
Com os dados que dispomos, a vocação do imóvel para restaurante/bar/gelataria e o preço base do concurso lançado: 400.000,00 Euros (grosso modo o valor despendido com a realização da última Feira Medial em Silves), temos razões de sobra para temer o pior: mais uma obra do regime soarista visando fins eleitoralistas, a entronização do Kitch, a soberania do vazio, o malbaratar dos dinheiros públicos pela inconsequência dos fins em vista, o investimento público visando a exploração privada em concorrência desleal com os investidores privados, a frustração do interesse público pelo desvirtuamento dos fins do estado, a frustração dos interesses económicos e culturais patentes de Armação, do concelho e do Pais, através da prescindibilidade diletante de um recurso único da Vila, com vocação histórica para contribuir para a satisfação desses mesmos interesses.
Todos eles condimentos estruturantes da suspeita! Mesmo sem especular sobre interesses recônditos que lhe poderão estar na base, os quais, desconhecendo, prescindimos, por absoluta desnecessidade dos mesmos para, num plano lógico, levarmos a água ao moinho a que nos propomos.

Imóvel de inegável interesse e harmoniosa integração na paisagem, bem justificaria a classificação como de interesse municipal, dada a expressão que é do advento da vocação turística da terra e atenta a sua importância relativa na Vila.
Admite-se que, em resultado das novas valências que poderá reunir (por exemplo: um auditório), possa ser objecto de intervenção mais profunda, desde que em coerência ou contraste harmonioso com o projecto original.
O aproveitamento do subsolo do jardim, não prejudicando a sua existência, e não colidindo com a traça do edifício poderia gerar um recurso de espaço disponível de grande valia.
Mesmo no projecto inicial existem espaços que se destinaram a exploração privada como a tabacaria e cabeleireiro que hoje poderiam reverter ao serviço das valências que se justificam, uma vez que a variedade e maturidade da oferta do mercado entretanto alcançada os torna dispensáveis.
Um concurso de ideias direccionado a arquitectos poderia ser lançado, discutido e implementado, resultando em beneficio do imóvel e das suas valências futuras. E não resultando, a contratação de arquitecto(a) de reconhecida competência constituiria uma despesa estruturante, virtuosa e plenamente justificada.
Naturalmente que precedido de um concurso de ideias e discussão pública sobre as futuras valências daquele Ex libris.

Na verdade o projecto inicial visando o entretenimento: sala de baile e espectáculos de music hall, visava também o lazer: jogo, leitura, esplanada com vista soberba sobre a baía de Armação, dada a sua localização e implantação, como os serviços: a restauração o posto de turismo, tabacaria, cabeleireiro.
Estas vertentes podiam, hoje, ser objecto de ampliação, quer adicionando-lhes maior profundidade, quer aportando-lhes novas perspectivas.
Naturalmente que numa sociedade democrática não existem os condicionamentos da época que limitavam ou reduziam a expressão da cultura ao “corridinho”. Dai que o contributo de experiências recentes, relativas ao livro e às artes, deva ser conservado, embora gerido de forma mais dinâmica, interessante e complementada.
A pintura é uma arte cada vez mais popular, quer nos criadores quer no público em geral e conceder-lhe no espaço do Casino um lugar cativo parece-nos de fácil implementação. O mesmo se diga relativamente a outras artes, como a fotografia, o artesanato, exposições itinerantes, lançamentos, etc.

As empresas distribuidores (as que promovem as feiras do livro) dispõem de fundos abundantes e cremos que não seria dificil contar com a sua colaboração durante todo o ano. O modelo da oferta teria de sofrer profundas alterações tendentes ao aliciamento pela leitura em espaço agradável e culturalmente dinâmico do um tipo novo já conhecido no mercado português.
O possível auditório poderia potenciar um vasto conjunto de iniciativas complementares que tornariam o Casino num pólo dinâmico de atracção de pessoas e difusão cultural e turística sérias.
Em termos de animação, constitua-se o Casino em projecto sério e competente e um espaço de liberdade e criatividade que os agentes culturais aparecerão empenhadamente visando a participação.

Em matéria de entretenimento o Casino continua a dispor de pista de dança/palco de espectáculos, atractivos que não perderam simpatizantes e a oferta da Vila, de todo, não os preenche.
Por último, mas não por fim, resta-nos o nó-górdio da questão: os serviços que um equipamento desta natureza tem de oferecer (a componente do desfrute da paisagem, em esplanada, potenciando a natureza de autêntico miradouro que lhe foi, e bem, atribuída no projecto inicial, carece de um serviço de bar complementar) e precisa de ter (a lógica que defendemos de espaço cultural dinâmico é hoje inseparável de serviços de bar e até de restauração por um lado e por outro a vertente mais lúdica do espaço de baile e espectáculo também não vivem sem um apoio dessa natureza).
Foram vários os casos de explorações de insucesso. Melhor, não é conhecida, nos cinquenta anos de existência do Casino, uma exploração que tivesse tido sucesso suficiente que lhe permitisse manter-se. Mesmo a primeira (do conhecido Snr. Simões), que durou anos, acabou por socobrar em situação de insolvência de facto e daí a desistência.
A sazonalidade é um mal que os armacenenses conhecem bem e do qual não tem conseguido livrar-se.
É certo que também constitui um desafio! Mas pareçe-nos que a resposta a esse desafio tem sido a teimosia em continuar a investir baseados na esperança de que a economia da Vila mude por obra e graça do Divino Espírito Santo, o qual tem andado ocupado com problemas mais importantes e tem deixado os armacenenses à sua sorte e arte.

Não pode portanto um projecto desta dimensão pública contar credivelmente com investidores privados sem ter um mercado bastante que durante o ano se sustente, numa lógica privada, e remunere o investimento.
Não pretendendo arrastar o estado para se ocupar deste tipo de equipamentos, não podemos, parece-nos, prescindir de um conjunto de meios de que o mesmo dispõe e disponibiliza ao mercado, no pressuposto que se destinariam a prosseguir objectivos que também são do estado.
Por isso, um projecto desta natureza, podia e devia contar com os proveito de outras vertentes da despesa pública, estruturais e estruturantes, e de âmbito nacional.
Falamos naturalmente de uma iniciativa da autarquia tendente a trabalhar em parceria com as várias entidades existentes no concelho, na região, ou mesmo no Pais, para assim conseguirem desenvolver projectos que promovam o desenvolvimento integrado e sustentado.
Para o Casino, uma das novas valências que poderia/deveria ser implementada é a da formação e reciclagem profissionais para activos e jovens nas áreas da hotelaria e turismo.

A gastronomia é cada vez mais uma vertente turística de relevância significativa. O movimento internacional da slow food é disso demonstração cabal, bem como a consagração da dieta mediterrânica como património mundial. A gastronomia portuguesa, a sua variedade e qualidade constituem um recurso nacional a potenciar. No âmbito da mesma, também a doçaria tem uma expressão singular, pelo que o destaque destes verdadeiros trunfos incumbe a qualquer estratégia turística de fundo.



A prestação dos serviços complementares e necessários aos conteúdos que o Casino centralizaria e dinamizaria teria uma função turística patente a qual, neste particular, deveria pautar a sua prestação pela qualidade exemplar da gastronomia regional cuja formação e difusão se impõem numa Vila, num Concelho e num Pais que têm no turismo o seu petróleo!
Na sua medida, com meios disponíveis, o Casino poderia constituir um exemplo de parceria e cooperação entre várias fontes de recursos públicos, no interesse da sociedade civil, da cultura e da economia da Vila, do concelho e do Pais.
Assim as “elites” politicas no governo da Autarquia tenham a visão, a vontade e estejam à altura de tão elevados mas realizáveis propósitos!