Há 2 anos, os mercados, essa entidade mítica que rege as vidas dos 27 mil milhões de almas que habitam o planeta azul, acordaram estremunhados com uma crise que não tinham previsto, a do crédito imobiliário de alto risco nos EEUU, e decretaram: isto é um problema da Fannie Mae e Freddie Mac, que os americanos resolverão tranquilamente.
Passaram meses e, de repente, os mercados descobriram que a tal crise afinal tinha contaminado parte do sistema financeiro norte americano.
Preocupante, mas não dramático. Alguns bancos especializados e regionais poderiam falir, outros seriam comprados, mas a vida continuaria o seu curso normal.
Os dias continuaram a passar e, subitamente, os mercados descobriram que havia produtos derivados, cujo risco ninguém sabia medir, que lá dentro carregavam o vírus do crédito imobiliário de alto risco e que tinham sido disseminados pela carteira de investimentos de muitos bancos. Nova sentença dos mercados: este é um problema dos EEUU. A Europa e o resto do mundo estão livres do flagelo.
Não contaram os mercados nem com o poder mortal e difusor dos tais derivados nem com a acção nem com a acção da Administração americana ( campeã do liberalismo #), que resolveu deixar cair um dos mais conhecidos bancos de investimento do mundo , a Lehmann Brothers.
E de um momento para o outro, o sistema financeiro mundial ficou á beira da catástrofe.
Os mercados entraram em histeria e determinaram aos berros: não se pode cometer erros praticados na Grande Recessão de 1929!
Os Governos têm de salvar os Bancos em dificuldades, e deixar funcionar os estabilizadores automáticos (i.e. aumentar fortemente os défices orçamentais e injectar milhões nas economias ).
E os Governos assim fizeram : apoiaram os bancos, a indústria automobilística, a aeronáutica, e todas cuja falência seria um desastre para os trabalhadores.
Mas apesar dos milhões injectados nas economias, sob recomendação dos mercados, o ritmo de crescimento dessas começou a abrandar vertiginosamente e o desemprego iniciou uma subida em flecha, sobretudo na Europa, com uma estrutura laboral mais rígida que os EEUU. E o mundo desembocou então numa crise económica e social.
Para os sistema financeiro mundial, contudo, surgiam sinais de que, com mais ou menos dificuldades, o pior já tinha passado. E os mercados , uff!, respiraram de alívio. Salvar a finança era essencial. O regresso ao business as usual estava garantido.
E aí os mercados repararam que os défices orçamentais dos Governos tinham disparado, sobretudo os dos países do Sul da Europa, que podiam estar á beira da falência ( apesar do primeiro país a falir ter sido a Islândia).
Como é possível este depautério?
Têm que reequilibrar novamente os orçamentos! E os Governos assim fizeram um , dois, três programas para cortar rapidamente os defices.
Aí os mercados disseram de novo: ah, já se apresentaram programas para reduzir rapidamente os défices?Muito bem. Mas essa redução é recessiva. E sem crescimento vocês não vão pagar os financiamentos que nos pedem.è melhor começarem a desenvolver políticas públicas para fomentar o crescimento, se não estão tramados connosco, os mercados. E lá vamos nós outra vez....
Pois esta brilhante escrita não é nossa mas do snr. Nicolau Santos no Expresso a qual subscrevemos, já que conta com muitos dos ingredientes que aqui temos defendido.
É por isso que o falhado liberalismo tout court que muitos defendem não se encontra no nosso horizonte.
A reacção e as receitas erráticas dos mercados, trouxeram como consequência o desemprego e o desespero de milhões de pessoas no mundo.
Deixar que esses mercados dirijam o mundo dá no que se vê!
Quando a coisa se torna feia, chama-se o Estado que nos acuda, com o dinheiro dos cidadãos-contribuintes, que trave o desastre ! Depois, quando as coisas correm bem, há Estado a mais, golden shares inadmissíveis etc., etc. !
Cada vez mais convictos nos encontramos de que o nosso modelo de desenvolvimento, gerador de anacronismos múltiplos, sejam os dos mercados financeiros ou de outros, está absolutamente esgotado.
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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