O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

REPUTATION INSTITUTE, pela voz do seu Presidente Simon Svergaard

in Publico.pt de 09.11.10

De acordo com Simon Svergaard, vice-presidente da entidade que analisa como os países se vêem uns aos outros, a crise da dívida e os impasses políticos não terão ainda afectado aquela posição no ranking. Mas se as medidas de austeridade gerarem agitação social, a reputação será atingida e a economia vai sentir o impacto.

Como é que se avalia a reputação de um país?

Há cerca de dez anos desenvolvemos um modelo para avaliar a reputação das empresas, que mede a ligação emocional que uma pessoa tem com uma empresa. Há três anos decidimos fazer o mesmo para os países. Fizemos uma investigação sobre como conseguiríamos obter um quadro de pontuações para um país que reflectisse a sua reputação. Basicamente, há quatro pontos-chave: é um país em que confia, é um país pelo qual tem uma estima grande, é um país onde gostasse de ir e é um país que lhe desperta um sentimento positivo. Além disso, tentamos perceber por que é que aquele país tem uma determinada reputação, o que envolve questões sobre até que ponto o Governo é eficiente, sobre a situação económica do país, o ambiente físico e o estilo de vida.

No último estudo que fizeram, a reputação de Portugal estava em 19º lugar em 39 países. Mas, olhando para a autopercepção dos próprios portugueses, a reputação descia para 32º lugar entre 35 nações. O que contribui para isto?


Apesar da diferença, Portugal é um dos países onde há um equilíbrio entre a forma como os estrangeiros vêem o país e como os portugueses o vêem. Quando se vive num país, tende-se a ser mais positivo para com esse país. Em Portugal, isso não acontece. Quanto à percepção por parte dos países do G8, Portugal é um país muito bonito e com um estilo de vida apelativo. Em contrapartida, tem pontuações mais baixas ao nível do avanço económico, por ser um país que não se identifica com nenhuma grande marca e por ser visto como pouco desenvolvido no campo da tecnologia, quando, na realidade, é bastante desenvolvido.

Isso quer dizer que esses avanços não são suficientemente visíveis?

Sim. Portugal tem uma rede de infra-estruturas viárias que é das melhores da Europa, tem uma rede de comunicação moderna, um sistema bancário em que todos os ATM estão interconectados. Há países considerados muito desenvolvidos, como os da Escandinávia, que não têm estes avanços. O problema é: será que o resto do mundo sabe desta faceta? Portugal tem capacidade para se posicionar como um dos países líderes da Europa no campo da tecnologia, mas, para isso, tem de começar a comunicar o que faz.

O vosso estudo foi feito no início do ano, quando Portugal ainda não tinha enfrentado a pressão dos mercados sobre a dívida pública. Que impacto este contexto tem na sua reputação?

Se olharmos para a situação actual na Grécia e também em França, não tenho dúvidas de que estes países terão uma pontuação menor no próximo estudo. Cada vez que há um acontecimento físico num país, a reputação desce. É o caso das manifestações sociais na Grécia e em França contra as medidas de austeridade. Isto leva a uma perda de reputação que tem um efeito imediato na economia, fazendo diminuir a actividade turística e pode ainda gerar perdas no investimento estrangeiro. Em Portugal, a situação é um pouco diferente, mas pode agravar-se, se Portugal também não conseguir evitar manifestações e greves. A partir do momento em que houver agitação social, a reputação de Portugal é atingida.

Mas acha que Portugal está já a perder reputação?

Não. Mas acho que o Governo português está a esconder-se da tempestade, à espera que esta desapareça. Se o Governo quer melhorar e aumentar reputação, tem de assumir responsabilidade de prestar atenção ao que se diz sobre o país lá fora e desempenhar um papel mais activo na comunidade global. Portugal acaba de ser nomeado para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, tem de saber aproveitar-se disso para aumentar a sua presença a nível internacional.

O Governo não tem sabido comunicar como deve ser?

O Governo português devia ser mais pró-activo em termos de comunicação e garantir que as suas políticas e medidas não são discutidas apenas na imprensa nacional mas internacional. Neste momento, se olharmos para os meios de comunicação internacionais, apenas ouvimos falar da Grécia, da Irlanda ou da Espanha. Não passa a ideia que Portugal é um país que está pronto para fazer qualquer coisa para sair da crise.

Tem-se falado muito da possibilidade de Portugal vir a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI), como fez a Grécia. Se isso acontecer, que impacto tem sobre a reputação do país?

No curto prazo, não tenho dúvidas de que uma intervenção do FMI faria Portugal perder confiança, pois passaria a imagem de que o Governo não consegue tomar conta do país. Poderia gerar-se a noção de que Portugal é uma nova Grécia. Contudo, no longo prazo, poderia até ser bom, porque ajudaria o país a resolver a crise. Por isso, não posso dizer que é algo necessariamente mau.

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