Nunca ninguém, alguma vez, teve para o país o destino de tantos na ponta
de uma caneta e de uma assinatura. O homem tem mesmo o dedo sobre o botão
27 JAN 2017 /
in: DN
Fruto dos últimos desenvolvimentos poderia pensar-se que o homem mais
importante para Portugal neste momento fosse António Guterres, Secretário-Geral
da ONU. Ou Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, para os que
tiverem uma perspectiva mais interna. Ou António Costa, Primeiro Ministro de um
governo improvável. Ou Durão Barroso porque foi Presidente da Comissão
Europeia. Ou mesmo Cristiano Ronaldo, o melhor futebolista do mundo.
Mas não. Mais importante mesmo é o relator da DBRS, que ano após ano,
determina o rating de Portugal com o seu parecer. Nunca ninguém, alguma vez,
teve para o país o destino de tantos na ponta de uma caneta e de uma
assinatura. O homem tem mesmo o dedo sobre o botão. Se a classificação se
mantiver, tudo continuará a rolar como dantes e a malta vai sobrevivendo, se
descer, vem turbilhão certo que não traz nada de bom junto. E não sei se
estaremos preparados para essa possibilidade.
E isto porquê? Face às actuais circunstâncias, sendo o país dos mais
endividados da Europa, as regras do BCE e do Euro impõem que das quatro
agências de notação financeira que venham a analisar a capacidade do país pagar
a sua dívida, pelo menos uma acredite em nós. Ora, três delas, a Moody`s, a
Fitch e a Standard & Poor`s, fazem apreciação negativa a Portugal faz
tempo. A única que nos vem considerando acima do nível “lixo” e salvando o
país, digamos assim, é a DBRS. Uma pequena (se comparada com as outras)
instituição desta natureza, com sede no Canadá.
Nas vésperas da última e mais recente avaliação esta agência
despreocupou-nos voltando a livrar-nos de indesejadas dificuldades. Mas
anunciou, para justificar essa decisão, que o fazia porque considerava que os
juros da dívida portuguesa, estando abaixo dos 4%, lhes dava algum conforto.
Creio que foram mais ou menos estas as palavras ou a expressão. No entanto, o
inicio do ano trouxe a má noticia de que os juros da dívida do país tinham
ultrapassado essa barreira. Vêm aí problemas? Tudo indica que sim. Mas não
obrigatoriamente.
Já em final de Janeiro a Moody`s debruçar-se-á de novo sobre o nosso
rating e não deverá fugir ao que vem sendo os seus critérios mais apertados de
classificação. Seguir-se-ão as outras com decisões provavelmente semelhantes. E
no fim, virá a DBRS, com a mais importante sentença, mas sem o conforto das
suas precedentes resoluções.
Mas a agência canadiana já nos tornou a reanimar dizendo que há outros
valores a ter em conta para além dos juros da divida. E que este aumento já era
esperado. São novos argumentos. Esperemos que positivos para que se mostrem,
mais uma vez, confortáveis.
Seja como
for, voltaremos a estar nas mãos do homem mais importante para Portugal no
momento. O que fizer a avaliação. Que pode nem ser o que a conduziu no passado.
Nem redundar no mesmo resultado que a anterior. Vão ser meses de expectativa e
de alguma ansiedade. Porque desta simples posição, a ser tomada lá longe, no
Canadá, dependerá muito o futuro de Portugal e dos portugueses.
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