O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sexta-feira, 25 de novembro de 2016
Perturbações mentais aumentaram com a crise e já atingem um terço da população
In: "Obervador", 25.11.2016
Os problemas de saúde mental em Portugal, sobretudo os casos mais graves, aumentaram com a crise económica. Consumo de antidepressivos e ansiolíticos também aumenta, revela um estudo nacional.
Os problemas de saúde mental em Portugal, sobretudo os casos mais graves, aumentaram com a crise económica, atingindo quase um terço da população em 2015, a par de um aumento do consumo de antidepressivos e ansiolíticos, revela um estudo nacional.
Trata-se dos resultados preliminares do projeto “Crisis Impact”, que estuda os efeitos da crise económica sobre a saúde mental das populações em Portugal, e que será apresentado hoje, durante o Fórum Gulbenkian de Saúde Mental.
O estudo, da autoria de José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, baseia-se numa atualização do estudo nacional de saúde mental de 2008-2009, permitindo comparar os dados do início da crise com os do final de 2015.
A conclusão que mais ressalta do estudo é o “aumento significativo da prevalência de problemas de saúde mental durante este período”, evidenciando uma relação estreita com os fatores sociais e económicos resultantes da crise.
Segundo os dados preliminares, os problemas de saúde mental passaram de uma prevalência de 19,8% em 2008, para 31,2% em 2015, um aumento que se verificou em todos os níveis de gravidade, mas sobretudo nos casos de maior gravidade.
Nos problemas ligeiros passou-se de 13,6% para 16,8% (um aumento de três pontos percentuais), nos problemas moderados de 4,4% para 7,6% (3,2 pontos percentuais), e nos problemas mais graves de 1,8% para 6,8% (5 pontos percentuais).
A prevalência de problemas de saúde mental em 2015 foi mais elevada entre as mulheres, os idosos, os viúvos e separados e as pessoas com baixa escolaridade.
Quanto à relação destes problemas com a crise económica – nomeadamente a diminuição de rendimentos, o desemprego, a privação financeira e a descida de estatuto socioeconómico — o estudo demonstra que estão significativamente associados, revelando igualmente elevados padrões de perturbações depressivas e de ansiedade.
Mais de 40% das pessoas da amostra do estudo reportaram descida de rendimentos desde 2008, cerca de metade por corte de salários e pensões, 14% por desemprego, 6% por mudança de emprego e 5% por reforma.
Os que referem não ter rendimentos suficientes para pagar as suas despesas são quase 40% da amostra e apresentam uma prevalência significativamente mais elevada de problemas de saúde mental do que as que não sentem privação financeira.
A situação agrava-se quanto maior é a privação, sendo especialmente marcada no grupo de pessoas que não conseguem pagar as despesas básicas (comida, eletricidade, água) e que têm dívidas.
Pelo contrário, a existência de um elevado suporte social e o viver em bairros onde as pessoas se sentem seguras e bem integradas provaram ser fatores protetores em relação ao risco de ter problemas de saúde mental.
No que respeita ao uso de medicamentos, acompanha a tendência crescente da prevalência de problemas mentais, tendo-se verificado uma subida progressiva das percentagens de pessoas que usam psicofármacos, sobretudo antidepressivos e ansiolíticos.
Em valores absolutos, o uso destes medicamentos é muito mais elevado entre as mulheres, mas verificou-se um aumento particularmente elevado no consumo por parte dos homens, especialmente ansiolíticos.
Relativamente aos tratamentos, nos últimos cinco anos 27,9% das pessoas procuraram ajuda, sobretudo junto dos médicos de medicina geral, seguidos dos psiquiatras e psicólogos.
No geral, o sistema de saúde revelou capacidade de resposta, embora com alguns problemas a nível do acesso aos cuidados e sobretudo a nível da continuidade e da qualidade dos cuidados.
Se entre 70% e 80% das pessoas conseguiram ter acesso a cuidados, apenas 40% tiveram acesso aos cuidados adequados, sendo as dificuldades em cobrir os custos e em marcar consultas os principais obstáculos apontados.
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