O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sexta-feira, 20 de março de 2009

FERNANDO PESSOA SOBRE A AMIZADE


"Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
 dos tantos risos e momentos que partilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das 
vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do 
companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum
 desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que 
trocaremos.Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...


Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar
 cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:"Quem são aquelas pessoas?"
Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!
-"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons 
anos da minha vida!"



A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.

E, entre lágrimas abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes 
daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a
 viver a sua vida, isolada do passado.



E perder-nos-emos no tempo...Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes 
que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a 
causa de grandes tempestades....

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
 morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos 
os meus amigos!"



Fernando Pessoa

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