccionário, misógino, racista, mentiroso e sobretudo IGNORANTE, os americanos provam ser exactamente o contrário: assumem-se como IGNORANTES, egoístas, de vistas curtas.
Ora os ignorantes, em qualquer parte do mundo, são os mais facilmente influenciados por disparates e patetices populistas. A cultura é o principal instrumento para nos defendermos de populistas, aldrabões, fanáticos religiosos, etc. Se não a temos….chapéu!
E quando lhes imputo a ignorância, não se trata de não aceitar que cada povo tem a sua cultura, e o direito a ela!
Porém, acreditar em fábulas como o Tea Party que defende que o mundo só existe há apenas 6.000 anos, que o Homem nunca foi á lua, ou como dizia Ben Carson um dos candidatos dos republicanos (um respeitado neurologista americano) que afirmou que as pirâmides do Egipto eram armazéns de cereais, etc, não constitui uma característica duma cultura diferente mas apenas de um elevado grau de pura e dura IGNORANCIA.
A cultura e a instrução não são inúteis, e são os pilares da maturidade e da capacidade de pensar pela própria cabeça. Não dispondo ou prescindindo dela, somos facilmente manipulados e convencidos.
Não era preciso votarem no Tea party , uma seita pró religiosa que defendia nas suas próprias igrejas que era preciso matar o Obama porque era um agente inimigo!
Aquando do Brexit, presenciámos também o fim de um outro mito, aquele do povo esclarecido que sabe o que quer, que não só votou contra os seus próprios interesses, como ainda afirmou no dia seguinte que queria repetir a votação porque afinal o que queriam era apenas dar uma lição ao Governo!
Se isto é um povo esclarecido, vou ali e já venho!
Os próprios tipos que lidaram a acção como o Snr. Farage do UKIP, apressou-se a pedir a demissão ao ver a borrasca que aí vem.
Os Bancos e várias empresas japonesas já informaram que se vão mudar do Reino Unido para a EU para continuar a beneficiar do mercado europeu.
A economia estagnou, a Escócia e a Irlanda do Norte querem afastar-se da Inglaterra para se manterem na EU, ou seja a união do Reino (des) unido, está em causa, o Governo fala, fala, fala, mas nada faz.
Estão portanto os ingleses de parabéns! Outro povo que de esclarecido apenas TEM (tinha) a fama!
E vai haver muitas alterações mesmo tendo em consideração que muitas coisas que foram prometidas apenas para, desonestamente, ganhar votos, nunca serão feitas, não tenhamos dúvidas, muita coisa vai mudar porque Trump precisa do apoio do Partido Republicano, ora dominado pelo Tea Party (não esquecer que George W Bush votou em Hillary), em três questões principais:
Em primeiro lugar, acho que é o fim de um mito.
Habituámo-nos a ver o Presidente americano como o “leader of the free world”,
mas tudo isso não é verdade. Habituámo-nos a admirar os EUA pelo simples facto
de ser a maior potência mundial habitada por gente esclarecida e defensora
intransigente da democracia e dos valores dos direitos humanos, respeito pela
diferença e pelas minorias, um país constituído por emigrantes de todas as
raças e credos, e tolerante por isso mesmo.
Ora elegendo um Presidente, que se assumiu na campanha eleitoral como xenófobo, reaccionário, misógino, racista, mentiroso e sobretudo IGNORANTE, os americanos provam ser exactamente o contrário: assumem-se como IGNORANTES, egoístas, de vistas curtas.
Ora os ignorantes, em qualquer parte do mundo, são os mais facilmente influenciados por disparates e patetices populistas. A cultura é o principal instrumento para nos defendermos de populistas, aldrabões, fanáticos religiosos, etc. Se não a temos….chapéu!
E quando lhes imputo a ignorância, não se trata de não aceitar que cada povo tem a sua cultura, e o direito a ela!
Porém, acreditar em fábulas como o Tea Party que defende que o mundo só existe há apenas 6.000 anos, que o Homem nunca foi á lua, ou como dizia Ben Carson um dos candidatos dos republicanos (um respeitado neurologista americano) que afirmou que as pirâmides do Egipto eram armazéns de cereais, etc, não constitui uma característica duma cultura diferente mas apenas de um elevado grau de pura e dura IGNORANCIA.
A cultura e a instrução não são inúteis, e são os pilares da maturidade e da capacidade de pensar pela própria cabeça. Não dispondo ou prescindindo dela, somos facilmente manipulados e convencidos.
Não colhe a “desculpa” de que os americanos estão fartos do
sistema político actual e que pretendem a mudança. Para tanto não necessitavam
de arranjar um exemplar desta espécie, havia muitos candidatos prontos a interpretar
e encarnar essas queixas.
Não era preciso votarem no Tea party , uma seita pró religiosa que defendia nas suas próprias igrejas que era preciso matar o Obama porque era um agente inimigo!
Há gente ignorante em todos os países, o que esta eleição
nos diz, porém, é que a ignorância é uma característica inerente ao americano
médio, não se trata apenas de franjas da sociedade como existe em qualquer
país.
Aquando do Brexit, presenciámos também o fim de um outro mito, aquele do povo esclarecido que sabe o que quer, que não só votou contra os seus próprios interesses, como ainda afirmou no dia seguinte que queria repetir a votação porque afinal o que queriam era apenas dar uma lição ao Governo!
Se isto é um povo esclarecido, vou ali e já venho!
Os próprios tipos que lidaram a acção como o Snr. Farage do UKIP, apressou-se a pedir a demissão ao ver a borrasca que aí vem.
Para aguentar a libra o Banco de
Inglaterra já injectou na economia cerca de 300 mil milhões de libras (o dobro
do PIB português) sem conseguir parar a queda abrupta da libra que está em
valores de há 70 anos (agora é que é comprar coisas inglesas, um barco de
recreio custa 30% menos euros que antes do Brexit); Por outro lado, os ingleses
têm que pagar mais libras por qualquer produto que importam da EU e dos EUA o
que corresponde a “apenas” 80% do total das suas importações.
Tudo isto sem que o Reino Unido já
tenha saído da EU, imagine-se quando o fizer….
Os Bancos e várias empresas japonesas já informaram que se vão mudar do Reino Unido para a EU para continuar a beneficiar do mercado europeu.
A economia estagnou, a Escócia e a Irlanda do Norte querem afastar-se da Inglaterra para se manterem na EU, ou seja a união do Reino (des) unido, está em causa, o Governo fala, fala, fala, mas nada faz.
Estão portanto os ingleses de parabéns! Outro povo que de esclarecido apenas TEM (tinha) a fama!
Qual a influência que
a eleição de Trump tem na Europa?
Abstenho-me de dizer o que acontecerá na América porque meus
caros, estou-me nas tintas. Se o escolheram agora que levem com ele!
O que me interessa é a Europa, claro.
E vai haver muitas alterações mesmo tendo em consideração que muitas coisas que foram prometidas apenas para, desonestamente, ganhar votos, nunca serão feitas, não tenhamos dúvidas, muita coisa vai mudar porque Trump precisa do apoio do Partido Republicano, ora dominado pelo Tea Party (não esquecer que George W Bush votou em Hillary), em três questões principais:
(1) No aspecto cultural e político, haverá um
reforço das organizações populistas de direita e de esquerda com prejuízo para
a democracia.
Os Partidos xenófobos e racistas irão ganhar
força sem qualquer dúvida. O primeiro escolho virá do referendo em Itália que,
se perdido pelo governo, levará á sua queda. Aposto dobrado contra singelo que
o Renzi irá cair e teremos eleições com o partido do “palhaço” Grilo (populista)
a ganhar.
O partido dos piratas já é a segunda força
na Islândia, depressa se tornará a primeira. Os governos dos países de leste já
de extrema-direita na Polónia e na Hungria serão reforçados.
Na Áustria o Partido da extrema-direita
radical poderá ganhar a repetição das eleições para a Presidenciais e ganhará
seguramente as próximas legislativas.
Le Pen ganhará facilmente a França
completamente destroçada pela governação errática e incompetente de Hollande e
o desaparecimento de um líder credível da direita moderada, Sarkozy, não é
aceite sequer pelo seu próprio partido.
Mesmo na Alemanha o partido AFD
(extrema-direita xenófoba e anti europeu) formado recentemente ficou muito bem
cotado nas eleições regionais e poderá pôr em causa a coligação moderada hoje
no poder nas eleições do próximo ano.
Na Espanha, o Governo de Rajoy nem sequer
conseguirá aprovar o Orçamento de Estado e mesmo que o consiga não poderá
governar porque não consegue obter maiorias, logo não tarda irá cair, o que
levará ao reforço do Podemos (outro partido populista) visto o PSOE estar em
queda e provavelmente a caminho da sua PASOKização, ou seja o seu
desaparecimento.
Estamos, portanto, no bom caminho!
(2) No aspecto económico haverá ma mudança
clara. Trump e os Partidos populistas europeus são nacionalistas, contra a
globalização.
Trump particularmente é um isolacionista
como o eram os americanos antes da segunda guerra mundial. São portanto contra
o liberalismo e livre cambismo que levou á perda de postos de trabalho na Europa
e USA em proveito da China e países do terceiro mundo e começaremos a ver
medidas proteccionistas a acontecerem nos EUA desde já.
Ora acontece que os USA e a Europa são
responsáveis por 35% do comércio mundial apesar de apenas termos 800 milhões de
habitantes, menos de 1/7 da população
mundial! Serão portanto os primeiros e mais afectados pela esperada redução do
comércio já que quer EUA quer a Europa são ao mesmo tempo os melhores clientes
e fornecedores deles próprios.
Os USA e a Europa comerciam entre si quase
70% do seu PIB, apenas cerca de 30% é comerciado com países terceiros.
Será portanto um desastre económico de
consequências bíblicas, que levará ao abrandamento da economia e mesmo à recessão
na Europa que se encontra com grandes dificuldades por não ter sabido tomar
medidas para sair da crise 2008.
Claro que o acordo comercial que estava em
discussão entre a Europa e a América, vai á vida. Neste caso, Trump disse-o
expressamente!
(3) A nível geo- político haverá mudanças
radicais com consequências para a paz, a economia e a sociedade em geral.
Trump é um isolacionista bem
como desde sempre foram a maioria dos americanos. Não nos podemos esquecer que
sem o estupido bombardeamento de Pearl Harbour, os americanos não teriam
entrado na guerra, apesar da vontade do seu Presidente que nunca foi capaz de
convencer o Parlamento.
Porém a entrada na guerra levou a que os USA
passassem a ser o líder mundial (até então era o Reino Unido com o seu
império).
Deste modo, os americanos voltarão ao
passado em que os seus interesses geo estratégicos, estarão virados para o
Pacifico e não para o Atlântico.
O perigo para a hegemonia dos USA não vem
dos seus aliados europeus e os países europeus, individualmente considerados,
mesmo a Alemanha, são médios países sem dimensão para competir com os USA.
A China pelo contrário, dada a sua dimensão
poderá a prazo tomar o lugar de primeira potência aos americanos, portanto os
USA irão atacar as suas vulnerabilidades que são o facto dos USA, sem o seu principal
cliente (a seguir é a Europa), e o facto de deterem uma grande parte da dívida
americana (em dólares claro está) estando assim na mão dos americanos, uma vez
que qualquer desvalorização do dólar afectará brutalmente a economia chinesa.
Trump atacará a China, sem dúvida e fará o
absolutamente necessário e nada mais para manter a Europa como aliada.
Aliás a previsível crise económica
consequência do abrandamento da economia com as medidas proteccionistas levará
a uma diminuição dos mercados mundiais em particular da China que tem ainda uma
enorme dependência das suas exportações e também a Europa que aliás tem um
superavit na sua balança comercial com os USA (o que irá alterar-se e passará a
ser ao contrário).
A Europa está ainda mais vulnerável que a
China porque não só os USA são o seu principal parceiro comercial, como também
porque depende para a sua segurança da NATO dominada pelos americanos já que os
europeus para financiarem o seu estado social ignoraram os investimentos na sua
defesa e nas Forças Armadas a ponto de aquando dos bombardeamentos no Kosovo
ter sido necessário utilizar aviões americanos da base de Diego Garcia (no
Pacífico) porque a NATO não dispõe de bombardeiros de grande altitude!
A escolha pelo isolacionismo e o Pacífico,
levará a um maior afastamento da Europa que entrará em grandes dificuldades
para deter a pressão de Putin que quer que a Rússia passe a ser considerada uma
superpotência, tendo em conta que os aspectos económicos do proteccionismo
americano serão enormes numa Europa que está em crise vai já para 9 anos!
Neste particular é apenas seguir a politica
de Obama em relação á Rússia a qual se caracterizou por muita retórica e pouca
acção.
Na verdade, a Rússia anexou a Crimeia como
se estivesse na Idade Média violando o direito internacional, retirando
território a uma nação independente
aliada da União Europeia.
Do mesmo modo, apoiou politica e
militarmente a certamente futura independência de províncias ucranianas de
maioria russa, sem que a Europa tenha feito algo a não ser sanções económicas
que também afectam a si própria.
Nada se fez porque os americanos não
consideram a Rússia um concorrente sério.
A sua economia está pelas ruas da amargura
e o petróleo, a sua maior riqueza (2ª produtor mundial), está como está,
portanto focar-se-á no Pacífico, na China e dará boas palavras aos europeus mas
nem mais um tostão para a defesa da Europa nem mais um tostão para a NATO.
Encarecer os produtos importados para desincentivar
as importações, avançando mesmo para uma pequena desvalorização do dólar visando
aumentar as exportações e já agora dar uma bicada na China.
Finalmente, haverá um desligar da
intervenção no Médio Oriente. Esta região do mundo apenas foi estratégica para
os USA pela necessidade energética dos USA, o petróleo.
Uma vez ultrapassada essa necessidade, já
que em 2017 os USA passarão de importadores a exportadores de petróleo devido
ao xisto, não haverá mais necessidade de despesas militares e vidas americanas
desperdiçadas nessa região do mundo.
Atuarão sim contra o Estado Islâmico,
porque ainda não se esqueceram do 11 de Setembro , mas é tudo, deixarão aqueles
países á sua sorte, aliás no seguimento da política de Obama que reduziu laços
com os sauditas.
A América pouco tem feito para resolver o
problema da Síria, permitindo a intervenção russa e apenas usando a retórica.
Os USA apenas estão interessados na
destruição do Estado Islâmico.
Para tal, o seu novo aliado será a Turquia,
grande potência regional, mesmo que isso não agrade aos europeus.
Por outro lado, haverá um reforço das
relações com Israel que foi o maior beneficiado naquela região do mundo com
esta eleição.
A paz com os palestinianos será portanto
mais uma vez adiada.
Isto é o que eu penso que acontecerá. Com
isto não quero dizer que a coisa resultará para os americanos, pelo contrário e
que não continue a haver muitos perigos que levem os americanos a estarem
atentos: nomeadamente a Coreia do Norte e Irão que voltará a deteriorar as
relações e certamente á construção de poder nuclear.
Mas para a Europa não será muito bom. O
crescimento das forças populistas na europa em detrimento das forças moderadas,
a provável morte da União Europeia, o abrandamento da economia levará a um
agudizar da crise, a expansão da Rússia para voltar a dominar os países da ex
União Soviética sem que a Europa possa retaliar, a continuação da guerra no
médio oriente que levará á manutenção das pressões migratórias sobre a Europa,
não auguram um futuro risonho.
Entretanto a Comissão Europeia, O
Eurogrupo continuam preocupadíssimos com
assuntos de muito maior importância como aplicar sanções e castigos aos seus
membros!
E bajular o inefável Sr Schoebel.
Julgo que estamos no fim de um ciclo (dizem
alguns que é como a queda do Império Romano) que levará a uma deterioração das
relações entre as nações, á destruição de zonas de paz como a Europa, a um
abrandamento da economia, a uma diminuição da influencia das democracias
representativas e a um reforço dos populismos e democracia directa (referendos
e plebiscitos), irá criar uma nova era, uma nova ordem internacional!
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politica internacional
terça-feira, 8 de novembro de 2016
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
domingo, 6 de novembro de 2016
sábado, 5 de novembro de 2016
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
O acordo com a Nissan aponta um caminho para o brexit
in:DN
31 DE OUTUBRO DE 2016
O filósofo Friedrich Hegel descreveu os processos históricos em termos de "tese, antítese e síntese" - uma fase inicial em que se defende uma visão em particular, depois o oposto, seguido do compromisso. Até agora, o debate sobre o brexit parece seguir obedientemente a lógica hegeliana.
A suposição generalizada de que o Reino Unido iria permanecer na União Europeia deu lugar, após o referendo de junho, à antítese: a perspetiva de um brexit "duro". Agora, graças à fabricante de automóveis japonesa Nissan, vislumbrámos a possibilidade da síntese: um brexit suave em que o Reino Unido manteria a adesão plena ao mercado único da UE.
Na semana passada, a empresa anunciou que iria construir a próxima geração de dois modelos na sua fábrica de Sunderland, no Nordeste da Inglaterra. Não imagino como a Nissan poderia ter tomado essa decisão sem um compromisso firme da primeira-ministra Theresa May, que se reuniu com Carlos Ghosn, presidente da Nissan, há duas semanas. Não faz sentido que a empresa construa estes carros a menos que espere permanecer na união aduaneira e no mercado único.
Acredito que a Sra. May acabe por concluir que esta é a melhor opção para o Reino Unido, quanto mais não seja porque os acontecimentos a vão empurrar nessa direção. Neste momento, ela pode estar a sobrestimar o número de opções de brexit. Na semana passada, ela admoestou uma deputada do Partido Trabalhista na oposição por não compreender que "a maneira como se lida com a união aduaneira não é uma escolha binária". A deputada está correta. Ela está errada.
A UE não vai oferecer uma união aduaneira específica para um setor. Não vai dividir as quatro liberdades: movimentação do trabalho, capital, bens e serviços. Nem vai permitir uma divisão dentro de qualquer um desses quatro. A livre circulação de automóveis, mas não de bicicletas, não é opção. Às opções finais do brexit aplica-se uma lógica semelhante. O Reino Unido pode acabar no mercado único ou não - ou na união aduaneira ou não. Dentro significa dentro e fora significa fora. A UE irá certamente oferecer um acordo de mercado único se o Reino Unido o pedir. Os alemães e os outros podem dizer aos visitantes britânicos que o brexit vai ser duro, mas não é isso o que os alemães estão a dizer uns aos outros. A Alemanha registou um excedente comercial de 56 mil milhões de euros com o Reino Unido no ano passado. Alguém acha honestamente que eles iriam sacrificar isso por uma coisa tão elevada como uma posição de princípio? Eu acredito nos alemães quando dizem que não vão comprometer as quatro liberdades, mas também acredito que eles estariam dispostos a oferecer um brexit suave se o Reino Unido assim o quisesse - porque isso seria suave para a Alemanha.
Digamos, hipoteticamente, que o Reino Unido escolhe um brexit duro sem um regime transitório. A Nissan teria certamente, então, de reverter a decisão da semana passada. Não haveria lógica industrial na expansão da sua capacidade de produção de automóveis no Reino Unido neste cenário.
Portanto, se se quiser que a Nissan e outras empresas de produção se expandam no Reino Unido, a única opção é ficar no mercado único, quer como parte de um acordo permanente quer como parte de um acordo provisório com um período de transição suplementar. No caso de um fabricante de automóveis, esse período teria de exceder o ciclo de vida do modelo do veículo - cinco a dez anos. Durante esse período, a UE vai pedir ao Reino Unido que respeite a livre circulação de mão-de-obra e respeite as decisões do Tribunal de Justiça Europeu.
Quanto mais longo for o período de transição, mais suave será o brexit. Isso poderia ser o compromisso para salvar as aparências: dez anos de adesão plena ao mercado único seguido por um brexit duro ou um acordo de associação.
Mas será que a promessa da Sra. May de controlo da imigração não impede um acordo do tipo Espaço Económico Europeu, em que os Estados europeus que não são membros da UE pagam pela adesão ao mercado único? Sim, se ela se ativer a esta promessa com um rigor pedante. Mas há muita coisa que ela pode fazer para reduzir a imigração no mercado único. Os Estados membros da UE não estão autorizados a discriminar outros cidadãos da UE com base na nacionalidade, mas eles estão autorizados a discriminar com base na residência - o que, em termos práticos, dá no mesmo. O governo poderia impor um requisito de residência de cinco anos no mínimo para se ter acesso ao Serviço Nacional de Saúde, às prestações sociais, até mesmo aos benefícios fiscais. Isso resolveria a questão. Constituiria um grande corte no rendimento disponível dos imigrantes com baixos salários, em particular.
Concordo com a afirmação de que não faz sentido sair da UE para depois se pagar a adesão ao mercado único como membro do EEE. Mas o Reino Unido já optou por sair da União Europeia. No ponto em que estamos, o EEE é a melhor das opções restantes. Funciona para a Nissan. Funciona para a Escócia e a Irlanda do Norte. E, em especial, vai funcionar para a primeira-ministra.
Como alguém que esteve de ambos os lados dos debates do brexit praticamente ao mesmo tempo, ela incorpora tanto a tese como a antítese. Hegel ensinou-nos onde isso acaba.
31 DE OUTUBRO DE 2016
O filósofo Friedrich Hegel descreveu os processos históricos em termos de "tese, antítese e síntese" - uma fase inicial em que se defende uma visão em particular, depois o oposto, seguido do compromisso. Até agora, o debate sobre o brexit parece seguir obedientemente a lógica hegeliana.
A suposição generalizada de que o Reino Unido iria permanecer na União Europeia deu lugar, após o referendo de junho, à antítese: a perspetiva de um brexit "duro". Agora, graças à fabricante de automóveis japonesa Nissan, vislumbrámos a possibilidade da síntese: um brexit suave em que o Reino Unido manteria a adesão plena ao mercado único da UE.
Na semana passada, a empresa anunciou que iria construir a próxima geração de dois modelos na sua fábrica de Sunderland, no Nordeste da Inglaterra. Não imagino como a Nissan poderia ter tomado essa decisão sem um compromisso firme da primeira-ministra Theresa May, que se reuniu com Carlos Ghosn, presidente da Nissan, há duas semanas. Não faz sentido que a empresa construa estes carros a menos que espere permanecer na união aduaneira e no mercado único.
Acredito que a Sra. May acabe por concluir que esta é a melhor opção para o Reino Unido, quanto mais não seja porque os acontecimentos a vão empurrar nessa direção. Neste momento, ela pode estar a sobrestimar o número de opções de brexit. Na semana passada, ela admoestou uma deputada do Partido Trabalhista na oposição por não compreender que "a maneira como se lida com a união aduaneira não é uma escolha binária". A deputada está correta. Ela está errada.
A UE não vai oferecer uma união aduaneira específica para um setor. Não vai dividir as quatro liberdades: movimentação do trabalho, capital, bens e serviços. Nem vai permitir uma divisão dentro de qualquer um desses quatro. A livre circulação de automóveis, mas não de bicicletas, não é opção. Às opções finais do brexit aplica-se uma lógica semelhante. O Reino Unido pode acabar no mercado único ou não - ou na união aduaneira ou não. Dentro significa dentro e fora significa fora. A UE irá certamente oferecer um acordo de mercado único se o Reino Unido o pedir. Os alemães e os outros podem dizer aos visitantes britânicos que o brexit vai ser duro, mas não é isso o que os alemães estão a dizer uns aos outros. A Alemanha registou um excedente comercial de 56 mil milhões de euros com o Reino Unido no ano passado. Alguém acha honestamente que eles iriam sacrificar isso por uma coisa tão elevada como uma posição de princípio? Eu acredito nos alemães quando dizem que não vão comprometer as quatro liberdades, mas também acredito que eles estariam dispostos a oferecer um brexit suave se o Reino Unido assim o quisesse - porque isso seria suave para a Alemanha.
Digamos, hipoteticamente, que o Reino Unido escolhe um brexit duro sem um regime transitório. A Nissan teria certamente, então, de reverter a decisão da semana passada. Não haveria lógica industrial na expansão da sua capacidade de produção de automóveis no Reino Unido neste cenário.
Portanto, se se quiser que a Nissan e outras empresas de produção se expandam no Reino Unido, a única opção é ficar no mercado único, quer como parte de um acordo permanente quer como parte de um acordo provisório com um período de transição suplementar. No caso de um fabricante de automóveis, esse período teria de exceder o ciclo de vida do modelo do veículo - cinco a dez anos. Durante esse período, a UE vai pedir ao Reino Unido que respeite a livre circulação de mão-de-obra e respeite as decisões do Tribunal de Justiça Europeu.
Quanto mais longo for o período de transição, mais suave será o brexit. Isso poderia ser o compromisso para salvar as aparências: dez anos de adesão plena ao mercado único seguido por um brexit duro ou um acordo de associação.
Mas será que a promessa da Sra. May de controlo da imigração não impede um acordo do tipo Espaço Económico Europeu, em que os Estados europeus que não são membros da UE pagam pela adesão ao mercado único? Sim, se ela se ativer a esta promessa com um rigor pedante. Mas há muita coisa que ela pode fazer para reduzir a imigração no mercado único. Os Estados membros da UE não estão autorizados a discriminar outros cidadãos da UE com base na nacionalidade, mas eles estão autorizados a discriminar com base na residência - o que, em termos práticos, dá no mesmo. O governo poderia impor um requisito de residência de cinco anos no mínimo para se ter acesso ao Serviço Nacional de Saúde, às prestações sociais, até mesmo aos benefícios fiscais. Isso resolveria a questão. Constituiria um grande corte no rendimento disponível dos imigrantes com baixos salários, em particular.
Concordo com a afirmação de que não faz sentido sair da UE para depois se pagar a adesão ao mercado único como membro do EEE. Mas o Reino Unido já optou por sair da União Europeia. No ponto em que estamos, o EEE é a melhor das opções restantes. Funciona para a Nissan. Funciona para a Escócia e a Irlanda do Norte. E, em especial, vai funcionar para a primeira-ministra.
Como alguém que esteve de ambos os lados dos debates do brexit praticamente ao mesmo tempo, ela incorpora tanto a tese como a antítese. Hegel ensinou-nos onde isso acaba.
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Wolfgang Münchau
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
terça-feira, 1 de novembro de 2016
Patrimonio Cultural, prevenir é melhor que remediar
As novas ameaças ao património cultural, como o aumento de visitantes, vandalismo e terrorismo, vão ser tema de debate numa conferência internacional que começa quinta-feira, em Lisboa, sobre prevenção e resposta a emergências nesta área.
A Conferência Internacional “Património Cultural: Prevenção, Resposta e Recuperação de Desastres” decorrerá na quinta e na sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, e visa analisar a gestão mais eficaz em situações de crise, de forma a controlar e minimizar perdas e danos, de acordo com fonte da organização.
Contactada pela agência Lusa, Isabel Raposo Magalhães, uma das organizadoras, apontou que há novos riscos para o património, para além dos mais antigos e conhecidos, que são os sismos, as inundações e os incêndios.
"O grande crescimento do turismo em Portugal e, consequentemente, dos visitantes de museus, palácios e outros espaços culturais, levam ao aumento dos riscos de acidentes com as peças de arte e também de vandalismo", apontou a responsável, que trabalha no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.
Por outro lado, os ataques terroristas em grandes cidades com património importante, não apenas no oriente, mas também na Europa, "têm levado ao encerramento de museus e a maiores receios de destruição de obras de arte".
A nível mundial, os especialistas estão preocupados com "a urbanização galopante, e o alastrar de guerras e conflitos pelo mundo, com a destruição de património, e o tráfico de obras de arte", alertou.
Questionada pela Lusa sobre a situação em Portugal, Isabel Raposo Magalhães disse que "há maior consciência do problema, mas há uma grande necessidade de apostar na prevenção, trabalhar com as organizações envolvidas em rede, e de incluir a sociedade civil".
"Temos de colaborar cada vez mais, e estabelecer uma rede de cooperação para desenvolver uma política de prevenção e gestão estratégica e eficaz. As pessoas têm de estar preparadas para reagir da melhor maneira e depois lidar com os danos", defendeu.
Recordou que esse trabalho em rede é feito pelos organismos culturais, pela Proteção Civil e serviços de emergência, organismos internacionais e pelas universidades, que estudam os fenómenos e os casos concretos.
"Todos os grandes organismos internacionais - como a UNESCO, o ICOM [Conselho Internacional dos Museus], o ICCROM [Centro internacional para o estudo, preservação e restauro da propriedade cultural/The International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property] - estão preocupados com a incidência dos riscos do património cultural no mundo", disse.
Esta conferência marca o cinquentenário da inundação de Florença, em Itália, e acontece no ano em que, no mesmo país, a cidade histórica de Amatrice teve o seu património cultural severamente afetado por um sismo, que provocou uma imensa devastação e mais de duzentos mortos.
O encontro - que conta com o apoio institucional da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) - reúne, na comissão organizadora, além de Isabel Raposo de Magalhães, do Museu Nacional dos Coches, Rui Xavier, da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Saraiva, da Fundação Oriente, e Xavier Romão e Esmeralda Paupério, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Entre os oradores esperados estão Lina Kutiefan, diretora-geral das Antiguidades e Monumentos da Síria, que irá falar sobre "O Património Cultural da Síria durante a crise".
Também são esperados Corine Wegener, do Instituto Smithsonian, que tutela um conjunto de museus nos Estados Unidos, e que falará sobre o programa desta entidade, aplicado na resposta aos desastres, e João Seabra Gomes, da Direção-Geral do Património Cultural, que abordará a “Estratégia para a segurança preventiva em Palácios e Museus”, afetos àquela entidade.
Portugal também tem sido palco de catástrofes que atingem o património cultural, nomeadamente os grandes sismos de Lisboa e Angra do Heroísmo - recorda a organização -, os incêndios dos Palácios de Queluz e da Ajuda, da Igreja de S. Domingos ou do Teatro D. Maria II, ou as inundações de 1967, que provocaram graves danos às coleções do Museu Gulbenkian.
Além de fomentar a partilha de experiências, o encontro visa ainda alargar e reforçar bases de cooperação internacional – também com os países do mundo lusófono - e também em Portugal.
Serão abordados temas como a análise e gestão de riscos, o efeito da catástrofe a médio e longo prazo nas instituições, casos paradigmáticos que fazem parte da história da conservação, métodos e técnicas para prevenir e recuperar património.
Diário Digital com Lusa
A Conferência Internacional “Património Cultural: Prevenção, Resposta e Recuperação de Desastres” decorrerá na quinta e na sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, e visa analisar a gestão mais eficaz em situações de crise, de forma a controlar e minimizar perdas e danos, de acordo com fonte da organização.
Contactada pela agência Lusa, Isabel Raposo Magalhães, uma das organizadoras, apontou que há novos riscos para o património, para além dos mais antigos e conhecidos, que são os sismos, as inundações e os incêndios.
"O grande crescimento do turismo em Portugal e, consequentemente, dos visitantes de museus, palácios e outros espaços culturais, levam ao aumento dos riscos de acidentes com as peças de arte e também de vandalismo", apontou a responsável, que trabalha no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.
Por outro lado, os ataques terroristas em grandes cidades com património importante, não apenas no oriente, mas também na Europa, "têm levado ao encerramento de museus e a maiores receios de destruição de obras de arte".
A nível mundial, os especialistas estão preocupados com "a urbanização galopante, e o alastrar de guerras e conflitos pelo mundo, com a destruição de património, e o tráfico de obras de arte", alertou.
Questionada pela Lusa sobre a situação em Portugal, Isabel Raposo Magalhães disse que "há maior consciência do problema, mas há uma grande necessidade de apostar na prevenção, trabalhar com as organizações envolvidas em rede, e de incluir a sociedade civil".
"Temos de colaborar cada vez mais, e estabelecer uma rede de cooperação para desenvolver uma política de prevenção e gestão estratégica e eficaz. As pessoas têm de estar preparadas para reagir da melhor maneira e depois lidar com os danos", defendeu.
Recordou que esse trabalho em rede é feito pelos organismos culturais, pela Proteção Civil e serviços de emergência, organismos internacionais e pelas universidades, que estudam os fenómenos e os casos concretos.
"Todos os grandes organismos internacionais - como a UNESCO, o ICOM [Conselho Internacional dos Museus], o ICCROM [Centro internacional para o estudo, preservação e restauro da propriedade cultural/The International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property] - estão preocupados com a incidência dos riscos do património cultural no mundo", disse.
Esta conferência marca o cinquentenário da inundação de Florença, em Itália, e acontece no ano em que, no mesmo país, a cidade histórica de Amatrice teve o seu património cultural severamente afetado por um sismo, que provocou uma imensa devastação e mais de duzentos mortos.
O encontro - que conta com o apoio institucional da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) - reúne, na comissão organizadora, além de Isabel Raposo de Magalhães, do Museu Nacional dos Coches, Rui Xavier, da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Saraiva, da Fundação Oriente, e Xavier Romão e Esmeralda Paupério, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Entre os oradores esperados estão Lina Kutiefan, diretora-geral das Antiguidades e Monumentos da Síria, que irá falar sobre "O Património Cultural da Síria durante a crise".
Também são esperados Corine Wegener, do Instituto Smithsonian, que tutela um conjunto de museus nos Estados Unidos, e que falará sobre o programa desta entidade, aplicado na resposta aos desastres, e João Seabra Gomes, da Direção-Geral do Património Cultural, que abordará a “Estratégia para a segurança preventiva em Palácios e Museus”, afetos àquela entidade.
Portugal também tem sido palco de catástrofes que atingem o património cultural, nomeadamente os grandes sismos de Lisboa e Angra do Heroísmo - recorda a organização -, os incêndios dos Palácios de Queluz e da Ajuda, da Igreja de S. Domingos ou do Teatro D. Maria II, ou as inundações de 1967, que provocaram graves danos às coleções do Museu Gulbenkian.
Além de fomentar a partilha de experiências, o encontro visa ainda alargar e reforçar bases de cooperação internacional – também com os países do mundo lusófono - e também em Portugal.
Serão abordados temas como a análise e gestão de riscos, o efeito da catástrofe a médio e longo prazo nas instituições, casos paradigmáticos que fazem parte da história da conservação, métodos e técnicas para prevenir e recuperar património.
Diário Digital com Lusa
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Património
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
"a próxima capital da tecnologia"?
A mega-conferência de empreendedorismo que começa na próxima semana pode ser o catalisador para um “ressurgimento” no nosso país.
Lisboa está em contagem decrescente para o Web Summit, a mega-conferência de empreendedorismo e startups de base tecnológica, que vai fazer chegar à capital do nosso país personalidades e líderes de algumas das maiores empresas do mundo. O facto de Lisboa ser a ‘casa’ do Web Summit para os próximos três anos levou a publicação inglesa The Guardian a apontar a capital como a “próxima capital da tecnologia”.
Entre as mais de 50 mil pessoas e os 200 milhões de euros para a economia portuguesa, o Web Summit pode ser o evento de apresentação de Lisboa para muitas startups e empresas tecnológicas à procura de infraestruturas que suportem o seu crescimento.
“Rendas baratas, ambiente cultural vibrante, níveis ridículos de luz solar e alta qualidade de vida podem ter atraído jovens talentos de qualquer parte do mundo nos últimos anos mas o país ainda vive sobre a sombra da crise financeira de 2007 e 2009, a recente agitação política e o crescimento económico económico tem sido mais lento que o previsto”, refere o The Guardian.
Consciente da importância do Web Summit para Portugal, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, aponta que a ideia que se quer passar é que o país “tem uma economia baseada em conhecimento e uma comunidade empreendedora que está a crescer”.
Caldeira Cabral refere ao The Guardian que Portugal está a atrair jovens empreendedores por causa do “sistema financeiro e estrutura fiscal muito competitiva para startups mas também por causa do estilo e qualidade de vida que os empreendedores encontram [no país]”.
terça-feira, 25 de outubro de 2016
Resposta a um jornalista desta "lixeira" (ou um voo breve à piolheira das nossas elites) por um amigo do blog Cidadania!
Meu caro João,
Desculpe chamar-lhe assim mas o meu amigo é meu companheiro ás vezes diário, mas pelo menos semanal no ??????? do qual sou leitor muito antes de você ser um adulto.
Embora este início pareça ser á primeira vista agradável, na verdade escrevo-lhe indignado pelo seu titulo: Não somos lixo mas merecíamos.
Decidi não ler o artigo mas pelo que é habitual, o meu amigo entende que este povo nada vale nem os seus dirigentes e entende que as agências de rating são o instrumento imparcial e objectivo para definir quem realmente vale alguma coisa.
Esta minha reacção é obviamente emotiva, mas disso não tenho qualquer complexo: a união das comunidades não é feita por razões económicas ou outras mas sobretudo por razões emocionais. Vocês jovens não sabem o que isto era no passado. Mesmo assim, este “lixo” existe qualquer dia há quase mil anos apesar de , estamos de acordo, como dizia o Eça, os nossos líderes são como as fraldas, devem ser mudados e pela mesma razão.
Mesmo assim, meu caro João, cá estamos, neste canto á beira mal plantado e ainda vivos, quem diria?
Mas a minha concepção de líderes é um pouco mais abrangente do que é habitual. Os nossos políticos são muito maus mas o mesmo se diz dos sindicatos, dos empresários, dos académicos e , é claro dos jornalistas.
Temos gente de categoria em todos os quadrantes mas não temos a massa critica para fazer a diferença e temos sobretudo uma de duas atitudes que definem os medíocres. Ou somos a favor do conformismo ou criticamos tudo e mais alguma coisa sem entendermos nada do assunto. Publicam-se notícias e definem-se teorias gerais porque se fala com um número diminuto de tipos que dizem os maiores disparates. E esses são ouvidos porque são quadros importantes de grandes empresas, portanto á primeira vista gente respeitável e indicada para serem fontes dos jornalistas. Porém muitos deles apenas obtiveram essas funções por nepotismo pessoal ou partidário, mas continuamos a ter que levar com eles e seus seguidores.
João, talvez não tenha reparado que esses “crâneos” são invariavelmente indivíduos que pela sua filiação partidária ocuparam cargos de grande relevo em empresas do Estado, entretanto privatizadas, que não teriam sido considerados sequer candidatos a quadros de empresas internacionais, a não ser como lobistas, claro.
Veja os Bava, Os Mexias, os Salgados todos considerados deuses.
Assim, ouço os maiores disparates sobre, por exemplo o investimento estrangeiro e o IRC.
A opinião dominante é que Portugal não oferece condições interessantes ao investimento estrangeiro porque (a) tem uma legislação laboral obsoleta e inflexível (b) custos laborais altos (c) impostos altos (d) baixa produtividade (e) custos indirectos altos e mais prosaicamente aqueles que definem que com um governo tipo geringonça não haverá confiança para investir.
Ou seja uma verdadeira desgraça! Quem ouve tal coisa, fica a pensar que os tipos da Mcdonalds, da Coca Cola ou da Siemens, Bosch, etc, são uma cambada de incompetentes para investirem e continuarem a investir em Portugal.
Vou dar de barato a maior parte e apenas falarei de 3:
A mais ridícula de todas mas nem por isso menos falada é que o investimento estrangeiro nunca acontecerá desde que a cor do governo não agrade aos investidores.
Uma empresa que faça um investimento numa fábrica precisa de mais de 20 anos para amortizar os seus investimentos. Durante esse período de muitos anos, essas empresas terão que viver com vários governos mais á esquerda ou mais á direita sem que isso os impeça de continuarem com o seu negócio, logo este argumento não é medíore, é péssimo! E nem merece mais discussão. Os nossos dossiers passavam de ministros para ministros e tínhamos que começar de novo com um novo ministro mas isso não obstou que tivéssemos crescido de 100 para 500 milhões e de 1000 para 6000 pessoas.
No nosso caso, ate fazemos parte da União Europeia o que é uma garantia do respeito pela propriedade privada que não existe em outras geografias no mundo, sem que as empresas tenham deixado de investir nesses países. Participei pessoalmente em investimentos em países da ex cortina de ferro, onde nem sequer havia um código de investimento estrangeiro, bancos comerciais, credito e nem por isso deixamos de investir. Falo da Rússia, da Republica Checa, Polonia, Roménia, etc, daí, como pode imaginar, tenho pouca paciência para discutir estas questões com certos “peritos” da nossa praça.
A segunda questão é que Portugal não é um país competitivo.
Ora aqui há alguma verdade, mas pelas razões erradas. O que todos falam incluindo a nossa CIP, são os salários. Ora Portugal é na Europa dos países onde se pagam salários mais baixos. O ordenado mínimo é pago a uma percentagem brutal dos nossos trabalhadores sem que o mesmo aconteça em qualquer país da EU.
Claro que os nossos empresários estão interessados em pagar os salários marroquinos ou até salários nenhuns. Para o investimento estrangeiro, no entanto, Portugal é um país extremamente competitivo a nível de salários!
Em segundo lugar, nos últimos anos houve uma transformação estrutural das actividades produtivas no país. Mais lentas que desejável, certamente, mas o país que antigamente apenas tinha actividades de mão de obra intensiva, passou a ter empresas de capital intensivo. Mesmo nas indústrias tradicionais como o têxtil ou o calçado!
Ora sendo assim, o peso das despesas do pessoal na conta de exploração reduziu-se brutalmente e portanto os salários passaram a ter um peso relativo significativamente menor, se bem que importante, apesar de tudo.
Para lhe dar uma ideia, o peso relativo dos salários numa indústria de ponta em Portugal (por exemplo a automóvel) é de apenas 6 a 10% do total dos custos! Em contrapartida, os custos em energia são entre 10 e 15% dependendo do produto em causa.
Os custos dos materiais (incluindo a logistica) são cerca de 50% em actividades de capital intensivo médio e mais de 70% em actividades de capital intensivo alto. E neste caso o peso dos salários é da ordem dos 3%.
Ora de aqui se pode concluir que os investidores que apenas reduzirem os custos de mão de obra, estão tramados! Uma redução de 10% em custos que significam 6% do total dos custos de exploração, é uma ridicularia que qualquer investidor estrangeiro nem sequer está disposto a discutir! São peanuts como diria o Jorge Jesus!
Em contrapartida, o Presidente da PSA, um português, como sabe, quando visitou Portugal afirmou que na fábrica de Mangualde (aliás uma fabriqueta de pequenas dimensões que funciona como satélite de Vigo que é a maior fábrica da PSA a nível mundial), pagava 20% mais de energia que em Paris!
Os espanhóis da Siderurgia Nacional afirmaram publicamente e até ameaçaram encerrar a fábrica do Seixal porque pagavam 15% mais de energia que em Espanha e afirmaram que só os salários baixos compensavam esse custo. Claro que o Governo arranjou uma solução: pagam os taxpayers á EDP! E a empresa não fechou.
Porém, toda a gente fala que a competitividade vem dos salários!! Não há paciência!
A segunda questão é a da legislação:
Ora as leis portuguesas mesmo antes das alterações feitas pelo Governo anterior era das mais flexíveis. Toda a gente fala que as empresas em Portugal têm dificuldades em despedir pessoas. Como diria Passos Coelho trata-se de um mito urbano!
Ora tal não é verdade porque o além dos despedimentos com justa causa (basta 7 dias de faltas injustificadas), há mil e uma maneiras de despedir pessoas desde logo o despedimento colectivo, os contractos a prazo e sobretudo os trabalhadores que são contratados pelas empresas de trabalho temporário cujos contractos podem ser finalizados a cada 30 dias de forma absolutamente legal. A Lei dos despedimentos portanto não constitui qualquer problema. Há empresas com cerca de 50% de empregados em regime temporário.
Depois diz-se que os salários são baixos mas depois temos pagamentos de horas extraordinárias a 100 e 200% e que os trabalhadores recebem 14 meses, etc.
Continuamos a dizer patetices, a saber: As horas extraordinárias são por definição e como o próprio nome indica actividades fora do normal e extraordinária e portanto têm incidência muito baixa nos custos totais. Até porque nas actividades industriais de capital intensivo, a necessidade de amortização dos investimentos leva á utilização intensiva das instalações e equipamentos, portanto a utilização de 3 turnos diários de 24 horas e de 7 dias semanais, logo não se compreende como poderá haver lugar a horas extraordinárias a não ser a certas actividades especificas como a conservação e manutenção.
As empresas que têm altos custos de trabalho extraordinário são geridas por incompetentes portanto são eles que são o problema.
Depois, receber 12 meses ou 14 meses é igual. Uma actividade industrial mede a tarifa horária anual o que interessa é o número de horas trabalhadas no ano divididas pela totalidade dos salários pagos, portanto é indiferente. Aliás nos últimos anos já há o hábito de dividir o salario anual por 12 meses, mas do ponto de vista dos custos não altera nada, tem apenas influência no plano de tesouraria.
Falemos agora do IRC:
Para começar é preciso desde logo considerar que 80% do IRC é pago por cerca de uma dúzia empresas no país, como sabe. Trata-se quase sempre das antigas empresas do Estado, entretanto privatizadas e da Banca.
As PME não pagam nada porque pura e simplesmente não têm lucros.
Então e as grandes multinacionais?
Meu amigo aqui vão várias variantes que individualmente e/ou em conjunto fazem com que paguem muito pouco, a saber:
(1) Roaylties
Pela utilização de tecnologias que são pertença da “casa mãe”, as empresas localizadas em todo o mundo têm que pagar as royalties. Note-se, tudo isto é absolutamente legítimo já que as empresas tiveram que investir em I&D para obter as tecnologias. O problema está na quantificação das royalties. Quem define o valor, qual o critério, quais os limites? Pois é João: não há!
Portanto são as próprias empresas a definir o que fazem de acordo com o seu “tax plan”. Desta forma há transferência de meios financeiros que reduzirão a matéria colectável, logo, os impostos, no país de produção e aumenta no país da casa mãe.
(2) Transfer price
A coisa é simples: a empresa mãe detém os contractos com os clientes, as empresas nos países fornecem a empresa mãe são portanto subcontratantes da casa mãe ou Tier 2 suppliers.
Assim, as empresas dos países vendem os produtos á casa mãe que por sua vez inflaciona o preço ao cliente final ficando com a parte de leão: deixam algum (pouco) dinheiro de lucro nos países mas o grosso da coluna vai todo para a casa mãe que normalmente está em sítios interessantes como o ….Luxemburgo.
De acordo com o Expresso, das maiores 250 empresas do mundo apenas UMA não estava localizada numa off chore.
(3) A casa mãe normalmente é responsável por actividades cross the board de toda a organização mundial. Actividades como Engenharia, Vendas, I&D e mera administração da sede têm que ser pagas pelas empresas dos países. Para tanto cada país acorda com a casa mãe a obrigatoriedade do pagamento anual de um determinado valor. Mais uma vez João, qual é o conceito, quais são os limites, etc. Resposta: nenhuns.
(4) Finalmente a lei portuguesa permite que empresas internacionais em território português paguem apenas 5% de IRC porque o risco do negócio está na casa mãe que tem os contractos com os clientes, etc.
Conclusão: A redução do IRC, mesmo que feita com a melhor das intenções, tem efeito zero no investimento estrangeiro.
É apenas minha intenção dar alguns elementos que não são opiniões, mas factos, e esperar que tenham utilidade. Sei do falo por experiencia própria.
E atenção, sou altamente favorável ao investimento estrangeiro sem reservas, porque fazem crescer os países e formatam as sociedades com nova tecnologia e cultura do mérito, mesmo que paguem zero de impostos. Apenas digo que a redução de IRC como uma medida favorável ao investimento estrangeiro apenas vai beneficiar as EDP e as REN, etc e é completamente inócua para o investimento estrangeiro e trata-se de propaganda dos políticos seja direita ou esquerda.
A finalizar queria perguntar-lhe afinal o que se passa com o Deutsche Bank, porque há uma semana era o fim do mundo em cuecas e agora desapareceu das notícias.
Claro que sei porquê. Numa coisa destas temos que estar caladinhos porque senão contribuímos para a desgraça. Os nossos jornalistas, e bem, compreenderam. Pena que não tenham o mesmo cuidado quando se fala do Banif ou da CGD.
E, finalmente eu vivi 17 anos fora de Portugal como expatriado de luxo (fui responsável pelas operações da Europa e da America do Sul da então maior empresa de do mundo no seu ramo) incluindo 11 na Alemanha, e, acredite, João este lixo português é apesar de tudo o melhor sítio para viver. E o povo português, é invejoso e egoísta, mas é também trabalhador e generoso, assim tenha líderes á altura. Tive empresas em 15 países diferentes, imagine quais eram as melhores? As do lixo, claro, senão como teria alguém reparado em mim?
Um Abraço
J C
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Valores e Desvalores
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
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