O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
domingo, 27 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
sexta-feira, 25 de abril de 2014
A "tesón" espanhola é, muitas vezes, retemperadora! No dia 25 de Abril de 2014, neste estado de coisas, um exemplo destes ganha ainda mais "élan"!
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Publicado hoje no blogue francês abaixo identificado, um artigo de opinião acerca de uma decisão do governo espanhol face à intenção de um grupo economico estrangeiro de adquirir o dominio de uma empresa produtora de azeite, lider de mercado.
Made in Spain
"O governo espanhol
desmotivou investidores estrangeiros que
pretendiam assumir o controle da maior
produtora de azeite, Deoleo,
sob o pretexto de que se trata de um
sector estratégico."
Made in Spain
Mis en
ligne le 25.04.2014 à 13:14
Guy
Sorman
Le
gouvernement espagnol a dissuadé des investisseurs étrangers de prendre le
contrôle du premier producteur d’huile d’olive, Deoleo, sous le prétexte qu’il
s’agirait d’une entreprise stratégique autant que symbolique. Est-ce vraiment
un combat qui mérite d’être livré à l’heure où toute économie est mondiale? Il
me semble plutôt que dans cette affaire, on se trompe d’enjeu. Reprenons donc
tout depuis le début.
Le
destin économique des nations se joue sur le marché mondial. Adam
Smith - La richesse des nations - avait pressenti cela dès 1776: il constatait
que les nations qui n'avaient rien à vendre de distinct se condamnaient à
rester pauvres. Deux siècles ont passé avant que cette leçon de base pour
économiste débutant ne soit universellement adoptée. Au temps d'Adam Smith, on
échangeait des oranges tropicales contre des cotonnades de Manchester. En
notre temps, au nom de la loi dite des avantages comparatifs, on échange plutôt
de la main-d'œuvre à bas prix contre de la technologie avancée. Mais cette
interprétation classique de l'échange me semble trop matérialiste, trop
réductrice pour représenter toute la mondialisation contemporaine: sur le marché
s'échangent des produits, mais aussi des rêves. Un rêve en économie se traduit
dans une marque: il est des marques qui séduisent (L'Oréal, Apple) et d'autres
qui rassurent (Boeing, Mercedes). On pourrait indexer la prospérité des
nations sur leur nombre de marques reconnues: chacun, s'il consomme, sait
citer vingt marques américaines, dix allemandes, cinq françaises et zéro russe
ou indienne.
Les
pays aussi sont des marques: un amateur de luxe automobile se
portera spontanément vers le Made in Germany, vers le Made in France pour la
mode, le Made in Japan pour l'esthétique, le Made in USA pour l'avance
technique, le Made in Switzerland pour les montres. Les produits et services
issus de ces pays à marque forte, bénéficient de ce que j'appelle une "valeur
culturelle ajoutée": le consommateur mondial est prêt à les payer
très au-dessus de leur prix de revient parce qu'il acquiert, en sus du produit
et du service, une part de rêve. Certaines nations qui n'eurent jamais de
connotation significative, telle la Corée du Sud, longtemps, ne s'imposèrent
que grâce à leurs prix cassés (ce fut à l'origine le cas du Japon et cela reste
celui de la Chine). Mais une marque nationale peut être créée et promue: la
Corée du Sud y parvient par un marketing habile (inspiré initialement par le
Japon) qui associe les institutions culturelles, le soutien gouvernemental à la
culture et les grandes entreprises privées. Celui qui, il y a dix ans, achetait
un téléphone Samsung parce qu'il était bon marché, le paye plus cher aujourd'hui
- en partie - parce qu'il est coréen. À l'instar de la Corée du Sud, on
pourrait citer le Chili: la marque nationale associant rêve et qualité y a été
délibérément construite. Il existe aussi des cas de marques dormantes.
L'Espagne est un cas exemplaire: sortie de l'autarcie il y a peu - 1986, entrée
dans l'Union européenne - tout le monde situe l'Espagne, mais Made in Spain
évoque des images surannées de flamenco, de tauromachie et de vacances bon
marché. Cette faible valeur ajoutée culturelle - hormis le tourisme - pèse sur
la croissance. Nul consommateur ne sait, par exemple, que l'Espagne est en
quantité le premier producteur d'huile d'olive, de vin, de sacs à main et de
souliers de qualité: à peu près tous ces produits sont exportés vers des pays tiers
comme la France, l'Italie et les États-Unis qui les revendent sous leur propre
marque. L'amateur européen ou américain, et chinois demain, d'huile d'olive ou
de vins fins serait étonné de lire sur l'étiquette de cette huile ou de ce vin,
la mention Made in Spain. Et il n'y attacherait aucun prix. On comprendra que la
marge bénéficiaire la plus substantielle, avec les richesses et emplois qu'elle
induit, va aux marchands de rêves plus qu'aux fabricants de la matière première.
Ce n'est pas le producteur de l'olive qui en profite le plus mais celui qui y
appose sa marque.
Grâce
à ses exportations qui représentent maintenant 34% de la production nationale
contre 24% en 2009, l'Espagne a retrouvé la croissance
(rappelons qu'en dehors des pages du journal ABC, peu de commentateurs
envisageaient en 2009 cette sortie de crise par des méthodes libérales). Mais
la valeur culturelle ajoutée de ces exportations reste faible: combien de
marques espagnoles, un consommateur mondial citerait-il? Certainement, Zara
inventée par l'entreprise Inditex; la banque Santander peut-être.
Les
stratèges en charge des économies nationales devraient emprunter à la
géopolitique les notions de "soft power" et de "hard
power". Par comparaison avec ses grands voisins européens, l'Espagne a,
ces dernières années, renforcé son "hard power" (un meilleur contrôle
des coûts de production en particulier), mais son "soft power" n'a
pas fait l'objet d'une grande politique. L'Espagne offre pourtant un exemple
fameux de création de "soft power » ex nihilo: le musée Guggenheim à
Bilbao. Imaginons un geste de portée équivalente à l'échelle nationale: il
conduirait tout consommateur d'huile d'olive à exiger la marque Made in Spain.
Et pas seulement pour les olives.
http://www.hebdo.ch/les-blogs/sorman-guy-le-futur-cest-tout-de-suite/made-spain
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politica nacional
quinta-feira, 24 de abril de 2014
quarta-feira, 23 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
Poema de Passos Coelho
Poema de Passos Coelho
Chamo-me Passos Coelho
Cortador de profissão
Corto ao jovem, corto ao velho,
Corto salário e pensão
Corto subsídios, reformas
Corto na Saúde e na Educação
Corto regras, leis e normas
E cago na Constituição
Corto ao escorreito e ao torto
Fecho Repartições, Tribunais
Corto bem-estar e conforto,
Corto aos filhos, corto aos pais
Corto ao público e ao privado
Aos independentes e liberais
Mas é aos agentes do Estado
Que gosto de cortar mais
Corto regalias, corto segurança
Corto direitos conquistados
Corto expectativas, esperança
Dias Santos e feriados
Corto ao polícia, ao bombeiro
Ao professor, ao soldado
Corto ao médico, ao enfermeiro
Corto ao desempregado
No corte sou viciado
A cortar sou campeão
Mas na gordura do Estado
Descansem, não corto, não.
Eu corto
a Bem da Nação
(anónimo)
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politica nacional
segunda-feira, 21 de abril de 2014
domingo, 20 de abril de 2014
sábado, 19 de abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Quem não quer ser lobo(a) não lhe vista a pele....
"Ir à Assembleia comemorar o quê, 40 anos depois?
Ter um fóssil como presidente da República; Uma tonta como presidente da Assembleia da República; Um barítono amador como presidente do governo da República; Um lusito da Mocidade Portuguesa como presidente da Comissão Europeia; Uma senhora do Movimento Nacional Feminino como presidente da caridade e das sopas dos pobres; Um soba movido a cachaça como presidente do governo da Madeira; Um homem invisível como presidente do BPN, a maior cloaca financeira da Europa; Um relojoeiro adamado como presidente da comissão de restauração da independência contra a troika; Um cervejeiro como presidente da televisão pública; Um funcionário do BES como presidente da comissão dos negócios do Estado; Um compère de revista de cabaret manhoso como presidente da Cultura?
Não, obrigado!"
Coronel Carlos de Matos Gomes, Capitão de Abril e escritor português de pseudónimo Carlos Vale Ferraz, natural de Vila Nova da Barquinha.
Ter um fóssil como presidente da República; Uma tonta como presidente da Assembleia da República; Um barítono amador como presidente do governo da República; Um lusito da Mocidade Portuguesa como presidente da Comissão Europeia; Uma senhora do Movimento Nacional Feminino como presidente da caridade e das sopas dos pobres; Um soba movido a cachaça como presidente do governo da Madeira; Um homem invisível como presidente do BPN, a maior cloaca financeira da Europa; Um relojoeiro adamado como presidente da comissão de restauração da independência contra a troika; Um cervejeiro como presidente da televisão pública; Um funcionário do BES como presidente da comissão dos negócios do Estado; Um compère de revista de cabaret manhoso como presidente da Cultura?
Não, obrigado!"
Coronel Carlos de Matos Gomes, Capitão de Abril e escritor português de pseudónimo Carlos Vale Ferraz, natural de Vila Nova da Barquinha.
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quinta-feira, 17 de abril de 2014
O problema, de facto, é seu Dona Esteves! Porque não ajustar-se também?
Os meios de comunicação
social, quando a si se referem, costumam usar a expressão “segunda figura do
Estado”. E percorrendo os atinentes artigos da Constituição, parece que é isso
mesmo que a senhora é. Pois é.
A Portugal e aos portugueses
daria algum jeito se, já que têm a primeira figura que têm, tivessem uma
segunda figura que soubesse imprimir ao seu cargo um pouco de dignidade. E a
senhora não sabe.
Digamos que é o seu
“inconseguimento”, mas é mesmo isso https://www.youtube.com/watch?v=sx_k3bSzCTo
..
Dir-se-ia que a senhora não
consegue (inconsegue) “projectar para a Assembleia e para o país o seu
softpower sagrado”, e, seja lá isso o que for, é uma pena.
Não sei se a senhora sabe que, nessa
cadeira onde se senta, ou pelo menos no local onde ela está, se sentaram homens
como Henrique de Barros, Vasco da Gama Fernandes, Leonardo Ribeiro de Almeida,
Fernando Amaral, para falar apenas destes. Que a senhora herdou a cadeira de
Jaime Gama, não de Albino dos Reis.
A Senhora Esteves, disse ontem que, se os
militares de Abril queriam falar (na sessão solene que em breve vai assinalar
os 40 anos da Revolução), e não falam, o problema é deles.
Não, senhora Esteves, o
problema não é deles, é seu!
Vou explicar-lhe uma coisa.
O Vasco Lourenço que a
senhora desconsiderou não é apenas um Vasco de apelido Lourenço. O Vasco
Lourenço que a senhora desconsiderou é um homem que fez a guerra e fez a Paz. O
Vasco Lourenço que a senhora desconsiderou é um dos operários da Liberdade em
que queremos viver e da Democracia que lhe permite a si, mulher, ser a segunda
figura do Estado.
Sei que isso pouco lhe
importa, que não teria pejo em ser o que tem sido e ocupar os cargos que tem
ocupado se o regime fosse aquele que o Vasco ajudou a derrubar.
Duvido é que, sem a obra do
Vasco e de outros corajosos militares, esse tal regime a tivesse deixado ser, a
si mulher, juiza do Tribunal Constitucional, eurodeputada, lusodeputada e agora
segunda figura do Estado.
O Vasco Lourenço que a
senhora desconsiderou é presidente da Associação 25 de Abril. Que essa
associação congrega militares e também civis que fizeram Abril, que gostam de
Abril, que gostam da Liberdade que Abril trouxe ao nosso país. Que por lá andam
também Garcia dos Santos, Martins Guerreiro, Soares Rodrigues e outros tantos
Homens de ideais. Que tem como associados de honra Fernando Salgueiro Maia,
Ernesto Melo Antunes, Fernando Valle, Sarmento Pimentel e, uma mulher. Sabia?
Chama-se Maria de Lurdes Pintasilgo.
E até um Homem cuja vida foi
um século de combates e que chegou a liderar o seu partido, senhora Esteves.
O Vasco Lourenço que a
senhora desconsiderou fez a guerra, fez a Paz, com outros cujos nomes talvez
nada lhe digam, corrigiu-lhe o rumo na altura em que tal foi necessário.
Falo de Franco Charais, de
Pezarat Correia, do Ernesto Melo Antunes.
Sabe que
entre todos eles e a senhora Esteves há uma diferença abissal? E é esta: Eles
serviram o Estado e o Povo português, a senhora sempre viveu a expensas do
Estado e do Povo português. Nunca fez mais nada.
A senhora Esteves acumula
pensões; eles, tal como eu próprio, acumulam cortes nas pensões. Isto para não
falar do Salgueiro Maia, a quem o seu mentor ideológico, cavaco de seu nome,
negou uma pensão ao mesmo tempo que as atribuia a dois pides, talvez os que lhe
tinham prometido emprego.
Não foi o Vasco que a senhora
Esteves ofendeu. Ofendeu todos os Portugueses que amam Abril, que amam a
Liberdade e a Democracia.
Alguns estão até no seu
partido, embora sejam cada vez menos.
O problema, de facto é seu,
senhora Esteves!
Nesta época de ajustamentos,
talvez não fosse despiciendo – pelo menos enquanto tiver o papel de primeira
figura da assembleia da República – ajustar-se à história do pais que é o seu e
porque não também à comunidade portuguesa de que é a segunda figura
representativa?
Ontem foi o dia grande do seu inconseguimento. Passar bem.
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quarta-feira, 16 de abril de 2014
terça-feira, 15 de abril de 2014
segunda-feira, 14 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
Grande Prémio de Romance e Novela da APE (Alexandra Lucas Coelho). Tudo fica mais claro...
Com pedido de publicação recebemos o texto que se segue:
"O que vem escrito abaixo é de leitura obrigatória uma vez espelha bem o que se passa no Portugal de hoje, dirigido (?) por uma cáfila de meninos, comandados a partir de Belém por um Sr. que acabou com quase tudo o que de produtivo Portugal tinha, que beneficiou da batota provocada por aqueles que, hoje em liberdade, nos obrigam a pagar os seus roubos, e que, paulatinamente mas sem decoro, nos vão subtraindo aquilo que nós, com o nosso trabalho, conseguimos amealhar ao longo de uma vida...
"O que vem escrito abaixo é de leitura obrigatória uma vez espelha bem o que se passa no Portugal de hoje, dirigido (?) por uma cáfila de meninos, comandados a partir de Belém por um Sr. que acabou com quase tudo o que de produtivo Portugal tinha, que beneficiou da batota provocada por aqueles que, hoje em liberdade, nos obrigam a pagar os seus roubos, e que, paulatinamente mas sem decoro, nos vão subtraindo aquilo que nós, com o nosso trabalho, conseguimos amealhar ao longo de uma vida...
Tudo isto vem a
propósito do prémio atribuído a Alexandra Lucas Coelho pela Associação
Portuguesa de Escritores (APE), na sala 2 da Fundação Gulbenkian, em 7 de
Abril, onde em representação do presidente da República esteve presente o
Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.
Alexandra Lucas Coelho
Não há gravações do que se
passou durante a entrega do Grande Prémio de Romance e Novela da APE, na sala 2
da Fundação Gulbenkian, a 7 de Abril. Havia jornalistas presentes mas não em
trabalho, a tomar notas. Por isso não há forma de citar ipsis verbis o
que disse o Secretário de Estado da Cultura (SEC), Jorge Barreto Xavier. Mas há
algumas dezenas de testemunhas que podem acrescentar ou corrigir o que vou
tentar resumir agora aqui, por tudo se ter passado numa cerimónia pública.
Sendo este prémio
tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, decidiu o actual
presidente, Cavaco Silva, à semelhança de anos anteriores, fazer-se
representar. Neste caso, pelo seu Consultor para Assuntos Culturais, Diogo
Pires Aurélio. Isto era o que eu sabia quando escrevi o discurso para a
ocasião.
Já no átrio da Gulbenkian,
perto da hora marcada, 18h, a APE comunicou-me que a cerimónia estava um pouco
atrasada porque esperavam o Secretário de Estado da Cultura.
Quando Barreto Xavier
chegou e entrámos todos para a sala, o protocolo sentou-o ao centro da mesa,
junto a Diogo Pires Aurélio. Nas pontas, Gulbenkian (representada por Rui
Vieira Nery), APE (José Manuel Mendes, José Correia Tavares), júri
(representado por Isabel Cristina Rodrigues) e eu. Vieira Nery abriu,
sucintamente; seguiram-se discursos da APE; Isabel Cristina Rodrigues leu o
texto em que o júri justifica a atribuição do prémio a "E a Noite
Roda". Diogo Pires Aurélio e eu levantámo-nos para que ele me entregasse o
sobrescrito do prémio, um minuto de formalidade, sem palavras, para a
fotografia. Chegou a minha vez de discursar, li as páginas que trazia. No fim,
houve uma ovação de pé. Digo isto para dar conta da atmosfera que os
representantes do poder político tinham diante de si.
A APE convidou então o SEC a
intervir. Ele escolheu falar sentado, sem se deslocar ao púlpito. Uma das
coisas que disse, na parte, digamos, cultural da intervenção, foi que eu bem
podia declarar que não fazia ficção porque claro que fazia ficção porque é isso
que um escritor faz, ficção. Foi o primeiro arroubo dirigista, que nos devia
ter preparado para o que aí vinha.
Na parte, digamos, política,
destaco quatro coisas: o SEC disse que eu devia estar grata por estarmos em
democracia e eu poder dizer o que dissera; que durante anos os portugueses se
tinham endividado acima das suas possibilidades; que, ao contrário do que eu
dissera, ninguém saíra de Portugal por incentivo deste governo; e, sobretudo,
que eu tinha dito que não devia nada a este governo mas que isso não era
verdade porque este governo também subsidiava o prémio.
Referia-se ele, assim, a um
prémio com décadas de existência; atribuído a alguns dos mais extraordinários
escritores de língua portuguesa; cujo montante em dinheiro resulta de vários
patrocínios, sendo que os públicos resultam do dinheiro dos contribuintes; e
que tem atravessado os mais variados governos, sem que nunca, que me recorde,
algum governante o tenha tentado instrumentalizar. Foi a mais escancarada
confusão de Estado com Governo que já presenciei, para além do tom chantagista
ao nível de jardim de infância das ditaduras. E, apesar dos apupos, de quem lhe
gritava da plateia "Mentira!" e "O Estado somos nós!", o
SEC insistia.
Como cabe ao Presidente da
República, ou seu representante, encerrar a cerimónia, a APE instou Diogo Pires
Aurélio a falar. O representante do Presidente da República declinou e encerrou
a sessão. No fim, cumprimentou cordatamente todos os presentes na mesa e
retirou-se.
Já Barreto Xavier, aproximou-se
de mim na confusão da retirada. Julguei que se vinha despedir, depois de dizer
o que tinha a dizer. Nada disso. Queria dizer-me, visivelmente irritado, que o
que eu fizera tinha sido de um grande "primarismo". Respondi-lhe que
então devia ter dito isso mesmo ao microfone, que eu já dissera o que tinha a
dizer e não lhe ia dizer mais nada. Fui andando, para contornar a mesa e acabar
com a cena, mas o SEC insistia: que eu tinha sido “primária”.
O Público pediu-me o discurso
para publicar online na tarde do dia 8. Quatro horas depois, 89 mil pessoas
tinham lido o texto. Ontem, o post no FB do "Público" tinha
sido visto por 170 mil. Obrigada a todos pela partilha.
O que disse então a escritora Alexandra Lucas Coelho :
O meu país não é do
orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é
voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se
quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal
apesar de o Governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se
fosse senhor da casa. Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República,
aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido.
É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio
Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no
Brasil, dando conta do pesadelo que o Governo de Portugal se tornou: Siza
dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo
que este Governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação,
Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou
simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas
que a História não confina a míseras notas de pé de página”.
Este país é dos bolseiros da FCT que viram
tudo interrompido; dos milhões de desempregados ou trabalhadores precários; dos
novos emigrantes que vi chegarem ao Brasil, a mais bem formada geração de
sempre, para darem tudo a outro país; dos muitos leitores que me foram
escrevendo nestes três anos e meio de Brasil a perguntar que conselhos podia eu
dar ao filho, à filha, ao amigo, que pensavam emigrar. Eu estava no Brasil,
para onde ninguém me tinha mandado, quando um membro do seu Governo disse
aquela coisa escandalosa, pois que os professores emigrassem. Ir para o mundo
por nossa vontade é tão essencial como não ir para o mundo porque não temos
alternativa. Este país é de todos esses, os que partem porque querem, os que
partem porque aqui se sentem a morrer, e levam um país melhor com eles, forte,
bonito, inventivo. Conheci-os, estão lá no Rio de Janeiro, a fazerem mais pela
imagem de Portugal, mais pela relação Portugal-Brasil do que qualquer discurso
oco dos políticos que neste momento nos governam. Contra o cliché do português,
o português do inho e do ito, o Portugal do apoucamento. Estão lá, revirando a
história do avesso, contra todo o mal que ela deixou, desde a colonização, da
escravatura.
Este país é do Changuito, que em 2008
fundou uma livraria de poesia em Lisboa, e depois a levou para o Rio de Janeiro
sem qualquer ajuda pública, e acartou 7000 livros, uma tonelada, para um 11.º
andar, que era o que dava para pagar de aluguer, e depois os acartou de volta
para casa, por tudo ter ficado demasiado caro. Este país é dele, que nunca se
sentaria na mesma sala que o actual Presidente da República.
E é de quem faz arte apesar do mercado, de
quem luta para que haja cinema, de quem não cruzou os braços quando o Governo
no poder estava a acabar com o cinema em Portugal. Eu ouvi realizadores e
produtores portugueses numa conferência de imprensa no Festival do Rio de
Janeiro contarem aos jornalistas presentes como 2012 ia ser o ano sem cinema em
Portugal. Eu fui vendo, à distância, autores, escritores, artistas sem dinheiro
para pagarem dívidas à Segurança Social, luz, água, renda de casa. E tanta
gente esquecida. E, ainda assim, de cada vez que eu chegava, Lisboa parecia-me
pujante, as pessoas juntavam-se, inventavam, aos altos e baixos.
Não devo nada ao Governo português no
poder. Mas devo muito aos poetas, aos agricultores, ao Rui Horta, que levou o
mundo para Montemor-o-Novo, à Bárbara Bulhosa, que fez a editora em que todos
nós, seus autores, queremos estar, em cumplicidade e entrega, num mercado cada
vez mais hostil, com margens canibais.
Os actuais governantes podem achar que o
trabalho deles não é ouvir isto, mas o trabalho deles não é outro se não ouvir
isto. Foi para ouvir isto, o que as pessoas têm a dizer, que foram eleitos,
embora não por mim. Cargo público não é prémio, é compromisso. Portugal talvez
não viva 100 anos, talvez o planeta não viva 100 anos, tudo corre para acabar,
sabemos. Mas enquanto isso estamos vivos, não somos sobreviventes.
Este romance também é sobre
Gaza. Quando me falam no terrorismo palestiniano confundindo tudo, Al-Qaeda e Resistência
pela nossa casa, pela terra dos nossos antepassados, pelo direito a estarmos
vivos, eu pergunto o que faria se tivesse filhos e vivesse em 40km por seis a
dez de largura, e antes de mim os meus antecedentes, e depois mim os meus
filhos, sem fim à vista. Partilhei com os meus amigos em Gaza bombardeamentos,
faltas de água, de luz, de provisões, os pesadelos das meninas à noite. Depois
de eu partir a vida deles continuou. E continua enquanto aqui estamos. Mais um
dia roubado à morte."
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