O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

1970-2010: Quantas transformações 40 Anos podem provocar!

Recebemos de um visitante habitual a charada que passamos a transcrever e que, quanto a nós, pode suscitar alguma boa disposição, mas também reflexão, o que justifica a sua publicação.
Abstemo-nos de quaisquer outros comentários, deixando a cada um a suas próprias conclusões.


Cenário: O Pedro está a pensar ir até ao monte depois das aulas, assim que entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder fazer uma fisga...

1970: O Director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a sua, que é mais antiga, mas que também é boa.

2010: A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro para um reformatório. A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta da escola.


Cenário: O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas...

1970: Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e acabam por ir juntos jogar matraquilhos.

2010: A escola é encerrada. A SIC proclama o mês anti-violência escolar, O Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste em colocar a Manuela Moura Guedes à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo debaixo de chuva.


Cenário : O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os colegas...

1970: Mandam o Jaime ir falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca de todo o tamanho. O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.

2010:
Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalina. O Jaime parece um zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno incapacitado.


Cenário: O Luís parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai pega um cinto e espeta-lhe umas chicotadas...

1970: O Luís tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à universidade e converte-se num homem de negócios bem sucedido.

2010:
Prendem o pai do Luís por maus-tratos a menores. Sem a figura paterna, o Luís junta-se a um gang de rua. Os psicólogos convencem a sua irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre. A mãe do Luís começa a namorar com o psicólogo. O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o 'Você na TV' do Manuel Luís Goucha.


Cenário: O Zézinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A sua professora, Maria, encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Maria abraça-o para o consolar...

1970: Passado pouco tempo, o Zézinho sente-se melhor e continua a correr.

2010: A Maria é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego. Confronta-se com uma pena de até 3 anos de prisão. O Zézinho passa 5 anos de terapia em terapia. Os seus pais processam a escola por negligência e a Maria por trauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia de dívidas suicida-se atirando-se da janela do seu prédio. Ao aterrar, cai em cima de um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda. O dono do carro e do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de propriedade. Ganham. A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso.


Cenário: Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter chamado 'chocolate' ao outro...

1970: Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada um segue para sua casa. Amanhã são colegas de novo, na escola.

2010: A TVI envia os seus melhores correspondentes. A SIC prepara uma grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a averiguar factos. Emitem-se programas documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial. A juventude Skinhead finge revoltar-se a respeito disto. O governo oferece um apartamento à família do miúdo africano.


Cenário: Tens que fazer uma viagem de avião...

1970: Viajas num avião de TAP, dão-te de comer, convidam-te a beber seja o que for, tudo servido por hospedeiras de bordo espectaculares, num banco que cabem dois como tu.

2010: Entras no avião a apertar o cinto nas calças, que te obrigaram a tirar no controle. Enfiam-te num banco onde tens de respirar fundo para entrar e espetas o cotovelo na boca do passageiro ao lado e se tiveres sede o hospedeiro afeminado apresenta-te um menu de bebidas com os preços inflacionados 150%, só porque sim. E não protestes muito, senão, quando aterrares, enfiam-te o dedo mais gordo do mundo pelo cú acima para ver se trazes drogas.

Cenário: Fazias uma asneira na sala de aula...

1970: O professor espetava duas valentes bofetadas bem merecidas. Ao chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque 'alguma deves ter feito...!'

2010: Fazes uma asneira. O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te desculpa e compra-te uma Playstation 3.


Cenário: Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno...

1970: Não se passa nada.

2010: As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.


Cenário: O fim das férias...

1970: Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, terminam as férias. No dia seguinte vai-se trabalhar.

2010: Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam as férias. As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborréia e caganeira.

1 comentário:

Anónimo disse...

Espetacular!!!

Com mais ou menos dificuldades financeiras, é bom, de vez em quando, deixar as tristezas para trás, fazer ironia e rir a bandeiras despregadas com as caricaturas da sociedade contemporânea!

O mundo virtual em que alguns vivem, consegue transformar a sociedade, alienando-a com paranóias de toda a espécie e feitio.

Mas o pior é que as mentes receptoras não têm o descernimento suficiente para ver o ridículo a que esta sociedade chegou.

Correio para:

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