O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sábado, 22 de agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Contributos para a História de Armação de Pêra
Depois de termos tentado encontrar fontes sobre a história de Armação de Pêra, sem grande sucesso, fomos surpreendidos com dois artigos no blog de História e Estórias, cujo endereço electrónico aqui deixamos:
http://blog-de-historia.blogspot.com/search/label/Armação de Pêra.
Um sobre a fortaleza e ermida da Senhora da Rocha, cuja origem tão remota nos surpreendeu (entre 551 e 624 d.c.), e outro sobre Armação de Pêra que nos surpreendeu igualmente pelo resultado trágico para a aldeia em que importou o maremoto de 1755, o qual se saldou, em vida humanas, em 84 mortes, tendo ficado uma única casa de pé.
Pela sua importância e raridade, mas também pelas fontes enumeradas, não resistimos a transcrevê-los integralmente, na expectativa de que os elementos constantes dos textos possam motivar outras investigações que permitam um levantamento histórico mais perene.
“A fortaleza e ermida da Snra da Rocha

A fortaleza de Sr.ª da Rocha (freguesia de Porches, concelho de Lagoa), distante 3 Kms de Armação de Pêra para ocidente, situada no centro de um pequeno e estreito promontório do barlavento algarvio é bastante antiga. Há quem afirme ser de origem bizantina, quando os exércitos de Império Romano do Oriente ocuparam o litoral do sul da Península Ibérica, incluíndo o território hoje chamado Algarve entre os anos 551 e 624 d.C. A Prof.ª Teresa Júdice Gamito, sobre o sistema defensivo bizantino no Algarve, escreve o seguinte: « Outro ponto de interesse a assinalar neste esquema defensivo entre Ossonoba [Faro] e Lacobriga [Lagos] seria o forte de Sr.ª da Rocha, ponta avançada e dominando toda a costa entre uma e outra cidade, onde aparecem vestígios de uma fortaleza, tendo tido ao centro uma torre octogonal posteriormente aproveitada para a capela da Sr.ª da Rocha, de grande devoção entre os pescadores. De assinalar um pequeno átrio com três arcos redondos, assentes em colunelos rematados com três capitéis de decoração fitomórfica, confirmando a origem bizantina do templo, tal como encontramos por exemplo em S. Pedro Balsemão, constituindo a forma característica das capelas designadas por «visigóticas» e dando este átrio o acesso à capela propriamente dita.» concluíndo «Parece-nos que, de facto, podemos detectar nas muralhas antigas da cidade de Faro e na capela da Sr.ª da Rocha a presença Bizantina no Algarve, não de um modo forte e imponente, pois o tempo disponível não foi muito, mas subtil, efectivo e funcional no reforço das suas defesas e dos pontos chave do território.» (GAMITO, 1996, p. 263).

A descrição mais antiga conhecida da fortaleza de Sr.ª da Rocha é redigido pela mão de Henrique Fernandes Sarrão na obra História do Reino do Algarve escrita por volta de 1600, onde observa: «[...] E mea légua de Porches o Velho, para a parte austral, está ua inexpugnável fortaleza, que tem dentro ua igreja, que se chama Nossa Senhora de Porches, ou da Rocha, em ua ponta de rocha muito alta, e pela banda do norte, que é da terra, na entrada, tem um muro, que a atravessa, e fica a ponta no mar, com a sua ponte levadiça, em que tem sua cava, e está bem artelhada, e dentro tem ua cisterna de boa água. Nesta fortaleza há capitão e condestable.» (SARRÃO, [imp.] 1983, p. 157). Actualmente a fortaleza de Sr.ª da Rocha já não existe, havendo apenas o fosso e restos de muralha. A ermida que estava no seu interior está totalmente conservada, bem como uma casa anexa que muito possivelmente servira de armazém ou de aquartelamento para a guarnição da fortaleza.
Bibliografia:
.
GAMITO, Teresa Júdice (1996) - As muralhas de Faro e os vestígios bizantinos da ocupação da cidade e do seu sistema defensivo in Miscellanea em Homenagem ao Professor Bairão Oleiro. Lisboa: Edições Colibri
.
SARRÃO, Henrique Fernandes (1983) - História do Reino do Algarve in Duas Descrições do Algarve do Século XVI, apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora “
Por Rui Manuel C. Prudêncio
“Armação de Pêra (1577 - 1886): notas históricas
Armação de Pêra, conhecida estância de veraneio, alberga nas férias de Verão milhares de pessoas de todo o país à procura do sol, da praia e das águas tépidas do oceano. É também um exemplo flagrante do desordenamento urbanístico que assolou extensas áreas do Algarve desde a década de 60 do século passado.
Tal como outros centros urbanos do litoral algarvio, Armação de Pêra desenvolveu-se a partir de uma pequena comunidade piscatória, cuja primeira referência escrita conhecida remonta a 1577 na obra Corografia do Reino do Algarve, de Fr. João de São José que ao descrever a aldeia de Pêra observa o seguinte: «Pera é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar. [...]. Faz o mar defronte dela ua fermosa praia da banda do sul, na qual está ua armação de atuns que se chama a armação de Pera.» (S. JOSÉ, imp. 1983, p. 58). A existência de uma armação de pesca do atum perto de Pêra, na zona de costa hoje conhecida como baía de Pêra, para além de explicar a origem do nome da Armação de Pêra actual, denota que já em 1577 existiria uma pequena comunidade de pescadores sazonalmente ou permanentemente fixada neste território
Quando por ordem de Filipe II o engenheiro militar italiano Alexandre Massai percorreu a costa do Algarve em 1621 no âmbito de uma viagem de inspecção das infraestruturas defensivas, encontrou no termo da vila de Albufeira « [...] duas Armassois de Atuns mais álem das ásima dittas q se dizem hua dellas pedra de gúale, a otra pera, e a gente e os barquos dellas no tenpo de necessidade se vão âo emparo desta V.ª e portanto digo serem neçess.ºs os mosquettes E a sobreditta Artelharia, estas dittas Armassois ja forão roubadas E saquiadas por falta de defenção, E com perda da faz.da de Sua mag.de [...]» (GUEDES, 1988, p. 115). A comunidade piscatória de Armação de Pêra, não obstante as ameaças dos corsários magrebinos que saqueavam as armações de pesca, parece ter continuado entre 1577 e 1621, ou até se reforçado, visto Alexandre Massai mencionar mais uma armação de pesca na baía de Pêra em 1621 (Pedra da Galé) que Fr. João de São José em 1577 não referencia. Não é possível aferir se a presença piscatória em Armação de Pêra estaria somente restrita à época de pesca do atum (Abril a Agosto), ou se permaneceria no local durante o resto do ano, dedicando-se a outros tipos de pesca. Por factores demográficos, económicos ou por ambos, construiu-se uma pequena fortaleza em 1667, que com a sua guarnição militar reforçou a presença humana em Armação de Pêra.

Planta da fortaleza de Santo António de Pêra (Armação de Pêra) desenhada pelo Tenente Coronel Engenheiro José Sande de Vasconcelos entre 1784 e 1790 e publicada no Mappa da configuração de todas as praças fortalezas e baterias do Reyno do Algarve ordenado para ser prezente ao Principe Nosso Senhor pello Conde d' Val d' Reys Governador e Cappitam General do mesmo Reyno. (CALLIXTO, Carlos Pereira - Apontamentos para a História das Fortificações do Reino do Algarve: o mapa das fortificações do Algarve desenhado por José Sande de Vasconcelos in Anais do Município de Faro, n.º XII (1982))
Aquando do maremoto de 1755, morreram 84 pessoas em Armação de Pêra, tendo ficado de pé apenas uma casa (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290). O estudioso das pescas em Portugal, Constantino Botelho de Lacerda Lobo, na Memória sobre o estado das pescarias do Algarve no ano de 1790, escreve sobre Pêra de Santo António (termo que designava Armação de Pêra na época): «Compõe-se esta povoação de um ajuntamento de cabanas de pescadores que vivem perto do mar em uma praia arreenta; confina do nascente com uma alagoa formada por águas vertentes das colinas vizinhas: ao norte com uma aldeia chamada Pêra de Cima [sendo Armação de Pêra também conhecida como Pêra de Baixo] [...].
Contavam-se no ano de 1790 cento e cinquenta pescadores, os quais trabalham na armação do atum o tempo competente desta pescaria, depois na de diversos peixes do mar com os covãos, nos lugares pedregosos da costa: findas as pescarias feitas com estes aparelhos, gastam o resto do ano em arrastar as xávegas para terra. [...].
Em o ano de 1790 havia oito barcos, de que somente faziam uso para a pescaria daquela costa, em cada um dos quais iam oito ou dez pescadores, e os outros costumam ficar em terra para arrastar os aparelhos.
[...] tem tido aumento a pescaria nesta costa; porque no ano de 1790 contavam-se oito barcos, quando em outro tempo somente havia quatro. Também tinha crescido o número dos pescadores, e xávegas.» (LOBO, 1991 [2ª ed.], p. 82, 83). Segundo o registo deste académico, Armação de Pêra recuperou rapidamente da devastação que sofreu com o maremoto de 1755.
João Baptista da Silva Lopes descreveu em 1841 Armação de Pêra com estas palavras: « Hoje terá hum terço da povoação da outra aldeia [daquela destruída em 1755], composta de pescadores e gente que se emprega no mar; os quaes tem para as suas pescarias 5 lanchas e 4 artes: a mais dominante he a das sardinhas no tempo da passagem, [...] poucos annos ha, ainda era formada só de cabanas, hoje tem boas casas e algumas ricas. [...] Os moradores, fóra da temporada da sardinha, apanhão com os covãos e anzol algum peixe que vendem em fresco; são hum pouco desmazelados, e não se afastão da costa; dão-se a alguns trabalhos do campo, e as mulheres empregão-se em obras de palma. De verão concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.» (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290, 291) Este testemunho contém alguns dados interessantes. Entre 1790 e 1841 Armação de Pêra passa de um agrupamento de cabanas para uma aldeia de casas de alvenaria, facto que pode indiciar um aumento do poder económico dos seus habitantes e a consequente subida da qualidade de vida. Também nestes 50 anos, deixou-se de pescar o atum como ocorria em 1577, 1621 e 1790. Por fim, em 1841, Armação de Pêra já se prefigurava como um destino balnear «pois concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.»

Em 1885/86 A. A. Baldaque da Silva, no levantamento efectuado sobre o estado das pescas em Portugal, contabiliza em Armação de Pêra 27 embarcações e 176 pescadores. A espécie de maior rendimento económico é a sardinha (7 665$940 réis em 1885 e 6 068$920 réis em 1886), capturada principalmente através das artes de arrastar (xávegas). Regista ainda a existência de uma fábrica de conserva de peixe e a reactivação da armação do atum da Pedra da Galé, cujo pescado dava entrada em Armação de Pêra. Acrescenta Baldaque da Silva que «Alem das pessoas indicadas no mappa antecedente, ha mais um certo numero, não pequeno, de homens e mulheres e menores, que coadjuvam o arrastamento das artes, a conducção da pescaria e muitos outros trabalhos inherentes a esta industria.» (SILVA, 1891, p. 152). Estes números indicam que a comunidade piscatória armacenence reforçou-se demográficamente ao longo de oitocentos, chegando a ter uma vertente industrial com a fábrica de conserva de peixe.
Bibliografia:
LOBO, Constantino Botelho de Lacerda (1991) - Memória sobre o estado das pescarias da costa do Algarve no ano de 1790 in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa: 1789 - 1815, [2.ª ed.]. Lisboa: Banco de Portugal, tomo V
.
LOPES, João Baptista da Silva (1989) - Corografia ou memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve, [2.ª ed.]. Faro: Algarve em Foco Editora, vol. 1
.
GUEDES, Lívio da Costa (1988) - Aspectos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII: a «Descripção» de Alexandre Massaii (1621), pref. de Carlos Bessa. Lisboa: Arquivo Histórico Militar
.
SÃO JOSÉ, Fr. João de (imp. 1983) - Corografia do Reino do Algarve dividida em quatro livros (1577), apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e de Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora
.
SILVA, António Artur Baldaque da (1891) - Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional “
Por Rui Manuel C. Prudêncio
http://blog-de-historia.blogspot.com/search/label/Armação de Pêra.
Um sobre a fortaleza e ermida da Senhora da Rocha, cuja origem tão remota nos surpreendeu (entre 551 e 624 d.c.), e outro sobre Armação de Pêra que nos surpreendeu igualmente pelo resultado trágico para a aldeia em que importou o maremoto de 1755, o qual se saldou, em vida humanas, em 84 mortes, tendo ficado uma única casa de pé.
Pela sua importância e raridade, mas também pelas fontes enumeradas, não resistimos a transcrevê-los integralmente, na expectativa de que os elementos constantes dos textos possam motivar outras investigações que permitam um levantamento histórico mais perene.
“A fortaleza e ermida da Snra da Rocha
A fortaleza de Sr.ª da Rocha (freguesia de Porches, concelho de Lagoa), distante 3 Kms de Armação de Pêra para ocidente, situada no centro de um pequeno e estreito promontório do barlavento algarvio é bastante antiga. Há quem afirme ser de origem bizantina, quando os exércitos de Império Romano do Oriente ocuparam o litoral do sul da Península Ibérica, incluíndo o território hoje chamado Algarve entre os anos 551 e 624 d.C. A Prof.ª Teresa Júdice Gamito, sobre o sistema defensivo bizantino no Algarve, escreve o seguinte: « Outro ponto de interesse a assinalar neste esquema defensivo entre Ossonoba [Faro] e Lacobriga [Lagos] seria o forte de Sr.ª da Rocha, ponta avançada e dominando toda a costa entre uma e outra cidade, onde aparecem vestígios de uma fortaleza, tendo tido ao centro uma torre octogonal posteriormente aproveitada para a capela da Sr.ª da Rocha, de grande devoção entre os pescadores. De assinalar um pequeno átrio com três arcos redondos, assentes em colunelos rematados com três capitéis de decoração fitomórfica, confirmando a origem bizantina do templo, tal como encontramos por exemplo em S. Pedro Balsemão, constituindo a forma característica das capelas designadas por «visigóticas» e dando este átrio o acesso à capela propriamente dita.» concluíndo «Parece-nos que, de facto, podemos detectar nas muralhas antigas da cidade de Faro e na capela da Sr.ª da Rocha a presença Bizantina no Algarve, não de um modo forte e imponente, pois o tempo disponível não foi muito, mas subtil, efectivo e funcional no reforço das suas defesas e dos pontos chave do território.» (GAMITO, 1996, p. 263).
A descrição mais antiga conhecida da fortaleza de Sr.ª da Rocha é redigido pela mão de Henrique Fernandes Sarrão na obra História do Reino do Algarve escrita por volta de 1600, onde observa: «[...] E mea légua de Porches o Velho, para a parte austral, está ua inexpugnável fortaleza, que tem dentro ua igreja, que se chama Nossa Senhora de Porches, ou da Rocha, em ua ponta de rocha muito alta, e pela banda do norte, que é da terra, na entrada, tem um muro, que a atravessa, e fica a ponta no mar, com a sua ponte levadiça, em que tem sua cava, e está bem artelhada, e dentro tem ua cisterna de boa água. Nesta fortaleza há capitão e condestable.» (SARRÃO, [imp.] 1983, p. 157). Actualmente a fortaleza de Sr.ª da Rocha já não existe, havendo apenas o fosso e restos de muralha. A ermida que estava no seu interior está totalmente conservada, bem como uma casa anexa que muito possivelmente servira de armazém ou de aquartelamento para a guarnição da fortaleza.
Bibliografia:
.
GAMITO, Teresa Júdice (1996) - As muralhas de Faro e os vestígios bizantinos da ocupação da cidade e do seu sistema defensivo in Miscellanea em Homenagem ao Professor Bairão Oleiro. Lisboa: Edições Colibri
.
SARRÃO, Henrique Fernandes (1983) - História do Reino do Algarve in Duas Descrições do Algarve do Século XVI, apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora “
Por Rui Manuel C. Prudêncio
“Armação de Pêra (1577 - 1886): notas históricas
Armação de Pêra, conhecida estância de veraneio, alberga nas férias de Verão milhares de pessoas de todo o país à procura do sol, da praia e das águas tépidas do oceano. É também um exemplo flagrante do desordenamento urbanístico que assolou extensas áreas do Algarve desde a década de 60 do século passado.
Tal como outros centros urbanos do litoral algarvio, Armação de Pêra desenvolveu-se a partir de uma pequena comunidade piscatória, cuja primeira referência escrita conhecida remonta a 1577 na obra Corografia do Reino do Algarve, de Fr. João de São José que ao descrever a aldeia de Pêra observa o seguinte: «Pera é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar. [...]. Faz o mar defronte dela ua fermosa praia da banda do sul, na qual está ua armação de atuns que se chama a armação de Pera.» (S. JOSÉ, imp. 1983, p. 58). A existência de uma armação de pesca do atum perto de Pêra, na zona de costa hoje conhecida como baía de Pêra, para além de explicar a origem do nome da Armação de Pêra actual, denota que já em 1577 existiria uma pequena comunidade de pescadores sazonalmente ou permanentemente fixada neste território
Quando por ordem de Filipe II o engenheiro militar italiano Alexandre Massai percorreu a costa do Algarve em 1621 no âmbito de uma viagem de inspecção das infraestruturas defensivas, encontrou no termo da vila de Albufeira « [...] duas Armassois de Atuns mais álem das ásima dittas q se dizem hua dellas pedra de gúale, a otra pera, e a gente e os barquos dellas no tenpo de necessidade se vão âo emparo desta V.ª e portanto digo serem neçess.ºs os mosquettes E a sobreditta Artelharia, estas dittas Armassois ja forão roubadas E saquiadas por falta de defenção, E com perda da faz.da de Sua mag.de [...]» (GUEDES, 1988, p. 115). A comunidade piscatória de Armação de Pêra, não obstante as ameaças dos corsários magrebinos que saqueavam as armações de pesca, parece ter continuado entre 1577 e 1621, ou até se reforçado, visto Alexandre Massai mencionar mais uma armação de pesca na baía de Pêra em 1621 (Pedra da Galé) que Fr. João de São José em 1577 não referencia. Não é possível aferir se a presença piscatória em Armação de Pêra estaria somente restrita à época de pesca do atum (Abril a Agosto), ou se permaneceria no local durante o resto do ano, dedicando-se a outros tipos de pesca. Por factores demográficos, económicos ou por ambos, construiu-se uma pequena fortaleza em 1667, que com a sua guarnição militar reforçou a presença humana em Armação de Pêra.

Planta da fortaleza de Santo António de Pêra (Armação de Pêra) desenhada pelo Tenente Coronel Engenheiro José Sande de Vasconcelos entre 1784 e 1790 e publicada no Mappa da configuração de todas as praças fortalezas e baterias do Reyno do Algarve ordenado para ser prezente ao Principe Nosso Senhor pello Conde d' Val d' Reys Governador e Cappitam General do mesmo Reyno. (CALLIXTO, Carlos Pereira - Apontamentos para a História das Fortificações do Reino do Algarve: o mapa das fortificações do Algarve desenhado por José Sande de Vasconcelos in Anais do Município de Faro, n.º XII (1982))
Aquando do maremoto de 1755, morreram 84 pessoas em Armação de Pêra, tendo ficado de pé apenas uma casa (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290). O estudioso das pescas em Portugal, Constantino Botelho de Lacerda Lobo, na Memória sobre o estado das pescarias do Algarve no ano de 1790, escreve sobre Pêra de Santo António (termo que designava Armação de Pêra na época): «Compõe-se esta povoação de um ajuntamento de cabanas de pescadores que vivem perto do mar em uma praia arreenta; confina do nascente com uma alagoa formada por águas vertentes das colinas vizinhas: ao norte com uma aldeia chamada Pêra de Cima [sendo Armação de Pêra também conhecida como Pêra de Baixo] [...].
Contavam-se no ano de 1790 cento e cinquenta pescadores, os quais trabalham na armação do atum o tempo competente desta pescaria, depois na de diversos peixes do mar com os covãos, nos lugares pedregosos da costa: findas as pescarias feitas com estes aparelhos, gastam o resto do ano em arrastar as xávegas para terra. [...].
Em o ano de 1790 havia oito barcos, de que somente faziam uso para a pescaria daquela costa, em cada um dos quais iam oito ou dez pescadores, e os outros costumam ficar em terra para arrastar os aparelhos.
[...] tem tido aumento a pescaria nesta costa; porque no ano de 1790 contavam-se oito barcos, quando em outro tempo somente havia quatro. Também tinha crescido o número dos pescadores, e xávegas.» (LOBO, 1991 [2ª ed.], p. 82, 83). Segundo o registo deste académico, Armação de Pêra recuperou rapidamente da devastação que sofreu com o maremoto de 1755.
João Baptista da Silva Lopes descreveu em 1841 Armação de Pêra com estas palavras: « Hoje terá hum terço da povoação da outra aldeia [daquela destruída em 1755], composta de pescadores e gente que se emprega no mar; os quaes tem para as suas pescarias 5 lanchas e 4 artes: a mais dominante he a das sardinhas no tempo da passagem, [...] poucos annos ha, ainda era formada só de cabanas, hoje tem boas casas e algumas ricas. [...] Os moradores, fóra da temporada da sardinha, apanhão com os covãos e anzol algum peixe que vendem em fresco; são hum pouco desmazelados, e não se afastão da costa; dão-se a alguns trabalhos do campo, e as mulheres empregão-se em obras de palma. De verão concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.» (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290, 291) Este testemunho contém alguns dados interessantes. Entre 1790 e 1841 Armação de Pêra passa de um agrupamento de cabanas para uma aldeia de casas de alvenaria, facto que pode indiciar um aumento do poder económico dos seus habitantes e a consequente subida da qualidade de vida. Também nestes 50 anos, deixou-se de pescar o atum como ocorria em 1577, 1621 e 1790. Por fim, em 1841, Armação de Pêra já se prefigurava como um destino balnear «pois concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.»

Em 1885/86 A. A. Baldaque da Silva, no levantamento efectuado sobre o estado das pescas em Portugal, contabiliza em Armação de Pêra 27 embarcações e 176 pescadores. A espécie de maior rendimento económico é a sardinha (7 665$940 réis em 1885 e 6 068$920 réis em 1886), capturada principalmente através das artes de arrastar (xávegas). Regista ainda a existência de uma fábrica de conserva de peixe e a reactivação da armação do atum da Pedra da Galé, cujo pescado dava entrada em Armação de Pêra. Acrescenta Baldaque da Silva que «Alem das pessoas indicadas no mappa antecedente, ha mais um certo numero, não pequeno, de homens e mulheres e menores, que coadjuvam o arrastamento das artes, a conducção da pescaria e muitos outros trabalhos inherentes a esta industria.» (SILVA, 1891, p. 152). Estes números indicam que a comunidade piscatória armacenence reforçou-se demográficamente ao longo de oitocentos, chegando a ter uma vertente industrial com a fábrica de conserva de peixe.
Bibliografia:
LOBO, Constantino Botelho de Lacerda (1991) - Memória sobre o estado das pescarias da costa do Algarve no ano de 1790 in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa: 1789 - 1815, [2.ª ed.]. Lisboa: Banco de Portugal, tomo V
.
LOPES, João Baptista da Silva (1989) - Corografia ou memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve, [2.ª ed.]. Faro: Algarve em Foco Editora, vol. 1
.
GUEDES, Lívio da Costa (1988) - Aspectos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII: a «Descripção» de Alexandre Massaii (1621), pref. de Carlos Bessa. Lisboa: Arquivo Histórico Militar
.
SÃO JOSÉ, Fr. João de (imp. 1983) - Corografia do Reino do Algarve dividida em quatro livros (1577), apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e de Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora
.
SILVA, António Artur Baldaque da (1891) - Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional “
Por Rui Manuel C. Prudêncio
Etiquetas:
história,
Maremoto 1755,
Património
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
sábado, 8 de agosto de 2009
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
O QUE ISABEL SOARES NÃO SABE!!!!
Se Isabel Soares se preocupasse realmente com Armação de Pêra:
O caos que se verifica na circulação de viaturas em Armação de Pêra não existia.
Mas ela deve desconhecer que a maioria dos acidentes mortais acontecem no interior das cidades e que as vitimas são jovens e idosos.
Que o estacionamento em fila dupla pode provocar acidentes e uma rua bloqueada durante 10 minutos provoca um engarrafamento monstruoso.
Ela não sabe que a causa principal da poluição do ar em Armação se deve à circulação automóvel.
Ela desconhece que o estacionamento de viaturas em cima dos passeios além de dificultar a circulação dos peões, especialmente aqueles que tem mobilidade reduzida, pode provocar roturas na rede de distribuição de água, sendo locais preferenciais de infiltração de água, e que a reparação dos pavimentos danificados é onerosa...
Se o dinheiro dos contribuintes fosse bem aplicado, seria possível fazer muito melhor!
Deixasse a Sr.ª Presidente de gastar o dinheiro dos contribuintes em festarolas cujo único objectivo é a caça ao voto,
fosse o nosso dinheiro investido na elaboração de um plano de mobilidade para Armação de Pêra, e num plano eficiente de informação a destinado a quem nos visita, com indicação das vias de circulação e locais de estacionamento e certamente não se observaria o caos actual.
Deprimente é a negligência da nossa Presidenta!
Masoquismo, será elegê-la de novo!
O caos que se verifica na circulação de viaturas em Armação de Pêra não existia.
Mas ela deve desconhecer que a maioria dos acidentes mortais acontecem no interior das cidades e que as vitimas são jovens e idosos.
Que o estacionamento em fila dupla pode provocar acidentes e uma rua bloqueada durante 10 minutos provoca um engarrafamento monstruoso.
Ela não sabe que a causa principal da poluição do ar em Armação se deve à circulação automóvel.
Ela desconhece que o estacionamento de viaturas em cima dos passeios além de dificultar a circulação dos peões, especialmente aqueles que tem mobilidade reduzida, pode provocar roturas na rede de distribuição de água, sendo locais preferenciais de infiltração de água, e que a reparação dos pavimentos danificados é onerosa...
Se o dinheiro dos contribuintes fosse bem aplicado, seria possível fazer muito melhor!
Deixasse a Sr.ª Presidente de gastar o dinheiro dos contribuintes em festarolas cujo único objectivo é a caça ao voto,
fosse o nosso dinheiro investido na elaboração de um plano de mobilidade para Armação de Pêra, e num plano eficiente de informação a destinado a quem nos visita, com indicação das vias de circulação e locais de estacionamento e certamente não se observaria o caos actual.
Deprimente é a negligência da nossa Presidenta!
Masoquismo, será elegê-la de novo!
Etiquetas:
isabel soares,
politica municipal
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
“Nenhum partido fez o diagnóstico sério do país”
Em entrevista ao Diário Económico, António Barreto dá-lhes pela medida grossa:
..."Quando a crise económica e financeira rebentou, os países mais afectados criaram pacotes de emergência para salvar as economias, os bancos e as empresas. Nos senados e nos parlamentos, Governos e oposição discutiram exaustivamente como canalizar as ajudas financeiras e que empresas nacionalizar."
"Em Portugal não chegou a haver um debate sério sobre o pacote de medidas" e na Assembleia da República "houve berraria pegada, de manhã à noite". A comparação é feita por António Barreto e ilustra aquilo que para o sociólogo é a falta de respeito que os deputados portugueses têm pelo Parlamento e pelos cidadãos que os elegeram.
..."Quando a crise económica e financeira rebentou, os países mais afectados criaram pacotes de emergência para salvar as economias, os bancos e as empresas. Nos senados e nos parlamentos, Governos e oposição discutiram exaustivamente como canalizar as ajudas financeiras e que empresas nacionalizar."
"Em Portugal não chegou a haver um debate sério sobre o pacote de medidas" e na Assembleia da República "houve berraria pegada, de manhã à noite". A comparação é feita por António Barreto e ilustra aquilo que para o sociólogo é a falta de respeito que os deputados portugueses têm pelo Parlamento e pelos cidadãos que os elegeram.
Etiquetas:
António Barreto,
classe politica,
crise
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és, ou a triste familia politica de Isabel Soares...

Um estudo sobre a evolução da despesa do Estado em Portugal entre 1985 e 2009, da autoria do professor da Universidade de Columbia (Nova Iorque, Estados Unidos) Ricardo Reis concluiu que foram os governos de Durão Barroso, de Pedro Santana Lopes e de Cavaco Silva quem mais fez aumentar a despesa do Estado em Portugal e que foi o actual executivo de José Sócrates o único que a terá conseguido reduzir entre 2005 e 2008.
O ensaio "prova que, com o PSD no poder, a despesa cresce em média 0,35 do Produto Interno Bruto (PIB) por ano".
De acordo com a mesma fonte, o estudo permite também concluir que "o maior aumento da despesa registou-se com os governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, quando [a actual líder social-democrata] Manuela Ferreira Leite desempenhava as funções de ministra de Estado e das Finanças".
"O crescimento da despesa foi de 0,48 por cento na altura dos governos de Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes, seguindo-se os governos de Cavaco Silva com 0,32 por cento, de António Guterres com 0,31 por cento e de José Sócrates com apenas 0,14 por cento"
Fica agora provado que foi um Governo que teve a drª Manuela Ferreira Leite como ministra das Finanças que criou o maior monstro e o maior défice dos últimos 24 anos.

Se o ditado é verdadeiro e muitas vezes é, em politica é uma excelente bussola, que aponta sempre o Norte e nunca se engana...


Etiquetas:
más práticas,
politica nacional
domingo, 2 de agosto de 2009
ISABEL SOARES com "Armação no Coração"
Isabel Soares diz que tem Silves no coração!
De duas, uma: ou se refere a Silves, cidade,o mais provável, ou se refere ao concelho de Silves, o que faria qualquer candidato à presidência da Câmara do concelho!
Se se refere a Silves, concelho, do qual faz parte Armação de Pêra, de duas, uma. Ou Isabel Soares não tem coração, ou tendo-o, por se encontrar empedrenido, nele não cabe Armação de Pêra.
Facto é que a despesa realizada em Armação, é pouca e ainda assim malbaratada!
Se assim é, que razão teremos para a voltar a colocar num posto que lhe permite continuar a delapidar o orçamento do concelho, para o qual Armação, os Armacenenses e os investidores, são os principais contribuintes?
Etiquetas:
isabel soares,
más práticas,
politica municipal
sábado, 1 de agosto de 2009
Isabel Soares no seu melhor
Segundo o Diário Económico:
São cada vez menos os turistas que nos vêm visitar. Por falta de dinheiro, por causa da pandemia da gripe, ou simplesmente porque são ingleses e a libra está a valer cada vez menos.
O sector, já em desespero, está a promover uma verdadeira época de saldos nos hotéis, com alguns descontos a chegar aos 50%. Os números do INE também traduzem o vazio que se vive nalgumas praias do Algarve. As últimas estatísticas publicadas mostram que as dormidas nos estabelecimentos hoteleiros licenciados registaram uma quebra superior a 15%, o que se deveu, essencialmente, ao comportamento dos turistas que vêm de fora.
São números preocupantes para um sector que deveria ser cada vez mais uma aposta nacional. Se David Ricardo voltasse hoje a publicar a teoria das vantagens comparativas - em que usou o exemplo das trocas comerciais precisamente entre o Reino Unido e Portugal - não iria com certeza usar o vinho e os têxteis, mas sim o turismo onde temos uma vantagem relativa e absoluta. Ainda recentemente foi publicado um inquérito a 314 gestores em Portugal, no qual 63% considera que Turismo e Restauração é o sector com maior potencial na economia portuguesa, enquanto 42% diz que é o sector que tem o maior potencial de geração de emprego.
É neste sector que somos mais competitivos e, num mundo globalizado onde todos os países tentam vender aquilo que têm de melhor, Portugal terá de apostar cada vez mais no turismo, sobretudo pelo impacto que tem na nossa economia e no emprego. É preciso "vender" mais o país, "vender" mais o "Allgarve", criar mais linhas de crédito como aquela que foi anunciada na semana passada por Teixeira dos Santos, ensaiar novos modelos de gestão, novas formas de combater a sazonalidade e maior qualificação. Só com sol e praia não vamos lá.
Dizemos nós:
Com a superior interpretação do senso comum que lhe é caracteristica, Isabel Soares, adepta ferrenha do "Sol e Praia chega muito bem" vai-se encarregando muito bem de delapidar todo o potencial do concelho e mais concretamente do da praia de Armação de Pêra, como facilmente se deduz do pequeno filme que hoje trazemos a público.
O único consolo (que preferiamos não ter) é o de que a História, a lembrar-se dela, será, sem dúvida, pelas piores razões!
Etiquetas:
isabel soares,
más práticas,
politica municipal
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Piada que circula nos meios financeiros de Hong Kong
EM 1949 - A MAIORIA DOS INTELECTUAIS ACREDITAVA QUE O COMUNISMO SALVARIA A CHINA
EM 1969 - OS MESMOS INTELECTUAIS ACREDITAVAM QUE A CHINA (COM SUA REVOLUÇÃO CULTURAL) SALVARIA O COMUNISMO ( QUE, APÓS STALIN E A PRIMAVERA DE PRAGA, FINALMENTE COMEÇOU A SER DESACREDITADO COMO IDEOLOGIA)
EM 1979 - DENG XIAO PING PERCEBEU QUE SOMENTE O CAPITALISMO SALVARIA A CHINA
EM 2009 - O MUNDO INTEIRO ACREDITA QUE SOMENTE A CHINA PODE SALVAR O CAPITALISMO
EM 1969 - OS MESMOS INTELECTUAIS ACREDITAVAM QUE A CHINA (COM SUA REVOLUÇÃO CULTURAL) SALVARIA O COMUNISMO ( QUE, APÓS STALIN E A PRIMAVERA DE PRAGA, FINALMENTE COMEÇOU A SER DESACREDITADO COMO IDEOLOGIA)
EM 1979 - DENG XIAO PING PERCEBEU QUE SOMENTE O CAPITALISMO SALVARIA A CHINA
EM 2009 - O MUNDO INTEIRO ACREDITA QUE SOMENTE A CHINA PODE SALVAR O CAPITALISMO
domingo, 26 de julho de 2009
De SILVES para o mundo: Maria Keil

Esta senhora bonita é a nossa amiga Maria Keil, artista plástica.
Em 1941, via-se a si própria desta maneira.

Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933.
De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações, que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo.
Para esta “história”, no entanto, o que me interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano.

Estes pormenores das estações do “Intendente” (1966) e “Restauradores” (1959), são bons exemplos.

Parêntesis: Qualquer alteração na “Gare do Oriente” do Arq. Calatrava, ou nas Torres das Amoreiras, do Arq. Tomás Taveira, só a título de exemplo, têm de ser encomendadas ao arquitecto que as fez e mesmo assim, ele pode recusar-se a alterar a sua obra original. Se os donos da obra avançarem para a alteração sem o acordo do autor, podem ter por garantido um belo processo em tribunal, que acabará numa “salgada” indemnização ao autor.
Finalmente, a história! Recentemente a Metro de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc, várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas sem se dar ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos. Mais tarde, depois da obra irremediavelmente destruída, alguém se encarregaria de apresentar umas desculpas esfarrapadas e “compreender” a tristeza da artista.
A parte “realmente boa” desta (já longa) história é que ao contrário de quase todos os arquitectos, engenheiros, escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruída sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização.
Perguntam vocês “porquê, Samuel?” e eu tão aparvalhado como vós, “Porque na Metro de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma... exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!!
Este país, por vezes consegue ser “ainda mais extraordinário” do que é o seu costume!
Muito obrigado a Elisa Outeiro Braga, do Porto, autora do post.
In: lusofolia.blogspot.com
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Correio para:
Visite as Grutas

Património Natural