O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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2 comentários:
Quando oiço os representantes da Troika afirmarem que nos portámos bem no cumprimento das medidas do acordo assinado há uns meses, dá-me calafrios. Lembro-me de todas as pancadinhas nas costas que os anteriores governos receberam da UE por estarmos a ser "bons alunos" das suas directivas, o que, grosso modo, traduziu-se na mutilação do nosso sector produtivo, principalmente do primário. Esta coisa de nos passarem dinheiro para as mãos, que pagaremos(?) mais tarde e com juros e de continuarmos a ir aos mercados financiarmo-nos para saldar as contas, endividando-nos cada vez mais, faz uma confusão desgraçada à minha mente saloia criada no meio dos coelhos, tractores e caixas de fruta acabadinha de apanhar da árvore. Faz-me lembrar aquelas pessoas que contraem um empréstimo para liquidar os dois ou três (na melhor das hipóteses) que têm pendentes.
Isto de o nosso governo estar sempre a querer apresentar trabalho aos senhores engravatados e de forte sotaque nórdico, faz-me lembrar aqueles lambe-botas que passam a vida a servir cafés ao patrão, a fazer horas extraordinárias simplesmente para que fique registado na folha de serviço, a antecipar-se aos desígnios de que está incumbido, na esperança de assim possa assegurar o seu posto de trabalho quando 99,9% do pessoal da empresa for corrido. Isso ou um cão a abanar a cauda, entusiasta e de língua de fora, depois de ter levado o jornal ao dono, enquanto este lhe dispensa duas fugazes palmadinhas no lombo. Assim se comporta Vítor Capacho: avia as medidas que vão cair mal, remete explicações para o triunvirato que agora gere a Portugal S.A. e dissolve-se no ar como se não tivesse nada a ver com o assunto.
Depois de muito remoer, resolvi deixar de ser tacanha, ir além dos galinheiros e da pêra rocha e tentar compreender os motivos que estão na base do aumento do IVA da electricidade e do gás natural para o escalão máximo. Isto porque, quem seja contra estas medidas só pode ser comuna, pobre, burro ou tudo em simultâneo. Cheguei à conclusão que o actual executivo pretende, literalmente, tratar da nossa saúde. Senão vejamos:
a) ao aumentar o preço da electricidade, a população vai usar menos dispositivos eléctricos, desligando mais cedo a televisão e a internet, deitando-se mal o sol se põe. Pelo que, com 10 horas de sono diárias (13 no pino do Inverno), os portugueses vão andar frescos como alfaces, a entrar às horas certas no trabalho, de pele lisa e sem stress algum acumulado;
b) o referido acréscimo contribuirá decerto para fazer muitos casais felizes, pois, com o recurso às velas, teremos muitos mais jantares românticos seguidos de sobremesa a meia luz e em câmara lenta (como manda o manual de filmes pseudo-eróticos dos anos 80), o que traduzir-se-á, com certeza, num aumento da taxa de natalidade a que já o nosso PR tinha apelado recentemente;
c) com a subida do IVA do gás natural veremos um incremento da educação de tipo inglês (pelo menos no que ao banho gelado diz respeito) enaltecida pelo nosso Eça em amplas passagens d' Os Maias. Os banhos frios reforçam as defesas, enrijam os ossos (velhotes, nada de desculparem-se com o reumático...) e o carácter (sendo aconselháveis desde tenra idade, para evitar potenciais motins durante a adolescência), previnem a flacidez, varizes e celulite, estimulando a circulação sanguínea;
d) uma vez que o gás tornar-se-á mais caro, o governo procura, indirectamente, que os banhos sejam de menor duração, de modo a que quando privatizar a água e o seu valor suba a pique, os portugueses já estejam habituados ao económico two-minute shower e já não façam muitas ondas.
Em suma, mais amor, mais bébés, menos despesas com a saúde (ansiolíticos, viagras e afins, operações às varizes, etc...), gente mais bem formada e disciplinada. E o papá Troika e a mamã UE babados, enquanto de língua de fora e de cauda a abanar, Vítor Capacho e Co. aguardam uma palmadinha no lombo.
Coelho e Portas estão num jantar em S. Bento.
Um dos convidados aproxima-se deles e pergunta-lhes:
- De que é que estão a conversar de forma tão animada?...
- Estamos a fazer planos para uma grande guerra, na nossa democracia! - diz Coelho.
- Uau! - exclama o convidado. E quais são esses planos?...
- Vamos lixar 10 milhões de portugueses e um espanhol! - responde Portas.
O convidado parece confuso e pergunta:
- Um... espanhol?!... Por que raio é que vão lixar um espanhol?!...
Portas dá uma palmada nas costas de Coelho e exclama:
- Não te disse?! Ninguém vai perguntar pelos portugueses, pá!...
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