O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Deus queira que sejam mentirosos, pois parecem ignorantes!

O Governo fez um ano de governação e o resultado da sua administração está à vista:
Os credores e parceiros da União têm aplaudido a coragem das medidas tomadas e o esforço dos contribuintes portugueses na sujeição às mesmas, sem contestação significativa.

Demorou um pouco aos menos informados, compreender a estratégia do Governo face à situação complexa que o pais vive, e o futuro que a mesma visa.

Não nos preocupando em fazer ressaltar as incongruências constatadas, entre o que foi sendo dito e o que foi sendo feito, lugar comum ao commentariat nacional, consideramos que a situação de emergência que o pais vive não se compadece com minudências. Sim minudências, uma vez que enquanto procuramos encontrá-las, depois de encontrá-las constatamos da sua total inconsequência, esgotando-se a descoberta em si mesma.

Todos se lembrarão do snr. Passos Coelho em campanha eleitoral garantir que não iria aumentar as taxas do irs.
E todos sabem que aquelas taxas foram aumentadas!
E daí? O que sucedeu?
Nada!

Por conseguinte, detectar mentiras ou ignorância, não só é absolutamente inconsequente, como, de entre elas, ainda rezamos pelas primeiras, com justo receio de estarmos nas mãos da segunda!

Na verdade, perante a situação económica e financeira do pais e as medidas tomadas para lhes fazerem face e sobretudo diante dos resultados obtidos decorrido um ano, vemo-nos conformados a considerar mais tolerável a mentira que a ignorância.

“...um Governo que calculou que o IVA ia crescer 11,6% e está confrontado com uma descida de 2,8% até Maio; com uma quebra nos impostos sobre veículos que estava prevista ser de 6,5% e já vai em 47%(!); com um recuo esperado de 2,1% no imposto sobre os produtos petrolíferos, que ascende já a 8,4%; com um aumento no subsidio de desemprego de 23%, quando o Executivo apontava para 3,8%; e com uma quebra nas contribuições dos trabalhadores e empresas para a ssegurança social de 3% quando se esperava apenas 1% - o que se pode dizer se não que se trata de um falhanço verdadeiramente colossal da equipa das Finanças e, em particular, do brilhantíssimo e competentíssimo ministro Vítor Gaspar?” Nicolau Santos, in Expresso de 30.06.12.

Nicolau Santos, parece não ter qualquer duvida significativa, trata-se de ignorância!
Nós preferimos considerar que tais responsáveis foram mentirosos!

Porquê? porque um politico mentiroso tem, boa ou má, pequena, média ou grande, uma estratégia e um objectivo em vista, subentendendo-se que acompanhados de uma avaliação de riscos e independentemente de estarmos ou não em sintonia com o resultado que pretendem atingir, ao passo que um politico ignorante não pode avaliar o risco de não saber por onde caminha, em direcção a um destino que desconhece...

Mentirosos ou ignorantes os cidadãos com a responsabilidade do poder nestas áreas especificas, quer pertençam ao grupo dos primeiros, quer sejam dignos representantes dos segundos, não servem a comunidade, o pais ou o futuro e por isso deviam demitir-se. Já que, por meios constitucionais, não os podemos afastar no imediato.

O respeito não se dá a ninguém! Conquista-se!

Temos a noção de que a gravidade da situação económica e financeira nos obriga a uma politica ortodoxa de cumprimento, uma das poucas vias de um devedor conquistar o respeito dos seus credores.

O respeito dos credores é condição essencial para obter mais crédito, sobretudo quando o devedor tem pouco mais que seriedade.

Esta tem sido a estratégia do Governo. Ser cumpridor, a qualquer custo, para ganhar o estatuto respeitável de cumpridor e com este estatuto obter mais crédito e quem sabe, melhores condições de juros e prazo pagamento pagamento.

Na ânsia de preencher os pressupostos definidos pelos credores acerca do que é ser um pecador (devedor) da luxúria e de como se deve redimir, o Governo não só cumpre todos os maneirismos do arrependido (vide o famoso momento de Vítor Gaspar com o ministro das finanças alemão) como inflige à comunidade dos pecadores que dirige toda a sorte de castigos que a autoridade credora gostaria de ver infligidos, até para evidenciar à exaustão o rigor da punição.
Vitor Gaspar sugando cirurgicamente a receita, a um contribuinte esgotado

Convenhamos que, se não passássemos de uma horda de párias, teríamos de estar gratos a quem se humilha para permanecer sentado à mesa do orçamento europeu.

Mesmo apesar do menino Galp do: “11 por todos, todos por 11”, versão publicitária de todos aqueles que sempre consideraram o seu povo como uma piolheira, ainda achamos que não é a partir dessa vertente que se encontrarão as razões da nossa triste sina.

Quem assim age desconhece que, se tivesse mantido as taxas do IVA, para além de ter contribuído significativamente para a resistência das empresas à crise, ainda teria sido premiado em sede de receita com mais 2,8% do que encaixou até Maio.

Quem se dá à ignomínia de nos considerar preguiçosos desconhece que, apesar da competência de quem nos dirige em qualquer nível da actividade pública ou privada, resistimos como poucos a tanta ignorância, ineficiência, deslealdade, falta de visão prospectiva, estupidez e total ausência de estratégia nacional.

Quem se propõe reformar o que há por reformar e se limita a mascarar o velho de novo, querendo fazer acreditar que o velho é na verdade novo, todos esses sim, são a piolheira de que não conseguimos livrar-nos e disso, nada temos por que nos orgulhar.

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