O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 11 de outubro de 2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

terça-feira, 6 de outubro de 2015

As lágrimas de crocodilo



Os migrantes que agora nos comovem em Budapeste são os que tiveram sorte, dinheiro e iniciativa para chegar aqui. Para trás ficaram os condenados à morte.
E de repente toda a gente se comove. Em quatro anos de guerra, o sofrimento e as mortes na Síria, e no Iraque, não comoveram muitos jornalistas ou espectadores sentados por essa Europa fora. No último inverno, vi crianças ranhosas e friorentas, pés roxos e nus nas neves do Monte Líbano. Vi mulheres sírias e órfãos a prostituírem-se nas ruas de Beirute, vi a superpopulação dos campos de refugiados palestinianos, incapazes de acolherem mais um ser humano por falta de espaço. E vimos as imagens dos corpos despedaçados por barrel bombs, as fomes de Yarmouk, os ataques químicos. Não foi por falta de filmes online, colocados por combatentes, resistentes e sitiados sírios, que deixámos de ver no que a Síria se tornou. Ou o Iraque, onde todos os dias há mortos. O ISIS mobiliza-nos as atenções com a barbaridade do dia, que usa como instrumento de terror e propaganda, e cobre com esta cortina negra o resto do Médio Oriente. O Iraque está a desfazer-se. A Síria já se desfez. O Líbano está por um fio. A Jordânia aguenta-se com esforço. O Egito é um Estado falhado. E a Turquia aproveita para destruir os curdos. Em todos estes conflitos, para não falar do desastre da intervenção na Líbia ou no Iémen, a Europa comportou-se de um modo egoísta e indiferente. Pagou resgates e deixou aos americanos a tarefa de limpar os estábulos de Aúgias. Na verdade, se a invasão do Iraque em 2003 foi um trabalho americano, a Europa foi o parceiro da coligação. Sobretudo o entusiástico Tony Blair, originário de um país que recusa receber mais migrantes, refugiados ou todos os nomes que se vão inventar para os milhões de apátridas e desgraçados que trepam as muralhas e se rasgam nos arames farpados. O horror sírio, ou iraquiano, não motivou uma negociação de fundo, uma cimeira capital, uma mesa-redonda, um diálogo, um princípio. Os americanos decidiram bombardear o ISIS, a Europa não decidiu nada para variar.
De repente, a Alemanha é a campeã dos migrantes e refugiados. O cinismo pessimista tende a ver nestes pronunciamentos mais propaganda do que pragmatismo. A Alemanha sabe que a crise grega a fez ficar mal aos olhos do mundo e tem a oportunidade histórica, a sra. Merkel tem-na, de se reabilitar. E de forçar o resto dos europeus. A Alemanha tem a única liderança forte numa Europa fraca e tem a capacidade industrial para absorver mão de obra barata porque ainda precisa dela.
Há anos que criámos os novos campos de concentração, onde concentrámos os africanos, que vieram antes dos sírios e afegãos e iraquianos, e ninguém se comoveu. Os cadáveres nas praias de Tarifa, os condenados a morrer no deserto, recambiados, não provocaram uma lágrima. A crise destas migrações existe há anos e é preciso perceber que os migrantes que agora nos comovem em Budapeste são os que tiveram sorte, dinheiro e iniciativa para chegarem aqui. Para trás ficaram os condenados à morte, as vítimas de conflitos que ajudámos a provocar e das “primaveras” árabes que o jornalismo e as correntes sociais promoveram com sentimento. Ninguém se lembra de perguntar aos países ricos do Golfo, irmãos da mesma fé, quantos refugiados sírios receberam. O Qatar? Zero. Os Emirados, sobretudo os ricos Dubai e Abu Dhabi? Zero. A Arábia Saudita? Zero. O Kuwait? O Bahrain? Omã? Zero. E são estes sunitas que atiçam a guerra perante a nossa apatia. E por que razão a Europa e os Estados Unidos não os pressionam sabendo que manipulam a guerra para hegemonias e demonstrações regionais de força? Duas respostas. Venda de armas, um dos grandes negócios ocultos da recomposição dos mapas, e um negócio onde os estados legítimos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, Alemanha, etc., têm fontes prodigiosas de financiamento. A Alemanha e os Estados Unidos bateram recordes de venda de armas no Golfo em 2014. E petróleo, a moeda de troca e o pão nosso de cada dia. Um dia, os drones que o Ocidente vende serão uma arma terrorista.
A situação do Médio Oriente é hoje a mais explosiva e volátil e com mais repercussões de sempre. Composta pela nova guerra fria com a Rússia de Putin. Os imparáveis fluxos migratórios vão forçar e reforçar partidos de extrema-direita, acender racismos, distorcer demografias, criar máfias, alimentar o extremismo e terrorismo islâmicos e as suas subculturas identitárias e criminais, mudar o mapa político da Europa e o espaço Schengen. Não vão apenas criar riqueza e contribuir para a economia europeia, como dizem os académicos. Uma integração séria custará biliões. É, de longe, o problema mais grave da Europa, acumulado com a anemia económica e com a condenação da população jovem a migrar dos países europeus em austeridade. Bater no coração e proclamar o amor ao próximo nada resolve na frente da batalha. É a retaguarda imoral da piedade virtual.






segunda-feira, 5 de outubro de 2015

sábado, 3 de outubro de 2015

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Um Banco que era Bom, já nos custa 3,9 mil milhões

O IGCP emitirá este ano mais 1,3 mil milhões de euros de dívida pública. Esta é uma das iniciativas do plano do IGCP actualizado no final da semana passada devido ao adiamento da venda do Novo Banco e comunicado aos investidores.

O adiamento da venda do Novo Banco deixou o Estado sem 3,9 mil milhões de euros, que deverão ser compensados com mais dívida, cancelamento do pagamento antecipado ao FMI e redução de depósitos, revela o organismo que gera a dívida pública numa nota enviada a investidores e disponibilizada no seu site.

O IGCP emitirá este ano mais 1,3 mil milhões de euros de dívida pública escreve o Diário Económico, citando a nota do instituto. O documento que inclui um novo mapa de financiamento – que actualiza um documento de 11 de Setembro – permite detalhar os planos de Cristina Casalinho para compensar os 3,9 mil milhões de euros de receita com que contava e que estavam previsto no Programa de Estabilidade.

No novo mapa desaparece o pagamento antecipado ao FMI de 2,2 mil milhões de euros, prevê-se a emissão de mais 1,3 mil milhões de euros de dívida (800 milhões em retalho e 500 milhões em obrigações), e o nível de depósitos – tratados frequentemente por "cofre" ou "almofada" – reduz-se em 400 milhões de euros, de 9 mil milhões para 8,6 mil milhões.

Estas alterações garantem ao IGCP exactamente os 3,9 mil milhões de euros que deixaram de entrar em 2015 pelo cancelamento da venda do Novo Banco, e que visavam compensar despesa financeira com empresas públicas, e empréstimos ao Mecanismo Europeu de Estabilidade. O IGCP prevê agora receber esse dinheiro em 2016.

Contas feitas, o IGCP planeia emitir este ano 20,1 mil milhões em obrigações (17,6 mil milhões já executados a que juntam mais 2,5 mil milhões a emitir até final do ano) e 3,8 mil milhões em dívida emitida no retalho, onde se incluem instrumentos como os certificados de aforro e nova obrigação de taxa variável que poderá ser emitida até final do ano.

O instituto considera que a alteração de circunstâncias "não altera significativamente a estratégia de financiamento do IGCP para o que resta de 2015, nem a projectada posição de caixa no final do ano" que adjectiva como ficando "bem acima dos 8 mil milhões de euros". Nos cinco parágrafos enviados aos investidores o IGCP dá ainda conta do plano de "revisitar a estratégia de pagamento antecipado ao FMI" e aumentar as emissões de médio longo e de retalho.

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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