O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Algo de Ernâni Lopes em cada português não faria mal nenhum!

Infelizmente Portugal não conta com homens publicos de qualidade em número suficiente. Ou de homens privados com qualidade pública suficiente!

A demonstrá-lo está a situação em que nos encontramos, gerada por uma sucessão de homens de pouca qualidade ou de alguma qualidade mas pouco interessados em pô-la ao serviço das politicas que governam o pais.

É neste contexto que temos de valorizar a perda relativa que constitui a morte de Ernâni Lopes.

Admitamos que foi, como muitos dos seus alunos dizem, um professor brilhante. Só por aqui teriamos de lamentar o seu desaparecimento.

Na verdade se existem défices em Portugal, o de alunos bem instruidos por professores de qualidade será certamente um deles, senão o mais importante.

Admitamos que foi um bom ministro das finanças, durante um periodo de crise intensa e ajudou Portugal a integrar a então CEE.

Agradecemos o esforçado trabalho que prestou ao pais, com a competência e a seriedade que ninguém lhe nega, como a outros (provavelmente muito poucos) que, como ele, o terão feito.

Lembramo-nos uma frase de sua autoria, imediatamente após a conclusão do processo de integração europeia, que terá andado mais ou menos por isto: “Agora, todos em geral mas os senhores empresários em particular, retirem daqui as suas conclusões!”

As conclusões poderiam ser, entre muitas outras, de duas ordens:

a) De que, por um lado, passavamos a ser uma economia aberta, sem proteccionismos, que se iria confrontar com uma concorrência como nunca, até aí, tinha visto! e, uma outra, admitamos:
b) De que, finalmente, a economia portuguesa, ou alguns sectores da mesma, passavam, a partir daí, a dispôr de um mercado interno com uma dimensão enorme que não permitiria continuar a manter as “desculpas da pequenez do mercado” que justificassem a insignificância das nossas empresas e economia.

Teve um mérito raro (no cenário politico nacional) nesta atitude: Avisou expressamente, ainda que de uma forma que só poucos entenderam, afinal implícita, os portugueses do que por aí, realmente, viria!

Não avisou sobre a riqueza “virtual” que os fundo europeus constituiriam e que também aí viriam. Essa noticia fomos recebendo gradualmente como se tivesse sido obra de Cavaco Silva e do seu génio, como se de riqueza real se tratasse.

Avisou implicitamente que os empresários que não se soubessem adaptar a uma economia de mercado e de livre concorrencia soçobrariam, tal como vieram a soçobrar e massivamente assim continuam.

Avisou implicitamente que os fundos europeus se não fossem empregues na efectiva modernização da economia e seus agentes, não contribuiriam para reforçar a nossa capacidade empresarial de fazer face à concorrência europeia e com ela a nossa economia insignificante.

Fez assim o que se espera de um economista qualificado que contratámos para nos apoiar!

E, atendendo ao que é usual na classe politica no poder, não foi pouco!

Ernâni Lopes não foi D. Sebastião e bem podemos acusá-lo disso!
Ernâni Lopes não foi pai dos portugueses e bem podemos acusá-lo disso!

Mas Ernâni Lopes serviu muito bem, com entrega, seriedade e competência, para concluirmos que não podemos mandatar qualquer um para nos ajudar no Governo, na Assembleia ou em qualquer outro orgão eleito porquanto somos nós os pais de nós próprios e temos de ser nós a conclui-lo e a assumi-lo! De vez!

1 comentário:

Luís Ricardo disse...

Infelizmente, e como é usual neste País, o reconhecimento só vem após a morte física dos reconhecidos!
Passamos a vida a idolatrar as "cassandras" que passam os dias profetizar o mais terrível dos infernos para o nosso futuro colectivo, mas que quando tiveram responsabilidades governamentais, fizeram o contrário do que hoje apregoam. Só para citar alguns que até enojam. João Cravinho, Medina Carreira, Maria Carrilho, Marques Mendes, Cavaco Silva - que devia lembrar-se da sua paternidade na "Progressão automática na função pública" "nas reformas por inteiro concedidas a milhares de funcionários (Lisnave/Siderurgia Nacional/Setenave e outros)longe de terminarem o seu período contributivo, ficamos todos a pagar as suas reformas douradas.
Ernâni Lopes, foi nos últimos anos um impulsionador da ideia -devidamente alicerçada - que o nosso futuro passava pelo desenvolvimento das actividades ligadas ao Mar! espero que os responsáveis deste País sigam, aprofundem e ponham em prática, as suas sapientes análises.
Seria a melhor forma de homenagear a memória de um português, sério, inteligente, honesto e dedicado ao engrandecimento da sua Pátria.

Luís Ricardo

Correio para:

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