O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 13 de março de 2011

CRIATURA E CRIADOR AMBOS À RASCA!

Poderá parecer estranho a alguns seguidores atentos deste sítio o facto de, até hoje, não nos termos pronunciado sobre a manifestação da geração à rasca.


A verdade é que temos estado à rasca para pegar no assunto com “cabeça, tronco e membros” tantas são as vertentes pelas quais se pode enfocar a questão!

Nesta enrascada decidimos alinhavar algumas conclusões, aquelas que conseguimos alcançar intuitivamente.


A impressão imediata é claramente entusiástica e profundamente positiva.


Esta iniciativa da sociedade civil, exemplo de participação e resistência cívica foi tão legitima quanto rara na sociedade portuguesa.



Os portugueses estão vivos, existem e o que têm a dizer não se esgota naquilo que expressam nas urnas.

Aliás, como é perfeitamente natural, compreensível e inerente aos verdadeiros titulares da soberania.


O que não é tão natural ou compreensível é esgotar-se a soberania do povo em autênticos contratos de adesão, os programas eleitorais que se apresentam a escrutínio, como se de um contrato de fornecimento de energia eléctrica se tratasse, que “encarregam” os seus representantes de pensar, decidir e agir por todos e cada um de nós. E no fim cobrar a sua factura, independentemente do resultado obtido, da fidelidade aos poderes concedidos e do zelo revelado pelos reais interesses dos seus mandantes.


Foi curioso também o “entusiasmo” tão moderado e algo distante de muitos “opinion makers”, alguns deles muito respeitáveis, os quais, contornando os ensinamentos aristotélicos, procuraram quase sempre a árvore e as suas especificidades sem abarcarem primeiro a floresta.


Convenhamos que desse modo tudo se torna mais fácil e económico para os “opinion makers”, para a classe politica e, naturalmente, para a saúde do “sistema”.

Teríamos preferido uma visão de helicóptero, para enxergar o todo antes de se debruçarem sobre as partes.

Mas, a primeira conclusão vai desde logo para os partidos onde pretensamente se encontram acantonados todos os cidadãos, as suas vontades e expectativas, reduzindo, tal como se apresentam, toda a realidade a um tabuleiro de xadrez.


Duvidamos que os partidos, sistematicamente admoestados com os níveis da abstenção sem que alterem o que quer que seja nos seus modelos de acção, integração, organização e vocação, desta vez tenham compreendido a lição!


Aliás, sem qualquer pudor, tentaram "abarbatar-se" da iniciativa "colando-se" à mesma, porém sem sucesso! (O caso de Joana Amaral Dias tentando falar no palanque e imediatamente vaiada e apeada, é paradigmático disso mesmo!Mas também da natureza apartidária, se não mesmo contra-partidária, da iniciativa).


O mesmo se passa quanto alguns representantes das elites intelectuais que foram capazes de apontar o irrealismo ou a falta de estruturação de muitas reivindicações expressas ao longo das muitas entrevistas aos participantes, sem que se veja ou tenha visto por parte daqueles que poderão “trocar por miúdos” as envolventes técnicas das grandes questões nacionais, permitindo-lhes a sua maior apreensão pela comunidade, qualquer contributo militante de relevo tendente a dar maior consistência e estruturação à resistência civil, quedando-se habitualmente pelos meros passeios da vaidade do seu pretenso conhecimento diferenciador.


No entanto esta foi uma lição: A sociedade civil autêntica é uma realidade que é anterior aos partidos, existe, sente, move-se e lembrou a todos que está presente e indignada!


Pena é que muitos dos seus filhos, não percebendo que são genuína e naturalmente seus instrumentos a pretendam instrumentalizar, como a criatura que, sem sucesso, se sobrepõe ao criador.


Em qualquer caso, o que é facto é que quer a criatura (personificada pela classe politica) quer o criador (o todo da sociedade civil) estão ambos à rasca! Aquela dado o "atrevimento" da sociedade civil que se manifesta fora do tabuleiro do xadrez que criou e onde a enliou, esta porque, quer por via da crise, quer por boa parte das causas da mesma, está a lidar com dificuldades de todo o género e não antevê com lucidez que o cenário se venha a alterar nos próximos tempos.


Uma nota final: uma atitude civilizada e inteligente a dos agentes da autoridade que se abstiveram de uma presença provocatória, curiosamente em sintonia com as raízes mais profundas do contrato (social) que lhes empresta a autoridade, celebrado com aqueles que são os seus únicos e verdadeiros detentores: o povo!

4 comentários:

paula moura disse...

O povo é sereno..por enquanto,mas reclamou e está atento..cuidado!

Anónimo disse...

O que a malta quer é festa

Anónimo disse...

A luta é uma alegria!!!
É o povo pá!!!

Anónimo disse...

Eleições já e para a CMS também

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