Em 1508, por vontade do Papa Júlio II, Miguel Ângelo reservou o seu espaço na história com a decoração do tecto da Capela Sistina, no Vaticano.
Doze frescos foram suficientes. Com eles, Miguel Ângelo constituiu-se como um dos mitos mais poderosos da cultura ocidental. Antes disso deixou-nos:” O pecado original e a expulsão do Paraíso” (1509-1510).

Em 2008, por vontade do Primeiro-Ministro Sócrates, mais modesto, muito mais modesto que Miguel Ângelo, António Nunes, alto-funcionário público e inspector –geral da ASAE, auto anunciando-se implicitamente como regenerador-mor do reino de Portugal e, mais democrático, deixa-nos: “A hipotese de emigrar, se não quisermos viver nesta sociedade”.
Menos de doze respostas numa entrevista reservam-lhe uma fama efémera e o total esquecimento num prazo, certamente muito curto.
Se alguém tem duvidas – o que será perfeitamente natural, já que nos encontramos, em geral, no nosso perfeito juizo – passamos a transcrever:
Revista Tabu- Mas o inspector chegou aos 53 anos a comer peixe das caixas de madeira e os queijos e enchidos tradicionais?
António Nunes- Cheguei sim, mas com algumes intoxicações alimentares pelo meio. Agora espero é aumentar a minha esperança de vida. No nosso tempo andávamos nuns carrinhos de madeira e não andávamos com capacete na bicicleta e isso hoje é obrigatório. É o rumo desta sociedade e nós senão quisermos viver nesta sociedade temos a hipótese de emigrar.
(extrato de uma entrevista do Senhor António Nunes, ao jornalista Emanuel Costa, publicada na revista “tabu”, nº 68, de 29 de Dezembro de 2007)
Não podemos deixar de comentar a arrogante lógica daquele Senhor ao dar-se ao desmando de se colocar no papel de Deus que indica a saida aos portugueses que se não derem bem com as regras que esta sociedade, pretensamente, terá escolhido, para se auto regular.
Já alguém o terá apodado de Eliot Ness dos restaurantes.
Não deixa de ser curioso, pela sintese lógica que encerra. Na verdade o povo é único na clarividência sintéctica que habitualmente caracteriza a “vox populi”.

E ainda são tidos como perigosos, pois, pelo que consta, a Asae é força preparada como se tivesse de enfrentar a Al Qaeda.
Mas até aqui, atenta a noção que todos temos que, ancestralmente, autoridade e autoritarismo são sinónimos em Portugal, nada de novo!
O mesmo não podemos dizer quando aquele funcionário público, agente do Estado se arroga a mostrar o caminho da emigração aos portugueses que não estejam contentes com o pretenso caminho traçado pela virtude que ele encarna, apostula, fiscaliza e defende.
Mas por quem se tomam, este Senhor e aqueles que representa?
O Estado como instituição que é, mesmo no dizer do Prof. Adriano Moreira é (ou deverá ser) como o eixo de uma roda (quanto a nós a dinâmica social) que não se movendo, está lá para permitir que a mesma, desenvolvendo o seu movimento em equilíbrio, percorra o seu caminho.
Dizemos nós que, estrutural para o desenvolvimento da comunidade, transportando-se com ela, mas nunca a podendo condicionar. E, quando assim não fôr é o desenvolvimento e a sua evolução que padeçem.
Concretizando, enquanto a “política do Estado” se caracterizar pelo “empolamento; desorganização e ineficiência; burocratização; partidarização; deteriorização legal e moral; deficiente ligação aos orgãos públicos; péssima imagem pública; má relação com a sociedade.”, como muito bem observou o Prof. Sousa Franco já em 1984, o Estado estará a inverter a razão para a qual foi criado e a desvirtuar o seu elevado desígnio. A criatura sobrepõe-se ao criador. O Estado deixa de estar essencialmente a satisfazer necessidades da Comunidade, encontrando-se, pelo contrário, a Comunidade a satisfazer necessidades do Estado. O Estado embrulha o cidadão no boletim de voto e encaixota a comunidade no atado da democracia representativa, depositando-os, devidamente acondicionados, na Comissão Nacional de Eleições.
Conclusão esta que trinta e três anos de democracia nos fizeram interiorizar, mas que não é nova, nem de nossa propriedade: Rosseau já dizia que os ingleses só eram livres no dia das eleições!

Serve ainda como referência viva de tudo o que a sociedade civil não precisa e deverá repudiar!