O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Ranço Salazarista, por Baptista Bastos

Cada vez mais nos afastamos uns dos outros. Trespassamo-nos sem nos ver.
Caminhamos nas ruas com a apática indiferença de sequer sabermos quem somos.
Nem interessados estamos em o saber.
Os dias deixaram de ser a aventura do imprevisto e a magia do improviso para se transformarem na amarga rotina do viver português e do existir em Portugal.

Deixámos cair a cultura da revolta. Não falamos de nós. Enredamo-nos na futilidade das coisas inúteis, como se fossem o atordoamento ou o sedativo das nossas dores. E as nossas dores não são, apenas, d'alma: são, também, dores físicas.

Lemos os jornais e não acreditamos. Lemos, é como quem diz - os que lêem.
As televisões são a vergonha do pensamento. Os comentadores tocam pela mesma pauta e sopram a mesma música. Há longos anos que a análise dos nossos problemas está entregue a pessoas que não suscitam inquietação em quem os ouve. Uma anestesia geral parece ter sido adicionada ao corpo da nação.

Um amigo meu, professor em Lille, envia-me um email. Há muitos anos, deixou Portugal. Esteve, agora, por aqui. Lança-me um apelo veemente e dorido: 'Que se passa com a nossa terra? Parece um país morto. A garra portuguesa foi aparada ou cortada por uma clique, espalhada por todos os sectores da vida nacional e que de tudo tomou conta. Indignem-se em massa, como dizia o Soares.

Nunca é de mais repetir o drama que se abateu sobre a maioria. Enquanto dois milhões de miúdos vivem na miséria, os bancos obtiveram lucros de 7,9 milhões por dia.
Há qualquer coisa de podre e de inquietantemente injusto nestes números. Dir-se-á que não há relação de causa e efeito. Há, claro que há. Qualquer economista sério encontrará associações entre os abismos da pobreza e da fome e os cumes ostensivos das riquezas adquiridas muitas vezes não se sabe como.

Prepara-se (preparam os 'socialistas modernos' de Sócrates) a privatização de quase tudo, especialmente da saúde, o mais rendível.

E o primeiro-ministro, naquela despudorada 'entrevista' à SIC, declama que está a defender o SNS! O desemprego atinge picos elevadíssimos. Sócrates diz exactamente o contrário. A mentira constitui, hoje, um desporto particularmente requintado. É impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente. Nenhum deles vai aos jornais, às Televisões e às Rádios falar verdade, contar a evidência. E a evidência é a fome, a miséria, a tristeza do nosso amargo viver; os nossos velhos a morrer nos jardins, com reformas de não chegam para comer quanto mais para adquirir remédios; os nossos jovens a tentar a sorte no estrangeiro, ou a desafiar a morte nas drogas; a iliteracia, a ignorância, o túnel negro sem fim.

Diz-se que, nas próximas eleições, este agrupamento voltará a ganhar. Diz-se que a alternativa é pior. Diz-se que estamos desgraçados. Diz um general que recebe pressões constantes para encabeçar um movimento de indignação. Diz-se que, um dia destes, rebenta uma explosão social com imprevisíveis consequências. Diz a SEDES, com alguns anos de atraso, como, aliás, é seu timbre, que a crise é muito má. Diz-se, diz-se.

Bem gostaríamos de saber o que dizem Mário Soares, António Arnaut, Manuel Alegre, Ana Gomes, Ferro Rodrigues (não sei quem mais, porque socialistas, socialistas, poucos há) acerca deste descalabro.

Não é só dizer: é fazer, é agir. O facto, meramente circunstancial, de este PS ter conquistado a maioria absoluta não legitima as atrocidades governamentais, que sobem em
escalada. O paliativo da substituição do sinistro Correia de Campos pela dr.ª Ana Jorge não passa de isso mesmo: paliativo. Apenas para toldar os olhos de quem ainda deseja ver, porque há outros que não vêem porque não querem.

A aceitação acrítica das decisões governamentais está coligada com a cumplicidade. Quando Vieira da Silva expõe um ar compungido, perante os relatórios internacionais sobre a miséria portuguesa, alguém lhe devia dizer para ter vergonha. Não se resolve este magno problema com a distribuição de umas migalhas, que possuem sempre o aspecto da caridadezinha fascista. Um socialista a sério jamais procedia daquele modo. E há soluções adequadas. O acréscimo do desemprego está na base deste atroz retrocesso.

Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso,seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. O quero, posso e mando de José Sócrates, o estilo hirto e autoritário, moldado em Cavaco, significa que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos portugueses.

Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta.


Baptista Bastos

4 comentários:

Quantos são?Quantos são? disse...

Aqui está mais um exemplo de mais um dos nossos "intelectuais".
Conhecido militante do PCP, não admira que entenda que a culpa é do Sócrates e dos socialistas.
Defende que o SNS é o mais rendível !!!
Certamente que os portugueses não concordam dado os impostos que têm que pagar para o manter sem dele tirarem a excelência exigível.
Um médico espanhol fez 230 cirurgias à vista em 6 dias , a média nacional é de 370 por médico/ ano!!!
Esquece-se das greves selvagens que o seu partido tem , por razões egoístas, apoiado e até organizado na função pública, única zona de influência que o seu sindicalismo sectário mantém na sociedade portuguesa.
Esquece-se a influência do PCP na educação e portanto a culpa que os professores e os seus sindicatos partilham com os dirigentes políticos no estado da educação.
Esquece-se que 70% dos impostos pagos pelos portugueses vão para alimentar os salários e os benefícios sociais dos funcionários públicos e não para os bolsos dos políticos.
Esquece-se que o seu partido é responsável em grande medida pela lei laboral retrógada e desaquada da realidade económica e que, em grande medida, se vira contra os trabalhadores contribuindo para o desinvestimento e para o crescimento do trabalho precário.
Como disse outro dia o Bagão Félix, se os trabalhadores da Autoeuropa seguissem as orientações da CGTP , hoje estavam todos no desemprego e , certamente o PCP estava feliz porque procura a política da terra queimada do ...quanto pior melhor !
Esquece-se que o seu partido com apenas 400 mil votos num universo de 10 milhões de habitantes nem sequer estava representado no Parlamento se não tivessemos uma lei eleitoral retrógada o que não acontece em nenhum país da Europa incluindo a Itália que recentemente revui a sua lei eleitoral.
Não se viu o PCP apoiar os cidadãos vítimas de abusos das Fimanças, pelo contrário viu-se o sindicatos desses trabalhadores e da CGTP insurgir-se contra os cidadãos e aproveitar para pedir mais salários que são justificados pela "perigosidade" da sua tarefa. Claro que , neste particular, dado que as receitas são para pagar os seus próprios salários, passa a valer tudo !
Quando o fisco abusivamente queria servir-se dos casamentos para se servir dos noivos como denunciantes de quem não paga impostos, o Sr Jerónimo de sousa veio dizer que apoiava porque todos tinham que pagar os impostos!
Em matéria de espírito da inquisição e de jacobinismo esta "esquerda" é muito pior que a direita.
Esquece-se que todas as propostas apresentadas pelo seu partido , significam um aumento da despesa pública que agora já representa 50% do PIB, quer dizer os portuguses trabalham mais de meio ano só para sustentar o Estado ineficiênciente, excepto no que toca a "sacar" do cidadão inde se mostra de eficácia tão grande que destruiu cerca de 50000 empresas só num ano na ansia de arrecadar receitas a qualquer preço.
Não se ouviu esta "esquerda" protestar contra os abusos da ASAE que se não tivesse sido parcialmente travada teria destruido mais empresas, sobretudo as pequenas e médias que o PCP protesta ser defensor !
Pelo contrário o primeiro a insurgir-se....foi o Portas!
E que dizer do apoio do PCP à lei do tabaco e mais importante que a lei, à forma dela ser implementada e fiscalizada no terreno, pejudicando direitos e influenciando uma área de actividade que emprega centenas de milhares de trabalhadores, no seguimento da cruzada contra os fumadores (esses criminosos) realizada por um tal Komeini que disse que se demitia se ela não fosse aprovada.
É até de compreender esta e outras atitudes do PCP que continua nostálgico pelos bons tempos do comunismo onde o Partido exercia uma ditadura feroz sobre os cidadãos negendo-lhes os mais elementares direitos de cidadania.
Só por isso se justifica que o PCP tenha impedido que a CGTP se tenha filiado da Confederação dos Sindicatos Europeus , para se filiar numa Confederação que inclui a Coreia do Norte, Cuba e a China!!
Só assim se compreende que o Presidente do grupo parlamentar do PCP tenha afirmado ao Expresso que " não estava convencido que o regime da COreia do NOrte não era democrático"
Só assim se compreende que lendo a Zita Seabra , 20 anos depois de Abril, o Comité Central do PCP estudava quando se daria a revoluçao armada popular para tomar o poder enquanto em publico defendia a Constituição e as " mais amplas liberdades "
Realmete vivemos num país que tem muito de mau,em que as nossas elitas partilham as responsibilidades nesse estado de coisas e que "intelectuais" como o Sr Batista Bastos fazem parte do bando de inúteis que passam o tempo a culpar os outros sem reconhecerem a sua própria culpa incluindo o partido que veneram.
Apesar de mau e da nossa democracia necessitar de grandes avanços, dos portugueses não saberem o que querem bastas vezes, sabem , no entanto, o que não querem : o regime de ditadura que o "papagaio" e o seu partido ainda acreditam que foi culpado pelo assassinato brutal de milhões de seres humanos.
Uma pequena "alteração Curchil : " a (nossa )democracia é os pior dos sistemas, excepto todos os outros

Duque de Bolonha disse...

Os tugas não sabem o que é a cultura da revolta... a haver uma revolução, terá novamente partir da iniciativa militar... porque o povo vai engolindo os sapos a seco e tá tudo bem...

Contribuinte disse...

Este Bastos vive, como se fosse um pobrezinho, numa casa disponibilizada pela Câmara Municipal de Lisboa (ao tempo do Jorge Sampaio), pagando menos de renda que um jovem estudante paga por um quartinho.
Isto é, somos nós, com os nossos impostos, que pagamos para o Bastos viver numa excelente casa em Benfica.
E canta de galo.
A falta de vergonha de certos sujeitos não tem limites.

João da Ega disse...

E é este o país que temos, falam, falam, mas tem todos telhados de vidro... o que conta são as aparências e esmagar o vizinho com as suas futilidades materiais... É Portugal no seu melhor, o por isto que este país estará sempre na cauda da Europa...

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