Os cidadãos em geral encontram-se em
circunstâncias deveras difíceis, de grande perplexidade quando serenos, de
enorme ira quando fustigados com novas fronteiras traçadas adentro do seu
pequeno quintal onde, já só com enorme criatividade, atinge o limiar da
subsistência digna. Os que o conseguem, pois muitos outros já vêm aquela
fronteira ser traçada sobre si próprios, convertendo-os em meio cidadãos.
Sabem porque vêem e sentem na pele, se não na
própria, na de muitos e muitos outros, da crise e das perspectivas devastadoras
que, anuncia-se, por aí vem.
Os portugueses em geral tem aguentado, firmes,
progressivamente menos serenos é certo, as politicas de austeridade com a
atitude de um bom pai de um filho que fez asneira da grossa.
Primeiro irrita-se, depois lamenta
justificadamente a sua sorte e depois começa a equacionar a forma de resolver o
problema do seu filho.
Claro que o bom pai a que nos referimos, no
entretanto questiona-se, invariavelmente, onde terá errado, detectando
frequentemente, se for exaustivo, nalguma das suas omissões - e há sempre uma
quando somos inquisitoriais connosco próprios - a eventual causa remota da
asneira do seu filho.
E a estória processar-se-á sempre assim,
enquanto for possível àquele pai solver a divida do seu infeliz filho, ainda
que com algum sacrifício.
Enfim, age como se a divida fosse sua e,
agindo assim, age como se aquela tivesse sido contraída por si.
De algum modo e com as excepções sempre
justificadíssimas, tem sido assim, resignados e serenos que os portugueses têm
assistido ao empobrecimento generalizado que as politicas de austeridade
tendentes à redução do défice e ao pagamento da divida, obrigam.
Sem correr o risco de imodéstia, consideramos
os portugueses um povo com uma capacidade extraordinária de sacrifício. Para
quem tiver dúvidas o “espectáculo” televisivo diário que o povo grego exibe,
está aí para o demonstrar à contrario
sensu!
Mas, voltando ao protagonista deste post, o
bom pai de família, nem sempre agiria da mesma forma...
Bastaria que o montante da divida do seu filho
ultrapassasse a sua capacidade de pagamento, ainda que no limite da sua
capacidade de sacrifício.
Compreenderia facilmente que honrar a divida
do filho, nos termos em que o credor o exige, determinaria não utilizar
transportes para o trabalho (ir a pé obrigá-lo-ia a levantar-se todos os dias
pelas cinco da manhã e chegar às dez da noite), determinaria tirar os outros
filhos da escola (os transportes e os livros e as refeições seriam
insuportáveis) determinaria terem uma refeição por dia (açorda, as vezes com
alho e uma vez ou outra com ovo) determinaria deixar de pagar a hipoteca ou a
renda (ainda que baixa) e depois, viver ao relento (sem renda paga é despejado)
determinaria que deixasse de pagar o Lar onde a sua mãe, doente de Alzheimer,
se encontrava hospedada, determinaria cancelar o seguro de saúde e claro,
deixar de pagar os impostos que lhe cabem neste orçamento, e ainda assim,
porque o seu rendimento familiar é de €1.350,00, ainda assim não conseguiria
pagar a divida que lhe impunha uma mensalidade de 1.400,00 mensais.
Mas, o que diria qualquer pessoa, se ainda
assim, o bom pai de família insistisse em pagar a divida naquelas condições,
fazendo ver à mulher e aos outros filhos que conseguiria?
E o que diria qualquer pessoa, se ainda assim,
o bom pai de família insistisse em pagar acima da prestação da divida, nas
mesmas condições, fazendo ver à mulher e aos outros filhos, não só que
conseguiria, como ainda que seria melhor assim pois acaba de pagar a divida
mais cedo?
Em qualquer caso que estava louco e precisava
de ser internado, urgentemente, uma vez que se impunha que trabalhasse para o
sustento da sua família!
Grosso modo, o que o governo propõe com o presente
OGE é a loucura que o bom pai de família da nossa estória faria se insistisse
em pagar(atingir o défice exigido), nas condições determinadas pela Troika ou
agravadas pela arrogância da ignorância do governo da nação.
É, declaradamente, optar por se portar bem num
campo de extermínio, visando manter-se vivo por mais alguns dias!
Sabemos que a nossa economia é pequena! E
sabemos que as nossas elites ainda são mais pequenas que aquela.
Sabendo a verdade, sabemos a sua consequência:
como poderemos e sobretudo quando, ser um pais sustentável economicamente
depois de o colocarmos de novo nos anos cinquenta ou mesmo quarenta?
Com a solidariedade europeia? Não nos parece
que essa via seja credível, pois não se verificando agora, quando é patente,
necessária e urgente, é patente que o projecto europeu, tal como foi
contratado, deixou de existir!
O caminho que escolhemos e a solução que não
discutimos conduz-nos para uma existência próxima de um modelo que já nem sequer
imaginamos: o de uma Bulgária ou uma Roménia dos tempos da Cortina de Ferro.
O único aspecto positivo que tal expectro encerra é o de sabermos de entemão que lá não iremos ter que levar com o Gaspar (nem como outros que tais). É que nessa altura ele vai estar certamente a viver em Bruxelas ou Nova Iorque, bem longe desta piolheira!
1 comentário:
Boa tarde,
O meu nome é Ana Faria, sou estudante de primeiro ano da Universidade Técnica de Lisboa na área das Ciências Sociais e Política e neste momento tenho uma unidade curricular em que nos foi proposto a realização de um exercício de trabalho de investigação sobre o tema "As Redes Sociais e a Sociedade Civil". Dentro deste tema, escolhi o subtema "As Redes Sociais e a Cidadania Digital" e encontrei o vosso blog que espelha precisamente o conceito de cidadania digital. Preciso de realizar uma entrevista para o meu trabalho e gostaria de saber se estam dispostos a colaborar comigo ? Não será necessário filmar. Apesar de ser de Albufeira, também não nos temos de encontrar podem simplesmente responder pelo vosso blog ou no meu.
Basicamente interessa-me saber o porquê da necessidade de criação do vosso blog e de participação enquanto cidadãos na blogosfera, mas não é só isto dai que seja necessária uma entrevista.
Contactem-me ou por e-mail para fariana.anafaria@gmail.com ou para logboek.blogs.sapo.pt.
Aguardo uma resposta,
Obrigada.
Enviar um comentário