O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
domingo, 12 de janeiro de 2014
sábado, 11 de janeiro de 2014
Remorsos de um encenador de teatro
por FILIPE LA FÉRIA, DN, 29/12/2013
Muita gente me acusa de ser o culpado do estado de desgraça do nosso país por ter reprovado Pedro Passos Coelho numa audição em que eu procurava um cantor para fazer parte do elenco de My Fair Lady. Até o espertíssimo gato fedorento Ricardo Araújo Pereira já afirmou que eu devia ser chicoteado em público todos os dias até Passos Coelho desistir de ser primeiro-ministro, como insistentemente o aconselha o Dr. Soares.
Na verdade, confesso que em 2002, quando preparava os ensaios para levar à cena My Fair Lady fiz uma série de audições a cantores para procurar o intérprete do galã apaixonado por Elisa Doolittle, a pobre vendedora de flores do Covent Garden, personagem saída da cabeça brincalhona e maniqueísta de Bernard Shaw, genial dramaturgo que no seu tempo se fartou de gozar com políticos. Entre muitos concorrentes à audição, apareceu Pedro Passos Coelho de jeans, voz colocada, educadíssimo e bem-falante. Era aluno de Cristina de Castro, uma excelente cantora dos tempos de glória do São Carlos que tinha sido escolhida por Maria Callas para contracenar com a diva na Traviata quando da sua passagem histórica por Lisboa. As recomendações portanto não podiam ser melhores e a prova foi convincente. Porém, Passos Coelho era barítono e a partitura exigia um tenor. Foi por essa pequena idiossincrasia vocal que Passos Coelho não foi aceite, o que veio a ditar o futuro do jovem aspirante a cantor que, em breve, ascenderia a actor protagonista do perverso musical da política. Se não fosse a sua tessitura de voz de barítono, hoje estaria no palco do Politeama na Grande Revista à Portuguesa a dar à perna com o João Baião, a Marina Mota, a Maria Vieira, e talvez fosse muitíssimo mais feliz. Diria mal da forma como o Estado trata a cultura em Portugal, revoltar-se-ia com os impostos que o teatro é obrigado a pagar, saberia que um bilhete que é vendido ao público a dez euros, sete vão para o Estado, teria um ataque de nervos contra os lobbies da Secretaria de Estado da Cultura, há quarenta anos sempre os mesmos... não saberia sequer o nome do obscuro e discretíssimo secretário da Cultura oficial, não perceberia porque em Portugal não há uma Lei do Mecenato que permita aos produtores de espectáculos cativar os mecenas, tal é a volúpia cega dos impostos, saberia que cada vez mais há artistas no desemprego em condições miserabilistas e degradantes, que fazer teatro, cinema ou arte em Portugal se tornou um acto de loucura e de militância esquizofrénica. Mas a cantar no palco do Politeama estaria bem longe da bomba-relógio do Dr. Paulo Portas, cada vez mais fulgurante como pop-star, da troika, agora terrível e pós-seguramente medonha, das reuniões de quinta-feira com o Senhor Professor, do Gaspar que se pisgou para o Banco de Portugal, dos enredos do partido bem mais enfadonhas do que as animadas tricas dos bastidores do teatro, das reuniões intermináveis com os alucinados ministros, das manifestações dos professores, dos polícias, dos funcionários públicos, dos pescadores, dos estivadores, dos reformados, dos trabalhadores de tudo o que mexe e não mexe em cima deste desgraçado país, ah!, e das sentenças do Palácio Ratton que agora são chamadas para tudo, só para tramarem a cabeça intervencionada do pobre Pedrinho... não bastava já as constantes birrinhas do Tó Zé Seguro, as conversas da tanga do Dr. Durão Barroso, o charme cínico e discreto de Madame Christine Lagarde, as leoninas exigências da mandona da Europa para Bruxelas assinar a porcaria do cheque. Valha-me o Papa Francisco que tudo isto é de mais para um barítono!
Assumo o meu mais profundo remorso. Devia ter proporcionado ao rapaz um futuro mais insignificante mas mais feliz. Mas, tal como Elisa Doolittle, que depois de ser uma grande dama prefere voltar a vender flores no mercado de Covent Garden, talvez o nosso herói renegue todas as vaidades e vicissitudes da política e suba ao palco do Politeama para interpretar a versão pobrezinha mas bem portuguesa de Os Miseráveis!
PS. O artigo foi escrito em português antigo. No Teatro Politeama nem as bailarinas russas aderiram ao Acordo Ortográfico.
* Encenador e dramaturgo. Diplomou-se em Londres com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, foi diretor da Casa da Comédia. Com "What happened to Madalena Iglésias" iniciou e revitalizou o teatro ligeiro
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politica nacional
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Paulo Macedo e a armadilha da ADSE
Escrevo este texto longe de Portugal e posso não ter apanhado todos os argumentos sobre a aceleração das novas regras de sustentabilidade da ADSE. Não me surpreenderam as medidas, embora sejam naturalmente discutíveis, sobretudo pela velocidade a que as regras de contribuição e de comparticipação mudam por aquelas bandas. O que mais me espantou foi o regresso do discurso sobre a iniquidade e inutilidade da ADSE, tema sobre o qual Paulo Macedo se tinha pronunciado de forma clara e distinta.
Em finais de junho, na única entrevista de fundo que deu em dois anos, Paulo Macedo disse ao Expresso que não tinha qualquer intenção de acabar com a ADSE, porque era financeiramente autossustentável. Nessa entrevista Paulo Macedo deu uma lição a muita gente, a começar por alguns dos seus colegas - primeiro-ministro incluído -, quando separou ideologia de realidade. Ou seja, para Macedo a existência (ou não) da ADSE não é daquelas questões que ocupam alguns espíritos liberais menos informados ou transeuntes do Compromisso Portugal. Para o ministro da Saúde a questão era outra e tinha apenas a ver com a autossustentabilidade do subsistema e o tipo de acordos mais favoráveis ao ministério que gere. Favoráveis do ponto de vista orçamental e dos resultados nos indicadores de saúde.
Esta era a ideia que Paulo Macedo tinha em junho, mas que agora começa a ser de novo posta em causa. Não por ele (ainda) mas por quem o rodeia e que em vez de gerir ministérios da forma como ele faz (com apoio permanente na realidade) ou de fazerem política com base em estudos, preferem fazer variações sobre a igualdade de sistemas e gostavam que a ADSE acabasse amanhã.
Só para esclarecer, eu não tenho nada contra o fim da ADSE ou contra a sua continuidade. Apenas tenho medo de estar a assistir a uma discussão parecida com a do ensino da Matemática e dos alunos que não aprendiam nada, mas que afinal não era bem assim. Aliás, não era nada assim.
in Expresso, por Ricardo Costa
Em finais de junho, na única entrevista de fundo que deu em dois anos, Paulo Macedo disse ao Expresso que não tinha qualquer intenção de acabar com a ADSE, porque era financeiramente autossustentável. Nessa entrevista Paulo Macedo deu uma lição a muita gente, a começar por alguns dos seus colegas - primeiro-ministro incluído -, quando separou ideologia de realidade. Ou seja, para Macedo a existência (ou não) da ADSE não é daquelas questões que ocupam alguns espíritos liberais menos informados ou transeuntes do Compromisso Portugal. Para o ministro da Saúde a questão era outra e tinha apenas a ver com a autossustentabilidade do subsistema e o tipo de acordos mais favoráveis ao ministério que gere. Favoráveis do ponto de vista orçamental e dos resultados nos indicadores de saúde.
Esta era a ideia que Paulo Macedo tinha em junho, mas que agora começa a ser de novo posta em causa. Não por ele (ainda) mas por quem o rodeia e que em vez de gerir ministérios da forma como ele faz (com apoio permanente na realidade) ou de fazerem política com base em estudos, preferem fazer variações sobre a igualdade de sistemas e gostavam que a ADSE acabasse amanhã.
Só para esclarecer, eu não tenho nada contra o fim da ADSE ou contra a sua continuidade. Apenas tenho medo de estar a assistir a uma discussão parecida com a do ensino da Matemática e dos alunos que não aprendiam nada, mas que afinal não era bem assim. Aliás, não era nada assim.
in Expresso, por Ricardo Costa
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economia,
Saude Pública
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Armação de Pera: depois da tempestada vem a bonança, mas...
As previsões apontam para que estas situações se repitam no futuro, com maior frequência e com mais intensidade.
Devemos continuar a insistir na ocupação da orla costeira, como o temos feito até agora?
Devemos continuar a insistir na ocupação da orla costeira, como o temos feito até agora?
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
domingo, 5 de janeiro de 2014
sábado, 4 de janeiro de 2014
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
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