O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 21 de outubro de 2012

A via do Gaspar de Treblinka com falsos slogans de que só a obediência concede a felicidade, por uns instantes, antes da morte!



Os cidadãos em geral encontram-se em circunstâncias deveras difíceis, de grande perplexidade quando serenos, de enorme ira quando fustigados com novas fronteiras traçadas adentro do seu pequeno quintal onde, já só com enorme criatividade, atinge o limiar da subsistência digna. Os que o conseguem, pois muitos outros já vêm aquela fronteira ser traçada sobre si próprios, convertendo-os em meio cidadãos.

Sabem porque vêem e sentem na pele, se não na própria, na de muitos e muitos outros, da crise e das perspectivas devastadoras que, anuncia-se, por aí vem.

Os portugueses em geral tem aguentado, firmes, progressivamente menos serenos é certo, as politicas de austeridade com a atitude de um bom pai de um filho que fez asneira da grossa.

Primeiro irrita-se, depois lamenta justificadamente a sua sorte e depois começa a equacionar a forma de resolver o problema do seu filho.

Claro que o bom pai a que nos referimos, no entretanto questiona-se, invariavelmente, onde terá errado, detectando frequentemente, se for exaustivo, nalguma das suas omissões - e há sempre uma quando somos inquisitoriais connosco próprios - a eventual causa remota da asneira do seu filho.

E a estória processar-se-á sempre assim, enquanto for possível àquele pai solver a divida do seu infeliz filho, ainda que com algum sacrifício.

Enfim, age como se a divida fosse sua e, agindo assim, age como se aquela tivesse sido contraída por si.

De algum modo e com as excepções sempre justificadíssimas, tem sido assim, resignados e serenos que os portugueses têm assistido ao empobrecimento generalizado que as politicas de austeridade tendentes à redução do défice e ao pagamento da divida, obrigam.

Sem correr o risco de imodéstia, consideramos os portugueses um povo com uma capacidade extraordinária de sacrifício. Para quem tiver dúvidas o “espectáculo” televisivo diário que o povo grego exibe, está aí para o demonstrar à contrario sensu!

Mas, voltando ao protagonista deste post, o bom pai de família, nem sempre agiria da mesma forma...
Bastaria que o montante da divida do seu filho ultrapassasse a sua capacidade de pagamento, ainda que no limite da sua capacidade de sacrifício.

Compreenderia facilmente que honrar a divida do filho, nos termos em que o credor o exige, determinaria não utilizar transportes para o trabalho (ir a pé obrigá-lo-ia a levantar-se todos os dias pelas cinco da manhã e chegar às dez da noite), determinaria tirar os outros filhos da escola (os transportes e os livros e as refeições seriam insuportáveis) determinaria terem uma refeição por dia (açorda, as vezes com alho e uma vez ou outra com ovo) determinaria deixar de pagar a hipoteca ou a renda (ainda que baixa) e depois, viver ao relento (sem renda paga é despejado) determinaria que deixasse de pagar o Lar onde a sua mãe, doente de Alzheimer, se encontrava hospedada, determinaria cancelar o seguro de saúde e claro, deixar de pagar os impostos que lhe cabem neste orçamento, e ainda assim, porque o seu rendimento familiar é de €1.350,00, ainda assim não conseguiria pagar a divida que lhe impunha uma mensalidade de 1.400,00 mensais.

Mas, o que diria qualquer pessoa, se ainda assim, o bom pai de família insistisse em pagar a divida naquelas condições, fazendo ver à mulher e aos outros filhos que conseguiria?

E o que diria qualquer pessoa, se ainda assim, o bom pai de família insistisse em pagar acima da prestação da divida, nas mesmas condições, fazendo ver à mulher e aos outros filhos, não só que conseguiria, como ainda que seria melhor assim pois acaba de pagar a divida mais cedo?

Em qualquer caso que estava louco e precisava de ser internado, urgentemente, uma vez que se impunha que trabalhasse para o sustento da sua família!

Grosso modo, o que o governo propõe com o presente OGE é a loucura que o bom pai de família da nossa estória faria se insistisse em pagar(atingir o défice exigido), nas condições determinadas pela Troika ou agravadas pela arrogância da ignorância do governo da nação.

É, declaradamente, optar por se portar bem num campo de extermínio, visando manter-se vivo por mais alguns dias!

Sabemos que a nossa economia é pequena! E sabemos que as nossas elites ainda são mais pequenas que aquela.

Sabendo a verdade, sabemos a sua consequência: como poderemos e sobretudo quando, ser um pais sustentável economicamente depois de o colocarmos de novo nos anos cinquenta ou mesmo quarenta?

Com a solidariedade europeia? Não nos parece que essa via seja credível, pois não se verificando agora, quando é patente, necessária e urgente, é patente que o projecto europeu, tal como foi contratado, deixou de existir!

O caminho que escolhemos e a solução que não discutimos conduz-nos para uma existência próxima de um modelo que já nem sequer imaginamos: o de uma Bulgária ou uma Roménia dos tempos da Cortina de Ferro.

O único aspecto positivo que tal expectro encerra é o de sabermos de entemão que lá não iremos ter que levar com o Gaspar (nem como outros que tais). É que nessa altura ele vai estar certamente a viver em Bruxelas ou Nova Iorque, bem longe desta piolheira!


1 comentário:

Ana Faria disse...

Boa tarde,
O meu nome é Ana Faria, sou estudante de primeiro ano da Universidade Técnica de Lisboa na área das Ciências Sociais e Política e neste momento tenho uma unidade curricular em que nos foi proposto a realização de um exercício de trabalho de investigação sobre o tema "As Redes Sociais e a Sociedade Civil". Dentro deste tema, escolhi o subtema "As Redes Sociais e a Cidadania Digital" e encontrei o vosso blog que espelha precisamente o conceito de cidadania digital. Preciso de realizar uma entrevista para o meu trabalho e gostaria de saber se estam dispostos a colaborar comigo ? Não será necessário filmar. Apesar de ser de Albufeira, também não nos temos de encontrar podem simplesmente responder pelo vosso blog ou no meu.
Basicamente interessa-me saber o porquê da necessidade de criação do vosso blog e de participação enquanto cidadãos na blogosfera, mas não é só isto dai que seja necessária uma entrevista.
Contactem-me ou por e-mail para fariana.anafaria@gmail.com ou para logboek.blogs.sapo.pt.
Aguardo uma resposta,
Obrigada.



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