
Soubemos recentemente que a Senhora Presidente da Câmara Municipal de Silves, Dra Isabel Soares, lançou em Abril de 2006, o concurso público para a empreitada de reabilitação do edifício do Casino, importando o preço base do concurso em cerca de 400.000,00 €.
Não soubemos ainda é se a concessão da sua exploração foi atribuída e no caso positivo, a quem!
O que sabemos é que destinar o edifício do Casino a restaurante/ bar e gelataria, é asneira grossa e, ainda que a estória fique por aqui, o que já não será pouco, não deixa de merecer a nossa desaprovação expressa e veemente.
O que é que terá passado pela cabeça dos responsáveis para tomarem uma decisão singular desta natureza?
Como justificarão os tais responsáveis a redução deste espaço originalmente multidisciplinar, a um restaurante/bar e gelataria?
Como justificarão tais responsáveis o investimento público deste montante, no contexto orçamental conhecido, para uma exploração privada que certamente amortizará o investimento em muitos e longos anos?
Como justificarão os responsáveis tal investimento público na óptica da concorrência aberta que tal vocação constitui para os investidores privados da Vila, cuja oferta de serviços de idêntica natureza existe e em quantidade apreciável para a procura?
Gostaríamos de obter respostas a estas perguntas e sobretudo que as mesmas nos convencessem. Infelizmente, nem uma coisa nem outra irá suceder!
E não irá suceder porque não pode existir neste projecto, nem em qualquer das suas variantes sustentação lógica, económica e muito menos turística.
O antigo Casino, o mini-golf e outras despesas com o desenvolvimento urbano e lúdico da Vila à época (1958) foi um investimento público destinado a criar condições para a captação de turismo, aliando às condições naturais extraordinárias da Baía de Armação de Pêra, os equipamentos necessários a dar resposta a uma procura, então ainda incipiente, mas cujos fluxos essencialmente estrangeiros mas também nacionais se encontravam em evidente progressão, como viria a ficar demonstrado à exaustão nas décadas seguintes.
Desde logo o edifício do Casino foi preenchido com as instalações da Junta de Turismo, compostas de um “posto” de atendimento permanente ao turismo, em várias línguas, e uma sala de leitura, onde se encontravam diariamente jornais e outras publicações.
Por outro lado e contigua à sala de Leitura, encontrava-se uma sala de jogo, bem dimensionada para a época e procura.
Desenvolvia-se, na sala principal a zona de espectáculos, circundada por espaço destinado à restauração/bar, consoante a hora do dia, que era limitado integralmente por janelas que permitiam desfrutar de vistas amplas sobre o mar e a Baía.
A zona de espectáculos, composta por uma pista de dança e palco, mais frequentemente utilizada para a dança ao som de orquestra, recebeu artistas nacionais e alguns estrangeiros que ai actuaram.
Já nos anos sessenta, foi inaugurado um restaurante e “boite” de carácter mais intimista, igualmente debruçado sobre a praia através de extensas janelas que percorriam o seu perímetro a sul.
E todo o perímetro exterior a sul dispunha de uma zona de esplanada que o acompanhava, circundando o Casino, sobre a praia e o mar, culminando num agradável jardim fronteiro à baía e à Junta de Turismo, de dimensões generosas, proporcionalmente falando.
Por outro lado, para além das instalações técnicas necessárias aos fins que visava prosseguir, o Casino dispunha igualmente de instalações próprias para albergar dignamente os seus funcionários.
Na verdade, dados, o estádio de desenvolvimento económico do pais e o sub desenvolvimento do então lugar de Armação de Pêra, não se verificando uma movimentação da oferta de trabalhadores como nos tempos actuais, a mão de obra especializada para a restauração, não podendo ser contratada entre os autóctones, por falta de oferta, teve de ser contratada fora, razão pela qual o edifício foi concebido com essa valência.
Finalmente ainda foi o edifício apetrechado com estabelecimentos de tabacaria e cabeleireiro, que ainda hoje existem.
Dignas de realce ainda são a qualidade da sua arquitectura, a harmonia, a modernidade e a integração paisagística.
Atentas as necessidades da altura a obra teve uma dimensão de rasgo e deu conta das necessidades durante muitos anos.
Armação de Pêra, por acção de filhos seus, foi uma estância de veraneio moderna, capaz de satisfazer a procura sustentadamente durante quase duas décadas e pode ombrear com o que de melhor existia no país.
A obra de que o Casino é parte integrante foi concebida, planeada e executada, sem prejuízo da qualidade humana dos seus interpretes mas sobretudo atendendo às condições de que dispunham num contexto económico conhecido, por gente de grande sensibilidade, visão, ambição e empreendimento, de dimensão impar e pouco comum, então como, infelizmente, hoje.
A reabilitação do Casino poderia, por conseguinte constituir um bom ponto de partida para outra, de muito maior rasgo e dimensão que é a da reabilitação de Armação de Pêra.
Sabemos, no entanto, que esta reabilitação maior é uma obra para gigantes e que, para já, a autarquia só dispõe de pigmeus, mas poderia constituir um bom pretexto para alojar a esperança de que esta terra ainda vai melhorar…
Armação de Pêra não necessita de mais um restaurante/bar e gelataria e se algum dia necessitar, os investidores privados encarregar-se-ão de satisfazer a procura!
A autarquia não pode aplicar os dinheiros públicos, mesmo em bens públicos, para criar condições atractivas para a exploração privada de bens que não prossigam um interesse público.
A autarquia não pode aplicar os dinheiros públicos em empreendimentos cuja natureza não vise satisfazer uma necessidade evidente, ou, alternativamente, para criar condições para satisfazer necessidades importantes pela via da iniciativa privada, a qual em função da especificidade do empreendimento, não esteja particularmente motivada a fazê-lo, ou estando, não justifique o mesmo pelo retorno expectável a dimensão do seu investimento.
A autarquia não pode nem deve promover, com dinheiros públicos, a concorrência aos investidores privados de Armação, contribuintes líquidos para o orçamento concelhio, rarefazendo o mercado e o tecido empresarial da Vila, que mal sobrevive fora do Verão.
À falta de melhores ideias, o que só pode ter sido motivado por falta de um concurso de ideias, porque não reabilitar o projecto original do Casino?
-Porque um espaço de baile que hoje, revivalisticamente, entusiasma todo o Pais, não terá adesão em Armação?
-Porque um espaço de Leitura não tem simpatizantes e não constitui uma pedagogia para a população, a qual estatisticamente é uma das que lê menos na Europa?
- Porque um espaço mais intimista não tem interessados ou tem concorrência na Vila?
-Porque um espectáculo, sobretudo no Verão, mas não só, não tem espectadores?
-Porque um jardim, por existirem tantos, não vai ter usufrutuários?
-Porque a assistência ao turista não justifica qualquer investimento?
-Porque as soluções precárias encontradas para a utilidade do Casino como a Feira do Livro, não têm qualquer utilidade, justificação ou interesse e existem outros espaços onde podem prosseguir a sua oferta?
-Porque, no mesmo contexto, o mesmo se deve dizer da Galeria de Arte?
-Porque o Casino não representa para um Armacenense o mesmo que o Castelo representa para um Silvense?
Não podemos deixar de questionar directamente o poder autárquico, através da sua Presidente, quanto a meia dúzia de questões em contraponto com a acção dos pioneiros:
Que sensibilidade tem a autarquia para as nossas especificidades?
Que vocação ou competência tem para a gestão das mesmas?
Que visão tem a autarquia para a gestão turística da nossa Vila?
Que ambição prossegue a autarquia vocacionando o Casino para restaurante/bar/gelataria?
Que antevisão se augura com este investimento?
Que lição retirou da história dos pioneiros do desenvolvimento turístico de Armação?
Alguma vez ouviu falar disso?
Que faz a gestão autárquica aos dinheiros dos impostos gerados em Armação?
Será que, da lição do seu correlegionário Isaltino Morais, só aprendeu a fazer rotundas de concepção e execução técnicas duvidosas e fontanários?
Que dimensão tem afinal V.Exa, Senhora Presidente da Câmara de Silves?