O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Silves, o lixo e a verdade que não se varre para debaixo do tapete
No passado dia 29 de julho de 2025, publicámos aqui na nossa página o artigo “Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”, onde analisámos a gestão dos resíduos sólidos no concelho de Silves e apontámos falhas graves que continuam a manchar a imagem do município – e, pior ainda, a afetar a qualidade de vida de quem cá vive e de quem nos visita.
Entretanto, recebemos uma mensagem privada de um leitor que questiona as críticas feitas no nosso artigo. O leitor, que optou pelo anonimato, diz que as nossas afirmações “não são verdadeiras” e defende que a atual presidente, Dr.ª Rosa Palma, e a vereadora com o pelouro dos resíduos, Eng.ª Luísa Conduto, salvaram Silves de uma “desgraça” deixada pela direita após 16 anos de governação. Alega ainda que foram compradas novas viaturas de recolha de lixo e contratados mais trabalhadores, o que, na sua visão, mudou radicalmente o cenário.
📄 Nós respondemos com factos – e fazemos isso publicamente.
Hoje, partilhamos aqui o relatório oficial da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos) sobre o município de Silves. O documento não é nosso, não é de “oposição” e não é “opinião”: é uma avaliação técnica e independente.
E o que diz o relatório?
👉 Diz que as “bolas vermelhas” (os indicadores negativos) são mais do que muitas.
👉 Diz que, se um antigo comentador televisivo atribuísse uma nota, dificilmente Silves passaria de um 5 em 20.
Perante isto, deixamos uma pergunta que o relatório não responde, mas que todos em Armação de Pêra e nas freguesias vizinhas sentem na pele:
❓ Se tanto foi feito, porque é que as ruas continuam atulhadas em lixo, verão após verão?
🌊 Armação de Pêra é uma montra do concelho. No entanto, todos os anos, turistas e residentes deparam-se com contentores a transbordar, sacos acumulados, mau cheiro e imagens que não dignificam Silves nem o Algarve.
📢 Criticar não é atacar. Criticar é exigir melhor.
Publicamos este relatório da ERSAR para que os silvenses possam ver com os próprios olhos – e para que a discussão sobre os resíduos deixe de ser uma guerra de narrativas e passe a ser um debate sério, baseado em evidências.
Porque, no fim do dia, o lixo não mente.
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terça-feira, 29 de julho de 2025
“Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”
Fala-se muito de sustentabilidade, de economia circular, de reduzir, reutilizar e reciclar. Mas basta andar pelas ruas do concelho de Silves para perceber que o discurso ainda não saiu do papel. O último Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP) foi claro: o concelho de Silves chumbou em todos os indicadores de resíduos sólidos urbanos avaliados pela ERSAR. Surpresa? Para quem cá vive, nenhuma.
A verdade é que nos últimos três mandatos nada mudou. O lixo acumula-se, os contentores raramente são lavados, os maus odores e pragas já fazem parte do “cenário urbano”. E o pior: o tempo está a contar. Até 2030, a forma de cobrança dos serviços de resíduos vai mudar. A tarifa deixará de estar escondida na fatura da água e passará a ser calculada com base no lixo que cada um produz. O chamado sistema PAYT (Pay-As-You-Throw) não é opcional. Vai ser obrigatório — e Silves terá de o implementar.
E aqui levanta-se a pergunta que nenhum candidato à autarquia parece querer responder: quanto vamos pagar? Porque é inegável que a tarifa vai subir. E muito.
Mas não é só uma questão de dinheiro. É uma questão de política pública e de planeamento. Se nada for feito, vamos continuar a enterrar resíduos em aterros, a desperdiçar recursos, a acumular lixo nas ruas. O Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) é claro: temos metas até 2030 para recolha seletiva de biorresíduos, redução do que vai para aterro, aumento das taxas de reciclagem.
Só que tudo isto depende de algo que, até agora, parece faltar: envolvimento das populações. Não adianta ter novos sistemas de recolha seletiva se os cidadãos não forem informados, motivados e fiscalizados. E não adianta pedir às pessoas que separem corretamente o lixo se os contentores continuam sujos, malcheirosos e a atrair pragas. A higiene e a lavagem regular dos contentores são um serviço básico, mas, em Silves, continuam a ser tratados como luxo.
Se o município não acordar, se os candidatos não apresentarem planos claros — e se nós, cidadãos, não exigirmos resultados —, em 2030 não estaremos a falar de metas cumpridas, mas sim de tarifas altas, ruas sujas e mais promessas por cumprir.
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“Quem Precisa de Toldo Quando se Tem Promessas?”
Há coisas em falta que quase ninguém nota. Um quadro na parede, uma tampa de esgoto, a paciência para ouvir discursos de campanha. Mas um toldo no parque infantil? Esse, meus caros, até as crianças percebem que faz falta.
Desde que retiraram o dito cujo — há meses, sublinhe-se, porque na administração pública o tempo é uma entidade mística — os miúdos e os pais ficaram entregues à torreira do sol, como se estivessem a participar num reality show: “Quem derreter primeiro perde!”
Dizem as más línguas que alguém na Câmara de Silves ou na Junta de Freguesia decidiu que o toldo já tinha cumprido o seu papel. Talvez porque não têm filhos nem netos. Ou, quem sabe, porque só passam pelo parque à noite, quando vêm de blazer engomado para se mostrar nos espetáculos em ano de eleições.
O mais irónico? Se olhassem bem durante a noite perceberiam que o parque está tão mal iluminado que mais vale levar uma lanterna de campismo. Mas luz, sombra ou conforto para as pessoas? Isso não entra no cartaz eleitoral.
Enquanto isso, as crianças continuam a brincar ao sol, os avós procuram sombra como nómadas no deserto e o tal toldo — que faria tanta falta — tornou-se uma lenda urbana.
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segunda-feira, 28 de julho de 2025
Habitação Municipal em Silves: Um retrato de abandono
Falar de habitação municipal no concelho de Silves é, infelizmente, falar de um problema estrutural, de décadas de inação e de falta de visão. A maior parte do parque habitacional municipal foi construída entre as décadas de 70 e 90 do século passado, maioritariamente na cidade de Silves. Desde então, pouco ou nada foi feito para expandir, requalificar ou sequer manter o que existe.
Os números são gritantes: a habitação municipal representa apenas 0,3% do número total de alojamentos do concelho. Num país em que o parque habitacional público não chega sequer aos 2% — já de si um número embaraçoso, quando comparado com a média europeia de 9% segundo dados da Eurostat — Silves consegue fazer ainda pior. 0,3%… não sabemos se é para rir ou para chorar.
Grande parte dos imóveis municipais está degradada, resultado de anos de ausência de manutenção. Mas o caso mais flagrante é o de Armação de Pêra, a freguesia com maior pressão habitacional do concelho. Aqui, o parque habitacional municipal resume-se a… um único imóvel. Sim, leu bem: um. Uma casa de função, atribuída a um funcionário municipal em regime de comodato. Enquanto isso, Armação de Pêra é precisamente o local onde predomina o residente arrendatário, que enfrenta preços cada vez mais incomportáveis.
Pagamos impostos como os demais, mas recebemos zero em investimento nesta área crucial. Não há plano de expansão, não há construção de novas habitações públicas, não há reabilitação consistente do que existe.
E este cenário não é fruto do acaso: são 12 anos de inação com a gestão de Rosa Palma, somados a 12 anos de Isabel Soares. Um quarto de século a ver passar os comboios, enquanto os problemas se acumulam.
A habitação é um direito constitucional, mas em Silves tornou-se um privilégio inacessível. Chegou a hora de exigir mais do poder local e de colocar a habitação pública no centro das prioridades — porque continuar neste caminho é condenar o concelho a perder população, vitalidade e dignidade.
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habitação social
domingo, 27 de julho de 2025
A Matemática e os Cantoneiros: Uma Equação por Resolver
Em 16 de julho, quando foram divulgados os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais, um número sobressaiu como um ponto vermelho num quadro branco: 42% dos alunos chumbaram a Matemática. A média caiu de 12,1 para 10,5 – e parece que o conceito de “regra de três simples” já é mais ficção científica do que realidade.
Ora, vem isto a propósito de uma pergunta aparentemente banal, mas que fez soar os sinos cá na vila:
— “Quantos cantoneiros são necessários para manter a freguesia limpa?”
Foi perguntado ao tesoureiro da Junta, homem de fala mansa e discurso polido, que logo respondeu:
— “Mais.”
Sim, mais. Mas quantos mais?
A partir daqui, a conversa descambou:
— “Ó senhor tesoureiro, e se fizéssemos as contas? Quantos quilómetros de estrada temos, quantos metros cada cantoneiro varre por hora, e pronto: uma conta de multiplicar e dividir.”
O homem coçou a cabeça, olhou para o assessor de Marting (sim, com “n”, porque “Marketing” parece palavra difícil de soletrar) e atirou:
— “Matemática é complicado. Nós cá trabalhamos é com sensações.”
O assessor, de blazer apertado e cara de quem fez um workshop de três horas em “Branding Territorial”, reforçou:
— “Bruno, não complique. Diga só que está tudo ‘em curso’ e use palavras fortes: reforçamos o compromisso com as pessoas, juntos conseguimos, resiliência, compromisso!”
Enquanto isso, lá continuam 10 cantoneiros, heróis anónimos, a varrer as ruas com vassouras gastas, porque os equipamentos da Junta estão encostados no parque de estacionamento. Avançam rumores de que uma das máquinas até foi usada como suporte de roupa do carnaval, mas nada foi confirmado.
E pensar que o avô de um dos moradores o “Recatreca” fazia contas com pipas de vinho:
— “Se com 3 pipas de vinho dava para 15 homens, quantas pipas preciso para regar a festa de Nossa Senhora dos Navegantes toda?”
Pois, parece que antigamente a Matemática tinha aplicação prática. Hoje, a aplicação é outra:
— “Se 42% dos alunos não sabem fazer contas, quantos políticos vamos ter daqui a 20 anos que ainda não sabem responder quantos cantoneiros precisamos?”
A Junta continua a responder que “está a fazer o melhor que pode”. O problema é que esse “melhor” não envolve operações de soma, subtração ou divisão.
No fim, resta a pergunta que devia estar no exame nacional do próximo ano:
“Se a vila tem 50 quilómetros de estrada, um cantoneiro varre 5 km por dia, e temos 10 cantoneiros, quantos dias serão precisos para varrer tudo? (Mostre o raciocínio, sem ajuda do assessor de Marting.)”
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Educação
sábado, 26 de julho de 2025
Silves é o centro do mundo? E as restantes freguesias?
No passado dia 21 de dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Silves anunciou, no seu site oficial, a aprovação do Orçamento Municipal e das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2025. Entre os muitos tópicos apresentados, destacou-se a programação cultural para o próximo ano – uma agenda rica, variada e, como o comunicado sublinha, de “qualidade”.
Eventos como a Mostra da Laranja, a Feira Medieval de Silves, o Jazz nas Adegas, o Silves Urban Music e as comemorações do 25 de abril são apontados como exemplos do dinamismo cultural do concelho. Contudo, há uma questão que não pode ser ignorada: quase todos estes eventos acontecem exclusivamente na cidade de Silves.
Será que as restantes freguesias não merecem igual atenção?
Será que Armação de Pêra, Alcantarilha, Pêra, São Bartolomeu de Messines, São Marcos da Serra e as outras localidades do concelho não têm direito a uma programação cultural própria, adequada à sua identidade e à sua população?
Em plena época natalícia, a aprovação do orçamento parece ter sido uma verdadeira “prenda de Natal” oferecida à cidade de Silves. Mas e os munícipes das outras freguesias? Não pagam os mesmos impostos? Armação de Pêra, por exemplo, é uma das freguesias que mais receita gera para o concelho – não deveria, no mínimo, receber uma fatia mais visível do investimento cultural?
Esta centralização levanta uma reflexão inevitável: os atuais eleitos estão a governar para todo o concelho ou apenas para a sede do município? E, mais importante, será que os eleitores de Armação de Pêra (e das restantes freguesias) ainda confiam que a sua voz é ouvida?
Cultura não deve ser privilégio de uma cidade. Cultura deve ser partilhada, descentralizada e inclusiva. Porque um concelho só é verdadeiramente forte quando todas as suas freguesias sentem que fazem parte dele.
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más práticas
Sonho Urbano à Beira-Mar: O delírio noturno de José Casimiro
José Casimiro sentou-se, como tantas noites de verão, na esplanada do café Frente ao Mar, no Largo da Igreja. Pediu o seu café expresso — curto, para não adulterar a noite — e um Dom Rodrigo, que olhava para ele do prato como um pequeno tesouro açucarado.
À sua frente, o Jonathan, entertainer de rua, preparava-se para mais uma atuação. A coluna Bluetooth ganhou vida e, entre turistas distraídos e moradores sonolentos, começou a soar Dunas, dos GNR.
José Casimiro fechou os olhos ao beber o primeiro gole de café. E foi então que sonhou.
💭 O Sonho
As freguesias de Armação de Pêra e Alcantarilha e Pêra tinham finalmente deixado de ser duas entidades separadas: uniram-se, formando um território de 55,41 km², com mais de 11 mil habitantes, um verdadeiro motor económico do concelho de Silves.
No centro desta nova terra, a ribeira de Alcantarilha estava reabilitada. A água corria limpa, serena, e ligava o interior ao litoral como uma artéria azul. Ao longo dela, um passadiço pedonal transformara a paisagem — famílias passeavam ao entardecer, turistas tiravam selfies à luz da lua, e hashtags nasciam como flores: #NovaArmação, #PêraUnida, #DoRioAoMar.
🚋 O metro bus era a espinha dorsal do território. Não era só noturno, era uma linha regular, moderna, elétrica, que ligava as duas freguesias, cruzando o território com paragens bem pensadas. Da praia às escolas, do mercado ao interior, todos usavam o metro bus: moradores, turistas, estudantes, até os reformados iam ao café de Alcantarilha e voltavam em Armação como se nada fosse.
📈 Os números falavam por si: 14% da população tinha ensino superior, as indústrias criativas floresciam em antigos armazéns, os nómadas digitais trocavam Lisboa e Porto por este “novo território inteligente”. Havia coworkings com vista para a ribeira e até Nicole Kidman — sim, a própria — trocava a Comporta por uma vivenda algarvia, dizendo aos jornais: “Aqui encontrei o equilíbrio perfeito entre praia, pastéis de nata e internet rápida.”
🌱 Era um território sustentável, vibrante, jovem, com energia. Tudo parecia funcionar, tudo parecia fazer sentido.
📀 Mas então a música mudou.
Jonathan, num salto inesperado, abandonou GNR e começou a entoar o hino hip-hop da moda: “Rap da Esperança (Ou Não!)”. O beat pesado ecoou pelo largo e fez José Casimiro abrir os olhos.
☕ O café estava frio. O Dom Rodrigo, reduzido a um monte de fios de ovos e açúcar.
E a realidade caiu-lhe em cima como um balde de água gelada: os buracos nas calçadas, o lixo esquecido nas esquinas, os caixotes do lixo a transbordar no verão, a sensação de que quem devia gerir a freguesia andava a dormir em serviço.
José Casimiro suspirou. O metro bus, a ribeira reabilitada, Nicole Kidman a beber bica no Largo — tudo isso era apenas um sonho de verão.
Por agora, restava-lhe pagar o café, sacudir o açúcar do colo e pensar: “Talvez amanhã.”
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A costura caseira
sexta-feira, 25 de julho de 2025
Praia de Armação de Pêra: quando a receita existe, mas a limpeza falha
Muito se tem discutido sobre o impacto das concessões balneares na Praia de Armação de Pêra. O artigo publicado pelo Terra Ruiva, intitulado “Na Praia de Armação de Pêra – Sobe o mar, falta areal e sobram concessões privadas e públicas”, trouxe à luz um dado relevante: a Junta de Freguesia lucrou, só em 2024, mais de 250 mil euros com a exploração das suas três concessões de praia. Um valor que representa quase um terço do seu orçamento anual.
Não é, de todo, condenável que a Junta obtenha uma receita significativa a partir da exploração das suas concessões. Pelo contrário: uma gestão eficaz dos recursos públicos deve procurar receitas alternativas que aliviem o peso sobre os contribuintes. O problema, no entanto, não está na origem da verba, mas sim no destino (ou falta dele).
Visitando a praia e áreas circundantes, é difícil não reparar na quantidade de resíduos acumulados: beatas, garrafas de vidro e plásticos diversos espalhados tanto na areia como nos acessos à praia. O cenário é preocupante e atenta contra a segurança, a higiene e a imagem turística da vila. Se a Junta consegue encaixar mais de 250 mil euros anuais com a exploração de toldos e estruturas balneares, por que motivo essa verba não está a ser canalizada para reforçar os serviços de limpeza urbana, reparar equipamentos avariados e garantir um espaço digno e seguro para os veraneantes?
Sabe-se que há equipamentos de limpeza urbana avariados há anos, o que reduz drasticamente a eficácia do trabalho dos cantoneiros. Ao mesmo tempo, o lixo acumula-se nas ruas e nos acessos à praia, prejudicando não apenas a qualidade de vida dos residentes, mas também a reputação de Armação de Pêra enquanto destino turístico.
Esta situação denuncia uma falta de visão estratégica e uma má gestão dos recursos disponíveis. Quando o orçamento existe, mas as prioridades estão desalinhadas com as necessidades da população e do espaço público, não estamos perante falta de meios, mas sim perante falta de vontade política.
Se Armação de Pêra quer continuar a atrair visitantes e garantir qualidade de vida à sua população, é urgente que as receitas obtidas com as concessões balneares sejam reinvestidas na manutenção, limpeza e valorização do espaço público. Só assim se poderá justificar a exploração pública de concessões que, em teoria, deveriam beneficiar toda a comunidade.
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Armação de Pêra: Quando Contribuir Não Garante Receber
Recentemente, fomos surpreendidos por um comentário “assanhado” — expressão que aqui adotamos com ironia — em resposta ao nosso post “Armação de Pêra Cresce, Mas Fica para Trás”. A reação partiu, ao que tudo indica, de um residente de Silves, incomodado com a crítica legítima que levantámos: a desproporcionalidade entre o que Armação de Pêra contribui em impostos e aquilo que recebe em investimentos por parte da Câmara Municipal de Silves.
Não se trata de opinião vazia ou de bairrismo gratuito. Falamos de números, de factos e de justiça fiscal. Tomemos como exemplo o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). A arrecadação deste imposto em Armação de Pêra representa uma fatia expressiva da receita do concelho, mas os investimentos feitos na freguesia não acompanham essa realidade. O dinheiro entra, mas não volta — ou volta pouco, e mal distribuído.
E o IMI é apenas uma parte da equação. Há também o Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT), cuja receita também cabe aos municípios. Este imposto incide sobre as transações de imóveis, e, novamente, Armação de Pêra revela-se uma das maiores contribuintes. Para contextualizar: embora a média de transações no concelho represente 3% do valor dos imóveis existentes, Armação de Pêra contribui com 4,6%, e Alcantarilha e Pêra com 3,8%.
Onde estão, então, os investimentos proporcionais nestas freguesias?
O exemplo mais gritante é o da urbanização Bay Line, em Armação de Pêra, com os seus 255 apartamentos. Só essa obra terá gerado mais de 9 milhões de euros em receita de IMT para o município de Silves. Um valor extraordinário, que deveria traduzir-se em melhorias visíveis para os moradores, comerciantes e visitantes da freguesia. Mas, até agora, Armação paga... e espera.
Armação de Pêra não quer favores. Quer justiça. Quer que o retorno dos impostos que aqui se pagam se reflita em infraestrutura, equipamentos, requalificação urbana, serviços públicos eficientes e qualidade de vida.
É legítimo que se questione o modelo de distribuição dos recursos municipais. Porque uma câmara que arrecada milhões à custa de certas freguesias não pode continuar a agir como se essas mesmas freguesias fossem um fardo, e não motores de crescimento económico.
Silves não pode continuar a esquecer que Armação de Pêra não é apenas um destino turístico: é um polo habitacional, económico e social em plena expansão. E expansão sem investimento é como um corpo que cresce sem alimento. Inevitavelmente, adoece.
O tempo de pagar sem ver retorno tem de acabar. Armação de Pêra merece — e exige — um Novo Rumo.
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economia
quinta-feira, 24 de julho de 2025
Entrevista Fictícia com Nicole Kidman: “Sorry, Armação de Pêra. It's not you, it's... actually, it is you.”
Cidadania: Nicole, estamos muito curiosos. Porque preferiu a Comporta a Armação de Pêra?
Nicole (com ar diplomático): Oh... before tudo, desculpa meu português, ainda é muito... tourist level, you know? Mas vou tentar.
I love Portugal, very muito. Eu tenho uma house in Lisbon — bairro calmo, people nice, and I love pastel de nata at 5pm. My dream was beach house, you know... feet in sand, wine in hand.
Cidadania: E foi aí que surgiu Armação de Pêra?
Nicole: Sim, sim! My manager show me photos — muito bonito! Praia, sol, and um senhor chamado Vivaldo Gonçalves que tira fotografias like Vogue but with fish. So I go.
Cidadania: E como foi a visita?
Nicole (olhando para os lados, como quem se certifica que ninguém de Armação está a ouvir): How do I say this nicely...? Look, I ate at Lobo do Mar — very good, muito good! A cataplana que... Jesus Christ, I cried. It was emotion or too much garlic, não sei.
But then... I walk in the village. Oh my God.
Cidadania: Oh?
Nicole: Lixo no chão. Everywhere! Calçada looked like Tetris drunk edition. E havia... como se diz? The smell of sadness. Smell no bom. Like... fish funeral. Sorry!
Cidadania: Sentiu-se insegura?
Nicole: Not insegura… mas I thought, if I trip here, I end up in Madeira. The holes were deep. You could lose a tourist there for days. I saw a child disappear. Maybe he's still lá.
Cidadania: E foi isso que a levou a escolher a Comporta?
Nicole: Também. But final decision was insurance. My consultant, um tipo muito sério, he say: “Nicole, insurance for Armação? Not advisable. Too many risks. Olfactory trauma not covered.” So I say, “OK, let’s Comporta.”
Cidadania: E como descreve a Comporta?
Nicole: It’s like Ibiza had a baby with a design magazine. Tudo clean, people barefoot with expensive sunglasses, zero cheiro de peixe morto. Só cheiro a eucalyptus and money.
Cidadania: Tem saudades de Armação?
Nicole: Kind of. The cataplana haunts my dreams. Maybe one day I go back… with a hazmat suit and low expectations.
Cidadania: Se pudesse deixar uma mensagem a Armação de Pêra?
Nicole (pensativa): Don’t give up. Clean the floor. Fix the tiles. Hide the smell. And for God’s sake… hug Vivaldo, he’s doing his best.
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Comportamento
"Cabaz Dourado": O novo luxo da dieta mediterrânica
O cabaz alimentar analisado pela DECO Proteste e pela SIC Notícias registou um novo recorde de preço, batendo os tambores da inflação com uma subida de quase 6 euros só neste mês. Comparado com janeiro, já lá vão 7 euros a mais — o equivalente a um frango com pernas de caviar ou duas batatas com certificado de autenticidade do Douro.
O tomate e a batata, outrora humildes figurantes no prato português, subiram 25% desde 2022 e já se consideram produtos gourmet. Rumores indicam que o próximo Masterchef terá um episódio especial: “Como cozinhar uma batata sem hipoteca bancária.”
Mas enquanto os especialistas debatem números e gráficos em estúdios com ar condicionado, nas ruas de Armação de Pera, a matemática é feita com sacos de compras e suspiros fundos.
— Oh MiMi! Então não vais para casa? Já vais a caminho da praia com isso tudo? — perguntou a D. Teresa, ajeitando a alface murcha no saco de pano, ainda incrédula com o preço dos legumes.
— Praia? Nem pensar, mulher! Vou ali à Ourivesaria Carvalheiro, ver se me aplicam este salmonete no fio que o meu neto me deu. — respondeu MiMi, erguendo com orgulho um peixe prateado como quem mostra uma joia rara. — Com os preços que estão no mercado, isto agora já vale mais do que ouro.
— Ah! Então agora é isso... vai-se ao mercado comprar peixe e sai-se de lá com uma fortuna em proteínas! — riu-se a Teresa. — Parece que ir à ourivesaria sai mais barato do que vir ao mercado!
— E sem fila! — acrescentou a MiMi, já a subir a rua. — Ali ao menos não tenho de discutir com a peixeira se é 18 euros o quilo ou 18 euros o exemplar.
A indignação local cresce a par dos preços. Há quem diga que, se a tendência continuar, o próximo cabaz alimentar virá com código de barras em ouro e segurança privada. Em Armação de Pera, onde o calor aperta e o bolso esvazia, a sensação geral é clara: a inflação está mais salgada que a água do mar.
"Já não se faz gaspacho, faz-se joalharia líquida!" — brinca um comerciante que prefere manter o anonimato, mas que admite ter guardado dois tomates no cofre da loja.
A DECO ainda não comentou as aspirações artísticas do salmonete, mas fontes próximas da Ourivesaria Carvalheiro confirmam que já há encomendas para pendentes de lula e brincos de sardinha.
Até lá, resta-nos escolher: jantar uma posta de pescada ou investir numa pequena barra de ouro em forma de courgette.
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"Raízes do problema: a saga épica da árvore da Beira Mar (e da Câmara que a ignora)"
Na vibrante e movimentada Av. Beira Mar, frente ao imponente Casino, desenrola-se há meses uma epopeia moderna digna de Homero – com menos deuses do Olimpo e mais fitas plásticas. A protagonista? Uma árvore robusta e resiliente, que ousou... crescer.
Em sua nobre missão de encontrar água e nutrientes, a árvore expandiu suas raízes de forma rebelde, erguendo o pavimento com a mesma determinação de um filme-catástrofe de domingo à tarde. O solo, é claro, colabora pouco: compacto, ingrato, impermeável e emocionalmente indisponível. Resultado? Uma calçada transformada em pista de obstáculos para atletas de parkour, idosos destemidos e carrinhos de bebé com suspensão off-road.
Mas eis que surge a heroína improvável da trama: a solução provisória da Câmara Municipal de Silves. Em vez de intervenções sérias ou engenheiros, optou-se por algo mais artesanal – um cercadinho de fita plástica, preso com varetas de ferro tortas, provavelmente reaproveitadas de uma feira medieval. Um toque de design urbano ao estilo “faça você mesmo com materiais que sobraram do Natal”.
E então, como num plot twist digno de telenovela, uma bobcat apareceu. Durante alguns dias, desfilou pela área como se estivesse a avaliar o terreno para uma nova série da Netflix. Mas como toda personagem misteriosa, desapareceu sem explicações. Alguns dizem que era só um holograma para acalmar os ânimos. Outros acham que foi colocada lá como decoração temática de verão: "Silves e as máquinas que não fazem nada".
Afinal, a Câmara está à espera de quê? De que as raízes se inscrevam no orçamento participativo? De uma manifestação das árvores em frente aos Paços do Concelho com cartazes a dizer “Queremos espaço para respirar”? Ou de uma intervenção divina, talvez por parte de Santo Urbanístico, padroeiro das obras paradas?
Urge lembrar que árvores em meio urbano não são vilãs, são aliadas – desde que tratadas com o respeito que merecem e com o planeamento que os cidadãos esperam. Há soluções técnicas, há conhecimento, há bons exemplos... só parece faltar vontade.
E até lá, seguimos na Beira Mar, a tropeçar nas raízes do descaso.
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quarta-feira, 23 de julho de 2025
Onde anda a GNR? Armação de Pêra vive dias de insegurança
Armação de Pêra está a ser alvo de uma onda de assaltos que tem deixado a população em estado de alerta e indignação. Em poucos dias, o mini mercado “Ú Cantinho da Telma” foi assaltado duas vezes, um apartamento na Rua D. Afonso III foi invadido, e até a ótica junto ao mercado municipal não escapou à ação dos criminosos.
A revolta dos moradores é cada vez mais audível. As caras dos suspeitos são conhecidas por muitos na vila — e mesmo assim, as autoridades parecem continuar de braços cruzados. A GNR tarda em agir com eficácia e visibilidade, e a ausência de respostas concretas começa a levantar sérias questões sobre a presença e atuação das forças de segurança na freguesia.
Enquanto isso, os responsáveis políticos locais — Junta de Freguesia e Câmara Municipal — parecem mais preocupados com a gestão da imagem do que com a proteção efetiva dos seus munícipes. O silêncio e a passividade dos autarcas perante estes acontecimentos agravam o sentimento de abandono e insegurança.
Os armacenenses não querem promessas vagas nem discursos formais. Querem segurança, presença policial ativa e respostas firmes. Querem voltar a viver numa vila onde o comércio local não tenha de fechar portas por medo, onde os residentes possam dormir tranquilos e onde a criminalidade não se sinta à vontade para agir impunemente.
É urgente que as autoridades — civis e policiais — deixem de assobiar para o lado. A segurança pública não pode ser uma miragem, nem um luxo reservado a outras localidades. Armação de Pêra exige ação. E merece respeito.
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“Do Estrado à Chucha: Uma História de Mercado(s) e Migalhas”
Diz-se por aí que Lisboa tem o Terreiro do Paço, Paris tem o Marché de Rungis, e Armação de Pêra… bem, Armação tem os restos de Silves. Literalmente.
Corria o ano de 1958, e um visionário lisboeta — o arquiteto Paulo Henrique de Carvalho Cunha — desceu até à costa algarvia, armado de régua, esquadro e um “Plano Geral de Arranjo Urbanístico”. Palavra chique essa: arranjo. Porque arranjo foi precisamente o que se fez — e que grande “arranjo”! — com o velho mercado de peixe de Silves.
A necessidade de um mercado em Armação já vinha de longe. As vendedeiras equilibravam peixe e legumes sobre estrados nas ruas, entre gaivotas e veraneantes. Era, digamos… um modelo de mercado ao ar livre avant-garde. E o povo clamava: “Queremos um mercado de verdade!”
A Câmara de Silves, magnânima como sempre, respondeu à chamada. Mas em vez de gastar um tostão na construção de um mercado digno, decidiu reciclar — que é muito moderno — e despachou para a vila praiana o material da antiga praça de peixe de Silves.
E assim, no glorioso dia 26 de junho de 1960, pelas 17 horas (hora exata para quem quer tapar o sol com a peneira), inaugurava-se, com pompa e peixinhos, o mercado remendado.
Em Silves: um mercado novo, fresquinho.
Em Armação: o cabaz da reciclagem.
Claro que aquilo não servia para as necessidades da população, nem para os veraneantes, que já nessa altura exigiam mais do que sardinha ao sol. Resultado? A rua em redor foi-se transformando numa extensão não-planeada do mercado, onde cada vendedor plantava a sua banca como quem planta couves.
Foram precisos mais de 30 anos de pedidos, súplicas e promessas em papel timbrado até que, finalmente, em Abril de 1990 — ano glorioso para a democracia e para o bacalhau seco — surgiu o atual mercado. Bonito? Funcional? Talvez. Mas já velhinho, cansado, a ranger das pernas como um banquinho de três pés.
E agora, mais de 35 anos depois, os armacenenses olham para Silves e veem obras, pavilhões, centros culturais. E olham para o mercado da vila… e veem a mesma estrutura de sempre, com cheiro a sardinha e nostalgia.
Pedem modernização. Recebem promessas. Pagam impostos. Recebem chuchas.
Enquanto isso, os autarcas de Silves devem rir-se discretamente, talvez entre uma alfarroba e um café na esplanada do mercado novo da sede de concelho. E Armação de Pêra? Armação continua à espera. À espera que um novo plano urbano traga mais que remendos — e talvez, quem sabe, um mercado onde as bancas não fiquem com os pés na rua e os fregueses de molho até aos tornozelos.
Porque, sejamos honestos: reciclar é bom. Mas reciclar a dignidade de uma freguesia inteira? Isso sim, cheira a peixe.
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economia
terça-feira, 22 de julho de 2025
Armação de Pêra não merece mais um atentado urbanístico
No final da década de 1970, os terrenos confinantes com o emblemático Hotel Garbe, em Armação de Pêra, foram destinados à construção de mais uma unidade hoteleira. Os proprietários, então donos da histórica Empresa de Viação do Algarve (EVA), sediada em Faro, viam nessa aposta uma forma de integrar o setor dos transportes com o turismo emergente — duas forças em franca expansão no Algarve da época.
À luz do contexto socioeconómico daquela altura, a ideia até fazia sentido. O turismo crescia, a costa algarvia começava a ganhar visibilidade internacional e havia espaço — e necessidade — para acolher visitantes. Mas o tempo passou, os paradigmas mudaram e, com eles, as exigências e preocupações da população local também.
Hoje, mais de quatro décadas depois, esses mesmos terrenos voltam ao centro do debate. O Plano Diretor Municipal (PDM) de Silves assinala esta zona como um compromisso urbanístico, o que levanta preocupações legítimas sobre a possibilidade de retomar o projeto hoteleiro. Mas será que, em 2025, ainda faz sentido construir mais um hotel naquela área?
A resposta parece óbvia para quem vive em Armação de Pêra: não. A zona está já excessivamente densificada, com uma malha urbana apertada, falta crónica de estacionamento, escassos espaços verdes e uma praia sobrelotada durante o verão. A densidade populacional atinge níveis que se aproximam dos de algumas cidades chinesas — um absurdo quando falamos de uma vila costeira que deveria primar pela qualidade de vida, pelo equilíbrio entre residentes e visitantes e pela valorização ambiental.
O receio da população aumentou quando, antes do verão, foi vista uma empresa a realizar um levantamento topográfico naqueles terrenos. A associação imediata a um novo projeto de construção foi inevitável. O sentimento de insegurança instalou-se. O que se teme não é o progresso — é a repetição dos erros do passado. Armação de Pêra já sofreu demasiado com um urbanismo desenfreado, feito à margem da sustentabilidade e do interesse público.
Os residentes perguntam, com razão: Armação não merece melhor? Não merece um plano urbano que privilegie qualidade de vida em vez de betão? Não merece ver valorizados os seus espaços naturais, o seu património arquitetónico e a sua identidade local?
Este não é apenas um debate técnico ou jurídico — é um debate ético. A decisão de permitir (ou não) mais uma construção massiva naquela zona deve ser feita com base naquilo que se quer para o futuro de Armação de Pêra. E esse futuro não pode passar por mais um atentado urbanístico, mascarado de desenvolvimento.
Há momentos em que é preciso dizer "basta" e mudar de rumo. Este é um deles.
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