Câmara Municipal de Silves assumiu o compromisso de implementar a solução apresentada pelo engenheiro José Saldanha Matos, perante muitos residentes já cansados das inundações
A solução prevista no Plano de Drenagem
de Armação de Pêra custará aos cofres da Câmara Municipal de Silves um total de
2,1 milhões de euros, mas o investimento assegura o término das cheias que
aquela povoação tem sofrido nos últimos anos.
Apresentado na sexta-feira, 10 de
fevereiro, na sede do «Armacenenses», o plano desenhado pela equipa do
engenheiro José Saldanha Matos e Filipa Ferreira, de propósito para a
autarquia, acabará com os problemas de residentes e comerciantes mais afetados
nas Ruas dos Pescadores, Alentejo e Manuel Arriaga, perto da frente de mar e a
oeste da Ribeira de Alcantarilha.
Com a sessão cheia de populares, Rosa
Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves desafiou os presentes a
contarem quais os problemas que sentem na pele com as inundações e, a opinarem
sobre o que acreditam ser a causa das subidas súbitas do nível da água cada vez
que chove com alguma intensidade.
«Haverá aqui uma falta de ordenamento,
devido ao que foi edificado, e agora temos um problema em mãos. Vamos
cingir-nos a três grandes artérias que são as Ruas Manuel de Arriaga, dos
Pescadores e do Alentejo. São alvo de situações atípicas com chuvas repentinas,
com grande pluviosidade, que levam a que não haja o escoamento da água pelos
meios existentes nessas vias», ao que acresce estarem na zona baixa, afirmou a
autarca em jeito de introdução.
Quem despoletou o processo foi o
engenheiro Pedro Coelho, da Divisão de Ambiente e Urbanismo da Câmara Municipal
de Silves, disse ainda Rosa Palma, antes de dar a palavra à população.
Sem cerimónias, os residentes lá foram dizendo de sua justiça.
«Fiquei surpresa quando identificaram as
ruas a intervencionar, porque vivo na Rua Bartolomeu Dias há 40 anos e desde
que me conheço que aquela rua tem cheias. Já a minha avó chorava que lhe
entrava água em casa», começou por afirmar uma residente. Assinalou que,
talvez, esta artéria encha primeiro que outras duas das mencionadas pela edil.
Aliás, relembrou que, no passado, no final dessa via, «havia um pontão, que era
para onde a água escoava», sendo depois direcionada para o rio. E nessa altura,
os homens, como o seu avô, saiam de casa com enxadas para «abrir o rio».
Maria de Jesus diz notar que a cada ano
que passa há mais água e que, é natural, pois onde antes havia campo, agora
existem prédios. Esta moradora contou que não pode «ir descansada a lado
nenhum, porque não é preciso muita chuva para aquela zona encher toda». O
cenário só não é pior, porque foi feito um prédio com garagem perto, que enche
quando chove. «Têm de ir os bombeiros bombear água para fora», descreveu.
Mas o problema não afeta apenas
residentes. Uma moradora na Rua do Alentejo explicou que tem um espaço
comercial e, «desde que fizeram a marginal, entra água no estabelecimento».
Outro dos alertas que deram à
presidente é que, quando há cheias e circulam carros nessas vias, a água é
empurrada contra portas de habitações acabando por entrar.
Já o presidente da Junta de Freguesia
de Armação de Pêra Ricardo Pinto mostrou–se satisfeito pela participação das
pessoas, assegurando que da parte dos autarcas, por vezes, há um sentimento de
«impotência» quando a população busca socorro e não conseguem «fazer nada».
Relatou que uma das primeiras perguntas que lhe fazem quando estas situações
acontecem é se o rio está aberto. Garante que tem estado «sempre aberto».
Segue-se a questão sobre a limpeza das sarjetas. Ricardo Pinto assegura «pode
acontecer uma situação ou outra em que não estejam muito bem limpas, mas
normalmente estão».
Das três soluções estudadas, apenas uma funcionará
Após um debate participado, os
especialistas desta área explicaram à população que encontraram três soluções
para este problemas, sendo que duas não seriam as mais adequadas.
A primeira e a mais barata, segundo
Filipa Ferreira, seria a beneficiação da descarga, que consistia na reposição
da válvula de maré, intervindo na interface entre a válvula de drenagem e o
rio, mas a equipa chegou à conclusão que não servia. A segunda hipótese,
conforme explicou na apresentação, é das que a maioria das pessoas não gosta,
porque gera mais despesa. Seria a bombagem. «Chegamos à conclusão que tinha que
ter estas características» e, neste caso, apresentaram duas variantes que
apenas diferiam no local onde seria colocada a bomba.
A resolução apresentada prevê a
realização do «mínimo das infraestruturas essenciais com capacidade suficiente
e adequada», explicou. Ou seja, os coletores têm agora 300 milímetros de
diâmetro e devem passar a 1000/1600. «O que propomos também é, na interface
entre coletores e o atual sistema de drenagem, que passa por baixo dos prédios
se tape, mas não se retire», para que possa ser utilizado em caso de urgência
ou se for necessário realizar alguma obra junto ao novo sistema, esclareceu.
«Assim, são construídas válvulas de
seccionamento que obturam, mas permitem voltar a ativar», disse. Primeiro
pensaram colocar uma estação elevatória enterrada no cruzamento das Ruas do
Alentejo e das Redes, mas a falta de espaço levou a que esta esteja prevista
para o estacionamento da praia. «Obriga a fazer mais uns metros de coletor»,
mas depois terá uma conduta gravítica que fará a descarga da água no rio,
adiantou.
Neste caso, os geradores podem ser
colocados sem transtornos, escondidos num casa ou abrigo, pois todo o sistema
elétrico tem que ficar à superfície. No entanto, segundo Filipa Ferreira, «a
Câmara Municipal de Silves está a estudar um projeto de reabilitação total,
podendo estes equipamentos ser integrados em termos ambientais e
arquitetónicos».
A garantia, devido à proximidade do mar
é que este sistema não será afetado pela maré, pois existe uma válvula que
empurra a água bombeada, mas que não permite que esta abra quando há subida da
maré.
Esta estação elevatória terá capacidade
para bombear 2400 litros de água por segundo, estando ainda previsto o
aproveitamento da capacidade da válvula existente, através da instalação de um
coletor.
O investimento custará 1,5 milhão de
euros só para esta solução, pois há ainda outro problema assinalado junto à EB
2+3 António da Costa Contreiras, que custará mais de 400 mil euros.
O estabelecimento escolar foi
construído em cima da linha de água e os sistema de escoamento tem tubos de 500
milímetros de diâmetro que se tornam insuficientes, provocando inundações
naquela zona. A solução para este problema será, a curto e médio prazo, criar
um coletor «que ladeia a escola, reforçando o escoamento», podendo, no futuro,
ser construídas duas bacias de retenção (barragens secas) a montante. Esta
solução tem capacidade para as cheias centenárias, adiantou.
A curto prazo, até 2021 há obras
prioritárias identificadas que levam a maior fatia do investimento, mas a longo
prazo a equipa de especialistas referiu ainda que há que proceder ao cadastro
do sistema, criar um sistema de monitorização, com um sensor que mede o nível
da água, permitindo avisar as pessoas. Se der sinal quando não está a chover é
sinal que está obstruído. É necessário ainda reforçar os dispositivos de
escoamento, os sumidores e as sarjetas, exemplificaram.
José Matos Saldanha explicou ao
«barlavento» que o projeto de execução precisará de três meses para ser feito e
que a obra «nunca demorará menos de um ano» no terreno.
O projeto de execução avança já, mas o
resto depende ainda da «Câmara Municipal assegurar o financiamento,
candidatando-se a fundos e, conforme a possibilidade de angariação dos mesmos»,
demorará algum tempo a lançar concurso.
Questionada pelo «barlavento» Rosa
Palma admite que é um investimento pesado, mas que foram «colocadas
prioridades» que devem ser concretizadas. «Uma das prioridades é este problema
que aqui está e nós compromete–mo-nos com a população de que o iríamos
solucionar. Daí termos contratado este estudo a alguém que conhece as matérias
e que pode, efetivamente, apresentar soluções».
A presidente da autarquia de Silves
informou ainda a população de que, «neste interregno, já estão a ser
contactadas empresas para limpar os coletores, porque um dos problemas» que
Armação de Pêra tem é o depósito de sedimentos» nestes equipamentos. Tal como a
concentração de edificação, as alterações climáticas e a localização em zona
baixa, aliada à insuficiente dimensão das estruturas de escoamento, como
explicou o engenheiro José Saldanha Matos.
O estudo mostrou ainda aos residentes
que, no ponto crítico da chuvada, a altura da água atinge valores na ordem de
30 centímetros, e que após a intempérie, a água fica acumulada durante longos
períodos nas zonas de menor cota topográfica, em particular nas Ruas do
Alentejo e Pescadores. É um problema provocado pela construção de áreas urbanas
em leito de cheia também, com sistemas antigos, e obstruídos.
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