O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 17 de agosto de 2025

Armação de Pêra: a vila das promessas eternas

Passaram doze anos desde que Armação de Pêra começou a ouvir falar em grandes projetos, investimentos estruturantes e planos de requalificação. Doze anos depois, os sonhos continuam a viver apenas no papel. O Plano e Orçamento de 2025 da Câmara Municipal de Silves é mais um capítulo nesta novela interminável: uma lista bonita de intenções, mas sem garantias reais de execução. Basta olhar com atenção. O Mercado Municipal? Mais um ano, mais um projeto. A Rua Bartolomeu Dias? Projeto. A Praça Velha? Projeto. A Praia dos Pescadores? Projeto. A Fortaleza? Projeto. Até a ampliação da escola básica fica reduzida… a um projeto. É o "ciclo infinito do papel", onde as obras nunca começam, mas as promessas renovam-se religiosamente todos os anos. Quando se fala de grandes investimentos, a sensação é a mesma: falta de convicção e risco de falhanço. A requalificação da Baixa de Armação de Pêra, avaliada em mais de 2 milhões de euros, será que vai mesmo sair do papel em 2025? E a Rua D. João II, com financiamento do PRR? Só parte da verba está definida, o resto empurrado para 2026. No terreno, não há sinais de obra. Será que vamos perder fundos por inércia? Mais grave ainda: a Unidade de Saúde. O orçamento prevê 452 mil euros, mas até agora não há um metro quadrado mexido. Como acreditar que, até ao final do ano, será possível executar o valor previsto? Este não é apenas um atraso administrativo; é um desrespeito pelos utentes, profissionais de saúde e famílias que todos os dias enfrentam dificuldades num equipamento ultrapassado. O padrão repete-se: prometer, projetar, adiar. A cada orçamento, Armação de Pêra vê-se retratada como prioridade, mas na realidade continua a ser tratada como periferia. É tempo de assumir a verdade: a vila não precisa de mais promessas coloridas em powerpoints nem de mais estudos em gavetas. Precisa de obras no terreno, prazos cumpridos e resultados visíveis. Se nada mudar, em 2037 estaremos, outra vez, a discutir o próximo "grande plano" para Armação de Pêra. E, até lá, a vila continuará refém de uma gestão que confunde propaganda com progresso.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

De bombeiro verbal a turista oficial

A 30 de agosto de 2024, um helicóptero de combate a incêndios cai no Douro, cinco militares da GNR perdem a vida e o país entra em choque. No meio da dor e do luto, o que faz o primeiro-ministro Luís Montenegro? Sobe a bordo de uma lancha, deixa-se fotografar em grande plano e oferece à opinião pública uma imagem que ficaria melhor num folheto turístico do que num momento de tragédia nacional. Um ano antes, Montenegro era o “bombeiro verbal” da política portuguesa. Na oposição, corria para o terreno, apontava o dedo a António Costa e exigia pedidos de desculpas pelo falhanço no combate aos fogos. Chamava à atenção para promessas não cumpridas, denunciava a “ineficácia” e fazia questão de se mostrar indignado, sobretudo quando havia câmaras a gravar. Agora, com a faixa de chefe do Governo bem colocada, o guião mudou. O discurso inflamado evaporou-se, a urgência transformou-se em agenda balnear e o antigo crítico feroz transformou-se no político do “depois logo se vê”. A época de incêndios chega e o país arde? Nada que não possa esperar umas férias no Algarve. Afinal, as eleições ainda estão longe e, como dizem alguns estrategas, “não vale a pena gastar capital político com pressas”. Este é o Montenegro 2.0: na oposição, herói das causas; no poder, adepto da espreguiçadeira. A diferença é que, antes, dizia que “não era como os outros”. Hoje, a única coisa que o distingue é ter aprendido depressa demais o manual da velha política: indignação para subir, inércia para governar. O problema é que, enquanto ele se bronzeia, há quem arrisque a vida no terreno. E esses não têm tempo para fotos.

A Epopeia da Árvore Imortal (e da Câmara em Câmera Lenta)

Se Aquiles teve sua guerra de Troia e Ulisses o seu périplo de 10 anos, Silves tem a sua própria epopeia: a remodelação da Av. Beira Mar e a resistente Árvore do Destino. Após meses de estudos intensivos envolvendo peritos, sub peritos, consultores e provavelmente um astrólogo para verificar o alinhamento planetário, a obra finalmente arrancou. Mas tal como uma telenovela de horário nobre, quando o enredo começa a aquecer… pausa dramática! Não sabemos se foi o calceteiro que entrou de férias para o hemisfério sul, se foi preciso mandar vir a pedra especial de uma pedreira guardada por monges tibetanos, ou se o responsável pela obra foi abduzido por extraterrestres e está, neste momento, a dar palestras sobre “Infraestruturas Sustentáveis” em Alfa Centauro. O que é certo é que a árvore permanece lá: altiva, serena, assistindo estoicamente ao desfile diário de fitas plásticas que tremulam ao vento, varetas tortas que se inclinam como torres de Pisa em miniatura e uma máquina que, de tão parada, já foi confundida com escultura urbana. Se esta situação se prolongar, não descartamos a hipótese de a árvore ser declarada Património Municipal, com direito a placa de inauguração e sessão fotográfica com a presidente da câmara, que, certamente, dirá: "Esta árvore representa a nossa resiliência, a nossa paciência e a nossa capacidade de esperar eternamente pelo que nunca vem." Talvez seja hora de avançarmos com a petição: “Salvem a Árvore, já que a obra não salva ninguém”. Afinal, heróis precisam de reconhecimento, e esta árvore já ultrapassou em resistência muito atleta olímpico.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A Crónica das Tampas Perdidas — Episódio II: O Regresso

Na semana passada, publicámos “A Odisseia da Tampa Partida — Uma Saga Silvense”, um épico moderno que conquistou os nossos leitores… e até o próprio município de Silves, que, segundo rumores, anda agora a preparar a candidatura deste enredo ao Património Imaterial da Humanidade. Pois bem, a saga ganhou continuação. Uma nossa assídua leitora enviou-nos uma fotografia fresquinha, captada no local do crime: a Rua Coronel Santos Gomes, em Armação de Pêra. E, caros leitores, o momento histórico aconteceu — estão a reparar a tampa! Sim, a mesma tampa que durante meses resistiu estoicamente, após múltiplas reclamações, inspeções cuidadosas e, claro, a indispensável consulta técnica à NASA. Mas calma: não é só uma, são duas tampas partidas a receber tratamento VIP. É um verdadeiro Festival Internacional de Obras! A grande questão que se impõe agora é: como vão sobreviver os moradores e transeuntes que já tinham desenvolvido reflexos olímpicos para contornar o obstáculo? Onde irão agora os mecânicos testar os amortecedores das viaturas com aquela precisão cirúrgica? Não se preocupem. Buracos e tampas partidas são recurso abundante na vila. O nosso turismo alternativo, à base de percursos acrobáticos e trilhos urbanos radicais, continua garantido. Os animadores culturais podem dormir descansados: roteiro não vai faltar. E assim segue a vida em Armação de Pera — entre o buraco e a música, ganha sempre a música.

Silves engorda, o resto do concelho sobrevive

No dia 26 de julho perguntámos: “Silves é o centro do mundo? E as restantes freguesias?”. Alguns acharam exagero. Agora, com o orçamento municipal de 2025 em mãos, a pergunta parece até suave. Dos quase dois milhões de euros destinados a atividades culturais, 88% — sim, oitenta e oito por cento! — vão direto para a cidade de Silves. São 1,7 milhões para encher a agenda com Festival de Teatro, Silves Urban Music, Jazz nas Adegas, Feira Medieval, Sunset Castele e por aí fora. Para Armação de Pêra e São Marcos da Serra? Migalhas: 1,35% para cada. O resto, uns 9,63%, reparte-se por todas as freguesias… e só para iluminações de Natal. Quando se faz a conta per capita, a desigualdade grita: Silves: 157,96 €/habitante São Marcos da Serra: 47,11 €/habitante Armação de Pêra: 4,40 €/habitante Messines: 3,24 €/habitante Algoz e Tunes: 3,86 €/habitante Alcantarilha e Pêra: 5,29 €/habitante A média concelhia é 50,86 €, mas Silves recebe mais do triplo dessa média e 36 vezes mais do que Armação de Pêra — freguesia que, ironicamente, é uma das que mais enche os cofres municipais com a sua economia e turismo. E isto sem contar com o exército de funcionários municipais mobilizado para montar, gerir e garantir o sucesso de todos esses eventos concentrados na sede do concelho. A desculpa do “Silves precisa de dinamismo cultural” é fraca. Silves já concentra quase todo o emprego público e estruturas administrativas. Dar-lhe também quase todo o orçamento cultural não é dinamizar — é sugar. Este orçamento não une o concelho — divide-o. Não redistribui oportunidades — aprofunda fossos. Não é política cultural — é favoritismo. Em 2025, ao invés de celebrarmos apenas laranjas e castelos, devíamos celebrar um concelho coeso, justo e equilibrado. Mas para isso era preciso vontade política de tratar todas as freguesias como parte do mesmo mapa. Porque cultura, quando serve só a alguns, não é cultura. É privilégio pago com o dinheiro de todos.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Em julho escrevi, neste mesmo espaço, sobre uma tragédia: uma mulher grávida que percorreu mais de três horas à procura de uma urgência que a recebesse. O bebé morreu. Não aconteceu no Algarve, mas podia. E avisei — não por dramatismo, mas por lucidez — que, com o estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde, voltaria a acontecer. Ontem, no Carregado, não houve morte. Houve “apenas” mais uma prova. Uma mulher de 28 anos, grávida de 40 semanas, começou a sentir contrações e pediu ajuda. Ligou-se para a linha SNS24, a pedir uma ambulância. A resposta? “Vá de carro, é melhor.” Ligou-se depois para o 112. A chamada demorou a ser atendida. Atenderam em inglês. A urgência não chegou. O parto aconteceu na rua. O que evitou que este caso se tornasse outra tragédia não foi o Estado, nem a resposta do sistema. Foi a coragem dos pais da jovem — que assistiram ao parto — e a sorte de haver, por acaso, uma enfermeira e um médico na vizinhança. Não foi competência. Foi acaso. Durante a gravidez, a mulher tinha pedido para ser acompanhada na Maternidade Alfredo da Costa. Pedido recusado. A médica, aflita, admitiu que não sabia para onde mandar as suas grávidas, com serviços fechados ou sobrelotados. No mesmo fim de semana, nove urgências de obstetrícia estiveram encerradas. Nove. E, perante isto, ouviremos novamente as frases ensaiadas: “os procedimentos foram cumpridos”, “a assistência foi adequada”, “o sistema respondeu dentro do possível”. Palavras que já não significam nada. Palavras que matam, porque escondem a realidade: o SNS, como garante universal de cuidados de saúde, está a falhar. Não se trata de um incidente isolado. Não é “azar”. É o retrato de um sistema que já não consegue assegurar o mínimo. Quando um bebé nasce na rua porque o Estado não consegue responder, o problema não é falta de sorte — é falta de responsabilidade. Continuo a acreditar no SNS. Mas um serviço público só sobrevive se cumprir a sua função mais básica: cuidar. E cuidar exige mais do que protocolos. Exige presença. Exige empatia. Exige que, no momento da urgência, alguém atenda — e atenda com a urgência que a vida merece. Quando governar se torna exercício de gestão de imagem, e não de proteção de vidas, o problema não é só político. É moral. É humano. E um país que normaliza bebés a nascerem na rua porque “não havia alternativa” está perigosamente perto de perder essa humanidade.

Armação de Pêra: promessas na maré e silêncios na areia

Introdução Em 2012, a aquisição de parte da praia de Armação de Pêra trouxe consigo um discurso ambicioso e aparentemente generoso. O novo proprietário prometeu entregar à autarquia a parte urbana do terreno, incluindo o edifício da lota, ceder a área de praia à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e disponibilizar 300 mil euros para a reabilitação do espaço. Uma década depois, o que vemos é um cenário bem diferente do imaginado — e muitas perguntas por responder. As promessas feitas À época, o compromisso soava como uma aliança rara entre interesses privados e o bem público. Preservar o património, garantir acesso livre e contribuir para a revitalização da zona eram palavras-chave que seduziram a população e deram legitimidade à operação. A realidade construída O prometido apoio de praia acabou por surgir, mas com outro rumo: transformou-se no restaurante Praia Dourada. A área circundante foi também valorizada — mas através de um parque de estacionamento privado. Já quanto à cedência do edifício da lota à autarquia e à entrega dos 300 mil euros destinados à reabilitação da envolvente, o silêncio domina. As informações públicas sobre o cumprimento dessas promessas são, no mínimo, escassas, quando não totalmente inexistentes. O vazio de esclarecimentos Este silêncio, tanto do proprietário como das entidades públicas envolvidas, tem alimentado dúvidas legítimas: as promessas foram realmente cumpridas? Ou a comunidade assistiu a um processo em que, no fim, o espaço público deu lugar a um negócio privado e a um estacionamento pago? O valor de uma palavra dada Num território onde o turismo e o negócio balnear são forças económicas dominantes, é ainda mais vital garantir que compromissos com o interesse público não se evaporam com o tempo. Quando promessas ficam por cumprir — ou simplesmente por explicar — perde-se não só espaço, mas também a confiança da comunidade. Conclusão O caso da praia de Armação de Pêra não pode ficar submerso na maré da indiferença. É responsabilidade das entidades públicas esclarecer de forma inequívoca o que foi feito, o que ficou por fazer e porquê. Porque o património natural e cultural não é apenas um cenário de verão: é um direito coletivo. E a palavra dada, quando não é cumprida, transforma-se em erosão — não da areia, mas da própria cidadania.

A Feira Medieval de Silves: sustentabilidade ou encenação feudal?

Ao percorrer o concelho de Silves, percebe-se facilmente que muitas das suas freguesias vivem à margem da atenção da Câmara Municipal. Ruas degradadas, serviços públicos escassos e oportunidades limitadas formam um quadro de abandono. Falta-lhes alguém que, à semelhança de um D. Paio Peres Correia moderno, promova uma “Conquista Final” — não de territórios, mas de direitos, dignidade e gestão transparente. É urgente libertar a cidade do que parece ser um regime feudal instalado há anos, onde poucos decidem e todos pagam. No meio deste cenário, a Feira Medieval de Silves surge como o evento mais mediático da cidade. Mas a questão é inevitável: será este evento verdadeiramente sustentável ou apenas um grande palco que serve os interesses de uma cidade em decadência, sobrevivendo por concentrar organismos públicos e pouco mais? Uma feira medieval sustentável deveria ser avaliada por critérios claros: reduzir impactos ambientais, gerar benefícios sociais para todas as freguesias e oferecer retorno económico real à comunidade. Isto significa, por exemplo, priorizar energias renováveis, gerir o consumo de água e materiais de forma responsável, incentivar o uso de transportes públicos para reduzir a pegada de carbono, e criar uma rede de parcerias com associações e empresas locais. Infelizmente, não é o que se verifica. Em termos ambientais, não há sinais de medidas concretas para reduzir impactos. No campo social, não se observa uma verdadeira integração das freguesias mais afastadas nem a promoção do diálogo com a comunidade. Economicamente, os números impressionam: só no orçamento municipal de 2025, estão previstos mais de 750 mil euros para a feira — sem contar com custos adicionais como pessoal do município, limpeza e logística, que somam milhares de euros. Ainda assim, grande parte dos serviços e produtos são contratados fora do concelho, desperdiçando oportunidades para a economia local. Após 19 edições, nunca foi apresentado um relatório detalhado de custos e benefícios. Sem contabilidade analítica, não há como saber se o investimento compensa ou se é apenas um luxo pago com dinheiro público. E, se este dinheiro é de todos, não pode ser utilizado como passarela política para autarcas em vésperas de eleições — tal como na Idade Média, quando senhores feudais desfilavam à custa do trabalho alheio. Silves merece mais do que um espetáculo anual que deixa poucas raízes. O verdadeiro progresso não se mede pela grandiosidade de um evento, mas pela capacidade de distribuir benefícios e oportunidades de forma justa, transparente e duradoura.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Mais Árvores, Mais Vida: Por que Armação de Pêra Precisa Urgentemente de Verde

Viver perto de árvores não é luxo, é qualidade de vida. Está comprovado que a arborização urbana melhora o microclima, reduzindo temperaturas entre 2ºC e 10ºC em comparação com áreas sem vegetação — algo cada vez mais relevante perante as ondas de calor cada vez mais frequentes. Mas os benefícios não param aí: espaços verdes contribuem para a saúde mental, promovem interações sociais, reduzem o risco de doenças cardiovasculares e aumentam a sensação de bem-estar. A realidade local Segundo o Inventário Municipal do Arvoredo em Meio Urbano, recentemente concluído pelo Município de Silves, a situação em Armação de Pêra é preocupante: apenas 1.760 árvores no meio urbano. Dessas, 81 apresentam condições inadequadas e 35 estão secas ou mortas. É muito pouco para a população e para as necessidades ambientais da vila. O que deveríamos ter O professor Cecil Konijnendijk, referência mundial em florestas urbanas, propôs a regra 3-30-300 para planeamento verde: 3 – Cada pessoa deve poder ver pelo menos três árvores a partir da janela de casa. 30 – Cada bairro deve ter pelo menos 30% de cobertura de copa das árvores. 300 – Ninguém deve morar a mais de 300 metros de um espaço verde de qualidade. Agora, pense: quantos moradores de Armação de Pêra veem três árvores pela janela? Qual bairro tem 30% de cobertura arbórea? Quantos quilómetros são necessários para chegar a um parque urbano digno desse nome? Uma questão de prioridade Mais de 40% do orçamento municipal vem de impostos diretos pagos pelos contribuintes. Não seria justo que parte desse valor fosse investido em melhorar a qualidade de vida dos residentes, através de mais áreas verdes e arborização das ruas? Árvores nas ruas não são meros enfeites: dão sombra, purificam o ar, reduzem o calor e tornam os espaços mais acolhedores. Em vez de reduzir, devemos aumentar os espaços verdes nos centros urbanos e arredores, de forma harmoniosa e integrada, para que vilas como Armação de Pêra sejam não apenas turísticas, mas também saudáveis para viver.

domingo, 10 de agosto de 2025

Fé e Devoção: Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes emociona Armação de Pêra

Na tarde deste domingo, as ruas de Armação de Pêra encheram-se de fé, cor e emoção com a tradicional procissão em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira dos pescadores e protetora dos que enfrentam o mar. A celebração teve início na Igreja Matriz, onde fiéis, famílias e visitantes se reuniram para a missa solene. Ao som de cânticos e preces, a imagem da Santa foi levada em andor, ricamente ornamentado com flores, percorrendo as ruas da vila num cortejo comovente. Pescadores, autoridades locais, associações culturais e religiosos seguiram lado a lado, num testemunho vivo da devoção que atravessa gerações. Ao longo do trajeto, moradores abriram portas e janelas, acenando em sinal de respeito e gratidão. Além de ser um momento de oração, a procissão também reafirmou a identidade marítima da comunidade, lembrando a importância da proteção divina para todos aqueles que vivem e trabalham ligados ao mar. O evento, marcado pela serenidade e pelo espírito comunitário, reforça a tradição secular que continua a unir Armação de Pêra em torno de sua fé e de sua história.

Entre a música e o mar: retrato de uma noite em Armação de Pêra

O som do sintetizador dos anos 80 descia pela areia como uma onda lenta, misturando-se ao cheiro salgado do mar. No palco, de costas para o Atlântico, DJ Nuno Silva alinhava músicas que pareciam tiradas de uma cassete esquecida no carro de um primo mais velho. Lá em baixo, corpos dançavam, cabeças abanavam, e o tempo, por instantes, parecia ter feito uma pausa. Mas nem todos estavam sintonizados no mesmo compasso. Sentado à sombra luminosa da barraca dos escuteiros, Bruno bebia uma jola morna e trocava palavras com o seu assessor de “marting” — uma espécie de conselheiro de esperanças políticas. Falavam baixo, mas o desalento era claro: a tal apoteose esperada para o dia 12 de outubro não dava sinais de querer acontecer. Os vídeos certinhos, com frases coladas como rótulos, não estavam a convencer. "Juntos conseguimos", dizia o slogan. Mas ali, o que a malta comentava era que Bruno conseguia, sim, encher as ruas… de lixo. E havia ainda um fantasma recente a pairar — o caso Vida D’Ouro — que deixava as conversas com um travo amargo. Afastei-me um pouco daquele reduto de queixas e encontrei lugar no muro da praia. Ao meu lado, um pescador com mãos de rede e pele de sal olhava o mar como quem lê um livro conhecido de cor. Disse-me que a sua juventude vinha das caminhadas noturnas, da casa ao minigolfe, e de nunca ter deixado de amanhar os aprestos. Os olhos dele brilharam ao falar das festas de antigamente: “As pessoas vinham de carroça, de charrete… até de todo o Algarve. Chegavam cedo, iam à praia, punham a melancia a refrescar na água. As barracas eram outras, rapariga. Tinha a dos tiros, a das setas… dava pra impressionar os amigos ou ganhar o olhar de uma catraia afoita.” Falou de gergelim, torrão de Alicante, polvo seco a estalar na brasa. E disse que, mesmo na areia, se ia de sapatos — emprestados ou apertados — porque dia de festa era dia de festa. Antes de me despedir, perguntei-lhe o que achava de Bruno. Sorriu de lado, sem largar o tom de quem já viu mais do que conta: “É um diabe de moçe pequeno… tem muito que aprender.” O DJ aumentou o volume. O mar, esse, continuava no seu próprio ritmo.

sábado, 9 de agosto de 2025

A Gestão da Água em Silves: Uma História de Desperdício

Quando publicámos nesta página o post “Um Negócio que Perde Metade da Mercadoria — A Água em Silves”, recebemos alguns comentários questionando a veracidade dos números apresentados. É importante esclarecer: os dados utilizados foram retirados de informação publicada pela ERSAR ou obtidos por extrapolação a partir dessa mesma fonte. Os documentos da ERSAR, que disponibilizámos, mostram de forma clara que a Câmara Municipal de Silves reprova na maioria dos indicadores avaliados. O quadro está repleto de bolas vermelhas e laranja — sinal inequívoco de que, em 12 anos de mandato, os resultados pouco ou nada evoluíram. Ter planos e projetos é essencial, mas mais importante ainda é ter a capacidade e competência para os implementar. Parece, contudo, que a responsável pelo pelouro prefere maquilhar os maus resultados com propaganda, como se gerir uma câmara fosse o mesmo que participar em desfiles da Feira Medieval de Silves. A água é um bem público, vital e escasso, que exige uma gestão responsável, estratégica e transparente. Em Silves, é urgente encontrar um novo rumo — ou corremos o risco de ver este recurso, e o futuro do concelho, a escoar-se pelas fissuras da má gestão. Se quiser, também posso preparar uma versão mais incisiva e politicamente assertiva, ou, ao contrário, uma versão mais diplomática, que mantenha a crítica mas evite ataques pessoais diretos.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Transparência à Deriva em Armação de Pêra: A Opacidade Não Pode Ser a Regra

Num tempo em que os cidadãos exigem cada vez mais responsabilidade e clareza por parte dos seus representantes, é profundamente preocupante constatar a falta de transparência na atuação da Junta de Freguesia de Armação de Pêra. Este não é apenas um problema técnico ou uma falha pontual na comunicação institucional — é um sinal alarmante de desrespeito pelos princípios básicos da democracia local. Desde 2022, os relatórios de prestação de contas deixaram de ser publicados no site oficial da junta. Este simples facto é revelador. A omissão deliberada ou negligente desses documentos compromete o direito fundamental dos cidadãos à informação e ao escrutínio. Se os munícipes não conseguem aceder a dados financeiros, como podem avaliar a gestão dos recursos públicos? Como podem confiar nos seus representantes? A situação agrava-se quando verificamos que as atas das reuniões do executivo também não estão disponíveis. Pior: apenas a ata de instalação da Assembleia de Freguesia, datada de 2021, está acessível ao público. Três anos de decisões, deliberações e ações políticas desapareceram na névoa da opacidade institucional. A transparência não pode ser um slogan vazio, repetido em campanhas eleitorais e depois ignorado durante os mandatos. Ela é um compromisso ético e legal. E quando a sua ausência coincide com resultados financeiros negativos — como foi o caso em 2023 e 2024, com prejuízos superiores a 10 mil euros num ano e 9 mil no seguinte — a preocupação transforma-se em indignação. Segundo a Lei das Finanças Locais, as juntas de freguesia estão obrigadas a respeitar o princípio do equilíbrio orçamental. A receita corrente deve cobrir, no mínimo, a despesa corrente. Quando isso não acontece, estamos perante uma violação clara da lei. E mais: será que foram realizadas despesas sem cabimento orçamental? Terão sido ultrapassadas as dotações previstas? Quem fiscalizou estes atos? Cabe à Assembleia de Freguesia, como órgão deliberativo, acompanhar e fiscalizar a atividade da Junta. Se não o fez de forma eficaz, também falhou na sua função. E se o fez, e nada foi corrigido, então há responsabilidades políticas e, possivelmente, financeiras a apurar. Mais do que números negativos, o que está em causa é o impacto direto nas vidas dos cidadãos. Com despesas de investimento representando menos de 5% do orçamento, fica a pergunta: em que está a ser gasto o dinheiro dos contribuintes? Onde estão os projetos que melhorem os espaços públicos, os serviços, a qualidade de vida dos armacenenses? A falta de investimento e a ausência de informação pública revelam um executivo encerrado em si mesmo, desconectado da população e, talvez, da legalidade. Os autarcas não podem esquecer que são responsáveis financeiramente pelos atos que prejudiquem o património público, sobretudo quando agem contra pareceres técnicos ou ignorando obrigações legais. Chegou a hora de exigir mais. Mais transparência, mais responsabilidade, mais respeito. A democracia local não pode ser feita à porta fechada, nem gerida como se os cidadãos fossem meros espectadores. Armação de Pêra merece uma governação à altura dos seus desafios — uma governação que sirva e não se sirva.

De Longe Se Ama. De Perto Se Luta.

Caro Vasco, Antes de mais, agradecemos mais uma vez a sua atenção e o tempo que dedica a ler e comentar os conteúdos desta página. É sempre gratificante perceber que, mesmo longe, há quem continue com Armação de Pêra no coração. Partilhamos consigo o apreço pela nossa terra e, claro, pela nossa praia — uma das mais belas do Algarve e com justa fama além-fronteiras. No entanto, como bem sabe, uma vila não vive só de praia. As pessoas que aqui habitam o ano inteiro — e aquelas que nos visitam — esperam (e merecem) condições básicas de salubridade, higiene urbana e bem-estar. A realidade, infelizmente, é outra. Em pleno 2025, ainda lidamos com problemas como lixo acumulado nas ruas, cheiros nauseabundos, pragas descontroladas buracos nos passeios e uma evidente falta de planeamento e resposta eficaz por parte das autoridades locais. Questões que, como referiu, noutros países — como aquele onde reside — há muito foram resolvidas de forma estrutural e duradoura. É justamente esse contraste que nos reforça a responsabilidade de continuar a intervir e a denunciar. Não por gosto da crítica gratuita ou por interesse partidário, mas por um compromisso cívico com a nossa terra. Quanto à sua suspeita de motivação eleitoral ou ligação partidária, esclarecemos com toda a franqueza: não conhecemos nenhum dos candidatos das próximas eleições. A nossa única "agenda" é a de sempre — dar visibilidade aos problemas que afetam Armação de Pêra e contribuir para uma vila melhor. E para isso, temos vindo a publicar com regularidade desde 2006, em anos de eleições e fora delas, sobre temas locais, concelhios e até nacionais. Compreendemos que estando longe, por vezes seja difícil captar toda a complexidade do que por cá se passa. Mas é também com contributos como o seu — vindos de quem tem uma perspetiva externa e comparativa — que conseguimos enriquecer a discussão pública. A crítica construtiva é sempre bem-vinda. Já a insinuação de ligações obscuras, preferimos responder com transparência: o único "patrocínio" que temos é o da nossa consciência cívica. Armação merece mais, e continuaremos a exigir mais. Obrigada, Cidadania

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Armação de Pêra e o Mistério das Gaivotas Incontroláveis

Em Armação de Pêra, uma freguesia costeira onde as gaivotas têm mais direitos que os residentes, decorreu há uns anos uma reunião histórica entre uma cidadã preocupada e o presidente da junta. Guida Baptista, frequentadora atenta desta página e observadora de excelência da fauna e da inércia política, levou ao senhor presidente uma inquietação grave: o descontrolo das gaivotas. A resposta? Um robusto e democrático "Não posso fazer nada!" (Aparentemente, o cargo de presidente da junta serve apenas para cortar fitas e fingir escutar.) Guida, munida de espírito cívico e paciência budista, perguntou então se pelo menos tinha havido algum contacto — mesmo um e-mailzinho — com as tais "outras entidades". Silêncio. O presidente, talvez em protesto silencioso, talvez por esquecimento permanente, nunca respondeu. A gestão local, segundo fontes próximas (e também distantes), é como as gaivotas: voa por cima dos problemas e larga excrementos administrativos em cima da população. Mas nem tudo está perdido! Em 2020, o tesoureiro da junta, Bruno — sim, o mesmo que agora sonha com a presidência — resolveu ser inovador: elaborou uma análise SWOT. A análise, para quem não sabe, é uma ferramenta de gestão usada para planear estratégias com base em pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças. Bruno, talvez inspirado por uma maratona de vídeos motivacionais no YouTube, lá preencheu o campo das “oportunidades” com entusiasmo. Já os “pontos fracos”, ficou para depois. E as ameaças? Esqueceu-se. Talvez porque não queria confrontar a realidade: a maior ameaça é ele próprio. Segundo especialistas em sátira política, Bruno estaria mais indicado para entrar no Big Brother, onde o talento para discursos vazios e apresentações em powerpoints brilhantes o levaria longe. Gerir uma freguesia, no entanto, exige mais do que ser apresentador de bailaricos e colador de cartazes. Enquanto isso, as gaivotas continuam a dominar os céus e as praças de Armação de Pêra. Talvez um dia, alguma entidade — talvez uma junta interplanetária — venha resolver a crise. Até lá, resta aos fregueses esperar… ou investir num chapéu de chuva reforçado.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Penélope Cruz e Javier Bardem regresan a Armação de Pêra: “Lost in the trash in a medieval city” promete ser um filme com cheiro a Água Brava

Logo que a Cidadania soube que Penélope Cruz e Javier Bardem podiam regressar a Armação de Pêra para rodar um novo filme, não houve hesitações: fizemos as malas, atirámos os carregadores de telemóvel para dentro de uma mochila e apanhámos o FlixBus mais próximo para Alcobendas. Foi uma viagem épica — quase um “Thelma & Louise” em versão intermunicipal — só possível graças aos nossos generosos patrocinadores: à FlixBus, que nos ofereceu os bilhetes, à Casa de Pasto Lima e à Sónia, que nos salvaram de uma hipoglicemia severa com Taparueres de carapaus fritos e arroz de tomate, à Charcutaria Tradição e à Adelaide, que nos encheram a mala com pães alentejanos e chouriça, à pastelaria Pé de Açúcar (valha-nos o Paulo com os seus charutos de ovos) e, por fim, ao Camping Praia de Armação de Pêra, que nos emprestou uma tenda “caso a cosa corra mal en Madrid”. Chegados a Alcobendas, a receção foi calorosa: Penélope abriu-nos a porta de bata de seda, enquanto Javier aparecia atrás com um frasco de Água Brava na mão, “mi perfume de guerra”, explicou. E assim começou a entrevista. Cidadania: Porque escolheram Armação de Pêra para filmarem o novo projeto? Penélope: Eu e o Javier estivemos em Armação em 2018 e voltámos durante a pandemia. Da primeira vez, fomos jantar ao restaurante Praia Dourada. Muy bonito, sabes? Depois do jantar, queríamos um doce típico algarvio e um empregado indicou-nos uma loja no centro, acho que se chamava Campidoce. Lá comemos uma torta de amêndoa que… ¡madre mía!… ainda hoje sonho com ela. Javier: Mas o caminho do restaurante à pastelaria… horrible, fatal. Muito lixo, um cheiro a podre… parecia una bomba biológica. A Penélope teve que se encostar a mim e inspirar profundamente a minha Água Brava para não vomitar. Penélope: Quando surgiu a oportunidade de filmarmos o filme “Lost in the trash in a medieval city”, vino directo a nuestra mente… Armação de Pêra! O produtor falou com o Bruno da Junta de Freguesia e a Luísa Conduto do Ayuntamiento — gente muy simpática — e garantiram: “Podem filmar tranquilos, o lixo é nosso forte.” Cidadania: Então o lixo vai fazer parte do cenário? Javier: Claro que sí! É quase um personagem principal. Vamos ter cenas dramáticas com sacos do Continente a voar pela praia e diálogos intensos junto a um ecoponto cheio. Penélope: Eu tenho uma cena onde tropeço numa cadeira de praia partida, muy emocionante. Vai ser tipo “Cinema Paradiso”, mas com cheiro a sardinha e plásticos pelo chão. Cidadania: Como estão a preparar-se para voltar a Armação de Pêra? Penélope: Eu já pedi à minha mãe para mandar um stock de Fabuloso de lavanda para limparmos o terraço da casa que vamos alugar. Javier: E eu só pedi uma coisa à produção: um carregamento de Água Brava. Es esencial. Penélope: Queremos agradecer às pessoas de Armação, gente muy buena onda, e prometer que este filme vai mostrar o lado mais… como se diz…?… “pitoresco” da vila. Javier: E também queremos agradecer a vocês da Cidadania, que nos visitaram aqui em Madrid carregados de chouriça alentejana. Essa chouriça… Dios mío!… vai ganhar um Óscar honorário. Nota final: Esta reportagem só foi possível graças aos nossos patrocinadores da Cidadania, que nos encheram o estômago, a mochila e a coragem para irmos a Madrid: FlixBus, à Sónia da Casa de Pasto Lima,à Adelaide da Charcutaria Tradição, à pastelaria Pé de Açúcar e ao Camping Praia de Armação de Pêra.

domingo, 3 de agosto de 2025

Após a análise do plano e orçamento da Câmara Municipal de Silves para 2025, há uma conclusão difícil de evitar: este é um orçamento pensado única e exclusivamente para as eleições de outubro. O executivo apresenta um aumento significativo nas receitas previstas, aparentemente para justificar uma série de promessas de investimento – a realizar, dizem, já no próximo ano. Mas há um dado que não podemos ignorar: nos últimos anos, a despesa de capital nunca ultrapassou os 13 milhões de euros, e em 2024 nem sequer chegou aos 10 milhões. Pergunta-se: será credível que, de repente, a câmara consiga mais do que duplicar a execução orçamental? Ou estaremos apenas perante um cenário construído para fins eleitorais? O próprio orçamento denuncia esta estratégia. A lista de ações e promessas é extensa, mas a maioria delas tem uma dotação simbólica – 10 euros – apenas para manter as iniciativas “em aberto” e criar a ilusão de um futuro investimento. Basta olhar para Armação de Pêra. Nos últimos 12 anos, o investimento municipal na vila foi residual, completamente desproporcional ao contributo que dá para o orçamento do município. Em mais de uma década de governação pela atual coligação, contam-se pelos dedos de uma mão – e ainda sobram dedos – os investimentos efetivamente realizados em Armação de Pêra através do orçamento municipal. Este é, portanto, um “orçamento dos amanhãs que cantam” – cheio de promessas, mas vazio de garantias de execução. O resultado? Doze anos perdidos para Armação de Pêra e para grande parte das freguesias do concelho de Silves, que continuam a ver o futuro adiado em nome de um presente eleitoralista.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Resíduos em Armação de Pêra: problema sem solução ou falta de vontade política?

Temos-nos debruçado diversas vezes sobre o tema dos resíduos nesta página. Já o fizemos de forma mais formal, outras vezes com algum sarcasmo — afinal, estamos no verão e até os problemas parecem pedir um tom mais descontraído. No entanto, a realidade das ruas de Armação de Pêra não permite grande humor: há lixo espalhado, contentores a transbordar e um odor desagradável que se torna inevitável para quem por ali passa. Pelos comentários dos leitores, ficou claro que existe consenso: há, de facto, um problema sério na gestão dos resíduos sólidos, não só em Armação de Pêra, mas em todo o concelho de Silves. Muitos justificam a situação com o aumento populacional que ocorre nesta época do ano — a vila praticamente quadruplica em habitantes. Será inevitável, então, que o lixo se acumule e que as ruas fiquem sujas? Outros cidadãos, porém, como Mário Nobre, ex-vogal da Junta de Freguesia de Armação de Pêra e atualmente deputado municipal, discordam dessa fatalidade. Nobre apresentou propostas concretas, quer na Assembleia de Freguesia, quer na Assembleia Municipal, para mitigar o problema que todos vemos diariamente. O que lhes aconteceu? Foram prontamente arquivadas, sem debate, sem abertura, sem qualquer tentativa de aproveitamento das ideias apresentadas. Infelizmente, parece ser essa a postura dos responsáveis executivos, tanto na Junta de Freguesia como na Câmara Municipal de Silves: ouvidos fechados às sugestões da oposição e dos próprios munícipes. Fechados nos gabinetes — ou ocupados noutras profissões —, estes autarcas só parecem lembrar-se das pessoas num momento muito específico: o dia da eleição. Armação de Pêra, é bom lembrar, é um contribuinte líquido para o orçamento da Câmara de Silves. A vila gera receitas, atrai turismo, cria riqueza para o concelho. Em troca, os moradores e visitantes esperam, no mínimo, serviços públicos eficientes e uma governação mais próxima e transparente. Ter ruas limpas e um sistema de recolha de resíduos eficaz não devia ser um luxo, mas sim uma obrigação. O verão pode justificar mais movimento, mas não justifica o abandono. Falta estratégia? Falta planeamento? Ou, simplesmente, falta vontade política?

A genialidade invisível: a solução final para o lixo em Armação de Pera

Há ideias boas, há ideias más… e depois há ideias tão geniais que só podem ter nascido numa reunião de “marting” às 9h da manhã, depois de um pequeno-almoço reforçado de bolas de Berlim e água das pedras. Conta-se que, em Armação de Pera, havia um problema: as papeleiras viviam num estado de abundância tal, que fariam inveja a qualquer depósito de reciclagem alemão. Sempre cheias, sempre a transbordar, sempre a dar à vila aquele charme pitoresco de aterro improvisado. Mas eis que os assessores de “marting” da junta de freguesia tiveram um momento eureka. — “Se as papeleiras estão sempre cheias… porque não acabamos com as papeleiras?” Silêncio. Depois, aplausos. Era a Mona Lisa da gestão urbana, o Nobel da limpeza, a descoberta do fogo versão 2.0. Segundo fontes próximas da reunião, houve até quem sugerisse um slogan para a campanha: “Sem papeleiras, sem problemas!” Afinal, a lógica é irrefutável: se não há papeleiras, não há papeleiras cheias. E se não há papeleiras cheias, Armação de Pera deixa de ter “má imagem”. Um raciocínio digno de Sócrates (o filósofo, não o outro). A vila já se prepara para a nova fase de “urbanismo minimalista”: ruas limpas porque, oficialmente, não há sítio para estarem sujas. O lixo? Ora, o lixo não conta. Sem papeleiras, o lixo é invisível — tal como os buracos no Orçamento de Estado. E a ideia não vai parar aqui. Há rumores de que o próximo passo será retirar os bancos de jardim para acabar com a ocupação de espaços públicos, e quem sabe… demolir as casas para acabar com a crise da habitação. Armação de Pera entra assim no mapa mundial da inovação. Primeiro vieram os smartphones, depois os carros elétricos… agora, a solução definitiva para o lixo: fazer de conta que ele não existe.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Silves, o lixo e a verdade que não se varre para debaixo do tapete

No passado dia 29 de julho de 2025, publicámos aqui na nossa página o artigo “Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”, onde analisámos a gestão dos resíduos sólidos no concelho de Silves e apontámos falhas graves que continuam a manchar a imagem do município – e, pior ainda, a afetar a qualidade de vida de quem cá vive e de quem nos visita. Entretanto, recebemos uma mensagem privada de um leitor que questiona as críticas feitas no nosso artigo. O leitor, que optou pelo anonimato, diz que as nossas afirmações “não são verdadeiras” e defende que a atual presidente, Dr.ª Rosa Palma, e a vereadora com o pelouro dos resíduos, Eng.ª Luísa Conduto, salvaram Silves de uma “desgraça” deixada pela direita após 16 anos de governação. Alega ainda que foram compradas novas viaturas de recolha de lixo e contratados mais trabalhadores, o que, na sua visão, mudou radicalmente o cenário. 📄 Nós respondemos com factos – e fazemos isso publicamente. Hoje, partilhamos aqui o relatório oficial da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos) sobre o município de Silves. O documento não é nosso, não é de “oposição” e não é “opinião”: é uma avaliação técnica e independente. E o que diz o relatório? 👉 Diz que as “bolas vermelhas” (os indicadores negativos) são mais do que muitas. 👉 Diz que, se um antigo comentador televisivo atribuísse uma nota, dificilmente Silves passaria de um 5 em 20. Perante isto, deixamos uma pergunta que o relatório não responde, mas que todos em Armação de Pêra e nas freguesias vizinhas sentem na pele: ❓ Se tanto foi feito, porque é que as ruas continuam atulhadas em lixo, verão após verão? 🌊 Armação de Pêra é uma montra do concelho. No entanto, todos os anos, turistas e residentes deparam-se com contentores a transbordar, sacos acumulados, mau cheiro e imagens que não dignificam Silves nem o Algarve. 📢 Criticar não é atacar. Criticar é exigir melhor. Publicamos este relatório da ERSAR para que os silvenses possam ver com os próprios olhos – e para que a discussão sobre os resíduos deixe de ser uma guerra de narrativas e passe a ser um debate sério, baseado em evidências. Porque, no fim do dia, o lixo não mente.

terça-feira, 29 de julho de 2025

“Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”

Fala-se muito de sustentabilidade, de economia circular, de reduzir, reutilizar e reciclar. Mas basta andar pelas ruas do concelho de Silves para perceber que o discurso ainda não saiu do papel. O último Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP) foi claro: o concelho de Silves chumbou em todos os indicadores de resíduos sólidos urbanos avaliados pela ERSAR. Surpresa? Para quem cá vive, nenhuma. A verdade é que nos últimos três mandatos nada mudou. O lixo acumula-se, os contentores raramente são lavados, os maus odores e pragas já fazem parte do “cenário urbano”. E o pior: o tempo está a contar. Até 2030, a forma de cobrança dos serviços de resíduos vai mudar. A tarifa deixará de estar escondida na fatura da água e passará a ser calculada com base no lixo que cada um produz. O chamado sistema PAYT (Pay-As-You-Throw) não é opcional. Vai ser obrigatório — e Silves terá de o implementar. E aqui levanta-se a pergunta que nenhum candidato à autarquia parece querer responder: quanto vamos pagar? Porque é inegável que a tarifa vai subir. E muito. Mas não é só uma questão de dinheiro. É uma questão de política pública e de planeamento. Se nada for feito, vamos continuar a enterrar resíduos em aterros, a desperdiçar recursos, a acumular lixo nas ruas. O Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) é claro: temos metas até 2030 para recolha seletiva de biorresíduos, redução do que vai para aterro, aumento das taxas de reciclagem. Só que tudo isto depende de algo que, até agora, parece faltar: envolvimento das populações. Não adianta ter novos sistemas de recolha seletiva se os cidadãos não forem informados, motivados e fiscalizados. E não adianta pedir às pessoas que separem corretamente o lixo se os contentores continuam sujos, malcheirosos e a atrair pragas. A higiene e a lavagem regular dos contentores são um serviço básico, mas, em Silves, continuam a ser tratados como luxo. Se o município não acordar, se os candidatos não apresentarem planos claros — e se nós, cidadãos, não exigirmos resultados —, em 2030 não estaremos a falar de metas cumpridas, mas sim de tarifas altas, ruas sujas e mais promessas por cumprir.

“Quem Precisa de Toldo Quando se Tem Promessas?”

Há coisas em falta que quase ninguém nota. Um quadro na parede, uma tampa de esgoto, a paciência para ouvir discursos de campanha. Mas um toldo no parque infantil? Esse, meus caros, até as crianças percebem que faz falta. Desde que retiraram o dito cujo — há meses, sublinhe-se, porque na administração pública o tempo é uma entidade mística — os miúdos e os pais ficaram entregues à torreira do sol, como se estivessem a participar num reality show: “Quem derreter primeiro perde!” Dizem as más línguas que alguém na Câmara de Silves ou na Junta de Freguesia decidiu que o toldo já tinha cumprido o seu papel. Talvez porque não têm filhos nem netos. Ou, quem sabe, porque só passam pelo parque à noite, quando vêm de blazer engomado para se mostrar nos espetáculos em ano de eleições. O mais irónico? Se olhassem bem durante a noite perceberiam que o parque está tão mal iluminado que mais vale levar uma lanterna de campismo. Mas luz, sombra ou conforto para as pessoas? Isso não entra no cartaz eleitoral. Enquanto isso, as crianças continuam a brincar ao sol, os avós procuram sombra como nómadas no deserto e o tal toldo — que faria tanta falta — tornou-se uma lenda urbana.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Habitação Municipal em Silves: Um retrato de abandono

Falar de habitação municipal no concelho de Silves é, infelizmente, falar de um problema estrutural, de décadas de inação e de falta de visão. A maior parte do parque habitacional municipal foi construída entre as décadas de 70 e 90 do século passado, maioritariamente na cidade de Silves. Desde então, pouco ou nada foi feito para expandir, requalificar ou sequer manter o que existe. Os números são gritantes: a habitação municipal representa apenas 0,3% do número total de alojamentos do concelho. Num país em que o parque habitacional público não chega sequer aos 2% — já de si um número embaraçoso, quando comparado com a média europeia de 9% segundo dados da Eurostat — Silves consegue fazer ainda pior. 0,3%… não sabemos se é para rir ou para chorar. Grande parte dos imóveis municipais está degradada, resultado de anos de ausência de manutenção. Mas o caso mais flagrante é o de Armação de Pêra, a freguesia com maior pressão habitacional do concelho. Aqui, o parque habitacional municipal resume-se a… um único imóvel. Sim, leu bem: um. Uma casa de função, atribuída a um funcionário municipal em regime de comodato. Enquanto isso, Armação de Pêra é precisamente o local onde predomina o residente arrendatário, que enfrenta preços cada vez mais incomportáveis. Pagamos impostos como os demais, mas recebemos zero em investimento nesta área crucial. Não há plano de expansão, não há construção de novas habitações públicas, não há reabilitação consistente do que existe. E este cenário não é fruto do acaso: são 12 anos de inação com a gestão de Rosa Palma, somados a 12 anos de Isabel Soares. Um quarto de século a ver passar os comboios, enquanto os problemas se acumulam. A habitação é um direito constitucional, mas em Silves tornou-se um privilégio inacessível. Chegou a hora de exigir mais do poder local e de colocar a habitação pública no centro das prioridades — porque continuar neste caminho é condenar o concelho a perder população, vitalidade e dignidade.

domingo, 27 de julho de 2025

A Matemática e os Cantoneiros: Uma Equação por Resolver

Em 16 de julho, quando foram divulgados os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais, um número sobressaiu como um ponto vermelho num quadro branco: 42% dos alunos chumbaram a Matemática. A média caiu de 12,1 para 10,5 – e parece que o conceito de “regra de três simples” já é mais ficção científica do que realidade. Ora, vem isto a propósito de uma pergunta aparentemente banal, mas que fez soar os sinos cá na vila: — “Quantos cantoneiros são necessários para manter a freguesia limpa?” Foi perguntado ao tesoureiro da Junta, homem de fala mansa e discurso polido, que logo respondeu: — “Mais.” Sim, mais. Mas quantos mais? A partir daqui, a conversa descambou: — “Ó senhor tesoureiro, e se fizéssemos as contas? Quantos quilómetros de estrada temos, quantos metros cada cantoneiro varre por hora, e pronto: uma conta de multiplicar e dividir.” O homem coçou a cabeça, olhou para o assessor de Marting (sim, com “n”, porque “Marketing” parece palavra difícil de soletrar) e atirou: — “Matemática é complicado. Nós cá trabalhamos é com sensações.” O assessor, de blazer apertado e cara de quem fez um workshop de três horas em “Branding Territorial”, reforçou: — “Bruno, não complique. Diga só que está tudo ‘em curso’ e use palavras fortes: reforçamos o compromisso com as pessoas, juntos conseguimos, resiliência, compromisso!” Enquanto isso, lá continuam 10 cantoneiros, heróis anónimos, a varrer as ruas com vassouras gastas, porque os equipamentos da Junta estão encostados no parque de estacionamento. Avançam rumores de que uma das máquinas até foi usada como suporte de roupa do carnaval, mas nada foi confirmado. E pensar que o avô de um dos moradores o “Recatreca” fazia contas com pipas de vinho: — “Se com 3 pipas de vinho dava para 15 homens, quantas pipas preciso para regar a festa de Nossa Senhora dos Navegantes toda?” Pois, parece que antigamente a Matemática tinha aplicação prática. Hoje, a aplicação é outra: — “Se 42% dos alunos não sabem fazer contas, quantos políticos vamos ter daqui a 20 anos que ainda não sabem responder quantos cantoneiros precisamos?” A Junta continua a responder que “está a fazer o melhor que pode”. O problema é que esse “melhor” não envolve operações de soma, subtração ou divisão. No fim, resta a pergunta que devia estar no exame nacional do próximo ano: “Se a vila tem 50 quilómetros de estrada, um cantoneiro varre 5 km por dia, e temos 10 cantoneiros, quantos dias serão precisos para varrer tudo? (Mostre o raciocínio, sem ajuda do assessor de Marting.)”

sábado, 26 de julho de 2025

Silves é o centro do mundo? E as restantes freguesias?

No passado dia 21 de dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Silves anunciou, no seu site oficial, a aprovação do Orçamento Municipal e das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2025. Entre os muitos tópicos apresentados, destacou-se a programação cultural para o próximo ano – uma agenda rica, variada e, como o comunicado sublinha, de “qualidade”. Eventos como a Mostra da Laranja, a Feira Medieval de Silves, o Jazz nas Adegas, o Silves Urban Music e as comemorações do 25 de abril são apontados como exemplos do dinamismo cultural do concelho. Contudo, há uma questão que não pode ser ignorada: quase todos estes eventos acontecem exclusivamente na cidade de Silves. Será que as restantes freguesias não merecem igual atenção? Será que Armação de Pêra, Alcantarilha, Pêra, São Bartolomeu de Messines, São Marcos da Serra e as outras localidades do concelho não têm direito a uma programação cultural própria, adequada à sua identidade e à sua população? Em plena época natalícia, a aprovação do orçamento parece ter sido uma verdadeira “prenda de Natal” oferecida à cidade de Silves. Mas e os munícipes das outras freguesias? Não pagam os mesmos impostos? Armação de Pêra, por exemplo, é uma das freguesias que mais receita gera para o concelho – não deveria, no mínimo, receber uma fatia mais visível do investimento cultural? Esta centralização levanta uma reflexão inevitável: os atuais eleitos estão a governar para todo o concelho ou apenas para a sede do município? E, mais importante, será que os eleitores de Armação de Pêra (e das restantes freguesias) ainda confiam que a sua voz é ouvida? Cultura não deve ser privilégio de uma cidade. Cultura deve ser partilhada, descentralizada e inclusiva. Porque um concelho só é verdadeiramente forte quando todas as suas freguesias sentem que fazem parte dele.

Sonho Urbano à Beira-Mar: O delírio noturno de José Casimiro

José Casimiro sentou-se, como tantas noites de verão, na esplanada do café Frente ao Mar, no Largo da Igreja. Pediu o seu café expresso — curto, para não adulterar a noite — e um Dom Rodrigo, que olhava para ele do prato como um pequeno tesouro açucarado. À sua frente, o Jonathan, entertainer de rua, preparava-se para mais uma atuação. A coluna Bluetooth ganhou vida e, entre turistas distraídos e moradores sonolentos, começou a soar Dunas, dos GNR. José Casimiro fechou os olhos ao beber o primeiro gole de café. E foi então que sonhou. 💭 O Sonho As freguesias de Armação de Pêra e Alcantarilha e Pêra tinham finalmente deixado de ser duas entidades separadas: uniram-se, formando um território de 55,41 km², com mais de 11 mil habitantes, um verdadeiro motor económico do concelho de Silves. No centro desta nova terra, a ribeira de Alcantarilha estava reabilitada. A água corria limpa, serena, e ligava o interior ao litoral como uma artéria azul. Ao longo dela, um passadiço pedonal transformara a paisagem — famílias passeavam ao entardecer, turistas tiravam selfies à luz da lua, e hashtags nasciam como flores: #NovaArmação, #PêraUnida, #DoRioAoMar. 🚋 O metro bus era a espinha dorsal do território. Não era só noturno, era uma linha regular, moderna, elétrica, que ligava as duas freguesias, cruzando o território com paragens bem pensadas. Da praia às escolas, do mercado ao interior, todos usavam o metro bus: moradores, turistas, estudantes, até os reformados iam ao café de Alcantarilha e voltavam em Armação como se nada fosse. 📈 Os números falavam por si: 14% da população tinha ensino superior, as indústrias criativas floresciam em antigos armazéns, os nómadas digitais trocavam Lisboa e Porto por este “novo território inteligente”. Havia coworkings com vista para a ribeira e até Nicole Kidman — sim, a própria — trocava a Comporta por uma vivenda algarvia, dizendo aos jornais: “Aqui encontrei o equilíbrio perfeito entre praia, pastéis de nata e internet rápida.” 🌱 Era um território sustentável, vibrante, jovem, com energia. Tudo parecia funcionar, tudo parecia fazer sentido. 📀 Mas então a música mudou. Jonathan, num salto inesperado, abandonou GNR e começou a entoar o hino hip-hop da moda: “Rap da Esperança (Ou Não!)”. O beat pesado ecoou pelo largo e fez José Casimiro abrir os olhos. ☕ O café estava frio. O Dom Rodrigo, reduzido a um monte de fios de ovos e açúcar. E a realidade caiu-lhe em cima como um balde de água gelada: os buracos nas calçadas, o lixo esquecido nas esquinas, os caixotes do lixo a transbordar no verão, a sensação de que quem devia gerir a freguesia andava a dormir em serviço. José Casimiro suspirou. O metro bus, a ribeira reabilitada, Nicole Kidman a beber bica no Largo — tudo isso era apenas um sonho de verão. Por agora, restava-lhe pagar o café, sacudir o açúcar do colo e pensar: “Talvez amanhã.”

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Praia de Armação de Pêra: quando a receita existe, mas a limpeza falha

Muito se tem discutido sobre o impacto das concessões balneares na Praia de Armação de Pêra. O artigo publicado pelo Terra Ruiva, intitulado “Na Praia de Armação de Pêra – Sobe o mar, falta areal e sobram concessões privadas e públicas”, trouxe à luz um dado relevante: a Junta de Freguesia lucrou, só em 2024, mais de 250 mil euros com a exploração das suas três concessões de praia. Um valor que representa quase um terço do seu orçamento anual. Não é, de todo, condenável que a Junta obtenha uma receita significativa a partir da exploração das suas concessões. Pelo contrário: uma gestão eficaz dos recursos públicos deve procurar receitas alternativas que aliviem o peso sobre os contribuintes. O problema, no entanto, não está na origem da verba, mas sim no destino (ou falta dele). Visitando a praia e áreas circundantes, é difícil não reparar na quantidade de resíduos acumulados: beatas, garrafas de vidro e plásticos diversos espalhados tanto na areia como nos acessos à praia. O cenário é preocupante e atenta contra a segurança, a higiene e a imagem turística da vila. Se a Junta consegue encaixar mais de 250 mil euros anuais com a exploração de toldos e estruturas balneares, por que motivo essa verba não está a ser canalizada para reforçar os serviços de limpeza urbana, reparar equipamentos avariados e garantir um espaço digno e seguro para os veraneantes? Sabe-se que há equipamentos de limpeza urbana avariados há anos, o que reduz drasticamente a eficácia do trabalho dos cantoneiros. Ao mesmo tempo, o lixo acumula-se nas ruas e nos acessos à praia, prejudicando não apenas a qualidade de vida dos residentes, mas também a reputação de Armação de Pêra enquanto destino turístico. Esta situação denuncia uma falta de visão estratégica e uma má gestão dos recursos disponíveis. Quando o orçamento existe, mas as prioridades estão desalinhadas com as necessidades da população e do espaço público, não estamos perante falta de meios, mas sim perante falta de vontade política. Se Armação de Pêra quer continuar a atrair visitantes e garantir qualidade de vida à sua população, é urgente que as receitas obtidas com as concessões balneares sejam reinvestidas na manutenção, limpeza e valorização do espaço público. Só assim se poderá justificar a exploração pública de concessões que, em teoria, deveriam beneficiar toda a comunidade.

Armação de Pêra: Quando Contribuir Não Garante Receber

Recentemente, fomos surpreendidos por um comentário “assanhado” — expressão que aqui adotamos com ironia — em resposta ao nosso post “Armação de Pêra Cresce, Mas Fica para Trás”. A reação partiu, ao que tudo indica, de um residente de Silves, incomodado com a crítica legítima que levantámos: a desproporcionalidade entre o que Armação de Pêra contribui em impostos e aquilo que recebe em investimentos por parte da Câmara Municipal de Silves. Não se trata de opinião vazia ou de bairrismo gratuito. Falamos de números, de factos e de justiça fiscal. Tomemos como exemplo o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). A arrecadação deste imposto em Armação de Pêra representa uma fatia expressiva da receita do concelho, mas os investimentos feitos na freguesia não acompanham essa realidade. O dinheiro entra, mas não volta — ou volta pouco, e mal distribuído. E o IMI é apenas uma parte da equação. Há também o Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT), cuja receita também cabe aos municípios. Este imposto incide sobre as transações de imóveis, e, novamente, Armação de Pêra revela-se uma das maiores contribuintes. Para contextualizar: embora a média de transações no concelho represente 3% do valor dos imóveis existentes, Armação de Pêra contribui com 4,6%, e Alcantarilha e Pêra com 3,8%. Onde estão, então, os investimentos proporcionais nestas freguesias? O exemplo mais gritante é o da urbanização Bay Line, em Armação de Pêra, com os seus 255 apartamentos. Só essa obra terá gerado mais de 9 milhões de euros em receita de IMT para o município de Silves. Um valor extraordinário, que deveria traduzir-se em melhorias visíveis para os moradores, comerciantes e visitantes da freguesia. Mas, até agora, Armação paga... e espera. Armação de Pêra não quer favores. Quer justiça. Quer que o retorno dos impostos que aqui se pagam se reflita em infraestrutura, equipamentos, requalificação urbana, serviços públicos eficientes e qualidade de vida. É legítimo que se questione o modelo de distribuição dos recursos municipais. Porque uma câmara que arrecada milhões à custa de certas freguesias não pode continuar a agir como se essas mesmas freguesias fossem um fardo, e não motores de crescimento económico. Silves não pode continuar a esquecer que Armação de Pêra não é apenas um destino turístico: é um polo habitacional, económico e social em plena expansão. E expansão sem investimento é como um corpo que cresce sem alimento. Inevitavelmente, adoece. O tempo de pagar sem ver retorno tem de acabar. Armação de Pêra merece — e exige — um Novo Rumo.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Entrevista Fictícia com Nicole Kidman: “Sorry, Armação de Pêra. It's not you, it's... actually, it is you.”

Cidadania: Nicole, estamos muito curiosos. Porque preferiu a Comporta a Armação de Pêra? Nicole (com ar diplomático): Oh... before tudo, desculpa meu português, ainda é muito... tourist level, you know? Mas vou tentar. I love Portugal, very muito. Eu tenho uma house in Lisbon — bairro calmo, people nice, and I love pastel de nata at 5pm. My dream was beach house, you know... feet in sand, wine in hand. Cidadania: E foi aí que surgiu Armação de Pêra? Nicole: Sim, sim! My manager show me photos — muito bonito! Praia, sol, and um senhor chamado Vivaldo Gonçalves que tira fotografias like Vogue but with fish. So I go. Cidadania: E como foi a visita? Nicole (olhando para os lados, como quem se certifica que ninguém de Armação está a ouvir): How do I say this nicely...? Look, I ate at Lobo do Mar — very good, muito good! A cataplana que... Jesus Christ, I cried. It was emotion or too much garlic, não sei. But then... I walk in the village. Oh my God. Cidadania: Oh? Nicole: Lixo no chão. Everywhere! Calçada looked like Tetris drunk edition. E havia... como se diz? The smell of sadness. Smell no bom. Like... fish funeral. Sorry! Cidadania: Sentiu-se insegura? Nicole: Not insegura… mas I thought, if I trip here, I end up in Madeira. The holes were deep. You could lose a tourist there for days. I saw a child disappear. Maybe he's still lá. Cidadania: E foi isso que a levou a escolher a Comporta? Nicole: Também. But final decision was insurance. My consultant, um tipo muito sério, he say: “Nicole, insurance for Armação? Not advisable. Too many risks. Olfactory trauma not covered.” So I say, “OK, let’s Comporta.” Cidadania: E como descreve a Comporta? Nicole: It’s like Ibiza had a baby with a design magazine. Tudo clean, people barefoot with expensive sunglasses, zero cheiro de peixe morto. Só cheiro a eucalyptus and money. Cidadania: Tem saudades de Armação? Nicole: Kind of. The cataplana haunts my dreams. Maybe one day I go back… with a hazmat suit and low expectations. Cidadania: Se pudesse deixar uma mensagem a Armação de Pêra? Nicole (pensativa): Don’t give up. Clean the floor. Fix the tiles. Hide the smell. And for God’s sake… hug Vivaldo, he’s doing his best.

"Cabaz Dourado": O novo luxo da dieta mediterrânica

O cabaz alimentar analisado pela DECO Proteste e pela SIC Notícias registou um novo recorde de preço, batendo os tambores da inflação com uma subida de quase 6 euros só neste mês. Comparado com janeiro, já lá vão 7 euros a mais — o equivalente a um frango com pernas de caviar ou duas batatas com certificado de autenticidade do Douro. O tomate e a batata, outrora humildes figurantes no prato português, subiram 25% desde 2022 e já se consideram produtos gourmet. Rumores indicam que o próximo Masterchef terá um episódio especial: “Como cozinhar uma batata sem hipoteca bancária.” Mas enquanto os especialistas debatem números e gráficos em estúdios com ar condicionado, nas ruas de Armação de Pera, a matemática é feita com sacos de compras e suspiros fundos. — Oh MiMi! Então não vais para casa? Já vais a caminho da praia com isso tudo? — perguntou a D. Teresa, ajeitando a alface murcha no saco de pano, ainda incrédula com o preço dos legumes. — Praia? Nem pensar, mulher! Vou ali à Ourivesaria Carvalheiro, ver se me aplicam este salmonete no fio que o meu neto me deu. — respondeu MiMi, erguendo com orgulho um peixe prateado como quem mostra uma joia rara. — Com os preços que estão no mercado, isto agora já vale mais do que ouro. — Ah! Então agora é isso... vai-se ao mercado comprar peixe e sai-se de lá com uma fortuna em proteínas! — riu-se a Teresa. — Parece que ir à ourivesaria sai mais barato do que vir ao mercado! — E sem fila! — acrescentou a MiMi, já a subir a rua. — Ali ao menos não tenho de discutir com a peixeira se é 18 euros o quilo ou 18 euros o exemplar. A indignação local cresce a par dos preços. Há quem diga que, se a tendência continuar, o próximo cabaz alimentar virá com código de barras em ouro e segurança privada. Em Armação de Pera, onde o calor aperta e o bolso esvazia, a sensação geral é clara: a inflação está mais salgada que a água do mar. "Já não se faz gaspacho, faz-se joalharia líquida!" — brinca um comerciante que prefere manter o anonimato, mas que admite ter guardado dois tomates no cofre da loja. A DECO ainda não comentou as aspirações artísticas do salmonete, mas fontes próximas da Ourivesaria Carvalheiro confirmam que já há encomendas para pendentes de lula e brincos de sardinha. Até lá, resta-nos escolher: jantar uma posta de pescada ou investir numa pequena barra de ouro em forma de courgette.

"Raízes do problema: a saga épica da árvore da Beira Mar (e da Câmara que a ignora)"

Na vibrante e movimentada Av. Beira Mar, frente ao imponente Casino, desenrola-se há meses uma epopeia moderna digna de Homero – com menos deuses do Olimpo e mais fitas plásticas. A protagonista? Uma árvore robusta e resiliente, que ousou... crescer. Em sua nobre missão de encontrar água e nutrientes, a árvore expandiu suas raízes de forma rebelde, erguendo o pavimento com a mesma determinação de um filme-catástrofe de domingo à tarde. O solo, é claro, colabora pouco: compacto, ingrato, impermeável e emocionalmente indisponível. Resultado? Uma calçada transformada em pista de obstáculos para atletas de parkour, idosos destemidos e carrinhos de bebé com suspensão off-road. Mas eis que surge a heroína improvável da trama: a solução provisória da Câmara Municipal de Silves. Em vez de intervenções sérias ou engenheiros, optou-se por algo mais artesanal – um cercadinho de fita plástica, preso com varetas de ferro tortas, provavelmente reaproveitadas de uma feira medieval. Um toque de design urbano ao estilo “faça você mesmo com materiais que sobraram do Natal”. E então, como num plot twist digno de telenovela, uma bobcat apareceu. Durante alguns dias, desfilou pela área como se estivesse a avaliar o terreno para uma nova série da Netflix. Mas como toda personagem misteriosa, desapareceu sem explicações. Alguns dizem que era só um holograma para acalmar os ânimos. Outros acham que foi colocada lá como decoração temática de verão: "Silves e as máquinas que não fazem nada". Afinal, a Câmara está à espera de quê? De que as raízes se inscrevam no orçamento participativo? De uma manifestação das árvores em frente aos Paços do Concelho com cartazes a dizer “Queremos espaço para respirar”? Ou de uma intervenção divina, talvez por parte de Santo Urbanístico, padroeiro das obras paradas? Urge lembrar que árvores em meio urbano não são vilãs, são aliadas – desde que tratadas com o respeito que merecem e com o planeamento que os cidadãos esperam. Há soluções técnicas, há conhecimento, há bons exemplos... só parece faltar vontade. E até lá, seguimos na Beira Mar, a tropeçar nas raízes do descaso.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Onde anda a GNR? Armação de Pêra vive dias de insegurança

Armação de Pêra está a ser alvo de uma onda de assaltos que tem deixado a população em estado de alerta e indignação. Em poucos dias, o mini mercado “Ú Cantinho da Telma” foi assaltado duas vezes, um apartamento na Rua D. Afonso III foi invadido, e até a ótica junto ao mercado municipal não escapou à ação dos criminosos. A revolta dos moradores é cada vez mais audível. As caras dos suspeitos são conhecidas por muitos na vila — e mesmo assim, as autoridades parecem continuar de braços cruzados. A GNR tarda em agir com eficácia e visibilidade, e a ausência de respostas concretas começa a levantar sérias questões sobre a presença e atuação das forças de segurança na freguesia. Enquanto isso, os responsáveis políticos locais — Junta de Freguesia e Câmara Municipal — parecem mais preocupados com a gestão da imagem do que com a proteção efetiva dos seus munícipes. O silêncio e a passividade dos autarcas perante estes acontecimentos agravam o sentimento de abandono e insegurança. Os armacenenses não querem promessas vagas nem discursos formais. Querem segurança, presença policial ativa e respostas firmes. Querem voltar a viver numa vila onde o comércio local não tenha de fechar portas por medo, onde os residentes possam dormir tranquilos e onde a criminalidade não se sinta à vontade para agir impunemente. É urgente que as autoridades — civis e policiais — deixem de assobiar para o lado. A segurança pública não pode ser uma miragem, nem um luxo reservado a outras localidades. Armação de Pêra exige ação. E merece respeito.

“Do Estrado à Chucha: Uma História de Mercado(s) e Migalhas”

Diz-se por aí que Lisboa tem o Terreiro do Paço, Paris tem o Marché de Rungis, e Armação de Pêra… bem, Armação tem os restos de Silves. Literalmente. Corria o ano de 1958, e um visionário lisboeta — o arquiteto Paulo Henrique de Carvalho Cunha — desceu até à costa algarvia, armado de régua, esquadro e um “Plano Geral de Arranjo Urbanístico”. Palavra chique essa: arranjo. Porque arranjo foi precisamente o que se fez — e que grande “arranjo”! — com o velho mercado de peixe de Silves. A necessidade de um mercado em Armação já vinha de longe. As vendedeiras equilibravam peixe e legumes sobre estrados nas ruas, entre gaivotas e veraneantes. Era, digamos… um modelo de mercado ao ar livre avant-garde. E o povo clamava: “Queremos um mercado de verdade!” A Câmara de Silves, magnânima como sempre, respondeu à chamada. Mas em vez de gastar um tostão na construção de um mercado digno, decidiu reciclar — que é muito moderno — e despachou para a vila praiana o material da antiga praça de peixe de Silves. E assim, no glorioso dia 26 de junho de 1960, pelas 17 horas (hora exata para quem quer tapar o sol com a peneira), inaugurava-se, com pompa e peixinhos, o mercado remendado. Em Silves: um mercado novo, fresquinho. Em Armação: o cabaz da reciclagem. Claro que aquilo não servia para as necessidades da população, nem para os veraneantes, que já nessa altura exigiam mais do que sardinha ao sol. Resultado? A rua em redor foi-se transformando numa extensão não-planeada do mercado, onde cada vendedor plantava a sua banca como quem planta couves. Foram precisos mais de 30 anos de pedidos, súplicas e promessas em papel timbrado até que, finalmente, em Abril de 1990 — ano glorioso para a democracia e para o bacalhau seco — surgiu o atual mercado. Bonito? Funcional? Talvez. Mas já velhinho, cansado, a ranger das pernas como um banquinho de três pés. E agora, mais de 35 anos depois, os armacenenses olham para Silves e veem obras, pavilhões, centros culturais. E olham para o mercado da vila… e veem a mesma estrutura de sempre, com cheiro a sardinha e nostalgia. Pedem modernização. Recebem promessas. Pagam impostos. Recebem chuchas. Enquanto isso, os autarcas de Silves devem rir-se discretamente, talvez entre uma alfarroba e um café na esplanada do mercado novo da sede de concelho. E Armação de Pêra? Armação continua à espera. À espera que um novo plano urbano traga mais que remendos — e talvez, quem sabe, um mercado onde as bancas não fiquem com os pés na rua e os fregueses de molho até aos tornozelos. Porque, sejamos honestos: reciclar é bom. Mas reciclar a dignidade de uma freguesia inteira? Isso sim, cheira a peixe.

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