
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
Aníbal Cavaco Silva: Dois pesos duas medidas
Untitled from Fatima Rolo Duarte on Vimeo.
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politica nacional
sábado, 8 de outubro de 2011
Armação de Pêra: Carta aberta a Assunção Cristas

Exm.ª Senhora
Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território
Muito recentemente tive conhecimento da resposta de V.Ex.ª a uma pergunta que lhe foi dirigida, a propósito do problema existente na lota de Armação de Pêra. Achei algo curiosa esta vossa resposta sobre um problema tão sensível que afecta a vida profissional dos pescadores e armadores daquela localidade. Naquela resposta, mistura V.Ex.ª o problema existente naquela lota, com a questão dos combustíveis, como o GPL, e a problemática da primeira venda do pescado em lota. Questões de não somenos importância as quais fazem parte das preocupações diárias dos armadores e pescadores de Armação de Pêra, mas não só.
Não me surpreendeu absolutamente nada, confesso, a paixão manifestada por V.Ex.ª pelos mercados, bem como por uma economia aberta. Sei que é vossa profunda convicção que a formação dos preços está dependente dos mercados, que em sua opinião tudo parecem regular. Pura ilusão sua senhora ministra, no que à primeira venda do pescado em lota diz respeito.
Claro que V.Ex.ª nesta matéria da venda do pescado em lota, fala do que eventualmente não conhece, e naturalmente que quem fala do que desconhece, certamente que desconcerta, para além de não sentir, como nós, os problemas com que se defrontam os pescadores e armadores na sequência do problema existente na lota de Armação de Pêra.
Contrariamente ao que V.Ex.ª afirma, que a sugestão de uma taxa máxima de lucro na comercialização em nada beneficiaria os pescadores, eu dir-lhe-ei que o mercado não regula nada, antes desregula. E isso tem vindo a ser provado desde que se liberalizaram as taxas máximas de lucro na comercialização do pescado, o que veio beneficiar os comerciantes de pescado, e prejudicar fortemente a produção (armadores e pescadores).
Sabe V.Ex.ª em que ano se pode encontrar paralelo com os preços médios do pescado hoje praticados em lota. Só com os preços médios do pescado praticados em lota no ano 2000. Pode V.Ex.ª imaginar quanto aumentaram os custos de produção neste período de 11 anos?
Saiba pois V.Ex.ª que o sector da pesca defende unanimemente, há muito tempo, a tomada de medidas visando a valorização do pescado na primeira venda em lota e a criação de uma margem máxima de lucro para os intermediários. Em minha opinião o que o mercado veio provocar, contrariamente ao que defende V.Ex.ª, não foi favorecer a formação dos preços, mas sim a sua deformação.
Sabe V.Ex.ª, por acaso, como se processa a venda de pescado em lota? Não sabe? Não fique triste por isso. O último secretário de Estado Adjunto da Agricultura e Pescas Luís Vieira, do ultimo governo, também não sabia. Confessou-me esta sua ignorância, imagine V.Ex.ª, numa sessão comemorativa do dia Nacional do Pescador, 31 de Maio.
A venda de pescado em lota é feita através de um leilão, velho, caduco e obsoleto, de ordem decrescente, à espera de quem ofereça menos e não de quem ofereça mais. E são os comerciantes de pescado, os tais que vêm beneficiando da liberalização da margem máxima de lucro, que de manhã chegam às lotas com um telemóvel numa das mãos e um comando electrónico na outra, que decidem quanto vale o produto da pescaria feita pelos pescadores, fruto de um trabalho de elevado desgaste físico. Para além deste handicap, têm ainda os pescadores um sistema remuneratório perverso que resulta da incerteza da existência de boas condições climatéricas para o exercício da faina da pesca, da sorte de uma boa pescaria e da sorte de obter um bom valor em lota do pescado capturado. É muita sorte junta para que tudo dê certo, para que o pescador possa ter, não diria, uma justa remuneração, mas sim um salário minimamente razoável.
É todo este quadro que passa a leste de V.Ex.ª, e assim sendo falta-lhe a sensibilidade necessária para melhor compreender os problemas, muito específicos, que rodeiam o sector da pesca. Espero pois que, um dia, tenha a humildade de descer ao terreno para melhorar os seus conhecimentos e assim poder desempenhar, com mais eficácia e saber, o cargo de que está investida, Ministra do Mar, e não das Pescas.
Para terminar, sempre lhe quero dar a conhecer a pessoa que redigiu o presente texto, para que da parte de V.Ex.ª haja uma melhor compreensão para o eventual mau português deste meu texto e eventualmente para a existência de algumas agressões à nossa gramática. Essa pessoa é apenas formada em saber ler e escrever. Tem apenas o canudo - melhor dizendo - o diploma da 4.ª classe obtido na escola primária do Largo da Feira, em Olhão, no distante ano de 1954. A seguir inscreveu-se na Universidade Prática da Vida na disciplina do trabalho, onde começou a frequentar na prática a cadeira da pesca que frequentei durante mais de 40 anos. Com o passar destes 40 anos, cheguei à conclusão de que não iria sair formado, academicamente falando, claro está, mas sim reformado.
Um pescador reformado
Josué Tavares Marques
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Armação de Pêra: Campanha Ajuda quem precisa
Para ajudar os alunos que mais precisam a Escola Básica 2/3 Dr. António da Costa Contreiras, leva a efeito mais uma campanha para recolha de bens.

Todos nós podemos ajudar!

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sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Steve Jobs sempre
Com pedido de publicação no CIDADANIA ( pela oportunidade e no respeito pela cidadania que SJ sempre defendeu e ajudou a desenvolver)
Steve Jobs, o Homem que deu cara, corpo e alma a uma maçã, faleceu.
Quantos de nós somos privilegiados consumidores da maçã que este homem criou.
Quantos de nós temos ainda o mais raro privilégio de ter como ferramenta de trabalho um Apple, cinzento, de toque único, com ícones gráficos giros e inesquecíveis.
Quantos de nós sabemos que Steve Jobs foi um simples e virtuoso cérebro que inovou, mutou, criou, enraizou uma cultura, uma escola de aprendizagem, uma simplificação do raciocínio, made life easy.
Quantos conhecem a obra do homem que hoje faleceu, para além da insubstituível maçã.
Quantos são capazes de perceber ,quando sentados diante dessa obra prima que é um MAC de hoje, que este é quase tão perfeito como a cabeça que ontem se perdeu e deixou de inventar.
Quantos saberão ainda que Steve Jobs rivalizou Bill Gates na conquista pelo mercado cibernético. Os dois Piratas de Silicone Valley, “alcunha” que eternizará ambos, gladiaram-se com objectivos diferentes nas mesmas oportunidades.
Quantos saberão que Steve Jobs não cedeu ao poder do dinheiro, da fama, continuando a apostar no desenvolvimento qualitativo das suas máquinas de pensar.
Magnata, mas dotado de uma simplicidade essencial a qualquer líder de carisma, próximo e cada vez mais intimo dos seus seguidores quando cria IPOD e IPHONE.
A fortuna não o fez perder o sentido de missão com que abraçou, na década de 70, o projecto Apple.
Steve Jobs deixa um vazio difícil, talvez mesmo impossível, de preencher.
A boa humanidade empobreceu por muitos anos vindouros, até que de um universo de seguidores surja um iluminado capaz de re inventar a sua obra
Steve Jobs na informática, como John Lennon e Jim Morrison na musica, como JFK na história politica do Mundo do pós guerra de 45, como Karol Józef Wojtyła na re-aproximação da humanidade, como Teresa de Calcutá na defesa abnegada de oportunidades iguais para todos iguais .
Ainda não tinha podido comprar um MAC. Tê-lo, mais que uma necessidade passou a ser uma homenagem obrigatória de que não me demitirei.
Luís Barbosa
Chamamos à atenção para o discurso de Steve Jobs, publicado há muito neste blog, e que pode ser visualizado através do duplo clic na etiqueta Steve Jobs.
Steve Jobs, o Homem que deu cara, corpo e alma a uma maçã, faleceu.
Quantos de nós somos privilegiados consumidores da maçã que este homem criou.
Quantos de nós temos ainda o mais raro privilégio de ter como ferramenta de trabalho um Apple, cinzento, de toque único, com ícones gráficos giros e inesquecíveis.
Quantos de nós sabemos que Steve Jobs foi um simples e virtuoso cérebro que inovou, mutou, criou, enraizou uma cultura, uma escola de aprendizagem, uma simplificação do raciocínio, made life easy.
Quantos conhecem a obra do homem que hoje faleceu, para além da insubstituível maçã.
Quantos são capazes de perceber ,quando sentados diante dessa obra prima que é um MAC de hoje, que este é quase tão perfeito como a cabeça que ontem se perdeu e deixou de inventar.
Quantos saberão ainda que Steve Jobs rivalizou Bill Gates na conquista pelo mercado cibernético. Os dois Piratas de Silicone Valley, “alcunha” que eternizará ambos, gladiaram-se com objectivos diferentes nas mesmas oportunidades.
Quantos saberão que Steve Jobs não cedeu ao poder do dinheiro, da fama, continuando a apostar no desenvolvimento qualitativo das suas máquinas de pensar.
Magnata, mas dotado de uma simplicidade essencial a qualquer líder de carisma, próximo e cada vez mais intimo dos seus seguidores quando cria IPOD e IPHONE.
A fortuna não o fez perder o sentido de missão com que abraçou, na década de 70, o projecto Apple.
Steve Jobs deixa um vazio difícil, talvez mesmo impossível, de preencher.
A boa humanidade empobreceu por muitos anos vindouros, até que de um universo de seguidores surja um iluminado capaz de re inventar a sua obra
Steve Jobs na informática, como John Lennon e Jim Morrison na musica, como JFK na história politica do Mundo do pós guerra de 45, como Karol Józef Wojtyła na re-aproximação da humanidade, como Teresa de Calcutá na defesa abnegada de oportunidades iguais para todos iguais .
Ainda não tinha podido comprar um MAC. Tê-lo, mais que uma necessidade passou a ser uma homenagem obrigatória de que não me demitirei.
Luís Barbosa
Chamamos à atenção para o discurso de Steve Jobs, publicado há muito neste blog, e que pode ser visualizado através do duplo clic na etiqueta Steve Jobs.
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Nobel da Paz atribuído a três mulheres

A Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, a ativista liberiana Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkul Karman ganharam o prémio Nobel da Paz 2011
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Prémio Nobel da Paz
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Justiça: Qual é a coisa certa a fazer?
Se tivesse que escolher entre (1) matar uma pessoa para salvar a vida de cinco pessoas e (2) não fazer nada, mesmo que você saiba que cinco pessoas vão morrer diante de seus olhos se você não fizer nada, o que faria?
terça-feira, 4 de outubro de 2011
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Reorganização territorial do concelho de Silves
Para ajudar a pensar a reorganização territorial do concelho de Silves.
Matriz de critérios de organização territorial



Matriz de critérios de organização territorial




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domingo, 2 de outubro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
A ORIGEM DO CONTO DO VIGÁRIO, por FERNANDO PESSOA, o próprio.
Publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, de 30 de Outubro de 1926, com o titulo de “Um Grande Português”. Foi publicado depois n’O “Noticias” Ilustrado (edição semanal do Diário de Noticias), Lisboa, ano II, série II, nº 62, de 18 de Agosto de 1929, com o titulo de “A Origem do Conto do Vigário”.

Vivia, há já bastantes anos, algures num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador e negociante de gado chamado Manuel Peres Vigário.
Chegou uma vez ao pé dele um fabricante de notas falsas e disse-lhe:” Sr. Vigário, ainda tenho aqui uma notazinhas falsas de cem mil reis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil reis cada uma”.
“Deixe ver”, disse o Vigário; e depois reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as. “Para que quero eu isso?”, disse; “isso nem a cegos se passa”.
O outro, porém, insistiu; Vigário, regateando, cedeu um pouco.
Por fim fez-se negocio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a dois irmãos, negociantes de gado como ele, o saldo de uma conta, no valor certo de um conto [milhão] de réis. No primeiro dia da feira, em que se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna obscura da localidade, quando surgiu à porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de alguma conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha um pagamento a fazer-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil reis. Os irmãos disseram que não se importavam; mas, como nesse momento a carteira se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem mil réis. Houve então uma troca de olhares entre os dois irmãos.

O Manuel Peres contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem perdeu tempo em olhar para elas. O Vigário continuou a conversar, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria um recibo. Não era costume mas nenhum dos irmãos fez questão.
O Manuel Peres disse que queria ditar o recibo, para as coisas ficarem todas certas.
Os outros anuíram a este capricho de bêbado. Então o Manuel Peres ditou como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, “estando nós a jantar” ( e por ali fora com toda a prolixidade estúpida de bêbado), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, a quantia de um conto de réis, em notas de cinquenta mil réis.
O recibo foi datado, selado e assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e por fim foi-se embora.
Quando, no dia seguinte, houve oportunidade de se trocar a primeira nota de cem mil réis, o individuo que ia a recebê-la, rejeitou-a logo por falsíssima. Rejeitou do mesmo modo a segunda e a terceira. E os dois irmãos, olhando então bem para as notas, verificaram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à policia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira que o havia colhido providencialmente no dia do pagamento e o havia feito exigir um recibo estúpido.
Lá o dizia o recibo:” um conto de réis “em notas de cinquenta mil réis””. Se os dois irmãos tinham notas de cem, não era dele, Vigário, que as tinha recebido. Ele lembrava-se bem, apesar de bêbado, de ter pago vinte notas, e os irmãos não eram (dizia o Manuel Peres) homens que lhe fossem aceitar notas de cem por notas de cinquenta, porque eram homens honrados e de bom nome em todo o concelho.
E, como era de justiça, o Manuel Peres Vigário foi mandado em paz.
O caso, porém, não podia ficar secreto. Por um lado ou por outro, começou a contar-se, e espalhou-se. E a história do “conto de réis do Manuel Peres Vigário”, abreviado o seu titulo para “o conto do Vigário” passou a ser uma expressão corrente na língua portuguesa.
Fernando Pessoa

Vivia, há já bastantes anos, algures num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador e negociante de gado chamado Manuel Peres Vigário.
Chegou uma vez ao pé dele um fabricante de notas falsas e disse-lhe:” Sr. Vigário, ainda tenho aqui uma notazinhas falsas de cem mil reis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil reis cada uma”.
“Deixe ver”, disse o Vigário; e depois reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as. “Para que quero eu isso?”, disse; “isso nem a cegos se passa”.
O outro, porém, insistiu; Vigário, regateando, cedeu um pouco.
Por fim fez-se negocio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a dois irmãos, negociantes de gado como ele, o saldo de uma conta, no valor certo de um conto [milhão] de réis. No primeiro dia da feira, em que se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna obscura da localidade, quando surgiu à porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de alguma conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha um pagamento a fazer-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil reis. Os irmãos disseram que não se importavam; mas, como nesse momento a carteira se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem mil réis. Houve então uma troca de olhares entre os dois irmãos.

O Manuel Peres contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem perdeu tempo em olhar para elas. O Vigário continuou a conversar, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria um recibo. Não era costume mas nenhum dos irmãos fez questão.
O Manuel Peres disse que queria ditar o recibo, para as coisas ficarem todas certas.
Os outros anuíram a este capricho de bêbado. Então o Manuel Peres ditou como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, “estando nós a jantar” ( e por ali fora com toda a prolixidade estúpida de bêbado), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, a quantia de um conto de réis, em notas de cinquenta mil réis.
O recibo foi datado, selado e assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e por fim foi-se embora.
Quando, no dia seguinte, houve oportunidade de se trocar a primeira nota de cem mil réis, o individuo que ia a recebê-la, rejeitou-a logo por falsíssima. Rejeitou do mesmo modo a segunda e a terceira. E os dois irmãos, olhando então bem para as notas, verificaram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à policia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira que o havia colhido providencialmente no dia do pagamento e o havia feito exigir um recibo estúpido.
Lá o dizia o recibo:” um conto de réis “em notas de cinquenta mil réis””. Se os dois irmãos tinham notas de cem, não era dele, Vigário, que as tinha recebido. Ele lembrava-se bem, apesar de bêbado, de ter pago vinte notas, e os irmãos não eram (dizia o Manuel Peres) homens que lhe fossem aceitar notas de cem por notas de cinquenta, porque eram homens honrados e de bom nome em todo o concelho.
E, como era de justiça, o Manuel Peres Vigário foi mandado em paz.
O caso, porém, não podia ficar secreto. Por um lado ou por outro, começou a contar-se, e espalhou-se. E a história do “conto de réis do Manuel Peres Vigário”, abreviado o seu titulo para “o conto do Vigário” passou a ser uma expressão corrente na língua portuguesa.
Fernando Pessoa
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