Os tempos que correm são, na realidade, convulsivos e esta fase financeira do capitalismo revela-se bem à altura das piores preocupações de Vladimir Ilyitch Uliánov e digna do seu rol de terapias.
Na verdade sabemos que as agências de “rating” não dispõem hoje da dados mais preocupantes sobre a situação portuguesa daqueles que dispunham antes da assinatura do memorandum com a Troika.
De então para cá, ocorreram um conjunto de factos cuja observação objectiva e subjectiva, impediria o comum dos mortais considerá-la, um grau que fosse, pior que aquela que se verificava à data da entrada da troika em jogo.
Foi a própria assinatura do memorandum, em resultado do compromisso das três principais forças politicas, representando a larga maioria da população, foram as eleições e a criação de uma maioria absoluta que gera a óbvia espectativa de estabilidade para a legislatura, foi a intenção manifestada do primeiro-ministro de ir mais além das medidas constantes daquele documento, foi a criação de um imposto extraordinário, enfim tudo medidas, discutíveis intramuros, mas todas elas no sentido de agradar e garantir aos credores, quer uma séria intenção de cumprir, quer evidenciar, no concreto, que tal intenção não é só uma intenção.
Porquê então a actual classificação da divida portuguesa com LIXO?
O porquê não sabemos especificamente, mas a conduta das agencias de rating permite algumas conclusões, ainda que, por hora, especulativas.
Destacam-se duas:
O Banco Central Europeu não pode continuar a servir-se destas agencias americanas para sustentar as suas opções, em matéria de credito a conceder a países do euro.
Primeiro porque as instituições europeias competentes, e até o FMI (vide as declarações da sua nova presidente acerca da “coragem” da Irlanda e de Portugal no enfrentamento dos seus défices), como o ministro das Finanças Alemão, têm meios mais objectivos para avaliar a situação portuguesa que as agencias de rating, delas podendo prescindir perfeitamente sem se das mesmas sintam qualquer falta.
Segundo porque, se tudo isto, entre outras coisas, também são batalhas contra o Euro, aquelas instituições europeias, todas elas, não podem nem devem encontrar-se objectivamente ao serviço do seu “inimigo”.
Por outro lado, esta diatribe das agencias de rating também podem prenunciar o canto do cisne das mesmas.
Todos se lembram da grande consultora multinacional Arthur Andersen (uma das big five) e do seu colapso em consequência da desonestidade dos relatórios que fazia sobre a Enron Corporation até à sua falência.
Tal monstro da consultadoria e auditoria não resistiu face à bronca que a sua cliente deu com a falência, verificando-se que as auditorias de tal Arthur Andersen não passavam de mistificações da realidade empresarial que auditava, visando com o seu prestigio e credibilidade ludibriar os accionistas, os fornecedores, os credores, etc., etc., etc.
Foi voluntariamente que cessou a sua actividade no mundo em consequência da descredibilização gerada e foi objecto dos adequados processos criminais.
Com as agencias de rating, que objectivamente já fizeram o mesmo (recorde-se o rating do Lehman Brother no dia anterior à falência que foi a maior da história americana), surpreende-nos que ainda não tenham tido o destino que merecem, mas parece-nos que, depois de uma vida de vício, querem agora parecer a mulher de César, e serem mais papistas que o Papa!
Sendo este portanto um destino previsível para as agências de rating, nestes tempos conturbados que atravessamos, resta-nos a convicção que o peso dos ratings destas agencias americanas sejam tidos, na Europa e nas instituições europeias, como elementos de análise de credibilidade reduzida ou mesmo suspeita, na zona do LIXO!
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Durante o dia de hoje veio o BCE a desvalorizar as notações das agências de "rating" afirmando claramente que apesar da mesma relativamente a Portugal, não irá deixar de aceitar as garantias do Estado Português para conceder crédito à Banca nacional.
Decisão sensata que aplaudimos e confirma a nossa opinião precedente.
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