Os armacenenses raramente se indignam em conjunto e menos vezes em público.
A apatia, esse estado de indiferença ou de falta de interesse face ao processo de participação politica é, digamos, relativamente comum.
No entanto, algo surpreendentemente (para alguns) os armacenenses decidiram participar massivamente na sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Silves onde foi discutida a edificação do apoio de praia a que nos referimos recentemente, frente ao antigo restaurante Miramar.
Esta movimentação segue-se ao abaixo-assinado entretanto remetido para o Ministério do Ambiente e à Câmara de Silves, contestando veementemente a desproporção e a despropositada localização daquele “emplastro” plantado na Praia dos Pescadores.

Quanto a nós e acerca dos factos, consideramos quer a agressão estética, natural, numa Vila completamente subjugada à tirania da ditadura do mau-gosto imposta pela vontade imperial da Autarquia de Silves e sua Presidente, quer a reacção da população cuja indignação é legitima e compreensível e portanto igualmente natural, em função da sistemática violação estética a que se encontra sujeita.
O que nos faz voltar ao assunto, desta feita foram as declarações, quanto a nós deprimentes da Dra Isabel Soares, que são um primor de falta de sentido politico e de franca revelação sobre a sua dessintonia absoluta com as funções que desempenha, com aquelas para que se confessou candidata, com os valores e propósitos que pautam a conduta de um mandatário do povo do seu concelho.
O Correio da Manhã registou daquela senhora o seguinte:”A presidente da Câmara de Silves, Isabel Soares, disse ao CM entender o desgosto da população e frisou que a autarquia "tentou, sem sucesso, desde 2003, encontrar outra localização" para o equipamento. Mas, referiu, "a Administração da Região Hidrográfica do Algarve já disse que a estrutura é legal e a sua localização obteve o parecer favorável de todas as entidades com voto na matéria".”
Isto é, Pôncio Pilatos, não teria feito melhor!

Este procurador da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.c., período durante o qual Jesus Cristo foi condenado à morte, sem razão que o justificasse, pelos judeus, os quais preferiram libertar Barrabás, um “inimigo público”, criminoso de delito comum, a manter J.Cristo vivo, ficou célebre por ter publicamente pedido um lavatório e passado as suas mãos por água, face à decisão popular, em sinal de purificação, leia-se irresponsabilização.
De facto, esse triste senhor era mandatário do Imperador de Roma, mandante a quem servia em exclusividade e perante quem incumbia manter a paz social, leia-se a subjugação do povo dominado, o que pretendia perpetuar em favor da pax romana na região. Para tanto satisfez a vontade dos locais uma vez que a mesma não ameaçava os verdadeiros interesses de Roma, nem punha em causa o seu domínio. Isto é, perante o acessório, não hesitava em fazer a vontade ao povo, ainda que tirânica e sem, expressamente, comungar da decisão popular, já que nada de essencial aos seus propósitos imperiais tal decisão ameaçaria.
Com a lavagem de mãos declarava-se discordante, mas, tendo o poder de contrariar uma decisão com a qual se afirmava em desacordo, condescendia tolerantemente à vontade popular, capitalizado as boas graças em que ficava perante o gentio e daí (e das respectivas consequências), lavava as suas mãos, isto é irresponsabilizava-se.
Com o decurso dos tempos este episódio da história do cristianismo, sobretudo nos países de raízes culturais cristãs, é vulgarmente citado, fazendo-se reviver o exemplo de Pôncio Pilatos quando estamos perante uma situação de idêntica natureza.
Dai a oportunidade da sua citação!
Porquê? Porque Isabel Soares com aquelas declarações projectou desresponsabilizar-se ... apesar de não ter obtido qualquer sucesso !
Impõe-se ainda registar algumas diferenças entre estes dois exemplos do mesmo fenómeno da irresponsabilização perpetrado por pessoas investidas de poderes que, num caso podiam ser exercidos e noutro deviam ser exercidos.
No primeiro caso a omissão foi secularmente avaliada à luz dum código moral que condenou o seu autor para a eternidade, no segundo a omissão deverá ser avaliada à luz dos princípios enformadores de um estado de direito, os quais condenam inequivocamente aquela senhora, caracterizando-a como incapaz de prosseguir com competência democrática um mandato conferido pelos cidadãos.
Porque, ignorando a expressão do patente descontentamento popular, assente na violação evidente do seu direito à estética e dos interesses económicos gerais subjacentes, esqueceu quem é o seu mandante na Vila – o povo de Armação -.
Porque, tentando fazer o povo de idiota, afirma que a “localização obteve o parecer favorável de todas as entidades com voto na matéria", pensando que o povo desconhece que a Câmara a que Preside é uma dessas entidades, que nada fez em desabono da solução aberrante, podendo fazê-lo, e atribuindo à Administração da Região Hidrográfica do Algarve, o poder de César, esquece que César, hoje em dia e num estado democrático, é o povo!
E se o Cesár desta Senhora não é o povo, quem o será?

Que razões ainda restam para acreditar que entende o desgosto da população?
Que razões então terá a abstenção do concelho para não acorrer às urnas em ordem a pôr esta senhora de uma vez por todas, fora da Presidência da Câmara de Silves?