O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
segunda-feira, 21 de julho de 2025
Sereia de Armação: Raptada por Indianos ou Farta da Junta? Um Mistério que Ecoa nas Ondas
Armação de Pêra acordou esta semana com um silêncio ensurdecedor vindo do mar. A Sereia — sim, Aquela Sereia, musa mística das selfies turísticas e dos pescadores reformados — desapareceu. Sumiu. Evaporou-se nas ondas do desencanto.
O povo, habituado à sua pose estoica e à sua voz hipnótica que cantava promessas vagas de um futuro glorioso para a vila, está em choque. Uns juram que viram luzes estranhas no céu. Outros garantem que foi levada por uma traineira espanhola. Mas a teoria que mais ganha força é... foram os Indianos.
Sim, segundo fontes não identificáveis mas muito barulhentas, um grupo de nacionalistas locais do Chega garantem “a pés juntos, de peito feito e cérebro em modo de espera” que a Sereia foi levada por Indianos — talvez como vingança por Camões ter estado na Índia em 1553 sem visto Schengen. “Se ele lá foi sem autorização, por que é que agora eles não podem vir cá buscar uma sereia? É tudo culpa do Camões!” – bradou um senhor de bigode e bandeira na varanda, enquanto consultava o “Facebúquio” para confirmar os factos históricos.
Outros, porém, acreditam numa explicação mais triste — ou mais sensata. Dizem que a Sereia regressou à mítica Ilha dos Amores, porque já não aguentava ver Armação tratada como o anexo balnear do abandono. “Mesmo virada para o mar, ela via tudo”, sussurrou uma idosa que lhe deixava sardinhas aos pés em dias de vento leste. “Via os buracos nas ruas, as promessas enterradas nas areias da junta, os concertos cancelados e os bancos de jardim que mais parecem armadilhas para hérnias discais.”
A Sereia cantava. Mas ninguém a ouvia. E quando uma sereia canta e ninguém a escuta, até o mar perde a vontade de ser salgado.
Dizem que partiu numa onda silenciosa. Que deixou um bilhete escrito com espuma:
"Não fui levada. Fui embora. Cansada de ver tanto sol mal aproveitado e tanta sombra mal intencionada."
Mas há esperança. Talvez volte. Talvez, quando os discursos deixarem de ser apenas espuma das marés eleitorais, e os responsáveis perceberem que uma vila não se governa com selfies e promessas de verão, ela regresse.
Até lá, resta-nos olhar o mar e ouvir... o silêncio.
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