O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sábado, 9 de agosto de 2025
A Gestão da Água em Silves: Uma História de Desperdício
Quando publicámos nesta página o post “Um Negócio que Perde Metade da Mercadoria — A Água em Silves”, recebemos alguns comentários questionando a veracidade dos números apresentados.
É importante esclarecer: os dados utilizados foram retirados de informação publicada pela ERSAR ou obtidos por extrapolação a partir dessa mesma fonte.
Os documentos da ERSAR, que disponibilizámos, mostram de forma clara que a Câmara Municipal de Silves reprova na maioria dos indicadores avaliados. O quadro está repleto de bolas vermelhas e laranja — sinal inequívoco de que, em 12 anos de mandato, os resultados pouco ou nada evoluíram.
Ter planos e projetos é essencial, mas mais importante ainda é ter a capacidade e competência para os implementar.
Parece, contudo, que a responsável pelo pelouro prefere maquilhar os maus resultados com propaganda, como se gerir uma câmara fosse o mesmo que participar em desfiles da Feira Medieval de Silves.
A água é um bem público, vital e escasso, que exige uma gestão responsável, estratégica e transparente. Em Silves, é urgente encontrar um novo rumo — ou corremos o risco de ver este recurso, e o futuro do concelho, a escoar-se pelas fissuras da má gestão.
Se quiser, também posso preparar uma versão mais incisiva e politicamente assertiva, ou, ao contrário, uma versão mais diplomática, que mantenha a crítica mas evite ataques pessoais diretos.
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quinta-feira, 7 de agosto de 2025
Transparência à Deriva em Armação de Pêra: A Opacidade Não Pode Ser a Regra
Num tempo em que os cidadãos exigem cada vez mais responsabilidade e clareza por parte dos seus representantes, é profundamente preocupante constatar a falta de transparência na atuação da Junta de Freguesia de Armação de Pêra. Este não é apenas um problema técnico ou uma falha pontual na comunicação institucional — é um sinal alarmante de desrespeito pelos princípios básicos da democracia local.
Desde 2022, os relatórios de prestação de contas deixaram de ser publicados no site oficial da junta. Este simples facto é revelador. A omissão deliberada ou negligente desses documentos compromete o direito fundamental dos cidadãos à informação e ao escrutínio. Se os munícipes não conseguem aceder a dados financeiros, como podem avaliar a gestão dos recursos públicos? Como podem confiar nos seus representantes?
A situação agrava-se quando verificamos que as atas das reuniões do executivo também não estão disponíveis. Pior: apenas a ata de instalação da Assembleia de Freguesia, datada de 2021, está acessível ao público. Três anos de decisões, deliberações e ações políticas desapareceram na névoa da opacidade institucional.
A transparência não pode ser um slogan vazio, repetido em campanhas eleitorais e depois ignorado durante os mandatos. Ela é um compromisso ético e legal. E quando a sua ausência coincide com resultados financeiros negativos — como foi o caso em 2023 e 2024, com prejuízos superiores a 10 mil euros num ano e 9 mil no seguinte — a preocupação transforma-se em indignação.
Segundo a Lei das Finanças Locais, as juntas de freguesia estão obrigadas a respeitar o princípio do equilíbrio orçamental. A receita corrente deve cobrir, no mínimo, a despesa corrente. Quando isso não acontece, estamos perante uma violação clara da lei. E mais: será que foram realizadas despesas sem cabimento orçamental? Terão sido ultrapassadas as dotações previstas? Quem fiscalizou estes atos?
Cabe à Assembleia de Freguesia, como órgão deliberativo, acompanhar e fiscalizar a atividade da Junta. Se não o fez de forma eficaz, também falhou na sua função. E se o fez, e nada foi corrigido, então há responsabilidades políticas e, possivelmente, financeiras a apurar.
Mais do que números negativos, o que está em causa é o impacto direto nas vidas dos cidadãos. Com despesas de investimento representando menos de 5% do orçamento, fica a pergunta: em que está a ser gasto o dinheiro dos contribuintes? Onde estão os projetos que melhorem os espaços públicos, os serviços, a qualidade de vida dos armacenenses?
A falta de investimento e a ausência de informação pública revelam um executivo encerrado em si mesmo, desconectado da população e, talvez, da legalidade. Os autarcas não podem esquecer que são responsáveis financeiramente pelos atos que prejudiquem o património público, sobretudo quando agem contra pareceres técnicos ou ignorando obrigações legais.
Chegou a hora de exigir mais. Mais transparência, mais responsabilidade, mais respeito. A democracia local não pode ser feita à porta fechada, nem gerida como se os cidadãos fossem meros espectadores. Armação de Pêra merece uma governação à altura dos seus desafios — uma governação que sirva e não se sirva.
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De Longe Se Ama. De Perto Se Luta.
Caro Vasco,
Antes de mais, agradecemos mais uma vez a sua atenção e o tempo que dedica a ler e comentar os conteúdos desta página. É sempre gratificante perceber que, mesmo longe, há quem continue com Armação de Pêra no coração.
Partilhamos consigo o apreço pela nossa terra e, claro, pela nossa praia — uma das mais belas do Algarve e com justa fama além-fronteiras. No entanto, como bem sabe, uma vila não vive só de praia. As pessoas que aqui habitam o ano inteiro — e aquelas que nos visitam — esperam (e merecem) condições básicas de salubridade, higiene urbana e bem-estar.
A realidade, infelizmente, é outra. Em pleno 2025, ainda lidamos com problemas como lixo acumulado nas ruas, cheiros nauseabundos, pragas descontroladas buracos nos passeios e uma evidente falta de planeamento e resposta eficaz por parte das autoridades locais. Questões que, como referiu, noutros países — como aquele onde reside — há muito foram resolvidas de forma estrutural e duradoura.
É justamente esse contraste que nos reforça a responsabilidade de continuar a intervir e a denunciar. Não por gosto da crítica gratuita ou por interesse partidário, mas por um compromisso cívico com a nossa terra.
Quanto à sua suspeita de motivação eleitoral ou ligação partidária, esclarecemos com toda a franqueza: não conhecemos nenhum dos candidatos das próximas eleições. A nossa única "agenda" é a de sempre — dar visibilidade aos problemas que afetam Armação de Pêra e contribuir para uma vila melhor. E para isso, temos vindo a publicar com regularidade desde 2006, em anos de eleições e fora delas, sobre temas locais, concelhios e até nacionais.
Compreendemos que estando longe, por vezes seja difícil captar toda a complexidade do que por cá se passa. Mas é também com contributos como o seu — vindos de quem tem uma perspetiva externa e comparativa — que conseguimos enriquecer a discussão pública.
A crítica construtiva é sempre bem-vinda. Já a insinuação de ligações obscuras, preferimos responder com transparência: o único "patrocínio" que temos é o da nossa consciência cívica.
Armação merece mais, e continuaremos a exigir mais.
Obrigada,
Cidadania
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democracia
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Armação de Pêra e o Mistério das Gaivotas Incontroláveis
Em Armação de Pêra, uma freguesia costeira onde as gaivotas têm mais direitos que os residentes, decorreu há uns anos uma reunião histórica entre uma cidadã preocupada e o presidente da junta. Guida Baptista, frequentadora atenta desta página e observadora de excelência da fauna e da inércia política, levou ao senhor presidente uma inquietação grave: o descontrolo das gaivotas.
A resposta? Um robusto e democrático "Não posso fazer nada!"
(Aparentemente, o cargo de presidente da junta serve apenas para cortar fitas e fingir escutar.)
Guida, munida de espírito cívico e paciência budista, perguntou então se pelo menos tinha havido algum contacto — mesmo um e-mailzinho — com as tais "outras entidades". Silêncio. O presidente, talvez em protesto silencioso, talvez por esquecimento permanente, nunca respondeu. A gestão local, segundo fontes próximas (e também distantes), é como as gaivotas: voa por cima dos problemas e larga excrementos administrativos em cima da população.
Mas nem tudo está perdido! Em 2020, o tesoureiro da junta, Bruno — sim, o mesmo que agora sonha com a presidência — resolveu ser inovador: elaborou uma análise SWOT. A análise, para quem não sabe, é uma ferramenta de gestão usada para planear estratégias com base em pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças.
Bruno, talvez inspirado por uma maratona de vídeos motivacionais no YouTube, lá preencheu o campo das “oportunidades” com entusiasmo. Já os “pontos fracos”, ficou para depois. E as ameaças? Esqueceu-se. Talvez porque não queria confrontar a realidade: a maior ameaça é ele próprio.
Segundo especialistas em sátira política, Bruno estaria mais indicado para entrar no Big Brother, onde o talento para discursos vazios e apresentações em powerpoints brilhantes o levaria longe. Gerir uma freguesia, no entanto, exige mais do que ser apresentador de bailaricos e colador de cartazes.
Enquanto isso, as gaivotas continuam a dominar os céus e as praças de Armação de Pêra. Talvez um dia, alguma entidade — talvez uma junta interplanetária — venha resolver a crise. Até lá, resta aos fregueses esperar… ou investir num chapéu de chuva reforçado.
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segunda-feira, 4 de agosto de 2025
Penélope Cruz e Javier Bardem regresan a Armação de Pêra: “Lost in the trash in a medieval city” promete ser um filme com cheiro a Água Brava
Logo que a Cidadania soube que Penélope Cruz e Javier Bardem podiam regressar a Armação de Pêra para rodar um novo filme, não houve hesitações: fizemos as malas, atirámos os carregadores de telemóvel para dentro de uma mochila e apanhámos o FlixBus mais próximo para Alcobendas.
Foi uma viagem épica — quase um “Thelma & Louise” em versão intermunicipal — só possível graças aos nossos generosos patrocinadores: à FlixBus, que nos ofereceu os bilhetes, à Casa de Pasto Lima e à Sónia, que nos salvaram de uma hipoglicemia severa com Taparueres de carapaus fritos e arroz de tomate, à Charcutaria Tradição e à Adelaide, que nos encheram a mala com pães alentejanos e chouriça, à pastelaria Pé de Açúcar (valha-nos o Paulo com os seus charutos de ovos) e, por fim, ao Camping Praia de Armação de Pêra, que nos emprestou uma tenda “caso a cosa corra mal en Madrid”.
Chegados a Alcobendas, a receção foi calorosa: Penélope abriu-nos a porta de bata de seda, enquanto Javier aparecia atrás com um frasco de Água Brava na mão, “mi perfume de guerra”, explicou. E assim começou a entrevista.
Cidadania: Porque escolheram Armação de Pêra para filmarem o novo projeto?
Penélope: Eu e o Javier estivemos em Armação em 2018 e voltámos durante a pandemia. Da primeira vez, fomos jantar ao restaurante Praia Dourada. Muy bonito, sabes? Depois do jantar, queríamos um doce típico algarvio e um empregado indicou-nos uma loja no centro, acho que se chamava Campidoce. Lá comemos uma torta de amêndoa que… ¡madre mía!… ainda hoje sonho com ela.
Javier: Mas o caminho do restaurante à pastelaria… horrible, fatal. Muito lixo, um cheiro a podre… parecia una bomba biológica. A Penélope teve que se encostar a mim e inspirar profundamente a minha Água Brava para não vomitar.
Penélope: Quando surgiu a oportunidade de filmarmos o filme “Lost in the trash in a medieval city”, vino directo a nuestra mente… Armação de Pêra! O produtor falou com o Bruno da Junta de Freguesia e a Luísa Conduto do Ayuntamiento — gente muy simpática — e garantiram: “Podem filmar tranquilos, o lixo é nosso forte.”
Cidadania: Então o lixo vai fazer parte do cenário?
Javier: Claro que sí! É quase um personagem principal. Vamos ter cenas dramáticas com sacos do Continente a voar pela praia e diálogos intensos junto a um ecoponto cheio.
Penélope: Eu tenho uma cena onde tropeço numa cadeira de praia partida, muy emocionante. Vai ser tipo “Cinema Paradiso”, mas com cheiro a sardinha e plásticos pelo chão.
Cidadania: Como estão a preparar-se para voltar a Armação de Pêra?
Penélope: Eu já pedi à minha mãe para mandar um stock de Fabuloso de lavanda para limparmos o terraço da casa que vamos alugar.
Javier: E eu só pedi uma coisa à produção: um carregamento de Água Brava. Es esencial.
Penélope: Queremos agradecer às pessoas de Armação, gente muy buena onda, e prometer que este filme vai mostrar o lado mais… como se diz…?… “pitoresco” da vila.
Javier: E também queremos agradecer a vocês da Cidadania, que nos visitaram aqui em Madrid carregados de chouriça alentejana. Essa chouriça… Dios mío!… vai ganhar um Óscar honorário.
Nota final: Esta reportagem só foi possível graças aos nossos patrocinadores da Cidadania, que nos encheram o estômago, a mochila e a coragem para irmos a Madrid: FlixBus, à Sónia da Casa de Pasto Lima,à Adelaide da Charcutaria Tradição, à pastelaria Pé de Açúcar e ao Camping Praia de Armação de Pêra.
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domingo, 3 de agosto de 2025
Após a análise do plano e orçamento da Câmara Municipal de Silves para 2025, há uma conclusão difícil de evitar: este é um orçamento pensado única e exclusivamente para as eleições de outubro.
O executivo apresenta um aumento significativo nas receitas previstas, aparentemente para justificar uma série de promessas de investimento – a realizar, dizem, já no próximo ano. Mas há um dado que não podemos ignorar: nos últimos anos, a despesa de capital nunca ultrapassou os 13 milhões de euros, e em 2024 nem sequer chegou aos 10 milhões. Pergunta-se: será credível que, de repente, a câmara consiga mais do que duplicar a execução orçamental? Ou estaremos apenas perante um cenário construído para fins eleitorais?
O próprio orçamento denuncia esta estratégia. A lista de ações e promessas é extensa, mas a maioria delas tem uma dotação simbólica – 10 euros – apenas para manter as iniciativas “em aberto” e criar a ilusão de um futuro investimento.
Basta olhar para Armação de Pêra. Nos últimos 12 anos, o investimento municipal na vila foi residual, completamente desproporcional ao contributo que dá para o orçamento do município. Em mais de uma década de governação pela atual coligação, contam-se pelos dedos de uma mão – e ainda sobram dedos – os investimentos efetivamente realizados em Armação de Pêra através do orçamento municipal.
Este é, portanto, um “orçamento dos amanhãs que cantam” – cheio de promessas, mas vazio de garantias de execução. O resultado? Doze anos perdidos para Armação de Pêra e para grande parte das freguesias do concelho de Silves, que continuam a ver o futuro adiado em nome de um presente eleitoralista.
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Orçamento Participativo
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Resíduos em Armação de Pêra: problema sem solução ou falta de vontade política?
Temos-nos debruçado diversas vezes sobre o tema dos resíduos nesta página. Já o fizemos de forma mais formal, outras vezes com algum sarcasmo — afinal, estamos no verão e até os problemas parecem pedir um tom mais descontraído. No entanto, a realidade das ruas de Armação de Pêra não permite grande humor: há lixo espalhado, contentores a transbordar e um odor desagradável que se torna inevitável para quem por ali passa.
Pelos comentários dos leitores, ficou claro que existe consenso: há, de facto, um problema sério na gestão dos resíduos sólidos, não só em Armação de Pêra, mas em todo o concelho de Silves. Muitos justificam a situação com o aumento populacional que ocorre nesta época do ano — a vila praticamente quadruplica em habitantes. Será inevitável, então, que o lixo se acumule e que as ruas fiquem sujas?
Outros cidadãos, porém, como Mário Nobre, ex-vogal da Junta de Freguesia de Armação de Pêra e atualmente deputado municipal, discordam dessa fatalidade. Nobre apresentou propostas concretas, quer na Assembleia de Freguesia, quer na Assembleia Municipal, para mitigar o problema que todos vemos diariamente. O que lhes aconteceu? Foram prontamente arquivadas, sem debate, sem abertura, sem qualquer tentativa de aproveitamento das ideias apresentadas.
Infelizmente, parece ser essa a postura dos responsáveis executivos, tanto na Junta de Freguesia como na Câmara Municipal de Silves: ouvidos fechados às sugestões da oposição e dos próprios munícipes. Fechados nos gabinetes — ou ocupados noutras profissões —, estes autarcas só parecem lembrar-se das pessoas num momento muito específico: o dia da eleição.
Armação de Pêra, é bom lembrar, é um contribuinte líquido para o orçamento da Câmara de Silves. A vila gera receitas, atrai turismo, cria riqueza para o concelho. Em troca, os moradores e visitantes esperam, no mínimo, serviços públicos eficientes e uma governação mais próxima e transparente.
Ter ruas limpas e um sistema de recolha de resíduos eficaz não devia ser um luxo, mas sim uma obrigação. O verão pode justificar mais movimento, mas não justifica o abandono. Falta estratégia? Falta planeamento? Ou, simplesmente, falta vontade política?
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A genialidade invisível: a solução final para o lixo em Armação de Pera
Há ideias boas, há ideias más… e depois há ideias tão geniais que só podem ter nascido numa reunião de “marting” às 9h da manhã, depois de um pequeno-almoço reforçado de bolas de Berlim e água das pedras.
Conta-se que, em Armação de Pera, havia um problema: as papeleiras viviam num estado de abundância tal, que fariam inveja a qualquer depósito de reciclagem alemão. Sempre cheias, sempre a transbordar, sempre a dar à vila aquele charme pitoresco de aterro improvisado.
Mas eis que os assessores de “marting” da junta de freguesia tiveram um momento eureka.
— “Se as papeleiras estão sempre cheias… porque não acabamos com as papeleiras?”
Silêncio. Depois, aplausos. Era a Mona Lisa da gestão urbana, o Nobel da limpeza, a descoberta do fogo versão 2.0.
Segundo fontes próximas da reunião, houve até quem sugerisse um slogan para a campanha:
“Sem papeleiras, sem problemas!”
Afinal, a lógica é irrefutável: se não há papeleiras, não há papeleiras cheias. E se não há papeleiras cheias, Armação de Pera deixa de ter “má imagem”. Um raciocínio digno de Sócrates (o filósofo, não o outro).
A vila já se prepara para a nova fase de “urbanismo minimalista”: ruas limpas porque, oficialmente, não há sítio para estarem sujas. O lixo? Ora, o lixo não conta. Sem papeleiras, o lixo é invisível — tal como os buracos no Orçamento de Estado.
E a ideia não vai parar aqui. Há rumores de que o próximo passo será retirar os bancos de jardim para acabar com a ocupação de espaços públicos, e quem sabe… demolir as casas para acabar com a crise da habitação.
Armação de Pera entra assim no mapa mundial da inovação. Primeiro vieram os smartphones, depois os carros elétricos… agora, a solução definitiva para o lixo: fazer de conta que ele não existe.
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quarta-feira, 30 de julho de 2025
Silves, o lixo e a verdade que não se varre para debaixo do tapete
No passado dia 29 de julho de 2025, publicámos aqui na nossa página o artigo “Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”, onde analisámos a gestão dos resíduos sólidos no concelho de Silves e apontámos falhas graves que continuam a manchar a imagem do município – e, pior ainda, a afetar a qualidade de vida de quem cá vive e de quem nos visita.
Entretanto, recebemos uma mensagem privada de um leitor que questiona as críticas feitas no nosso artigo. O leitor, que optou pelo anonimato, diz que as nossas afirmações “não são verdadeiras” e defende que a atual presidente, Dr.ª Rosa Palma, e a vereadora com o pelouro dos resíduos, Eng.ª Luísa Conduto, salvaram Silves de uma “desgraça” deixada pela direita após 16 anos de governação. Alega ainda que foram compradas novas viaturas de recolha de lixo e contratados mais trabalhadores, o que, na sua visão, mudou radicalmente o cenário.
📄 Nós respondemos com factos – e fazemos isso publicamente.
Hoje, partilhamos aqui o relatório oficial da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos) sobre o município de Silves. O documento não é nosso, não é de “oposição” e não é “opinião”: é uma avaliação técnica e independente.
E o que diz o relatório?
👉 Diz que as “bolas vermelhas” (os indicadores negativos) são mais do que muitas.
👉 Diz que, se um antigo comentador televisivo atribuísse uma nota, dificilmente Silves passaria de um 5 em 20.
Perante isto, deixamos uma pergunta que o relatório não responde, mas que todos em Armação de Pêra e nas freguesias vizinhas sentem na pele:
❓ Se tanto foi feito, porque é que as ruas continuam atulhadas em lixo, verão após verão?
🌊 Armação de Pêra é uma montra do concelho. No entanto, todos os anos, turistas e residentes deparam-se com contentores a transbordar, sacos acumulados, mau cheiro e imagens que não dignificam Silves nem o Algarve.
📢 Criticar não é atacar. Criticar é exigir melhor.
Publicamos este relatório da ERSAR para que os silvenses possam ver com os próprios olhos – e para que a discussão sobre os resíduos deixe de ser uma guerra de narrativas e passe a ser um debate sério, baseado em evidências.
Porque, no fim do dia, o lixo não mente.
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terça-feira, 29 de julho de 2025
“Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”
Fala-se muito de sustentabilidade, de economia circular, de reduzir, reutilizar e reciclar. Mas basta andar pelas ruas do concelho de Silves para perceber que o discurso ainda não saiu do papel. O último Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP) foi claro: o concelho de Silves chumbou em todos os indicadores de resíduos sólidos urbanos avaliados pela ERSAR. Surpresa? Para quem cá vive, nenhuma.
A verdade é que nos últimos três mandatos nada mudou. O lixo acumula-se, os contentores raramente são lavados, os maus odores e pragas já fazem parte do “cenário urbano”. E o pior: o tempo está a contar. Até 2030, a forma de cobrança dos serviços de resíduos vai mudar. A tarifa deixará de estar escondida na fatura da água e passará a ser calculada com base no lixo que cada um produz. O chamado sistema PAYT (Pay-As-You-Throw) não é opcional. Vai ser obrigatório — e Silves terá de o implementar.
E aqui levanta-se a pergunta que nenhum candidato à autarquia parece querer responder: quanto vamos pagar? Porque é inegável que a tarifa vai subir. E muito.
Mas não é só uma questão de dinheiro. É uma questão de política pública e de planeamento. Se nada for feito, vamos continuar a enterrar resíduos em aterros, a desperdiçar recursos, a acumular lixo nas ruas. O Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) é claro: temos metas até 2030 para recolha seletiva de biorresíduos, redução do que vai para aterro, aumento das taxas de reciclagem.
Só que tudo isto depende de algo que, até agora, parece faltar: envolvimento das populações. Não adianta ter novos sistemas de recolha seletiva se os cidadãos não forem informados, motivados e fiscalizados. E não adianta pedir às pessoas que separem corretamente o lixo se os contentores continuam sujos, malcheirosos e a atrair pragas. A higiene e a lavagem regular dos contentores são um serviço básico, mas, em Silves, continuam a ser tratados como luxo.
Se o município não acordar, se os candidatos não apresentarem planos claros — e se nós, cidadãos, não exigirmos resultados —, em 2030 não estaremos a falar de metas cumpridas, mas sim de tarifas altas, ruas sujas e mais promessas por cumprir.
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“Quem Precisa de Toldo Quando se Tem Promessas?”
Há coisas em falta que quase ninguém nota. Um quadro na parede, uma tampa de esgoto, a paciência para ouvir discursos de campanha. Mas um toldo no parque infantil? Esse, meus caros, até as crianças percebem que faz falta.
Desde que retiraram o dito cujo — há meses, sublinhe-se, porque na administração pública o tempo é uma entidade mística — os miúdos e os pais ficaram entregues à torreira do sol, como se estivessem a participar num reality show: “Quem derreter primeiro perde!”
Dizem as más línguas que alguém na Câmara de Silves ou na Junta de Freguesia decidiu que o toldo já tinha cumprido o seu papel. Talvez porque não têm filhos nem netos. Ou, quem sabe, porque só passam pelo parque à noite, quando vêm de blazer engomado para se mostrar nos espetáculos em ano de eleições.
O mais irónico? Se olhassem bem durante a noite perceberiam que o parque está tão mal iluminado que mais vale levar uma lanterna de campismo. Mas luz, sombra ou conforto para as pessoas? Isso não entra no cartaz eleitoral.
Enquanto isso, as crianças continuam a brincar ao sol, os avós procuram sombra como nómadas no deserto e o tal toldo — que faria tanta falta — tornou-se uma lenda urbana.
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segunda-feira, 28 de julho de 2025
Habitação Municipal em Silves: Um retrato de abandono
Falar de habitação municipal no concelho de Silves é, infelizmente, falar de um problema estrutural, de décadas de inação e de falta de visão. A maior parte do parque habitacional municipal foi construída entre as décadas de 70 e 90 do século passado, maioritariamente na cidade de Silves. Desde então, pouco ou nada foi feito para expandir, requalificar ou sequer manter o que existe.
Os números são gritantes: a habitação municipal representa apenas 0,3% do número total de alojamentos do concelho. Num país em que o parque habitacional público não chega sequer aos 2% — já de si um número embaraçoso, quando comparado com a média europeia de 9% segundo dados da Eurostat — Silves consegue fazer ainda pior. 0,3%… não sabemos se é para rir ou para chorar.
Grande parte dos imóveis municipais está degradada, resultado de anos de ausência de manutenção. Mas o caso mais flagrante é o de Armação de Pêra, a freguesia com maior pressão habitacional do concelho. Aqui, o parque habitacional municipal resume-se a… um único imóvel. Sim, leu bem: um. Uma casa de função, atribuída a um funcionário municipal em regime de comodato. Enquanto isso, Armação de Pêra é precisamente o local onde predomina o residente arrendatário, que enfrenta preços cada vez mais incomportáveis.
Pagamos impostos como os demais, mas recebemos zero em investimento nesta área crucial. Não há plano de expansão, não há construção de novas habitações públicas, não há reabilitação consistente do que existe.
E este cenário não é fruto do acaso: são 12 anos de inação com a gestão de Rosa Palma, somados a 12 anos de Isabel Soares. Um quarto de século a ver passar os comboios, enquanto os problemas se acumulam.
A habitação é um direito constitucional, mas em Silves tornou-se um privilégio inacessível. Chegou a hora de exigir mais do poder local e de colocar a habitação pública no centro das prioridades — porque continuar neste caminho é condenar o concelho a perder população, vitalidade e dignidade.
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domingo, 27 de julho de 2025
A Matemática e os Cantoneiros: Uma Equação por Resolver
Em 16 de julho, quando foram divulgados os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais, um número sobressaiu como um ponto vermelho num quadro branco: 42% dos alunos chumbaram a Matemática. A média caiu de 12,1 para 10,5 – e parece que o conceito de “regra de três simples” já é mais ficção científica do que realidade.
Ora, vem isto a propósito de uma pergunta aparentemente banal, mas que fez soar os sinos cá na vila:
— “Quantos cantoneiros são necessários para manter a freguesia limpa?”
Foi perguntado ao tesoureiro da Junta, homem de fala mansa e discurso polido, que logo respondeu:
— “Mais.”
Sim, mais. Mas quantos mais?
A partir daqui, a conversa descambou:
— “Ó senhor tesoureiro, e se fizéssemos as contas? Quantos quilómetros de estrada temos, quantos metros cada cantoneiro varre por hora, e pronto: uma conta de multiplicar e dividir.”
O homem coçou a cabeça, olhou para o assessor de Marting (sim, com “n”, porque “Marketing” parece palavra difícil de soletrar) e atirou:
— “Matemática é complicado. Nós cá trabalhamos é com sensações.”
O assessor, de blazer apertado e cara de quem fez um workshop de três horas em “Branding Territorial”, reforçou:
— “Bruno, não complique. Diga só que está tudo ‘em curso’ e use palavras fortes: reforçamos o compromisso com as pessoas, juntos conseguimos, resiliência, compromisso!”
Enquanto isso, lá continuam 10 cantoneiros, heróis anónimos, a varrer as ruas com vassouras gastas, porque os equipamentos da Junta estão encostados no parque de estacionamento. Avançam rumores de que uma das máquinas até foi usada como suporte de roupa do carnaval, mas nada foi confirmado.
E pensar que o avô de um dos moradores o “Recatreca” fazia contas com pipas de vinho:
— “Se com 3 pipas de vinho dava para 15 homens, quantas pipas preciso para regar a festa de Nossa Senhora dos Navegantes toda?”
Pois, parece que antigamente a Matemática tinha aplicação prática. Hoje, a aplicação é outra:
— “Se 42% dos alunos não sabem fazer contas, quantos políticos vamos ter daqui a 20 anos que ainda não sabem responder quantos cantoneiros precisamos?”
A Junta continua a responder que “está a fazer o melhor que pode”. O problema é que esse “melhor” não envolve operações de soma, subtração ou divisão.
No fim, resta a pergunta que devia estar no exame nacional do próximo ano:
“Se a vila tem 50 quilómetros de estrada, um cantoneiro varre 5 km por dia, e temos 10 cantoneiros, quantos dias serão precisos para varrer tudo? (Mostre o raciocínio, sem ajuda do assessor de Marting.)”
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sábado, 26 de julho de 2025
Silves é o centro do mundo? E as restantes freguesias?
No passado dia 21 de dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Silves anunciou, no seu site oficial, a aprovação do Orçamento Municipal e das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2025. Entre os muitos tópicos apresentados, destacou-se a programação cultural para o próximo ano – uma agenda rica, variada e, como o comunicado sublinha, de “qualidade”.
Eventos como a Mostra da Laranja, a Feira Medieval de Silves, o Jazz nas Adegas, o Silves Urban Music e as comemorações do 25 de abril são apontados como exemplos do dinamismo cultural do concelho. Contudo, há uma questão que não pode ser ignorada: quase todos estes eventos acontecem exclusivamente na cidade de Silves.
Será que as restantes freguesias não merecem igual atenção?
Será que Armação de Pêra, Alcantarilha, Pêra, São Bartolomeu de Messines, São Marcos da Serra e as outras localidades do concelho não têm direito a uma programação cultural própria, adequada à sua identidade e à sua população?
Em plena época natalícia, a aprovação do orçamento parece ter sido uma verdadeira “prenda de Natal” oferecida à cidade de Silves. Mas e os munícipes das outras freguesias? Não pagam os mesmos impostos? Armação de Pêra, por exemplo, é uma das freguesias que mais receita gera para o concelho – não deveria, no mínimo, receber uma fatia mais visível do investimento cultural?
Esta centralização levanta uma reflexão inevitável: os atuais eleitos estão a governar para todo o concelho ou apenas para a sede do município? E, mais importante, será que os eleitores de Armação de Pêra (e das restantes freguesias) ainda confiam que a sua voz é ouvida?
Cultura não deve ser privilégio de uma cidade. Cultura deve ser partilhada, descentralizada e inclusiva. Porque um concelho só é verdadeiramente forte quando todas as suas freguesias sentem que fazem parte dele.
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Sonho Urbano à Beira-Mar: O delírio noturno de José Casimiro
José Casimiro sentou-se, como tantas noites de verão, na esplanada do café Frente ao Mar, no Largo da Igreja. Pediu o seu café expresso — curto, para não adulterar a noite — e um Dom Rodrigo, que olhava para ele do prato como um pequeno tesouro açucarado.
À sua frente, o Jonathan, entertainer de rua, preparava-se para mais uma atuação. A coluna Bluetooth ganhou vida e, entre turistas distraídos e moradores sonolentos, começou a soar Dunas, dos GNR.
José Casimiro fechou os olhos ao beber o primeiro gole de café. E foi então que sonhou.
💭 O Sonho
As freguesias de Armação de Pêra e Alcantarilha e Pêra tinham finalmente deixado de ser duas entidades separadas: uniram-se, formando um território de 55,41 km², com mais de 11 mil habitantes, um verdadeiro motor económico do concelho de Silves.
No centro desta nova terra, a ribeira de Alcantarilha estava reabilitada. A água corria limpa, serena, e ligava o interior ao litoral como uma artéria azul. Ao longo dela, um passadiço pedonal transformara a paisagem — famílias passeavam ao entardecer, turistas tiravam selfies à luz da lua, e hashtags nasciam como flores: #NovaArmação, #PêraUnida, #DoRioAoMar.
🚋 O metro bus era a espinha dorsal do território. Não era só noturno, era uma linha regular, moderna, elétrica, que ligava as duas freguesias, cruzando o território com paragens bem pensadas. Da praia às escolas, do mercado ao interior, todos usavam o metro bus: moradores, turistas, estudantes, até os reformados iam ao café de Alcantarilha e voltavam em Armação como se nada fosse.
📈 Os números falavam por si: 14% da população tinha ensino superior, as indústrias criativas floresciam em antigos armazéns, os nómadas digitais trocavam Lisboa e Porto por este “novo território inteligente”. Havia coworkings com vista para a ribeira e até Nicole Kidman — sim, a própria — trocava a Comporta por uma vivenda algarvia, dizendo aos jornais: “Aqui encontrei o equilíbrio perfeito entre praia, pastéis de nata e internet rápida.”
🌱 Era um território sustentável, vibrante, jovem, com energia. Tudo parecia funcionar, tudo parecia fazer sentido.
📀 Mas então a música mudou.
Jonathan, num salto inesperado, abandonou GNR e começou a entoar o hino hip-hop da moda: “Rap da Esperança (Ou Não!)”. O beat pesado ecoou pelo largo e fez José Casimiro abrir os olhos.
☕ O café estava frio. O Dom Rodrigo, reduzido a um monte de fios de ovos e açúcar.
E a realidade caiu-lhe em cima como um balde de água gelada: os buracos nas calçadas, o lixo esquecido nas esquinas, os caixotes do lixo a transbordar no verão, a sensação de que quem devia gerir a freguesia andava a dormir em serviço.
José Casimiro suspirou. O metro bus, a ribeira reabilitada, Nicole Kidman a beber bica no Largo — tudo isso era apenas um sonho de verão.
Por agora, restava-lhe pagar o café, sacudir o açúcar do colo e pensar: “Talvez amanhã.”
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