O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

República Portuguesa ou Portugal, S.A.? Cidadão ou Accionista?

Nem cidadãos, nem accionistas, mas tão só meros súbditos dos vários tiranetes de pacotilha



O Vereador Fernando Serpa no tarefismo da sua actividade politico-bloguistica tanto nos dá noticias e informações relevantes como nos dá, com a mesma velocidade e leveza, opiniões/provocações intelectuais que nos deixam, não poucas vezes, perplexos.

Deduzimos do teor do seu post de 31 de Outubro, acerca dos custos estonteantes que, só em sede de juros, as dividas da CMS aos seus fornecedores atingirão, que se fossemos todos inteligentes como, em seu entender, os que pensam como ele e não como nós, deveríamos ter apoiado a proposta do PSD, no sentido de ver a taxa do IMI para os imóveis do concelho, atingir o tecto legal, o máximo permitido, independentemente da carga que tal decisão traria para os cidadãos contribuintes.

Dizemos nós que, em decorrência do mesmo principio, poderíamos chegar mesmo ao prémio Nobel da inteligência, se estivéssemos dispostos a defender uma taxa de IMI (mesmo ilegal que fosse) na medida do dobro ou mesmo do triplo da máxima legalmente permitida, uma vez que, desse modo, contribuiríamos melhor para o serviço da divida da autarquia perante os seus credores.

Fazer o contrário, pelos vistos, é obra dos tolos que somos, pois não vemos que eles sabem tudo o que é bom para nós, pelo que agir bem, será agir pagando tudo o que nos querem impôr.

Agir com inteligência, na nossa versão irónica, ou em benefício de um sono tranquilo, na versão original, seria por conseguinte colocar-nos a pagar – pura e simplesmente – a despesa desmesurada, irresponsável e diletante inscrita no orçamento municipal, ainda que tal sacrifício seja desproporcionado e injusto para o cidadão contribuinte, sem a questionar.

A atitude implícita neste ponto de vista não é, de resto, original. Ela é muito típica da classe politica dirigente, aquela mesma que tem gerido o OGE de há muito até hoje, e cuja performance se encontra bem evidente no estado das nossas finanças públicas, já para não falar do estado da nossa economia, para o qual a nossa classe empresarial também tem dado o seu contributo inestimável.

Trocando por miúdos: a classe politica gere a res publica com a leviandade de um louco temerário; tal gestão suicidária resulta numa situação de insolvência e os cidadãos contribuintes, SEM questionarem a competência da gestão, SEM questionarem a legitimidade daqueles que, qualquer que tenha sido o seu contributo, pequeno, médio ou grande para o desastre orçamental respectivo, incólumes, permanecerão à frente dos destinos comuns,SEM participarem nas decisões de combate à despesa e ao défice e sobretudo SEM se verem envolvidos num “programa” que tenda a pôr fim a esta lógica pendular, paguem, por via da receita dos impostos, quaisquer que eles sejam e sobretudo não bufem…,para poderem dormir melhor e acrescentamos nós, para serem cidadãos bem comportados, num quadro de cidadania também definido pela mesma classe politica, que insiste em do mesmo apenas reter os deveres, expurgando-o dos direitos e sobretudo dos poderes que lhe são prévios e inerentes.

Realmente, muito conveniente!

Lamento muito, senhor Vereador, mas não queremos, de todo, ser representados por quem assim pensa!

Porque não nos revemos como mandantes de tal ignomínia!

E, porque não acredito que o senhor tenha sido mandatado pelos cidadãos-eleitores para lidar com os factores em presença nesses termos, concluimos que abusa dos poderes que lhe foram conferidos no respectivo mandato, muitas vezes por omissão, outras por acção.

Gostariamos que investigasse e tornasse publico, para onde raio foram os apoios do OGE para as autarquias pagarem aos seus fornecedores, os quais, no caso de Silves, terão sido na ordem dos 15 milhões de euros?

Gostariamos que nos informasse acerca das medidas de racionalização da despesa que, na sede própria, defendeu para o Município? E dessas, quais as que foram adoptadas?

Gostariamos de saber também qual o projecto de futuro que a Câmara tem para o concelho e para a gestão do município, diverso daquele que nos conduziu à presente situação, caracterizado pelo cumprimento rigoroso dos próximos orçamentos, em equilíbrio, para podermos acreditar que o défice não vai continuar a aumentar, para constante ameaça e empobrecimento dos cidadãos-contribuintes e gozo permanente dos delapidadores do erário público.

Então… depois de transmitido o resultado dessas mesmas diligências que lhe incumbem, admitimos ouvir as sugestões que terá a apontar no sentido do aumento da receita pela via dos impostos!

É que,numa realidade orçamental muito próxima, a de uma empresa privada com dimensão, típica de economias mais ricas e das quais podemos receber alguns ensinamentos, um orçamento é equilibrado e invariavelmente para cumprir.

Se por qualquer razão que se justifique no interesse da empresa e dos seus accionistas, uma rectificação ao orçamento no campo da despesa, a administração (órgão executivo) irá ter de convencer os accionistas (assembleia dos accionistas) da bondade da sua proposta que irá (a ser aceite) e em que medida, onerar a despesa e, sobretudo, que resultados positivos espera obter com tal despesa.

E mal da administração que não consiga os resultados a que se propôs...o seu destino não é o de ocupar outros cargos remunerados na empresa, ou esperar para ganhar de novo (porque carga de água tal sucederia?) a confiança dos accionistas, o que só poderá vir a suceder noutra freguesia, jamais, em principio, na mesma empresa!

Ora atentos os procedimentos dos governos, nacional e concelhio, e a administração autocrática e pouco sensata que os caracterizam e sobretudo os resultados que continuam a apresentar, melhor seria que nos deixássemos de politicas e convertêssemos os cidadãos em accionistas dum qualquer Portugal, SA.

Provavelmente teríamos direitos e poderes mais respeitados que enquanto cidadãos desta República!

Quando, atentos os valores em presença, deveria ser exactamente o contrário!

8 comentários:

Senador disse...

se assim é prefiro ser accionista

Sustelo Santos disse...

Este longo artigo sobre o vereador F. Serpa, quase retrata na perfeição as incongruências e imaturidade política do senhor.

É pena! Por que de facto, o senhor mostra-se voluntarioso e tenta à sua maneira, fazer passar a mensagem, o que é o mesmo que dizer "levar a carta a Garcia"!

A sua visão da política é um bocado narcisista, e tem como grande suporte, os seus interesses pessoais.

Continuando assim vai por um mau caminho, que dificilmente chegará a bom porto.

A política, antes de mais, deve ser pensada e discutida num âmbito mais lato e numa permanente troca de ideias entre correligionários, e ou mesmo adversários.

O vereador Serpa faz política e age autonomamente. Como, pela qualidade de ser vereador e advogado, detém ou obtém mais informação que qualquer pacóvio deste concelho, tenta fazer uso dessa informação em proveito próprio, pelo que, volta e meia trás a público notícias de choque e ou bombásticas.

Com que intenção procede ele assim?

É óbvio meus senhores!

Tudo isto seria de somenos, se acaso o verador Serpa não deixasse transparecer a sua outra faceta que faz ruir a sua consistência política.

A coerência da defesa dos interesses dos cidadãos esbarra nos seus interesses pessoais.

Aqui é que está o busílis da questão ..., Aqui é que a porca torce o rabo!

Anónimo disse...

Deixem lá o homem ganhar a vida. Se ele sai do sistema político perde o ganha pão e passa a juntar-se ao clube dos advogados que passam fome.

Fernando M. disse...

O Fernando é bom rapaz. Não lhe peçam mais que o que pode dar. Pelo menos este sabemos que não está sentdo à mesa do orçamento.

Anónimo disse...

Os cinco cavacos
Cavaco Silva apresenta hoje a sua recandidatura. Foi ministro quando eu tinha 11 anos. Pode sair
da Presidência quando eu tiver 46. Ele é o maior símbolo de tantos anos perdidos. E aqui se
fala das suas cinco encarnações.
Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos. Mas todos os cavacos vão
dar ao mesmo.
O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das
maiores oportunidades de deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que
deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do
dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e
do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o
silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento,
a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o
Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.
O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em
deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser
humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava
plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes
anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com
Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.

Anónimo disse...

O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha.
Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento
político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a
política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos
negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o
confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que
ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da
periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.
O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse
assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua
cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que,
apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a
mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.
Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como
centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo
governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política
exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo
ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do
único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos
que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do
imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como
sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.

Anónimo disse...

E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida.
Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao
País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera
enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a
crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe
ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um
dos baixos índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com menor margem. O
quinto Cavaco não tem chama.
Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiroministro
eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46
quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no
activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a
apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que
ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.

Anónimo disse...

Eis o retrato perfeito do sr Silva, que se multiplica por muitos outros Silvas que chafurdam na política há dezenas de anos!

Critica-se o Estado Novo salazarento que perdurou por 48 longos anos, tendo daí resultado um período negro e um atraso incomensurável para o País.

Na nossa recente democracia, temos um número incontável de Silvas que já ultrapassam as 3 dezenas de anos de permanência no que se chama "fartar vilanagem".

Quando o Anónimo do post do sr Silva tiver netos com 11 anos, o que irá constatar nessa altura, será outro período negro da nossa história.

Não por que tivesse existido um golpe militar, ou por causa do FMI, mas sim porque grande parte da população deste País, se deixou levar por cantilenas, papas e bolos, e não conseguiu distinguir o trigo do joio!

Correio para:

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