O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
terça-feira, 16 de junho de 2015
domingo, 14 de junho de 2015
A burqa também existiu no Algarve: era o bioco e dava liberdade à mulher
14/06/2015 – in jornal Público
No século XIX, um antigo governador civil que não gostava de ver as mulheres todas tapadas decretou a abolição do uso do trajo tradicional de todas as ruas e templos. Agora, foi recriado um bioco moderno mas a cabeça fica destapada.
A mulher algarvia, há pouco mais de um século, também usou burqa mas sem conotações religiosas. À capa negra que se estendia da cabeça aos pés e só permitia ver os olhos, foi dado o nome de bioco ou rebuço. Um antigo governador civil, em nome da nova civilização, decretou que este traje tradicional fosse banido das ruas e templos. Agora, o bioco está de volta em versão moderna, com outras histórias para contar.
O antigo governador civil de Faro, Júlio Lourenço Pinto, nascido no Porto, viu nesta peça de vestuário “vestígios da dominação muçulmana” que entendia não terem razão de existir no final do século XIX. Vai daí, extinguiu o bioco. No seu livro de crónicas O Algarve, publicado em 1894, justifica: Trata-se de uma “máscara” que poderia dar azo a certas libertinagens. Uma das razões invocadas prende-se com a fidelidade conjugal. Imagine-se uma “frágil pecadora” que, vestida de forma a não ser reconhecida, poderia atirar-se “sem perigo a aventura amorosa-romanesca ou a façanha de infidelidade conjugal”, afirma. Por isso, servindo-se dos poderes que lhe estavam conferidos, decretou: “É proibido nas ruas e templos de todas as povoações deste distrito o uso dos chamados rebuços ou biocos de que as mulheres se servem escondendo o rosto”, refere o artigo 32, do Regulamento Policial do distrito, publicado a 6 de Setembro de 1892.
Lurdes Silva, natural do Porto, “apaixonou-se” pelo bioco quando visitou o Museu do Trajo, em São Brás de Alportel – local onde se podem encontrar cópias de alguns exemplares. O amor à primeira vista por uma peça de vestuário, confessa, não é coisa rara. Mas, neste caso, houve mais do que isso. Esta professora da Universidade do Algarve, na área nas ciências económicas e empresariais, sentiu necessidade de mergulhar na cultura da região. “Levei dois anos a investigar a história desta peça”. Por fim, decidiu partilhar os conhecimentos e começou a produzir biocos colocando, no forro da peça, a história deste vestuário contada em português e inglês. Em 1922 no livro Os Pescadores, Raul Brandão dizia que se tratava de “um traje misterioso e atraente”, que alimentava especulações. Numa passagem da obra, referindo-se às mulheres de Olhão, escreve: “Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos”.
Mas qual é relação da burqa com o bioco? A burqa, diz Lurdes Silva, é uma “imposição masculina, aqui passa-se o contrário: o homem não quer que ela use, mas ela usa para ter mais liberdade”. Por conseguinte, os três modelos que concebeu, com design de Maria Caroço, puxam pelo lado estético da peça, sublinhando as histórias amorosas e o sentido da liberdade. Por isso, cada um tem a sua designação: mistério, tradição e paixão. O preço dos modelos recriados varia entre os 139 e os 159 euros.
Assim, a novidade deste Verão é um bioco, de um tecido leve, com grafitti assinado por Sen Silva – um artista com várias obras públicas em Olhão e com vários trabalhos expostos numa galeria em Almancil. “Tanto pode ser usado numa cerimónia, como numa festa sunset”, diz Lurdes Silva, referindo-se ao bioco “mistério”, uma peça sugerida pela cantora Viviane, a artista que integra o projecto ”Rua da Saudade”, em homenagem ao poeta Ary dos Santos, e canta “Do Chiado até ao Cais, e que se rendeu à recriação deste traje regional. As cores predominantes são o verde/figueira, o azul lusco-fusco do pôr-do-sol algarvio e o tijolo dos mercados de Olhão. Uma colecção destas peças vai estar patente ao público, na FIL, em Lisboa, entre 27 de Junho a 5 de Julho, numa mostra dedicada à inovação. Para já, no Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela, está patente, até 12 de Julho, na parte da tarde, uma exposição de biocos da autoria da artista plástica Joana Bandeira.
Bioco, um mito bem guardado
Mas nos finais do século XIX, a visão de Júlio Lourenço Pinto estava longe deste recente entusiasmo pelo bioco já que considerava que este não passava de um vestígio da cultura islâmica “sem elegância nem beleza”, feito de um tecido “negro sepulcral”, que não se coadunava com evolução civilizacional. Com alguma semelhança a este traje encontra-se o capelo, da ilha Terceira – que ainda faz parte do folclore açoriano e se tornou símbolo dessa região. No Algarve, a extinção oficial deu-se em 1892. Porém, continuou a ser usado em Olhão até meados dos anos 30 do século XX. O director do Museu do Trajo em São Brás de Alportel, Emanuel Sancho, diz que não passa de “um mito” a relação que se estabeleceu entre esta peça e o véu islâmico. “Há um século tapava-se a cabeça em toda a Europa – desde a Holanda, onde não havia biocos, até à Inglaterra e à França”, observa.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Necessidade/ Solidariedade: Um acto de comércio como outro qualquer!
Em Inglaterra, a cadeia de supermercados Waitrose,
oferece uma moeda (uma chapa) a cada cliente que faz compras acima dum
determinado valor.
O cliente, à saída, tem, normalmente, três caixas,
cada uma em nome duma instituição social sediada no município, para receber as
referidas moedas, de acordo com a opção do cliente.
Periodicamente, são contadas as moedas de cada caixa
e a empresa entrega em dinheiro, à respectiva instituição, o valor
correspondente, donativo esse que, diminui os seus lucros mas, também, tem o
devido tratamento em termos de fiscalidade.
Em Portugal, as campanhas de solidariedade custam ao
doador uma parte para a instituição, outra parte para o Estado e mais uma boa
parte para a empresa que está a “operacionalizar” (?!...) a acção.
Um país de espertos... até a ajuda aos mais
necessitados não escapa.
Entretanto nós ficamos quietos e calados, ou então,
estupidificamos voluntariamente...
Triste, muito triste, mas é bom saber...
Leiam s.f.f. e repassem.
Programa
de luta contra a fome. Nada é o que parece.
Ora vejamos:
Decorreu num destes fins de semana mais uma ação,
louvável, do programa da luta contra a fome mas,....atentem no seguinte e façam
o vosso juízo!
A recolha em hipermercados, segundo os telejornais, atingiu
cerca de 2.644 toneladas! Ou seja 2.644.000 Kilos.
Se cada pessoa adquiriu no hipermercado 1 produto com
vista à doação e lhe custou, digamos, 0.50 € (cinquenta cêntimos), faça a
seguinte conta:
-2.644.000 kg x 0,50 € dá 1.322.000,00 € (Um milhão,
trezentos e vinte e dois mil euros), total pago, à vista, nas caixas dos
hipermercados.
Conclusões:
a) Este “excesso” de consumo não ocorreria sem a
campanha; Daí que constitua, pelo dito “excesso”, sempre um “bom negocio” para
os supermercados.
b) Sem este consumo, exclusivamente motivado pelo
binómio: necessidade/solidariedade, o Estado não auferiria o respectivo IVA daquelas
transações “a mais”, assim como o IRC gerado nas contas dos supermercados, uma
vez que, tal aumento de facturação, influencia obviamente o seu resultado anual,
na medida do lucro liquido respectivo.
c) Mas...quanto auferiram, “à priori” o Estado e os
Supermercados?
1. o Estado, pelo menos: 304.000,00 € (23% iva),acrescendo
o IRC(?);
2. o Hipermercado, brutos: 396.600,00 € (margem de
lucro de cerca de 30%).
3. Ora :1.+2.= €700.000,00 (setecentos mil euros).
Recorde-se que o volume do “negocio” motivado pela
necessidade versus solidariedade, que as péssimas condições económicas dos
destinatários ocasionam, foi de: €1.322.000,00 (Um milhão, trezentos e vinte e
dois mil euros), logo:
Mais de 50% daquilo que você dá aos necessitados
(mais precisamente: 52,95%) fica-se pelo Estado e Hipermercados...
Poucos reparam, tal como eu, em quem mais,
comprovadamente, engorda com estas campanhas...
A ação da recolha e os milhares de
voluntários que realizaram esta tarefa, são dignos da maior consideração
social. Por parte de qualquer cidadão e não menos por parte do Estado! Mas que
Estado?
O legislador (assembleia da República e, ou,
Governo) (mandatário do cidadão-eleitor que lhe paga o salário) continua
deslealmente distraído porquanto, face a tamanho desmando, apesar da sua
estrutural verborreia legislativa, mantem uma lei do Mecenato cujo contributo é
absolutamente inexistente, quando se lhe impunha ocupar-se da realidade que a
todos entra pelos olhos adentro, concedendo ao binómio
necessidade/solidariedade, os benefícios fiscais adequados ao mesmo, não o
fazendo, ao serviço do confisco e seus apaniguados, num estado de direito
formal, materialmente amputado, no seio do qual, cada vez com mais frequência,
vai valendo tudo...
Na verdade, enquanto o Estado Social vai definhando,
o Estado Cobrador de Impostos que o neoliberalismo vai impondo, conserva-se
insensível às movimentações sociais de solidariedade promovidas pela iniciativa
privada, típicas dos estados liberais, que pretende ser, na busca, pela via do
absurdo, de soluções sociais de um “tipo novo” absolutamente invisíveis aos
olhos dos mais atentos observadores e historiadores.
Na senda da receita e do negócio à boleia da
necessidade/solidariedade do povo é útil voltar a recordar a catástrofe da
Madeira – exemplo das circunstâncias especialmente propícias à verificação, destas
mais valias - pela via da desgraça alheia, sendo sempre bom não esquecer:
- Porque é que os madeirenses, receberam apenas dois
milhões de euros (2.000.000,00) da solidariedade nacional, quando o que foi
doado foram dois milhões e 880 mil euros (2.880.000,00)?
Querem saber para onde foi esta "pequena"
parcela de 880.000,00 € ???
A campanha a favor das vítimas do temporal na
Madeira, através de chamadas telefónicas constituiu um atentado à solidariedade
e um insulto à necessidade que a determina.
Pelas televisões, a promoção rezava assim: Preço da
chamada 0,60 € + IVA.
Perfazendo 0,72 € no total.
O que dolosamente não se disse, é que o donativo que
chegou (!!!) ao beneficiário madeirense foi de apenas 0,50 €.
Assim, oferecemos 0,50 € a quem carece da
solidariedade, mas cobram-nos 0,72 €, mais 0,22 €, ou seja, 30%.
Quem beneficiou com esta diferença?
1º - a PT com 0,10 € (17%), isto é, a diferença dos
50 para os 60.
2º - o Estado com 0,12 € (20%), referente ao IVA
sobre 0,60 €.
Através duma campanha de solidariedade motivada por
uma catástrofe - as chamadas/doação - a PT manteve a sua margem de lucro, como
se nada de socialmente relevante se passasse e o Estado, pela via do IVA, encaixou
cirurgicamente a sua receita, fazendo vista grossa sobre a solidariedade
efectiva como se duma chamada telefónica se tratasse, o que, convenhamos,
constitui uma evidência inquestionável sobre a natureza da moral oficial e a sensibilidade
dos colectores de impostos e da lei que os move e enquadra.
Ora, a RTP anunciou, com imensa satisfação, que o
montante doado atingiu os 2.000.000,00 €.
Esqueceu-se, sintomaticamente, de informar que o povo
solidário suportou mais 44%, ou seja, mais 880.000,00 €, repartidos entre a PT (400.000,00
€) e o Estado (480.000,00 €).
Assim, enquanto a PT, manteve a sua margem de lucro
de 17%, num puro acto de solidariedade, o Estado, fez incidir o IVA, sobre um
produto da mais pura generosidade, como se de um acto comercial se tratasse!!!
TRATAR A SOLIDARIEDADE COMO UM ACTO DE COMÉRCIO É
UMA IMORALIDADE TOTALMENTE INACEITÁVEL E INDIGNA DE UM ESTADO DE DIREITO EM
CONFESSADO ESTADO DE NECESSIDADE.
PARA ALÉM DE UM TRISTE ESBULHO À BOLSA DOS CIDADÃOS,
CONSTITUI UMA AVILTANTE E PERIGOSA AMEAÇA Á SOLIDARIEDADE DO POVO PORTUGUÊS, o
único activo de muitos de nós!
É dever de qualquer um de nós: DENUNCIAR!
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quarta-feira, 10 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
sábado, 6 de junho de 2015
sexta-feira, 5 de junho de 2015
quinta-feira, 4 de junho de 2015
O Ditador que vai pagar o ordenado ao Jorge Jesus
Teodoro Obiang surge associado à ida de Jesus para o Sporting. A Guiné Equatorial é um país do tamanho do Alentejo, que é governada há 36 anos por um dos piores ditadores africanos.
Teodoro Obiang vai ser o dono do Sporting?
A Guiné Equatorial, país africano de 680 mil habitantes, tem uma área ligeiramente inferior à do Alentejo. Aos comandos da nação - composta pela ilha de Bioko, onde fica a capital, Malabo, e uma zona continental entre os Camarões e o Gabão - está, há 36 anos, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, considerado um dos piores ditadores africanos por várias organizações internacionais. Nascido durante a era colonial na então Guiné Espanhola, fez formação militar em Saragoça e foi um elemento importante do Governo do seu tio Francisco Macías Nguema, primeiro Presidente após a independência, conquistada em 1968. Em 1979, Obiang depôs o tio num golpe de Estado sangrento.
Ler mais aqui
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Haja Deus! e Caracóis também!
O grupo de activistas Acção Directa usou a sua página no Facebook para reagir às críticas de que tem sido alvo. Em causa está uma campanha em defesa dos caracóis, um petisco muito apreciado pelos portugueses nesta altura do ano.
A associação defende no Facebook que “estes animais sentem e por tal sofrem nas circunstâncias em que são instrumentalizados”. A campanha foi muito partilhada nas redes sociais – uns defendendo-a, outros ridicularizando-a.
“Só tenho uma coisa a dizer: atrasados mentais. Ah e outra coisa: Mudem de fornecedor porque a que vocês andam a fumar deve estar estragada” e “Isto é gente que come calhaus da calçada e mesmo assim não podem ter fungos...” são alguns dos comentários divulgados na página da Acção Directa.
“Infelizmente muito do feedback que obtivemos foi-nos dado de forma violenta, agressiva, ameaçadora e profundamente ignorante. Sabemos que esse é um claro sinal da eficiência da nossa iniciativa mas sabemos também que muitos dos activistas que deram a cara por esta campanha foram vítimas de comentários vários, impregnados de baixo nível e má educação. Este tipo de campanha veicula o respeito por todos os animais e, incompreensivelmente numa parte da população, está a gerar a antítese daquilo que defendemos. Questionamos como pode a defesa de um animal gerar uma onda de tanto ódio?! Todavia, a nossa página é “A nossa Casa” por isso não toleramos o tipo de linguagem que tem aqui sido proliferada”, escreve o grupo de activistas na sua página oficial naquela rede social.
“Pedimos desculpa a todos os activistas que participaram e especialmente a quem nos apoia. Pretendemos proteger quem connosco luta, por isso estamos também a apagar certos comentários e a proceder ao bloqueio e denúncia de muitas das pessoas que comentaram ofensivamente. Contamos com a vossa paciência e compreensão, este tipo de acção torna-se bastante polémica, especialmente por ainda vivermos numa sociedade retrógrada e discriminatória. No entanto, a vulnerabilidade a que possamos estar sujeitos é positivamente contrabalançada pela repercussão que podemos alcançar e estamos, assim, mais motivados a continuar com a nossa campanha. Manteremos a publicação das inúmeras fotos que temos em nossa posse e daremos continuidade à mesma sempre que nos for possível. Estamos também a planear uma próxima acção no âmbito desta campanha”, acrescentaram.
“Lembrem-se que isto não é sobre nós. É sobre os animais não-humanos que defendemos e pelos quais damos a nossa cara. É sobre Libertação Animal, seja ela humana ou não-humana. Somos todos animais. E com a certeza que nenhum de nós deve ser explorado e instrumentalizado, continuaremos a lutar até todos os animais serem livres”, conclui o grupo.
Joana Marques Alves in: ”Sol” 03/06/2015
A associação defende no Facebook que “estes animais sentem e por tal sofrem nas circunstâncias em que são instrumentalizados”. A campanha foi muito partilhada nas redes sociais – uns defendendo-a, outros ridicularizando-a.
“Só tenho uma coisa a dizer: atrasados mentais. Ah e outra coisa: Mudem de fornecedor porque a que vocês andam a fumar deve estar estragada” e “Isto é gente que come calhaus da calçada e mesmo assim não podem ter fungos...” são alguns dos comentários divulgados na página da Acção Directa.
“Infelizmente muito do feedback que obtivemos foi-nos dado de forma violenta, agressiva, ameaçadora e profundamente ignorante. Sabemos que esse é um claro sinal da eficiência da nossa iniciativa mas sabemos também que muitos dos activistas que deram a cara por esta campanha foram vítimas de comentários vários, impregnados de baixo nível e má educação. Este tipo de campanha veicula o respeito por todos os animais e, incompreensivelmente numa parte da população, está a gerar a antítese daquilo que defendemos. Questionamos como pode a defesa de um animal gerar uma onda de tanto ódio?! Todavia, a nossa página é “A nossa Casa” por isso não toleramos o tipo de linguagem que tem aqui sido proliferada”, escreve o grupo de activistas na sua página oficial naquela rede social.
“Pedimos desculpa a todos os activistas que participaram e especialmente a quem nos apoia. Pretendemos proteger quem connosco luta, por isso estamos também a apagar certos comentários e a proceder ao bloqueio e denúncia de muitas das pessoas que comentaram ofensivamente. Contamos com a vossa paciência e compreensão, este tipo de acção torna-se bastante polémica, especialmente por ainda vivermos numa sociedade retrógrada e discriminatória. No entanto, a vulnerabilidade a que possamos estar sujeitos é positivamente contrabalançada pela repercussão que podemos alcançar e estamos, assim, mais motivados a continuar com a nossa campanha. Manteremos a publicação das inúmeras fotos que temos em nossa posse e daremos continuidade à mesma sempre que nos for possível. Estamos também a planear uma próxima acção no âmbito desta campanha”, acrescentaram.
“Lembrem-se que isto não é sobre nós. É sobre os animais não-humanos que defendemos e pelos quais damos a nossa cara. É sobre Libertação Animal, seja ela humana ou não-humana. Somos todos animais. E com a certeza que nenhum de nós deve ser explorado e instrumentalizado, continuaremos a lutar até todos os animais serem livres”, conclui o grupo.
Joana Marques Alves in: ”Sol” 03/06/2015
terça-feira, 2 de junho de 2015
Portugal visto por António Lobo Antunes
Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida.
Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.
Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos.
Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.
Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estoico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.
O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.
O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal.
Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.
Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo
que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores, que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.
As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos semdificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha.
Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito.
Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis.
Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair.
Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.
Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.
Agradeçam a Linha Branca.
Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar.
Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.
Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos.
Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa.
Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar?
O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.
António Lobo Antunes
Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento.
Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos.
Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.
Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estoico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.
O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.
O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal.
Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.
Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo
que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores, que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.
As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos semdificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha.
Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito.
Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis.
Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair.
Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar de D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.
Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho.
Agradeçam a Linha Branca.
Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar.
Abaixo o Bem-Estar.
Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval.
Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos.
Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa.
Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.
Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar?
O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.
António Lobo Antunes
Etiquetas:
politica nacional
segunda-feira, 1 de junho de 2015
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