Temos sido bombardeados com conceitos emocionais e por isso pouco rigorosos quanto á actual crise.
O que se pretende dizer é que a Alemanha e os países do Norte sabem governar-se e que os países do Sul são irresponsáveis.
Os alemães “sabem com quem estão a lidar “ e portanto “têm” o direito moral de não terem que pagar os desmandos dos outros que não se sabem governar.
Eles são os “trabalhadores”!
Como é sabido,em todas as mentiras há sempre um pouco de verdade.
Gostaria, no entanto, de rebater estas premissas que são falsas!
O que a maioria dos economistas defende como remédio para acabar com a crise dos mercados e o regabofe da especulação, é permitir ao BCE ser o último garante da dívida soberana da zona euro com carácter ilimitado.
A ser assim, o medo do incumprimento não mais teria razão de existir e os juros voltariam ao normal, resolvendo o problema e permitindo aos países utilizarem uma parte do dinheiro disponível para investir na economia e fazê-la crescer e, assim, criar condições para pagar as dívidas.
Parece fácil, mas então porque será que não se faz isso?
A razão apontada pelos alemães, únicos oponentes desta solução é a seguinte:
- Para pagar ilimitadamente a dívida, o BCE teria que criar dinheiro, o que é um facto.
- Tal situação geraria inflação e os alemães têm medo dessa situação face á história da inflação galopante da republica de Weimar (a que voltaremos) e á desvalorização do euro!
- Os países que têm dívidas altíssimas poderiam abrandar as medidas necessárias ao equilíbrio das contas públicas e da dívida.
Ora é um facto que o BCE ao criar dinheiro e fazê-lo circular, pode gerar inflação, no entanto, não se compreende como é que essa inflação tenha que entrar fora de controlo.
A Reserva Federal Americana, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão, têm utilizado este esquema para financiar a sua economia sem que a inflação tenha disparado e sem que as suas moedas tenham desvalorizado. O facto de existir a garantia de pagamento levou á normalização dos mercados e á redução dos juros da dívida para níveis normais.
Por outro lado, não se vê que mal possa ter uma pequena desvalorização do euro, o que apenas facilitará as exportações europeias.
É um facto que se deveriam tomar medidas paralelas para controlar as economias mais débeis e manter políticas de equilíbrio orçamental e de redução da dívida incluindo a perda de alguma soberania até restabelecer a situação.
Não obstante, a alternativa a esta situação é o fim do euro com consequências desastrosas para a própria Alemanha que exporta 2/3 do seu PIB.
De notar a verdade aritmética: se a Alemanha tem uma balança de pagamentos superavitária, haverá alguém que a terá deficitária.
Se nos lembrarmos do mercantilismo, verificamos que tal situação não pode prevalecer para sempre porque o deficitário morrerá e deixará de comprar ao superavitário.
Quanto á desvalorização do euro, dá vontade de rir! Numa situação em que a MOODY'S ameaça reduzir o rating de TODOS os países do euro incluindo os bem comportados Finlândia, Holanda, Áustria e mesmo a Alemanha, o euro mantém-se firme.
Por outro lado, EEUU, Inglaterra e o Japão que têm utilizado este sistema também não vêm inflação fora de controlo ou perca de valor das respectivas moedas.
A Alemanha foi o país que mais ganhou com o euro porque é o maior fornecedor do continente e o 3º maior do mundo. O fim do euro, valorizará automaticamente a nova moeda alemã, reduzindo automaticamente as suas exportações (2/3 do PIB) por um lado, e devido ao colapso das economias suas clientes, por outro.
Portanto, mesmo alguma inflação e desvalorização do euro parece uma alternativa menos gravosa para a Alemanha.
A outra questão que quero demonstrar é o conceito emocional dos alemães trabalhadores contra os preguiçosos do sul.
A Alemanha cria riqueza, os PIIGS destroem-na. Um conceito de boa moral calvinista!
Os alemães dizem que foram eles que financiaram os PIIGS com o seu trabalho e que não estão dispostos a continuar a fazê-lo!
Veremos então a verdade:
- Os alemães ao financiarem os novos países membros da UE, nada mais fizeram do que criar um mercado para o qual vendem a maior parte das exportações. Foi portanto um excelente negócio que permitiu o crescimento económico da Alemanha e não o contrário. Foi um investimento e não uma ajuda desinteressada. As encomendas de Portugal á Alemanha, 2ª maior fornecedora, cresceram 10 vezes em 25 anos!
- Em segundo lugar a Alemanha foi o país da Europa que nos últimos 100 anos recebeu mais ajuda financeira e aquele que provocou duas guerras destruindo a vida de dezenas de milhões de seres humanos e a destruição de riquezas milenares nos países vítimas destas guerras, a saber:
- Na 1ª Guerra mundial, a Alemanha derrotada foi obrigada a desmilitarizar-se e a pagar reparações de guerra aos países que agrediram.
Dizem muitos que estas reparações levaram á Segunda Grande Guerra porque criaram uma inflação generalizada e uma humilhação que gerou sentimentos de vingança.
Ou seja, os Aliados, de agredidos passaram a agressores!
Eis o que se passou:
A Alemanha pagou essas reparações de guerra com empréstimos dos EEUU e da França, sobretudo dos EEUU!
A Alemanha nunca pagou os empréstimos respectivos sendo assim os vencedores que se pagaram a si próprios!
A Alemanha teve assim um custo de humilhação, aquele que têm todos os vencidos, mas não um custo financeiro.
É aliás curioso e sintomático ouvir os gregos dizerem que queriam de volta as dívidas perdoadas á Alemanha que eram EM IGUAL VALOR á sua dívida soberana quando começou a recente crise mais aguda!!!
A crise de inflação na Alemanha veio como consequência da crise do dólar em 1929 com o Crash de Wall Street e não por outras razões, já que a Alemanha estava inundada de dólares pelos empréstimos.
Assim foi permitido a seguir a 1931, com o generoso perdão das dívidas pelas potências ocidentais, uma política de expansão económica que levou ao rearmamento e possibilitou que em menos de 7 anos a Alemanha se equiparasse á Grã Bretanha, maior potência militar da época, que tinha reduzido as suas despesas em defesa graças á gestão desastrosa dos governos pacifistas de Macdonald, Baldwin e Chamberlain!
Depois o tal povo” trabalhador” resolveu continuar pela política de agressão o que levou a uma guerra que matou mais de 40 milhões de seres humanos e a um genocídio e limpeza étnica dignas do pior da Idade Média!
Mais uma vez, as potências vencedoras acederam a financiar a Alemanha com a ilusão de preservarem a paz como fizeram no fim da 1ª guerra!
O Plano Marshall possibilitou á Alemanha a reconstrução e, mais uma vez, as dívidas foram perdoadas e pagas pelos agredidos (como a Grécia) que agora são vítimas de gozo e de desprezo!
Os tais trabalhadores incansáveis foram na verdade a nação mais subsidiada nos últimos 100 anos e foram-no pelas nações que perderam vidas e bens em nome do sonho da grande Alemanha.
Os tais” trabalhadores” foram extremamente eficazes na violência e destruição e tiveram como prémio o perdão e a generosidade dos outros povos!
Só para terminar, mais uma vez, quando se construiu o muro de Berlim e os soviéticos quiseram isolar os habitantes de Berlim ocidental, foram os aliados que montaram uma operação de ajuda aérea que permitiu que os seus agressores, os alemães ocidentais, conseguissem sobreviver.
Daí a comoção que os habitantes de Berlim tiveram com a famosa frase de J.F. Kennedy em Berlim: Ich bin ein berliner!
Mais tarde quando caiu o muro de Berlim, Helmut Khol financiou-se e pagou esse empréstimo em 10 anos!!!
A propósito, sabem qual foi o único país que pagou empréstimos do Plano Marshall?
Foram os preguiçosos e irresponsáveis dos Portugueses!
Quando se venceu a dívida, o Embaixador de Portugal em Washington foi pagar um cheque da dívida ao Departamento do Tesouro dos EEUU cujo representante ficou boquiaberto e não queria aceitar o cheque!
Portanto, quando os Alemães verberam os preguiçosos e irresponsáveis deveriam lembrar-se da generosidade do povos do mundo que souberam perdoar e ajudá-los apesar de reconhecerem que, afinal, ELES FORAM A NAÇÃO MAIS SUBSIDIADA NOS ÙLTIMOS 100 ANOS!
E, manifestamente não dão mostras de o ter merecido!
Dirão os cínicos que nada adianta a nossa opinião, pois ter razão não dá de comer!
Eu direi que talvez não, mas ter razão sabe muito bem e….não custa nada!!!
J.C.
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
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